ARTIGO CIENTÍFICO

Potenciais alternativas com extratos vegetais no controle da pinta preta do tomateiro

Potential alternatives with vegetable extracts in control of tomato early blight

Edvan Nilson de Almeida1; Gabriela Silva Moura2; Gilmar Franzener3

1Engenheiro Agrônomo, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), E-mail: edvanalmeida14@hotmail.com; 2Pós-doutoranda em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável (PNPD-CAPES), Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), E-mail: bismoura@hotmail.com; 3Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Laranjeiras do Sul – PR. E-mail: gilmar.franzener@uffs.edu.br

Recebido para publicação em 06/04/2016; aprovado em 04/09/2017

Resumo: Objetivou-se com o presente estudo avaliar o potencial antifúngico de três espécies de plantas medicinais: Zingiber officinale (gengibre), Allium sativum L. (alho) e Caryophyllus aromaticus L. (cravo-da-índia) in vitro e in vivo, para o controle do patógeno Alternaria solani, agente causal da pinta preta. Avaliou-se in vitro o crescimento micelial, germinação de esporos e o tamanho de tubos germinativos de A. solani nas concentrações de 1,0, 5,0, 10, 15 e 20%. Para a avaliação in vivo sementes de tomateiro cv. Santa Cruz Kada foram semeadas em bandejas de isopor de 200 células contendo substrato comercial. Após 30 dias as mudas foram transplantadas para vasos de 5 L contendo solo e mantidas em casa de vegetação. Os tratamentos para o ensaio em in vivo foram extrato aquoso de gengibre, alho e cravo-da-índia na concentração de 20%. As aplicações foram iniciadas após 47 dias do transplante das mudas para casa de vegetação, sendo realizada uma vez por semana até o momento da colheita. Foram realizadas avaliações da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), número médio e peso de frutos. Os experimentos foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. Os extratos de cravo-da-índia, alho e gengibre apresentaram efeito inibidor direto sobre o fungo e reduziram a AACPD em 55,8, 29,5 e 22,5% em relação à testemunha água, respectivamente. Esses resultados indicam potencial dos extratos vegetais avaliados no controle da pinta preta do tomateiro, com destaque para o extrato de cravo-da-índia.

Palavras-chave: Solanun lycopersicon; Gengibre; Alho; Cravo-da-índia.

Abstract: The objective of this study was to evaluate the antifungal potential of three species of medicinal plants: Zingiber officinale (ginger), Allium sativum L. (garlic) and Caryophyllus aromaticus L. (clove) in vitro and in vivo, for the control of the pathogen Alternaria solani, causal agent of the black pint. Mycelial growth, spore germination and germination size of A. solani were evaluated in vitro at concentrations of 1.0, 5.0, 10, 15 and 20%. For the in vivo evaluation of tomato seeds cv. Santa Cruz Kada were seeded in styrofoam trays of 200 cells containing commercial substrate. After 30 days the seedlings were transplanted to 5 L pots containing soil and kept in a greenhouse. The treatments for the in vivo assay were aqueous extract of ginger, garlic and clove at 20% concentration. The applications were started after 47 days of transplanting the greenhouse, being carried out once a week until the time of harvest. Evaluations of the area under the disease progress curve (AACPD), mean number and fruit weight were performed. The experiments were conducted in a completely randomized design with five replicates. Clove, garlic and ginger extracts showed a direct inhibitory effect on the fungus and reduced the AACPD in 55.8, 29.5 and 22.5% in relation to the control water, respectively. These results indicate the potential of the extracts evaluated in the control of the black peat of tomato, with emphasis on clove extrac.

Keywords: Solanun lycopersicon; Ginger; Garlic; Clove.

INTRODUÇÃO

O tomateiro (Solanun lycopersicon Mill.) é uma das culturas mais importantes no mundo do ponto de vista econômico (KUROZAWA; PAVAN 2005, FIGUEIRA, 2007). A produção nacional do tomate vem progredindo nitidamente durante décadas, como pode ser verificado quando comparado à produção no ano de 1990 a qual foi de 2.260.871 toneladas, já no ano de 2012 a produção nacional teve um expressivo aumento alcançando 3.873.985 toneladas (FAO-FAOSTAT, 2015).

