RELATO DE EXPERIÊNCIA

Toxicologia Médica: Implementação, aceitação e perspectivas como disciplina curricular no curso de medicina

Medical Toxicology: Implementation, acceptance and perspectives as a curricular discipline in the medical course

Tatiana Paschoalette Rodrigues Bachur

Docente do Curso de Medicina, Universidade Estadual do Ceará, tatiana.bachur@uece.br

Matheus Eugênio de Sousa Lima

Acadêmico do Curso de Medicina, Universidade Estadual do Ceará, matheus.eugenio@aluno.uece.br

Samuel Frota Cunha

Acadêmico do Curso de Medicina, Universidade Estadual do Ceará, samuel.frota@aluno.uece.br

Marllon Luiz de Assis Castro

Acadêmico do Curso de Medicina, Universidade Estadual do Ceará, marllon.luiz@aluno.uece.br

Moacir Cymrot

Docente do Curso de Medicina, Universidade Estadual do Ceará, moacir.cymrot@uece.br

Gislei Frota Aragão

Docente do Curso de Medicina, Universidade Estadual do Ceará, gislei.frota@uece.br

Recebido em 19/02/2018; Aprovado em: 21/03/2018

Resumo: A Toxicologia Médica é reconhecida, no Brasil, como uma das 57 áreas de atuação médica. Até 2017, no curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (UECE), eram abordados, em disciplinas diversas, temas relacionados a intoxicações, envenenamentos e acidentes por animais peçonhentos, pois a Toxicologia Médica não fazia parte das disciplinas ofertadas aos alunos. A partir da detecção desta deficiência, foi proposta a implantação da Toxicologia Médica como disciplina optativa. Objetivou-se relatar o processo de implementação, a aceitação e as perspectivas para a disciplina de Toxicologia Médica no curso de Medicina da UECE. A implantação da disciplina transcorreu dentro dos trâmites da instituição e a primeira turma foi ofertada no primeiro semestre de 2017. Após um ano da disciplina, os alunos realizaram uma avaliação da mesma, observando a aplicabilidade e o impacto em seu desempenho acadêmico. Observou-se que uma disciplina de maior carga horária traria benefícios ao aprendizado dos alunos em assuntos relativos a intoxicações e envenenamentos. Concluiu-se que a implementação da disciplina repercutiu positivamente entre os alunos, porém evidenciou-se a necessidade de uma abordagem mais prática.

Palavras-chave: Educação médica; Currículo; Educação de graduação em medicina.

Abstract: Medical Toxicology is recognized in Brazil as one of the 57 areas of medical practice. Until 2017, in the course of Medicine of the State University of Ceará (UECE), subjects related to intoxication, poisoning and accidents by venomous animals were approached in different disciplines, since Medical Toxicology was not part of the disciplines offered to the students. From the detection of this deficiency, it was proposed the implantation of Medical Toxicology as an optional discipline. The objective is to report the process of implementation, acceptance and perspectives for the discipline of Medical Toxicology in the UECE Medicine course. The implementation of the discipline took place within the institution's procedures and the first group was offered in the first semester of 2017. After one year of the discipline, the students carried out an evaluation of the same, observing the applicability and the impact on their academic performance. It was observed that a higher load discipline would benefit students' learning in intoxication and poisoning matters. It was concluded that the implementation of the discipline had positive repercussions among the students, but the need for a more practical approach was evidenced.

Key words: Medical education; Curriculum; Undergraduate medical education.

INTRODUÇÃO

As intoxicações e envenenamentos constituem um problema mundial. Em 2004, das 346.000 mortes por esta causa, 91% ocorreram em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 5 milhões de acidentes por picada de cobra ocorrem por ano, resultando em 2,5 milhões de envenenamentos e em, pelo menos, 100.000 mortes (THOMPSON, 2015). Este cenário - em conjunto com a expansão crescente de economias globais e a existência, portanto, de ameaças cada vez mais complexas sobre a saúde pública - alerta para necessidade da formação de profissionais que venham a ter uma visão integrada, multidisciplinar e abrangente sobre toxicologia (GUNDERT-REMY et al, 2015; BARCHOWSKY et al, 2012).

