ARTIGO
Perfil dos criadores de Apis mellifera no município de Aparecida, Paraíba
Mateus Gonçalves Siva
Graduado em Agroecologia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Sousa, Paraíba. matheus.goncalves2102@gmail.com.
Maria Cândida de Almeida Mariz Dantas
Doutoranda em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba candidamariz@yahoo.com.br
Joserlan Nonato Moreira
PhD em Agronomia, Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Sousa, Paraíba joserlan.moreira@ifpb.edu.br
Weliton Carlos de Andrade
Doutorando em Ciências Agrárias, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, welitonca@gmail.com
Mayslane de Sousa Gomes
Tecnóloga em segurança do trabalho e Mestre em Sistema Agroindustriais, Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Paraíba mayslane.prof.ifsousa@hotmail.com
Recebido: 28/12/2017; Aprovado: 05/03/2018
RESUMO |
A criação de abelhas é uma atividade de grande importância cultural, social e econômica, e vem sendo amplamente desenvolvida por pequenos agricultores do Nordeste. Dessa forma, objetivou-se caracterizar os apicultores do município de Aparecida na Paraíba, conforme seus aspectos sociais, econômicos, de produção e de venda. O período de realização da pesquisa ocorreu entre agosto e setembro de 2017, com entrevistas e aplicação de questionário direto aos produtores, observando os seguintes parâmetros: sexo, distribuição etária, grau de escolaridade, acesso a crédito, associativismo, tempo de atividade, colmeias em produção, formas de vendas dos produtos da colmeia e qual a representação da apicultura na renda familiar. Pode observar que os apicultores aparecidenses, possuem bastante experiência na área, estão organizados em cooperativas, mas ainda necessitam de recursos e instrumentos que contribuam no aumento na produção e desenvolvimento da apicultura no município, possibilitando melhores condições de vida para as famílias camponesas que vivem da agropecuária. |
PALAVRAS-CHAVE: Apicultura; Aspectos sociais; Renda familiar
Profile of the breeders of Apis mellifera in the municipality of Aparecida, Paraíba, Brazil ABSTRACT |
Beekeeping is an activity of great cultural, social and economic importance and has been widely developed by small farmers in the Northeast. In this way, the objective was to characterize the beekeepers of the city of Aparecida in Paraíba, according to their social, economic, production and sales aspects. The research period was conducted between August and September 2017, with interviews and direct questionnaire application to the producers, observing the following parameters: sex, age distribution, educational level, access to credit, associativism, time of activity, hives in production, forms of sales of beehive products and what representation of beekeeping in family income. It is possible that beekeepers from the state of Mato Grosso do Sul have considerable experience in the area, are organized in cooperatives, but still lack the resources and instruments that contribute to increase the production and development of beekeeping in the municipality, enabling better living conditions for the peasant families living of agriculture and livestock. |
KEY WORDS: Beekeeping; Social aspects; Family income
INTRODUÇÃO
A apicultura é a atividade de criar abelhas da espécie Apis mellifera que vem sendo desenvolvida há muito tempo por produtores rurais do Brasil. Essas abelhas foram trazidas da Europa no século XIX, pelos padres jesuítas, visando principalmente a produção de cera e mel (SABBAG; NICODEMO, 2011). A criação destas abelhas está difundida em todas as regiões, obtendo-se o mel na Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga, Pampa Gaúcho e Cerrado. Além da obtenção de renda extra para o produtor, esses pequenos animais favorecem a manutenção dos ecossistemas através dos serviços de polinização (IMPERATRIZ-FONSECA et al., 2006).
Nos últimos anos a apicultura vem ganhando grande destaque no Brasil, sendo impulsionada principalmente por fatores como, grande diversidade florística, a abertura e crescimento de novos mercados consumidores, e o aumento significativo na produtividade com a africanização das abelhas (HENRIQUE, et al, 2008).
De acordo com Azevedo (2012), o crescimento da população mundial acarreta a necessidade do aumento na produção de alimentos para suprir a carência de uma alimentação mais saudável que está sendo procurada cada vez mais por consumidores que visam a segurança alimentar e a qualidade dos produtos. Apesar do mel ser o principal produto das abelhas (JAFFÉ et al. 2015), elaborado a partir do néctar das flores (BRASIL, 2000), outros produtos como a cera, geleia real, própolis, veneno, pólen e até a prestação de serviços de polinização às culturas vegetais são também proporcionadas pela arte de criar estes magníficos insetos (MOREIRA, 1993).