O Brasil ocupa a oitava posição na classificação mundial de produção de tomate, com um volume de aproximadamente de 3,7 milhões de toneladas, com produtividade de 63,7 t/ha-1, em 2015 (IBGE, 2015).

A planta de tomate origina um fruto muito apreciado mundialmente, caracterizado por ser carnoso e suculento. Além disso, a cultura do tomateiro também possui grande importância nutricional em virtude dos nutrientes de sua composição, sendo que entre os principais está o carotenoide licopeno responsável pela sua coloração (FILGUEIRA, 2007).

A cultura do tomateiro é muito exigente em mão de obra propiciando a geração direta e indireta de emprego. No entanto, a produção de tomate é considerada uma atividade de risco pelo fato, da cultura ser acometida por várias doenças que podem comprometer seu desenvolvimento e sua produção (JANTASORN et al., 2016). Entre os agentes causais estão às bactérias, fungos, vírus e nematoides que dificultam o cultivo e causam grandes perdas de rendimento em numerosas culturas importantes (HUANG et al., 2010).

O patógeno Alternaria solani (Ell. & Martin) Jones & Grout, agente causal da pinta preta, vem causando perdas significativas na produção do tomateiro podendo chegar até 75%. O uso indiscriminado de agroquímicos na cultura do tomate resulta na intensificação das doenças e da contaminação ambiental, além da exposição dos consumidores a alimentos contaminados com agrotóxicos (ARAÚJO et al., 2000, KISHORE; PANDE, 2007, FAWZI et al., 2009).

Segundo o relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, no período 2013 a 2015, de 730 amostras de tomate de mesa analisadas, em 62 foi identificado a presença de resíduos acima do LMR (Limite Máximo de Resíduos), e 200 apresentaram agrotóxicos não autorizados para cultura (ANVISA, 2016). Uma das limitações para manejo da doença é a escassez de cultivares comerciais de tomates resistentes à pinta preta (ARAUJO; MATSUOKA, 2004), e as medidas de controle têm sido basicamente a utilização de produtos químicos que em algumas situações pode elevar o custo de produção, além de ser prejudicial ao meio ambiente devido aos fungicidas altamente persistentes e pouco seletivos, ocasionando alterações na biodiversidade do local (MIRANDA; RELS, 2006).

Neste sentido, a agricultura moderna tem buscado alternativas agroecológicas, como a utilização de derivados vegetais (extratos, óleos essenciais, hidrolatos dentre outros) que podem levar a descoberta de agentes antimicrobianos com possíveis novos mecanismos de ação contra fitopátogenos.

Segundo Tapwal et al. (2011), a presença de composto antifúngicos em plantas superiores já é reconhecida como fonte de bio-pesticida vegetal para o controle de doenças em plantas. Existe grande interesse pelos pesquisadores na aplicação de produtos vegetais como bio-pesticida (SINGH; SRIVASTAVA, 2013), pois através do uso desses produtos vegetais, pode haver uma diminuição no uso de pesticidas químicos que têm um efeito indesejável na cadeia alimentar dos organismos presentes no ambiente e nos seres humanos. Além disso, os bio-pesticidas de planta são baratos, disponíveis localmente, não tóxicos, e são facilmente degradáveis (JANTASORN et al., 2016). Diante deste contexto, estudos relacionados a produção agroecológica dispõem de métodos alternativos, como a utilização de derivados vegetais com ação bio-pesticida para o controle do patógeno A. solani, conforme evidencias em plantas de solanáceas (DILL, 2009; FRANZENER et al., 2009; PEDROSO et al., 2009).