Em contraste com o restante do mundo, os Estados Unidos mostram um cenário diferente, onde a importância do treinamento em Toxicologia Médica é reconhecido há tempos. Desde 1983, o Colégio Americano de Médicos Emergencistas declara a necessidade do aprendizado em Toxicologia durante a formação do médico emergencista. Atualmente, pois, a maioria das residências médicas americanas em Medicina de Emergência têm a Toxicologia como rodízio obrigatório (DARRACQ et al., 2018). Ademais, a Toxicologia Médica é reconhecida como uma especialidade, e a educação neste tema é parte da matriz curricular em várias outras especialidades. Dessa forma, diante dessa valorização educacional, serviços de Toxicologia Médica se tornam amplamente disponíveis no sistema de saúde americano. Isso resulta em baixa mortalidade por intoxicação, comparado a outros países, onde se encontra uma expertise limitada no manejo de pacientes intoxicados (THOMPSON, 2015). Por conseguinte, observa-se uma casuística proporcionalmente baixa: 1218 americanos morreram por acidente por picada de serpentes em 2013 (MOWRY et al, 2014). Em território brasileiro, não existem dados fidedignos disponíveis (FIOCRUZ, 2018).

A demanda para a formação em toxicologia vem crescendo, diante da expansão das economias globais e da existência de ameaças sobre a saúde pública cada vez mais complexas.

No Brasil, a Toxicologia Médica é reconhecida como uma das 57 áreas de atuação médica de acordo com a resolução Nº 2.149 de 2016 do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ademais, a mesma resolução liga o estudo mais aprofundado da toxicologia aos programas de residência médica de algumas especialidades, como Clínica Médica, Medicina Intensiva, Pediatria e Pneumologia, com uma especialização mínima de 1 ano (CFM, 2016). Entretanto, sabe-se que a Toxicologia Médica é um saber necessário ao médico generalista, uma vez que, conforme mencionado anteriormente, é bastante prevalente o número de situações que chegam aos prontos socorros de indivíduos intoxicados e envenenados, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

Apesar de sua notória importância, a Toxicologia ainda necessita ampliar a quantidade de centros especializados que realizem a correta abordagem ao paciente intoxicado e de especialistas aptos para atuar na área. De acordo com listagem dos Centros de Toxicologia realizada pela Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica, há 31 centros espalhados pelo Brasil, os quais são responsáveis pelo atendimento de uma população com mais de 200 milhões de indivíduos. A situação é ainda mais crítica quando da análise de que existem estados no Norte e no Nordeste brasileiro sem a presença de tais centros especializados, o que ocorre no Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Maranhão e Alagoas (ABRACIT, 2017).

No Ceará há apenas 01 centro de assistência toxicológica, localizado na cidade de Fortaleza, responsável pelo atendimento de todos os indivíduos que necessitem de cuidados em casos de intoxicação e acidentes por animais peçonhentos, provenientes de qualquer localidade do estado, o que compromete a possibilidade de atendimento precoce e sobrecarrega o sistema (ABRACIT, 2017). No ano de 2017, não houve, pela seleção unificada do programa de residência médica do Ceará, vaga disponibilizada para especialização em Toxicologia Médica (PSU-RESMED/CE, 2017).

No âmbito acadêmico, o que se pode observar são os temas que permeiam a Toxicologia Médica presentes e abordados em outras disciplinas, como Emergência Médica e Medicina Legal, sem, no entanto, o aprofundamento necessário e contextualizado para a melhor assimilação e aplicação dos conteúdos a serem utilizados em diversas especialidades médicas, que não se restringe apenas às duas disciplinas supracitadas.

Assim, observa-se a importância da Toxicologia Médica para o curso de Medicina, área que, apesar de oficialmente reconhecida como escopo do profissional médico, é merecedora de mais espaços na perspectiva acadêmica e médica brasileira. Nesta perspectiva, a Universidade Estadual do Ceará (UECE), em seu curso de Medicina, passou a ofertar a disciplina de Toxicologia Médica como uma disciplina optativa, tendo sua primeira experiência de realização no ano de 2017.

Diante das limitações existentes na literatura a respeito do tema, o objetivo deste relato é fomentar a importância da Toxicologia Médica, mostrando o processo de implantação da disciplina, trazendo relatos sobre a aceitação e percepção dos alunos e dos professores em relação à realização da mesma e, avaliando o feedback, a fim de aperfeiçoá-la, trazendo melhorias didáticas e práticas, conseguindo inspirar outros cursos de Medicina dentro das mesmas perspectivas.