De todos os produtos que podem ser obtidos nas colmeias, o mel é o mais conhecido e comercializado mundialmente. Desde muitos anos ele é visto como um alimento especial utilizado pelo homem, rico em diversas propriedades terapêuticas e antissépticas. Entretanto também é considerado um adoçante natural encontrado na natureza ou produzido em apiários, que somente as abelhas são capazes de sintetizá-lo (EMBRAPA, 2006).
Podemos conceituar o mel de abelha como produto de grande aceitação pela população brasileira, por se tratar de um alimento benéfico à saúde e rico em nutrientes. Apesar de se tratar de um produto biológico bastante complexo, a qualidade do mel pode ser avaliada através da sua composição físico-química, que garante a segurança alimentar do consumidor. Essa composição pode ser alterada conforme a flora visitada pelas abelhas, condições edáficas da região onde o mel é produzido e conforme as condições de manejo do apicultor (RACOWSKI, 2009). Portanto é imprescindível que o criador busque manejar suas colmeias com condições higiênicas sanitárias que atendam a legislação, para produzir um mel adequado às exigências do mercado, de forma que possa garantir renda positiva na atividade.
Contudo a apicultura é considerada no agronegócio um sistema de produção que preenche todos os requisitos do tripé da sustentabilidade, gerando renda para a agricultura familiar e a preservação do meio ambiente. As abelhas fazem um ótimo trabalho de preservação e reprodução de várias espécies de plantas domesticadas e silvestres, pela polinização (SOUZA; OLIVEIRA, 2014). No nosso país, estima-se que 350 mil pessoas vivem com a renda da apicultura (SABBAG; NICODEMO, 2011). Além das condições favoráveis para essa atividade presentes em várias regiões, o apiário é de fácil manejo e não necessita de cuidados diários, permitindo que o produtor tenha outras atividades consorciadas em sua propriedade que tornem sua renda familiar diversificada.
Para que produtos oriundos da criação de abelhas Apis mellifera obtenham competitividade no mercado é necessário não só que demonstrem as características de produto natural, mas que apresentem qualidade e competitividade dentro deste mercado, cada vez mais exigente. Para tal, é preciso que disponhamos das mais diversas informações acerca deste sistema de produção, tais como quem o pratica, sua situação social, econômica e a rentabilidade desta atividade para as famílias praticantes (COSTA JÚNIOR et al., 2015; HENRIQUE et al, 2008).
Pesquisas envolvendo aspectos sociais, econômicos e de produção são necessários pois grande parte dos apicultores necessita de suporte e orientação, quanto à estruturação, gestão, monitoramento e avaliação da atividade e comercialização de produtos apícolas. (SABBAG; NICODEMO, 2011).
Sendo assim, objetivou-se, identificar o perfil dos apicultores no município de Aparecida, Paraíba, quanto aos seus aspectos sociais, econômicos e de produção.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no município de Aparecida (PB), localizado a 409 km da capital João Pessoa, (altitude de 300m e coordenadas geográficas de 38° 05’ 13’’ longitude oeste e 06° 47’ 02’’ de latitude sul), localizado na região Oeste da Paraíba, limitando-se a Oeste com Sousa, ao Sul São José da Lagoa Tapada, a Leste São Domingos e Pombal, e a Norte São Francisco, ocupando uma área de 222,7 km². A vegetação é de pequeno porte, típica de caatinga xerofítica, onde se destacam a presença de cactáceas, arbustos e arvores de pequeno a médio porte. O clima é do tipo semiárido quente e seco com chuvas mal distribuídas (BRASIL, 2005).
Adotando o procedimento amostral aleatório simples, foram realizadas 15 entrevistas através de questionários semiestruturados com os apicultores da região que estavam ativos na atividade, residentes na zona urbana e comunidades rurais do município. As perguntas referentes aos aspectos sociais, econômicos e produtivos, seguiram o modelo de múltipla escolha, conferindo assim o diagnóstico do perfil dos apicultores aparecidenses, possibilitando a sistematização e reflexão da pesquisa. Os dados foram analisados por estatística descritiva, expressa em porcentagem e os gráficos confeccionados no software Excel 2016©.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Apicultura se mostra atividade ligada a diversos fatores dentro do agroecossistema familiar. Se destaca no aspecto econômico, por gerar renda através da venda de produtos, no ambiental por se tratar de insetos polinizadores que contribuem para propagação das espécies e principalmente no aspecto social, pois a mão-de-obra empregada pode ser conduzida pela própria família, assegurando e contribuindo para fixação das pessoas no campo e união familiar.
