ARTIGO CIENTÍFICO

Florística e estrutura do componente arbustivo-arbóreo de um remanescente de cerrado sensu stricto, Gurupi, Tocantins

Floristic and structure of the shrub-arboreal component of a remnant of cerrado sensustricto, Gurupi, Tocantins, Brazil

Bruno Aurélio Campos Aguiar¹*, Marília Oliveira Camargo², Rômullo Quirino de Souza Ferreira³, Paulo Ricardo Teixeira4, Rubens Ribeiro da Silva5 Priscila Bezerra de Souza6

1Eng. Florestal, Mestrando do programa Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, aguiar.florestal@gmail.com; 2Eng. Florestal, Mestre em Ciências Florestais e Ambientai, Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, lilikamargo@hotmail.com; 3Eng. Florestal, Mestre em Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, romullo_florest@mail.uft.edu.br; 4Eng. Florestal, Mestre em Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, paulo.engflorestal@hotmail.com; 5Eng. Agrônomo, Dr. Professor Adjunto do Curso de Agronomia e do Programa de Pós Graduação Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, rrs2002@uft.edu.br; 6Bióloga, Dr. Professora Adjunto do Curso de Engenharia Florestal e do Programa de Pós Graduação Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do Tocantins, Gurupi, priscilauft@uft.edu.br

Recebido para publicação em 22/09/2017; aprovado em 22/12/2017

Resumo: Objetivou-se caracterizar a florística e a fitossociologia de um fragmento de cerrado sensu stricto, localizado em Gurupi, Tocantins. O estudo foi realizado na Reserva legal da fazenda experimental da Universidade Federal do Tocantins, campus de Gurupi, Tocantins. Foram implantadas cinco parcelas de 20x50m, totalizando 5000m² e amostrados todos os indivíduos com circunferência maior ou igual a 10 cm, ao nível do solo (CAS). Foram registrados 906 indivíduos arbustivo-arbóreo pertencentes a 42 famílias, 102 espécies e 78 gêneros. As famílias que se destacarem em numero de indivíduos, frequência, dominância foram Myrtacea, Vochystaceae, Burseraceae e Fabaceae, entre os indivíduos os principais foram Myrcia fallax (Rich) DC, Protium heptaphyllum (Aubl) Marchand e Qualea multiflora Mart. O índice de diversidade de Shannon (H´) foi de 3,70 e equabilidade J´0,80, sendo considerados padrões para a região do cerrado.

Palavras-chave: Levantamento florístico; Diversidade; Riqueza.

Abstract: The objective was to characterize a floristic and phytosociology of a fragment of cerrado sensu stricto, located in Gurupi, Tocantins. The study was carried out in the legal Reserve of the experimental farm of the Federal University of Tocantins, Campus of Gurupi, Tocantins, Brazil. Five porcelains of 20x50m were implanted, totaling 5000sqm and all compostations with a circumference greater than or equal to 10 cm, at 0 cm at the soil level (CAS) were implanted. Foramaler 906 aphid shrub-arboreal belonging to 42 families, 102 species and 78 genera. The families that stood out in number of individuals, frequency, dominance were Myrtacea, Vochystaceae, Burseraceae and Fabaceae, among the indications of the main beings Myrcia fallax (Rich) DC, Protium heptaphyllum (Aubl) Marchand and Qualea multiflora Mart. The diversity index of Shannon (H ') was 3.70 and equability J'0,80, being considered for the cerrado region.

Key words: Floristic survey; Diversity; Wealth.

INTRODUÇÃO

Dentre os biomas presente no Brasil, o Cerrado é o segundo maior bioma perdendo apenas para a Amazônia, ocupando cerca de 22% do território (BRASIL, 2017). Este bioma ocupa a área central do Brasil e engloba vários Estados, entre eles Goiás, Distrito Federal e parte dos Estados de Minas Gerais, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, São Paulo Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará (SANO et al., 2008).

O cerrado é composto por uma vegetação desde savanas, campos abertos e florestas, mudanças de fisionomias são oriundas principalmente devido à disponibilidade de água e outras características referente ao solo (SILVA et al.,2015)..