MATERIAL E MÉTODOS

A grade curricular atual do curso de Medicina da UECE tem como característica a oferta de disciplinas optativas de 02 créditos no terceiro e no sexto semestres, créditos estes que complementam a carga horária mínima de cada um destes períodos. Desta forma, na ocasião da matrícula, são apresentadas algumas opções aos alunos que podem, então, escolher a disciplina optativa que cursarão. Esta característica permite que sejam implementadas disciplinas que sejam relevantes à formação médica e proporciona aos alunos decidirem aquelas que acharem mais pertinentes à sua formação profissional.

A ideia para a implantação da disciplina de Toxicologia Médica surgiu a partir de um acadêmico de medicina, então no terceiro semestre, que contatou uma docente do curso sugerindo que uma disciplina de Toxicologia fosse trazida ao curso de medicina. A ideia da criação da disciplina foi aceita pela docente que a levou ao conhecimento da coordenação do curso que também entendeu a relevância da disciplina para o curso, haja vista a necessidade da formação de um médico generalista com sólida fundamentação científica e teórica, capaz de promover a saúde individual e coletiva e comprometido com as transformações da sociedade, consoante o Projeto Político Pedagógico do curso.

A partir do aceite da proposta pela coordenação, foi, então, elaborada a ementa da disciplina, que procurou contemplar as cinco áreas de atuação da Toxicologia, a saber: Toxicologia Social, de Medicamentos, Ambiental, Ocupacional e de Alimentos, enfocando os tópicos mais relevantes nestas áreas, tendo em vista a pequena carga horária da disciplina optativa, que é de 2 créditos, o que equivale a 34 horas-aula distribuídas em 17 semanas no semestre. Nesta ementa, constava o objetivo da disciplina, o conteúdo a ser ministrado, a metodologia pedagógica empregada, o sistema de avaliação da disciplina, a bibliografia sugerida, a carga horária, o dia da semana e o horário em que ocorrerá.

A proposta então foi oficialmente submetida à coordenação do curso e a ementa e implantação da disciplina foram aprovadas em reunião de colegiado e, consecutivamente em reunião do Conselho de Centro (CONCEN/UECE). A partir de sua aprovação pelo Centro de Ciências da Saúde, a disciplina foi, então, posta no sistema online de matrícula por meio do Departamento de Ensino e Graduação (DEG), e, consequentemente, ofertada aos alunos do sexto semestre no período de matrícula. Quando do semestre de oferta de Toxicologia Médica, outras disciplinas optativas foram ofertadas, a saber: Práticas Integrativas do SUS, Saúde do Adolescente e Sexualidade, Introdução a Tanatologia e Vacina e Imunização.

As práticas pedagógicas inicialmente abordadas alicerçaram-se a partir da adoção de um sistema de aulas tradicionais expositivas e dialogadas, além de metodologias ativas, através das quais foram explorados os diversos temas da disciplina. Na metodologia ativa, os alunos participaram da construção do conhecimento através da resolução e discussão de problemas dentro de estudos dirigidos.

No fim da disciplina, foi realizado um questionário de avaliação da disciplina, considerando os alunos que concluíram a mesma, cursando o sétimo semestre de medicina da UECE em 2017, para uma avaliação de sua aceitação. Tratou-se de um questionário com viés retrospectivo e os dados não passaram por tratos estatísticos complexos, sendo apenas observado o percentual de respostas e levantadas hipóteses para suas justificativas. Os alunos escolhidos tiveram como base para a resposta do questionário não apenas a finalização da disciplina de Toxicologia Médica, mas das disciplinas teóricas e práticas de Clínica Médica III, Clínica Cirúrgica III, Pediatria II e Saúde de Família e de Comunidade, em que eles puderam avaliar a frequência dos conteúdos e colocarem em prática o que aprenderam na disciplina avaliada, possibilitando um olhar mais crítico e experiente em relação à ela, além de perceberem a fixação dos conteúdos estudados.