Alguns estudos relatam o efeito negativo dos extratos de plantas de gengibre (Zingiber officinale), cravo-da-índia (Caryophyllus aromaticus L.) e de alho (Allium sativum L.) sobre os microrganismos fitopatógenos, mas, pouco se sabe de seu potencial na proteção de plantas de tomateiro à pinta preta (BRITO; NASCIMENTO, 2015; VENTUROSO et al., 2011). Assim, objetivou-se avaliar o potencial efeito protetor dos extratos de plantas de gengibre (Z. officinale), cravo-da-índia (C. aromaticus L.) e de alho (A. sativum L.) no controle da pinta preta do tomateiro.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento in vitro foi conduzido no laboratório de Fitopatologia da Universidade Federal da Fronteira Sul no Campus Laranjeiras do Sul Paraná. As coordenadas geográficas da região são 25º26’42’’ de latitude Sul e 52º26’29’’ longitude Oeste. O experimento in vivo foi realizado em casa de vegetação do Sítio Iraí no interior do município de Nova Laranjeiras (PR). O trabalho foi conduzido sob cultivo protegido com temperatura de aproximadamente 25 ºC ± 2 ºC e umidade relativa média de 79,5%.

Obtenção de Extratos Aquosos Vegetais

Os materiais vegetais rizoma do gengibre (Zingiber officinale), botões florais do cravo-da-índia (Caryophyllus aromaticus L.) e bulbos do alho (Allium sativum L.) foram adquiridos no comércio local do município de Laranjeiras do Sul -PR. Os materiais foram lavados com água destilada e em seguida triturados em liquidificador separadamente por três minutos. Para cada material vegetal utilizou-se 200 g em 1000 mL de água destilada, para obtenção do extrato bruto aquoso na concentração de 20%. Em seguida, o material foi filtrado em gaze. A partir desse extrato foram preparadas as concentrações de 1,0, 5,0, 10 e 15 e 20% e em seguida utilizadas nos bioensaios.

Obtenção e Manutenção do fungo

Para a implantação dos experimentos foi coletado inóculo da A. solani em plantas de tomateiro sintomáticas cultivadas pelo produtor do município de Laranjeiras do Sul - PR. O isolado obtido foi mantido em meio de cultura Ágar-Batata-Dextrose- (BDA), repicado a cada sete dias e mantidos em estufa BOD (body oxigen demand) a 25 ºC ± 2 ºC no escuro.

A obtenção de esporos de A. solani para os testes in vivo e in vitro, foi realizada através de ferimento com agulha histológica no ápice do fruto de tomate adicionando-se a massa micelial do patógeno. Em seguida, o fruto foi mantido em câmara úmida por 10 dias a 25 °C ± 2 ºC. Esse procedimento foi adotado pois, não foi obtida esporulação suficiente em placa de Petri, nas condições desse trabalho.

O preparo da suspensão de esporos do fungo foi realizado através da lavagem dos frutos em água destilada, fazendo-se a remoção dos esporos pela raspagem com pincel. A suspensão foi filtrada em gaze e o número de esporos por mL foi determinando através da câmera de Neubauer ao microscópio óptico.

Ensaio antifúngico in vitro

No teste in vitro, os extratos aquosos brutos de gengibre, cravo-da-índia e alho nas concentrações de 1,0, 5,0, 10, 15 e 20% foram adicionados ao meio BDA e autoclavados a 121 °C por 20 min. Também como tratamento utilizou-se meio BDA + 0,25% de calda bordalesa. Como testemunha utilizou-se meio BDA e água destilada. Após a autoclavagem, os meios de cultura foram vertidos em placas de Petri. Duas horas após, discos de 5 mm de diâmetro, contendo micélio de A. solani com sete dias de idade foram repicados para o centro de cada placa, essas foram mantidas a 30 ºC por 7 dias em escuro. As avaliações do crescimento micelial foram realizadas após 48 hs do início do teste, medindo-se o diâmetro médio (cm) da colônia por 5 dias.

Para o teste de inibição de germinação, os tratamentos utilizados foram: testemunha água destilada estéril, calda bordalesa a 0,25% e os extratos bruto aquosos de gengibre, cravo-da-índia e alho nas concentrações de 1,0, 5,0, 10, 15 e 20%, submetidos ou não a autoclavagem. Em cada célula da placa de Elisa foi adicionado 30 µL de suspensão a 1 x 104 de esporos por mL e 30 µL de cada um dos tratamentos descrito anteriormente. Após 20 h, realizou-se a contagem de 100 esporos germinados por parcela e emissão de tubos germinativos em câmara de Neubauer ao microscópio óptico. Também foi avaliado o tamanho dos tubos germinativos em microscópio óptico, pela medição de 10 tubos germinativos por parcela.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com cinco repetições. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e análise de regressão utilizando-se o programa SISVAR 5.6 (FERREIRA, 2011).