A flora do bioma Cerrado é composta basicamente pelas mesmas famílias e gêneros que ocorrem na Mata Atlântica e na Amazônia, mas as espécies são distintas e com distribuição heterogênea dentro do bioma, além das proporções diferentes dos gêneros e espécies (RATTER et al., 2003; BRIDGEWATER et al., 2004). Adicione-se a isso, conforme Forzza et al. (2010), que 29,7% das plantas com sementes endêmicas do Brasil, ou 4.151 espécies, pertencem ao bioma Cerrado.

O bioma Cerrado já pode ser considerado um ambiente tropical que detêm elevada parcela de conhecimento sobre sua vegetação e chama atenção aos possíveis processos responsáveis pelos padrões ecológicos até agora identificados. Entretanto, para desenvolver essa compreensão acerca desses padrões (por exemplo, a elevada β-diversidade), é necessário dar continuidade a coleta de dados florísticos, assim como direcionar esforços para estudos de cunho fitogeográfico (DURIGAN et al., 2003; BRIDGEWATTER et al., 2004; FELFILI et al.,2004; NETTESHEIM et al., 2010; SOUZA FERREIRA et al., 2015).

O Estado do Tocantins possui 27.620 km² de extensão territorial, tendo 91% composto pelo Bioma Cerrado (MACHADO et al., 2004). Diante do contexto apresenta ainda 72% da vegetação remanescente do bioma Cerrado, configurando-se entre os Estados com maiores índices desse tipo de cobertura (BRASIL, 2015)

Mesmo apresentando índices elevados desse tipo de vegetação o numero de estudos voltados para se conhecer a florística e fitossociologia da flora no Estado do Tocantins ainda é rara (BONFIM et al., 2016). Diante do contexto objetivou-se caracterizar a florística e a fitossociologia de um fragmento de cerrado sensu stricto, Gurupi-TO.

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo é um fragmento do Cerrado, fisionomia cerrado sensu stricto, pertencendo a Fazenda Experimental da Universidade Federal do Tocantins, campus de Gurupi – TO, sob as coordenadas UTM 11°46’25’’ S e 49°02’54’’ W. O clima da região é caracterizado como tropical úmido com estação chuvosa no verão e seca no inverno. A temperatura média ao longo do ano varia entre 22ºC e 28ºC, já a precipitação varia entre 1.500mm a 1.600mm (SEPLAN, 2012). A altitude registrada nas áreas avaliadas está situada entre as cotas de 250 a 300 metros e o solo é classificado como Plintossolo (EMBRAPA, 2013).

A vegetação na área estudada foi avaliada entre os meses de setembro de 2012 a de agosto de 2013, utilizando-se o método de parcelas (MUELLER-DOMBOIS; ELLENBERG, 1974). Foram instaladas sistematicamente cinco parcelas de 20x50m, sendo distanciadas 20 m entre si, perfazendo um total de 5000 m², ou seja, 0,5 ha de área amostral.

Nas parcelas foram amostrados todos os indivíduos arbustivo-arbóreo com circunferência ao nível do solo ≥ 10cm (CAS).

A identificação taxonômica das espécies amostradas na área de estudo foi realizada através de comparações com o material do Herbário da UFT, campus de Porto Nacional, literatura especializada Almeida et al. (1998); Lorenzi (2002); Silva Junior (2009); Silva Junior (2012) e consultas a especialistas, quando necessário. Os nomes das espécies, seus respectivos autores e sinonímias foram confirmados e atualizados pelo site da Lista de Espécies da Flora do Brasil (FLORA DO BRASIL, 2015). O sistema de classificação adotado foi o "Angiosperm Phylogeny Group" (APG, 2009).