Os questionários foram criados utilizando Google Forms, completamente online, consistindo em 14 perguntas objetivas fechadas. O número de alunos na turma eram 34, dos quais 31 responderam o questionário. 01 aluno se recusou a responder e 02 alunos foram excluídos da pesquisa por participarem da elaboração do presente artigo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No quadro 1 estão expostas as perguntas realizadas no questionário de avaliação da disciplina de Toxicologia Médica e o percentual de respostas para cada pergunta. É importante destacar que, quando a satisfação do aluno é avaliada na literatura, são abordados desde quesitos como qualidade do corpo docente, didática em sala de aula, estratégias de ensino, formas de avaliação, referindo os mais diversos enfoques na área clínica e no desenvolvimento de habilidades (BITTENCOURT et al, 2013). Assim, foram escolhidas perguntas que buscassem avaliar a disciplina nesses quesitos.

Observa-se, através desses resultados, que os alunos não sentiram arrependimento na escolha da Toxicologia Médica como disciplina optativa, visto que 100% afirmaram ter sido uma boa escolha. A grande maioria (93,5%) também afirmou, que dentre as disciplinas optativas, esta seria a mais voltada para a realidade médica, o que pode ser justificado ao serem analisados os conteúdos das demais disciplinas ofertadas, cujos temas mais amplos e teóricos envolvendo saúde pública, psicologia e biologia.

Quadro 1. Resultado do questionário de avaliação da disciplina de Toxicologia Médica ofertada aos alunos do sexto semestre do sétimo semestre em 2017 do curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará em 2017.

PERGUNTA

SIM (%)

NÃO

(%)

Em sua perspectiva, a disciplina de Toxicologia Médica foi uma boa escolha enquanto disciplina optativa?

100

0

Dentro das disciplinas optativas ofertadas, você acredita que esta foi a mais voltada para a realidade médica?

93,5

6,5

A disciplina de Toxicologia Médica ajudou a sedimentar conteúdos prévios vistos em disciplinas anteriores ou atividades extracurriculares a respeito dos temas envenenamento/drogas/intoxicação?

100

0

A disciplina ajudou a adquirir novos conhecimentos a respeito de envenenamento/drogas/intoxicação?

100

0

Você acredita que o tempo da disciplina foi insuficiente?

45,2

54,8

Você sente segurança no manejo de pacientes intoxicados?

0

100

Você acredita que os conhecimentos da disciplina deveriam ser abordados/complementados em outras disciplinas?

90

10

Você sentiu falta de uma abordagem mais voltada para a prática médica/emergência?

76

24

Você sentiu falta de uma abordagem voltada para aspectos específicos farmacológicos?

14

86

Você sentiu falta de uma abordagem que explorasse aulas de campo?

40

60

Você sentiu falta de uma abordagem focada em outros métodos pedagógicos, como metodologia de aprendizagem ativa?

37

63

Você acredita que a disciplina conseguiu agregar bem assuntos do ciclo básico e clínico da Medicina?

80

20

Você indicaria a disciplina para outros alunos?

93,5

6,5

Você acredita que a disciplina deveria tornar-se obrigatória?

48,3

51,7

Um estudo realizado na UFPR, analisou que mais de 50% dos alunos acredita que a integração entre o ciclo básico e clínico é fundamental para a aprendizagem (MOURA et al, 2018). Esse a integração mostrou-se positiva em diversos outros estudos (RUDLAND, RENNIE et al, 2003; KAIMKHANI et al, 2009). A disciplina de Toxicologia Médica, portanto, não promoveu somente a aquisição de novos conhecimentos pelos alunos, como também promoveu a comunicação e integração do seu conteúdo com o de outras matérias já vistas na graduação – 100% dos alunos confirmaram esses aspectos. Dessa forma, foi facilitada a conexão entre as “ilhas de conhecimento” e, consequentemente, a melhor assimilação do conteúdo e integração dos saberes, sendo promovida uma melhor utilização do conhecimento.

A abordagem de aspectos tanto da clínica, como das ciências básicas foi bem vista pelos alunos: 80% acreditou que houve agregação de conhecimento dos dois ciclos. Isso mostra um equilíbrio na disposição do conhecimento no decorrer da disciplina – 86% dos alunos não sentiram falta de uma abordagem voltada para aspectos específicos da farmacologia.