Ensaio in vivo proteção em plantas

Sementes de tomateiro, cv. Santa Cruz Kada, foram semeadas em bandejas de isopor de 200 células contendo substrato comercial Aos 30 dias após a semeadura, as plantas foram transplantadas para vasos de 5 litros contendo solo. As plantas foram mantidas em casa de vegetação, sendo uma muda de tomate por vaso. O espaçamento entre as plantas de tomateiro foi de 1 m entre linha e 0,5 m entre planta em sistema tutorado. Cada parcela foi composta por duas plantas.

As plantas de tomateiro foram submetidas aos seguintes tratamentos: testemunha água (T1); extrato aquoso bruto de extrato de gengibre 20% (T2), extrato aquoso bruto de bulbo de alho 20% (T3), extrato aquoso bruto cravo-da-índia 20% (T4) e calda bordalesa (2,5 g/L de água) (T5).

As aplicações com os tratamentos foram realizadas na superfície foliar do tomateiro até o ponto de escorrimento, sendo iniciadas após 47 dias do transplante (DAT) das mudas até o momento da colheita dos frutos de tomateiro, uma vez por semana. O equipamento utilizado para aplicação dos tratamentos foi um pulverizador costal de 12 litros com bico cônico.

A inoculação do fitopatógeno, A. solani no tomateiro foi realizada aos 49 DAT utilizando um borrifador até o molhamento completo da superfície da folha com a suspensão na concentração de 1 x 104 conídios mL-1. As plantas foram mantidas em câmara úmida por um período de 20 h após a inoculação do patógeno.

A avaliação da severidade do patógeno na planta de tomateiro teve início quando apareceram os primeiros sintomas da doença nas plantas do tratamento testemunha e repetidas semanalmente. As avaliações foram realizadas nas folhas marcadas (4 folhas marcadas em cada planta com uma fita) pertencentes ao terço médio das plantas de cada parcela. A avaliação da severidade foi realizada com o auxílio da escala diagramática de Boff (1988), com cinco níveis de severidade de área foliar lesionada.

A partir dos dados obtidos na avaliação da severidade do patógeno foi calculada a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD). O cálculo da AACPD foi realizado de acordo com a equação 1.

n-1

AACPD=∑(Xi+Xi+1)/2(t i+1- t i) (Eq. 1)

Em que: X= severidade média da doença por planta; X=x (t1); n= número de avaliações; (t i+1- ti) é o intervalo entre duas avaliações consecutivas (SHANER; FINNEY, 1977).

Avaliou-se a produtividade do tomateiro, determinando-se a pesagem e o número de frutos por planta. O delineamento utilizado foi o delineamento inteiramente casualizado (DIC), com cinco tratamentos e com cinco repetições, assim totalizando 25 parcelas e cada parcela constituída por 2 plantas. Os dados obtidos da AACPD e os dados referentes aos números de frutos e os valores da produtividade do tomateiro foram submetidos e comparados através do teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro, pelo programa SISVAR 5.6 (FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Efeito dos extratos vegetais no crescimento micelial de Alternaria solani

Os resultados obtidos do efeito dos extratos sobre o crescimento micelial de A. solani são apresentados na Figura 1. Os extratos das três espécies vegetais inibiram o crescimento micelial. Para os extratos de gengibre e alho obteve-se significativa equação linear, com redução no crescimento micelial conforme o aumento na concentração do extrato. Na concentração de 20% a inibição foi de 37,9 e 70,0% para os extratos de gengibre e alho em relação a testemunha contendo apenas meio de cultivo com água, respectivamente.

Resultados semelhantes foram encontrados por Harish et al. (2004) e Amaral; Bara (2005) em que observaram in vitro, utilizando o extrato de gengibre, inibição de 70% do crescimento do fungo Helminthosporium oryzae Breda de Hann, agente causal da mancha parda do arroz.