No que diz respeito ao gênero predominante na atividade apícola, das pessoas participantes desta pesquisa, treze são do gênero masculino e somente duas do gênero feminino, sendo que todos praticam a criação de Apis mellifera, com apiários do tipo fixo. Isso demonstra que a Apicultura na região é predominantemente praticado por homens. Arnaud et al. (2010) em pesquisa realizada na cidade de Catolé do Rocha, região próxima, constataram que 100% dos apicultores envolvidos são do sexo masculino, dados que reafirmam a falta de inserção da mulher na apicultura. A desoperculação, centrifugação, decantação e envase são atividades mais leves dentro da apicultura, e as mulheres se encaixam muito bem dentro destas. A pesquisa tentou buscar entrevistar o principal participante na criação de abelhas Apis, deixando faltar dados sobre os membros familiares que ajudam, portanto é importante lembrar que as companheiras ou companheiros dos entrevistados podem ajudar em atividades finais de processamento do mel.
O perfil dos apicultores de determinada região pode ser traçado conforme questões sobre os aspectos econômicos como também sociais.
Na Figura 1, (a) e (b), estão descritas, em percentuais, a distribuição etária e grau de escolaridade dos apicultores de Aparecida, respectivamente.
Figura 1. Distribuição etária (a) e escolaridade (b) dos apicultores do município de Aparecida, Paraíba
Observa-se que grande parte dos apicultores tem idade entre 37 e 47 anos e não chegaram a concluir o Ensino Fundamental, o que demonstra certo grau de experiência e de dificuldade de acesso ao ensino básico. Azevedo (2012) atesta que no município de Catolé do Rocha (PB), a maioria dos apicultores tem mais de 46 anos de idade. Em relação a escolaridade dos apicultores, Pimentel et al. (2016), pesquisando criadores de abelhas africanizadas nos municípios do Sul da Bahia, constataram que 43% dos apicultores não concluíram o ensino fundamental, e apenas 13% tem o ensino superior completo, dados semelhantes aos encontrados neste estudo.
Na Figura 2, verifica-se a situação econômica no início da atividade, expressando dados acerca do associativismo e do acesso ao crédito para adquirir os instrumentos inicias imprescindíveis na apicultura, como caixas padronizadas, equipamentos de proteção individual (EPI), fumegadores, máquinas para extração e decantação do mel, entre outros.
Figura 2. Situação dos apicultores do município de Aparecida, Paraíba, quanto ao associativismo (a) e acesso ao crédito (b).
(b)
Para os dados de participação associativa, verifica-se que 73,33% dos apicultores estão associados e apenas 26,67% não são associados a nenhuma cooperativa ou associação, o que demonstra que muitos dos apicultores procuram se organizar e unir forças em busca de melhorias para o crescimento da atividade apícola. A respeito do acesso ao crédito, a maioria dos participantes não teve acesso, o que pode demonstrar dificuldade de acesso ou uma falta de incentivo por parte de órgãos fomentadores de microcrédito na região para o desenvolvimento da apicultura local.
Representando as tradições e a força do movimento apícola no município, verifica-se na Figura 3, o tempo de atividade dos apicultores e a quantidade de colmeias. Observa-se que há uma predominância de criadores que estão de 6 a 10 anos exercendo a atividade (Figura 3 a). Fato como este demonstra que as pessoas estão procurando novas formas de obterem renda extra. Matos e Freitas (2016) obtiveram resultados indicando que no município de Mombaça (CE), 73,33% dos entrevistados exercem a atividade há mais de 10 anos, podendo nesta região existir uma melhor atratividade para a produção apícola. Sobre a quantidade de colmeias, grande parte dos entrevistados possui entre 11 e 20 colmeias em produção, confirmando que há necessidade de incentivo para obtenção de novos enxames.
Com relação aos produtos explorados pelos apicultores Aparecidenses, 100% produzem somente o mel para comercialização, com possibilidade de futuramente expandir a criação e começar a produzir cera, própolis, pólen e geleia real para o mercado consumidor. Na figura 4, observa-se respectivamente, as formas mais vigentes de venda do mel e a representatividade da produção na renda familiar.
Figura 3. Tempo de atividade (a) e quantidade de colmeias (b) dos apicultores do município de Aparecida, Paraíba.
(a) (b)
Figura 4. Formas de venda do mel(a) produzido pelos apicultores e representação na renda famíliar (b).
(a) (b)
Constatou-se que a maioria dos criadores (73,33%), prefere comercializar o mel através da cooperativa a qual estão associados (Figura 4 a), pois lhes permite uma melhor possibilidade de competição com outros produtos através do Serviço de Inspeção Federal (SIF), selo que autoriza a comercialização do mel fora dos limites do estado. E conforme a obtenções dos dados, a contribuição da apicultura (representação a apicultura) na renda das famílias entrevistadas (Figura 4 b), é bem significativa, fica entre 25 a 50% demonstrando que a apicultura é uma atividade agropecuária que gera renda complementar.