Um ponto negativo, entretanto, a ser analisado é a insegurança no manejo do paciente intoxicado manifestada por 100% dos alunos. Isso poderia ser justificado pelo tempo insuficiente destinado à disciplina, a ausência das aulas práticas – 40% dos alunos sentiram falta da abordagem prática -, e a insuficiência de conhecimento e experiência dos alunos na prática médica, uma vez que ainda estavam no 6º semestre (um pouco mais da metade do curso).

A abordagem pedagógica mostrou-se acertada, com os alunos preferindo as aulas teóricas à práticas, embora este achado seja contraditório à necessidade relatada em haver mais abordagem prática na disciplina e ao fato de aulas práticas possuírem um papel vital no método de ensino-aprendizagem do modelo de escola médica moderna (GOMES, REGO, 2011). Isso provavelmente deve-se à difícil locomoção dos alunos aos locais de atendimento, já exigida por outras disciplinas – o curso de Medicina da UECE possui aulas nos mais diversos hospitais da cidade de Fortaleza, como o Hospital Geral de Fortaleza, o Hospital Pediátrico Albert Sabin e o Hospital Geral Dr. César Cals. A melhor proposta para ajudar a suprir a necessidade de conteúdo prático e o local de oferta da disciplina seria unir as aulas práticas da disciplina de Clínica Cirúrgica, também no sexto semestre, com as práticas de Toxicologia Médica, já que ambas poderia ocorrer, o Instituto Dr. José Frota (IJF), onde se encontra o Centro de Informações e Assistência Toxicológica (CiaTOX) de Fortaleza.

Outro ponto a se destacar seria o fato de aproximadamente metade dos alunos terem recusado a instalação da disciplina como obrigatória. Isso pode dever-se, principalmente, à excessiva carga horaria já estabelecida pelo curso. Uma das soluções que poderia ser estabelecida seria a substituição de uma outra disciplina, cujo enfoque poderia ser compilado ou tratado como optativo, pela disciplina de Toxicologia Médica, que tornar-se-ía obrigatória.

Como forma de trazer melhorias à disciplina, observa-se a necessidade de ampliar o contato dos alunos com o campo prático da Toxicologia. Isso se daria através da análise de casos clínicos, ancorados pela implementação do programa de Monitorias, em que os alunos e o monitor poderiam discutir o reconhecimento de pacientes e a tomada de condutas, como forma de ilustrar e solidificar os temas abordados. Além disso, com a Monitoria, seria possível trazer a experiência de alunos que já cursaram a disciplina para detectar pontos deficientes e, assim, conseguir lapidá-la de forma mais eficiente.

Outro ganho para a disciplina seria a realização de aulas em visita ao Centro de Informações e Assistência Toxicológica (CiaTOX), localizado no IJF, para entender melhor não apenas o funcionamento do centro, mas também como se dá a prevenção da intoxicação e primeiros socorros. Também está aventada a possibilidade de contar com palestras de profissionais da área, em especial Médicos que trabalham no serviço.

Finalmente, a avalição mostra uma preocupação com o processo de ensino-aprendizagem, além do acompanhamento de dados globais e de satisfação do aluno na realização da disciplina, processo desencadeado por diversas escolas médicas ao redor do mundo (GOMES, REGO, 2013). Entretanto, o estudo é limitado por não conseguir abranger os aspectos a longo prazo, diminuindo o viés de acontecimentos diversos durante o período da realização da disciplina. Em contrapartida, aventa-se a realização de avaliações como a do presente estudo nas turmas posteriores, além da análise dos resultados comparando cada uma.

CONCLUSÕES

A disciplina teve uma excelente aceitação e reconhecimento da sua importância no curso de medicina da Universidade Estadual do Ceará, tendo em vista a avaliação discente, buscando, através dos seus resultados, amplificar-se e aperfeiçoar o contaro dos alunos com a área da Toxicologia Médica durante a graduação. Discute-se ainda essas formas, sendo possível o aumento da carga horária da disciplina, e a adição dos temas de seu escopo em disciplinas afins.

A implementação da Toxicologia Médica como disciplina obrigatória, embora refutada pelos alunos, é uma forma de ter uma maior carga horária destinada à mesma, possibilitando a aplicação dos conteúdos práticos, bem como permitiria a melhor exploração dos assuntos teóricos.

REFERÊNCIAS

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