Esta significativa atividade antifúngica do extrato de gengibre possivelmente está relacionada à interferência do gengerol, que tem ação antioxidante ou inibidor de biossíntese do fungo (SURH, 2002).

Brito e Nascimento (2015) utilizando-se extrato de gengibre demonstrou a eficiência do mesmo em outro patossistema. Esses autores observaram que, aumentando-se a concentração do extrato de gengibre, maior é o potencial de inibição do desenvolvimento micelial de Curvularia eragrostidis (P. Henn). Meyer, fungo responsável pela queima das folhas do inhame.

Em estudos realizados por Ferreira et al. (2013), mostraram que, em diferentes concentrações, o óleo essencial de gengibre reduziu significativamente o crescimento, germinação e esporulação da espécie Aspergillus flavus.

Pedroso et al. (2009) já haviam avaliado o efeito do extrato de gengibre in vitro e indicaram que o aumento da concentração do gengibre é eficiente na redução micelial da A. solani.

A calda bordalesa proporcionou 100% de inibição do crescimento micelial, confirmando seu efeito antifúngico. O extrato de cravo-da-índia também promoveu inibição de 100% no crescimento micelial em todas as concentrações, indicando elevado efeito antifúngico sobre A. solani mesmo em baixas concentrações, portanto maior efeito sobre esse fitopatógeno em relação aos extratos das outras espécies vegetais. Observando a equação de regressão, para cada 1% de aumento na concentração de extrato de alho houve inibição em 0,2353 cm no crescimento do fungo (Figura 1).

Figura 1. Crescimento micelial de Alternaria solani em função do tratamento com extratos brutos aquosos (EB) de gengibre, EB cravo-da-índia e EB de alho. CB: Calda bordalesa. EB: Extrato bruto aquoso.

O extrato de alho promoveu maior redução no desenvolvimento micelial do patógeno quando comparado com o gengibre. Conforme menciona Souza et al. (2013) a ação antimicrobiana do extrato e óleo essencial do alho é devido à presença de seus componentes, dentre esses a alicina, substância que atua sobre diversos microrganismos.

Dill (2009), demonstrou a ação antifúngica do extrato de alho no controle de A. solani in vitro. O autor, observou que a utilização do extrato filtrado a 30%, reduziu o crescimento micelial de A. solani, 67,77%. Ribeiro (1999) também observou atividade antifúngica do extrato de alho filtrado na redução do desenvolvimento micelial de Colletotrichum gloeosporioides. O autor ainda diz que, quando utilizou o extrato de alho autoclavado, este perdeu suas características antifúngicas durante o processo de esterilização.

Sallam (2011) avaliando o efeito de diferentes extratos de plantas, observaram que o extrato de alho (Allium sativum) na concentração de 5%, inibiu o crescimento micelial de A. solani em 42,2% e, em plantas de tomateiro quando tratadas nesta mesma concentração reduziu a severidade da doença em 71,7%.

O extrato de cravo-da-índia promoveu resultados semelhantes à calda bordalesa, com inibição total do crescimento micelial, mesmo em menores concentrações. Resultados obtidos por Oliveira et al. (2016) para outro patossistema evidenciaram que o extrato de cravo-da-índia foi efetivo na inibição do crescimento micelial de Colletotrichum musae, equivalendo ao tratamento com fungicida, inibindo o crescimento micelial do patógeno em 100%, em todas as concentrações testadas (5, 10, 15, 20, 25 e 30 %).

A espécie Caryophyllus aromaticus (cravo-da-índia), obtida como extrato bruto quanto na forma de óleo essencial, vem se destacando no controle de doenças, apresentando grande eficiência como agente antimicrobiano, sugerindo-se que essa ação pode ser devido a atuação de componentes químicos, como o eugenol ou ao cariofileno ou a essas duas substâncias que são os principais constituintes dessa planta medicinal (AMARAL, 2005).

Resultados semelhantes ao presente trabalho foi obtido por Santos Neto et al., (2016), quanto a inibição do crescimento micelial de Alternaria solani e Septoria lycopersici, utilizando extrato aquoso, óleo essencial e citral provenientes do capim-limão (Cymbopogon citratus), sendo que o óleo essencial e o citral na maior concentração testada de 400 µL/L-1 proporcionaram 100% de inibição, demonstrando potencial alternativa para manejo fitossanitário da cultura do tomate.