CONCLUSÕES
Os apicultores de Aparecida, Paraíba, possuem experiência na área, estão organizados em cooperativas, mas precisam de recursos que propiciem o aumento da produção e desenvolvimento da apicultura no município, possibilitando melhores condições de vida para as famílias camponesas que vivem da agropecuária.
REFERÊNCIAS
ARNAUD, E. da R., MARACAJÁ, P. B., MARACAJÁ, V. P. B. B., BORGES, M. da G. B., FERREIRA, R. T. F. V. Cooapil – Uma experiência cooperativista de geração de trabalho e renda na Cidade de Catolé do Rocha – PB. Revista Grupo Verde de Agricultura e Alternativa. INTESA (Pombal – PB – Brasil), v. 4, n. 1, p. 65-72, 2010.
AZEVEDO, A. G. Universidade Estadual da Paraíba. Perfil dos apicultores do município de Catolé do Rocha-PB. Orientadora: Julicelly Gomes Barbosa. 2012.
BRASIL. Ministério da Agricultura. Instrução normativa 11, de 20 de outubro de 2000. Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. Diário Oficial, Brasília, 20 de outubro de 2000, Seção 1, p. 16-17.
BRASIL. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Diagnóstico do município de Aparecida. Recife: CPRM, 2005. Disponível em: <http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/bitstream/handle/doc/15832/Rel_Aparecida1>.Acessado em: fevereiro de de 2018.
COSTA-JÚNIOR, M.P.; HHAN, A.S.; SOUSA, E.P.; LIMA, P.V.P.S. Análise de Cointegração com Threshold nos Mercados Exportadores de Mel Natural no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 53, n. 2, p. 305-320, 2015.
EMBRAPA. Disponível em: <www.cpamn.embrapa.br/pesquisa/apicultura/mel/ind>. Acesso em: fevereiro de 2018.
HENRIQUE, R. G.; PEREIRA, D. S.; OLIVEIRA, A. M.; MEDEIROS, P. V. Q.; CUNHA, F. F. Perfil dos produtores familiares de mel no município de Serra do mel-RN. Revista Verde. Mossoró-RN-Brasil v.3, n.4, p29-4, 2008.
IMPERATRIZ-FONSECA, V. L.; SARAIVA, A. M.; DJONG, D. Bees as pollinators in Brazil: assessing the status and suggesting best practices. Ribeirão Preto: Holos, 2006.
JAFFÉ, R.; POPE, N.; CARVALHO, A.T.; MAIA, U.M.; BLOCHTEIN, B.; CARVALHO, C.A.L.; CARVALHO-ZILSE, G.A.; FREITAS, B.M.; MENEZES, C.; RIBEIRO, M.F.; VENTURIERI, G.C.; IMPERATRIZ-FONSECA, V.L. Bees for development: Brazilian survey reveals how to optimize stingless beekeeping. PLoSOne, v. 10, n. 03, p. 1-21, 2015.
MATOS, V. D.; Freitas, S. H. A. Um Estudo das Características Socioeconômicas dos Apicultores do Município de Mombaça. 2016. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/2/1049.pdf> Acesso em: fevereiro de 2018.
MOREIRA, A. S. Apicultura: polinização das abelhas aumenta a produção das lavouras. A lavoura, v.95, n.599, p.30-43, 1993.
PIMENTEL, D. M.; SANTOS, W. A. S. e PEREIRA, D. S. Análise da Apicultura Desenvolvida na Região Sul da Bahia. 2016. Disponível em: <http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/91/artigo6.htm> Acesso em: fevereiro de 2018.
RACOWSKI, I. Ação Antimicrobiana do mel em leite fermentado. Revista Analytica, n. 30, p. 106-114, ago-set, 2009.
SABBAG, O. J.; NICODEMO, D. Viabilidade Econômica para Produção de Mel em Propriedade Familiar. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pat/v41n1/a08v41n1.pdf> Acesso em: fevereiro de 2018.
SOUZA, M. R. F.; OLIVEIRA, R. P. C. Influência do Clima no Bem-estar e comportamento produtivo no manejo racional de abelhas. In: FERRO, D. A. C.; FERRO, R. A. C.; OLIVEIRA, R. P. C. Bem-estar Animal: qualidade de vida e sucesso zootécnico. Goiânia: Kelps, 2014, v. 1, p. 169.