Sadana e Didwania (2015) estudaram a bioeficácia de quinze espécies vegetais (Polyalthia longifolia, Azadirachta indica, Datura stramonium, Ocimum sanctum, Calotropis procera, Crotalaria juncea, Eucalyptus obliqua, Cassia fistula, Agele marmelos, Croton bonplonadium, Pergularia daemia, Cleome viscose, Phyllanthus amarus, Bauhinia purpurea, Euphorbia hirta), in vitro sob Alternaria solani. Os autores observaram que o extrato aquoso bruto de Eucalyptus obliqua 15%, foi o mais eficiente, inibindo 88% o crescimento micelial do fungo. As espécies Datura stamonium, Azadirachta indica, Calotropis procera e Polyalthia longifolia inibiram o crescimento micelial em 82,5%, 73,7%, 79% e 76,7%, respectivamente.

Resultados diferentes ao obtido pelo presente trabalho, foram observados por Itako et al. (2008) que verificaram que o crescimento micelial do fungo A. solani foi igual ou superior à testemunha nos extratos brutos aquosos das plantas testadas Achillea millefolium (mil-folhas), Artemisia camphorata (cânfora), Cymbopogon citratus (capim-limão) e Rosmarinus officinalis (alecrim), indicando que estes extratos não impediram o crescimento do fungo A. solani in vitro.

Nos estudos de Domingues et al. (2011) foi avaliado a eficácia dos extratos de plantas Senna spectabilis, Senna multijuga e Avicennia schaueriana e duas espécies de basidiomicetos, Oudemansiella canarii (CCB179) e Irpex lacteus (CCB196) na inibição do in vitro do crescimento micelial e germinação de três patógenos, dentre eles A. solani. Estes autores observaram que apenas o extrato fúngico O. canarii inibiu totalmente a germinação de conídios de A. solani. Já os demais extratos não apresentam nenhum grau de inibição da germinação de conídios. Para o crescimento micelial os extratos de plantas não tiveram diferença significativa em relação a testemunha.

Goussous e colaboradores (2010) avaliaram em sua pesquisa a eficácia e a melhor dosagem de cinco extratos de plantas no controle de dois isolados de Alternaria solani (A6 e A13). Os autores observaram que todos os extratos de plantas, manjerona da síria (Majorana syriaca), alecrim (Rosmarinus officinalis), sálvia grega (Salvia fruticosa), vinagreira (Hibiscus sabdariffa) e lavanda algodão (Santolina chamaecyparissus), foram eficazes na redução do crescimento micelial de A. solani em relação ao controle.

Dentre estes, destaca-se os extratos das espécies vegetais vinagreira a 8% e manjerona da síria a 10% que inibiram totalmente o crescimento micelial de A. solani. O extrato de alecrim também inibiu 100% do crescimento micelial, porém, sua concentração foi o dobro para os extratos de vinagreira e manjerona da síria. Deste modo, para o extrato de alecrim a 10% não foram observadas diferenças significativas em relação ao tratamento controle (GOUSSOUS et al. 2010).

Tomazoni et al. (2013) em testes realizados in vitro com o óleo essencial de Cinnamomum zeylanicum sob os fungos, Alternaria solani, Stemphylium solani e Septoria lycopersici, verificaram a inibição do crescimento de A. solani e S. solani a partir da concentração 0,5 μL/mL e para S. lycopersici a partir da concentração 0,1 μL/mL.

Efeito dos extratos vegetais na germinação dos esporos da Alternaria solani

Os resultados do efeito dos extratos autoclavado e não autoclavado sobre a germinação da A. solani são apresentados na Figura 02 e 03, respectivamente.

Os extratos das três espécies vegetais promoveram inibição na germinação dos esporos. Para os extratos autoclavados e não autoclavado de gengibre, alho e o cravo-da-índia obteve-se significativa equação linear, com redução na germinação conforme o aumento na concentração do extrato. Na concentração de 20% apenas de 47,5 e 16% dos esporos germinaram para os extratos de gengibre e alho não autoclavados, respectivamente. Na concentração de 20% apenas 59 e 27,5% dos esporos germinaram para os extratos de gengibre e alho autoclavados, respectivamente.

Figura 2. Germinação de esporos de Alternaria solani em função ao tratamento com extratos brutos aquosos (EB) autoclavados de gengibre, cravo-da-índia e alho. CB: Calda bordalesa. EB: Extrato bruto aquoso.

Para o extrato de cravo-da-índia tanto autoclavado e não autoclavado na concentração de 20% inibiram em 100% a germinação dos esporos, indicando elevado efeito antifúngico sobre A. solani. Assim os extratos tanto autoclavado e não autoclavado possuem a capacidade em reduzir a germinação dos esporos da doença, indicando característica termoestável desses extratos.

Para o extrato cravo-da-índia não autoclavado observa-se que, mesmo na menor concentração houve inibição da germinação de esporos de A. solani, chegando a 100% de inibição com o aumento da concentração do extrato bruto (Figura 3).

Figura 3. Germinação de esporos de Alternaria solani em função ao tratamento com extratos brutos aquosos (EB) não autoclavados de gengibre, cravo-da-índia e alho. CB: Calda bordalesa. EB: Extrato bruto aquoso.

Resultados semelhantes a esta pesquisa foram obtidos por Goussous e colaboradores (2010) que observaram efeito fungitóxico dos extratos de vinagreira e manjerona da síria sob A. solani. Os autores relatam que mesmo na menor concentração dos extratos (1%) houve inibição da germinação de conídios do patógeno de 91,9 e 82,5%, para os respectivos extratos. Os autores ainda ressaltam que, os resultados de tais investigações indicaram que a inibição no crescimento micelial e na germinação de esporos varia muito, em função das diferentes espécies de plantas utilizadas, método de preparação e concentração.

Segundo Itako et al. (2008) os extratos vegetais podem apresentar propriedade antagônica ao desenvolvimento de fungos. Esses autores observaram que os extratos brutos aquosos de Achillea millefolium (mil-folhas), Artemisia camphorata (cânfora), Cymbopogon citratus (capim-limão) e Rosmarinus officinalis (alecrim) autoclavados, não impediram o crescimento micelial do fungo A. solani quando comparado a testemunha (água). No entanto, os autores observaram que para a produção de conídios, os extratos de cânfora e capim-limão nas concentrações de 20 e 40%, reduziram significativamente a esporulação em 91,5; 98,4; 93,2 e 99,0%, respectivamente.

Em estudos realizados por Rodrigues et al. (2007) indicam atividade antimicrobiana de extratos bruto aquoso de gengibre, inibindo o crescimento micelial e a produção de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum em alface. O óleo essencial de gengibre não do tratamento com fungicida Tecto, quanto à inibição da germinação de esporos do fungo Penicillium digitatum (MATTOS, 2010).

Em estudos realizados por Almeida, Camargo e Panizzi (2009) para o controle de Colletotrichum acutatum em morangueiro, foram testados os extratos de plantas medicinais, das quais arruda, gengibre, vinca, losna, cebola, arnica e nim foram os que propiciaram melhor inibição da germinação dos conídios, diferindo estatisticamente da testemunha.

Quanto ao tamanho médio dos tubos germinativos de A. solani em função dos tratamentos, obteve-se resultados semelhantes ao da germinação de esporos. Os derivados das três espécies vegetais promoveram redução no tamanho dos tubos germinativos conforme aumento na concentração do extrato, mostrando significativo efeito fungistático dos extratos sobre o fitopatógeno. Esse resultado foi observado tanto quando autoclavados (Figura 04) e quando não autoclavados (Figura 05), indicando a presença de compostos ativos termoestáveis. Esse resultado está pertinente com os observados para germinação e crescimento micelial, mostrando efeito não apenas na germinação como também no crescimento das hifas.

Figura 4. Tamanho de tubos germinativos de Alternaria solani em função ao tratamento com extratos brutos aquosos (EB) autoclavados de gengibre, cravo-da-índia e alho. CB: Calda bordalesa. EB: Extrato bruto aquoso.

Figura 5. Tamanho de tubos germinativos de Alternaria solani em função ao tratamento com extratos brutos aquosos (EB) não autoclavados de gengibre, cravo-da-índia e alho. CB: Calda bordalesa. EB: Extrato bruto aquoso.

No trabalho desenvolvido por Fiori et al. (2000) foi observado o efeito fungitóxico do óleo essencial de A. millefolium (mil-folhas) em Didymella bryoniae sendo que, na alíquota de 100 µL, foi identificada inibição de 96% da germinação de conídios, além disso observaram também através de microscopia eletrônica de varredura, crescimento atípico e degeneração das hifas de D. bryoniae.


Avaliação “in vivo” da produção do tomateiro e da severidade da pinta preta

Com relação a produção das plantas de tomateiro tratadas com os extratos vegetais, observou-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos com os extratos sobre o número e peso de frutos de tomate aos 90 dias após emergência (Tabela 1).

Quanto a severidade da doença, todos os tratamentos promoveram redução na área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) em relação a testemunha água destilada (Tabela 1). Maior redução na severidade foi promovida pela calda bordalesa, que reduziu em 94,3% a AACPD em relação a testemunha água.

Entre os extratos vegetais, o cravo-da-índia foi que apresentou maior eficiência na redução da severidade da doença no tomateiro. A área foliar infectada pela doença na última avaliação foi de 16%, enquanto que o gengibre e o alho foi de 26 e 25%, respectivamente. Desta forma, através dos valores da AACPD o gengibre e o alho não se diferiram entre si, mostrando efeito semelhante no controle da doença. A redução na AACPD foi de 55,8, 29,5 e 22,5% para extratos de cravo-da-índia, alho e gengibre em relação a testemunha água, respectivamente.

Tabela 1. Média de números de frutos, pesos dos frutos e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) pinta preta em plantas de tomateiro tratadas com diferentes extratos vegetais.

Tratamentos

Números de frutos *

Peso dos frutos (g) *

AACPD

Água destilada

25,6

463,6

188,4 a**

Gengibre

27,0

458,2

146,0 b

Alho

22,4

436,4

132,8 b

Cravo-da-índia

23,2

405,8

83,2 c

Calda bordalesa

32,6

612,8

10,8 d

CV%

25,6

38,0

9,34

*Diferenças entre médias não significativas pela análise de variância e teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade para número de frutos e peso dos frutos. **As médias seguidas pela mesma letra não se diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade para AACPD.

No trabalho de Dill (2009) foi verificado que extratos vegetais tiveram influência sobre a pinta preta do tomateiro e desta forma influenciando no desenvolvimento e ganho de peso dos frutos de tomateiro. Balbi-Peña et al. (2006) também obtiveram aumento na produtividade com extratos brutos. Em seu trabalho com extratos vegetais de Curcuma longa obteve resultados de controle da doença e produtividade em tomateiro foi similar aos obtidos com fungicidas cúpricos.

Abreu (2006) observou em sua pesquisa diminuição da incidência da pinta preta em folíolos de tomate doente através do controle alternativo com a utilização dos óleos essenciais de Cymbopogon citratus e Caryophyllus aromaticus na avaliação de folíolos doentes.

Os resultados desta pesquisa mostram o potencial dos extratos vegetais avaliados para controle alternativo da pinta preta do tomateiro, podendo representar opção na produção de tomate em sistema de base ecológica.

CONCLUSÕES

Os extratos vegetais avaliados apresentaram atividade direta sobre A. solani, inibindo o crescimento micelial, a germinação e o alongamento dos tubos germinativos, com destaque para o extrato de cravo-da-índia.

A atividade antifúngica dos extratos sobre A. solani não foi afetada de forma mais expressiva pela autoclavagem, indicando possivelmente a presença de compostos ativos termoestáveis.

Os extratos de cravo-da-índia, alho e gengibre reduziram significativamente a severidade da pinta preta em plantas de tomateiro, embora não tenham afetado variáveis de produção nas condições do experimento.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Chamada MCTI/MAPA/MDA/MEC/MPA/CNPq Nº 81/2013 pelo apoio financeiro.

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