A partir do uso do programa Fitopac versão 2.1.2 foram obtidos os parâmetros fitossociológicos densidade relativa (DR), densidade absoluta (DA), dominância absoluta (DoA), dominância relativa (DoR), frequência absoluta (FA), frequência relativa (FR), índice de valor de importância (IVI), índice de diversidade de Shannon (H’), e Pielou (SHEPPERD, 2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram amostrados 906 indivíduos, dos quais 868 vivos e 38 mortos em pé, distribuídos em 102 espécies, 78 gêneros pertencentes a 42 famílias.

As árvores mortas em pé, totalizaram 4,19% dos indivíduos amostrados, valor esse considerado normal em formações vegetais brasileiras. Como apresentou elevada frequência, ocorrendo em 100% das parcelas, indica que não está havendo uma perturbação localizada, pois a morte das árvores pode estar relacionada com acidentes como: ventos, tempestades, queda de grandes ramos, doenças, perturbações antrópicas e até mesmo ocorrer naturalmente por estarem velhas. Em relação ao total de árvores amostradas, outros autores encontraram valores parecidos, em áreas de Cerrado no Estado de São Paulo, Cavassan (1982) encontrou 5,8% de árvores mortas, Struffaldi-De-Vuono (1985) 11,5%, Martins (1991) 7,4%, Tabanez et al. (1997) 11,3% e Silva e Soares (2002) 7,74%. As árvores mortas, ainda em pé, têm valor ecológico para a fauna silvestre, fornecendo abrigo, local de nidificação e fonte indireta de alimento (LOPES, 2002).

As famílias com os maiores números de espécies foram Fabaceae (14), Myrtaceae (7), Annonaceae (6), Rubiaceae (6), Apocynaceae e Chrysobalanaceae com cinco espécies cada (Tabela 1). Estas famílias contribuíram com 42,15% do total das espécies amostradas, em se tratando da flora lenhosa de cerrado sensu stricto, as famílias como Fabaceae, Vochysiaceae, Myrtaceae, Malpighiaceae e Rubiaceae comumente apresentam altos valores de riqueza florística (FINA; MONTEIRO, 2013; NETTESHEIM et al., 2010; SILVA NETO et al., 2016; ROCHA et al., 2014)

A posição de destaque da Fabaceae entre as famílias com maior riqueza de espécies podem estar relacionadas com a capacidade de fixação de nitrogênio de algumas de suas espécies, o que pode conferir à referida família vantagem competitiva nos solos predominantemente distróficos do Cerrado (GOODLAND, 1979). Além disso, a grande representatividade da família Fabaceae pode ser atribuída ao fato da região central do Brasil ser considerada o principal centro de diversificação desta família (POLHILL et al.,1981).

As famílias Myrtaceae, Vochysiaceae, Burseraceae, Fabaceae, Anacardiaceae, Sapindaceae, Malpighiaceae, Tiliaceae, Polygonaceae, Annonaceae e Proteaceae obtiveram 100% de frequência absoluta, indicando uma ampla distribuição dessas famílias na área. Dados estes que corroboram com Neri et al. (2007) onde encontraram as famílias Vochysiaceae, Fabaceae e Malpighiaceae com 100% de frequência em um levantamento realizado no cerrado do norte de Minas Gerais. Já as famílias Sapotaceae, Styracaceae, Melastomaceae, Boraginaceae, Opiliaceae, Celastraceae, Rutaceae, Lythraceae, Cochlospermaceae e Euphorbiaceae tiveram presentes em apenas uma das parcelas com frequência absoluta de 20%.

As quatro famílias que apresentaram maiores índice de valor de importância foram Myrtaceae (9,84%); Vochysiaceae (8,62%); Burseraceae (7,77%) e Fabaceae (6,90%). Tal característica implica na dominância no nível de família, fato comum em regiões tropicais, como no cerrado sensu stricto.

Em relação ao número de indivíduos as famílias que obtiveram maior representação foram Myrtaceae (165), Vochysiaceae (131), Burseraceae (63), Fabaceae (58), Malpighiaceae (54) e Anacardiaceae (49), totalizando 57,39 % dos indivíduos amostrados.

O sucesso da família Vochysiaceae pode estar fortemente associado à capacidade de acumulação de alumínio por parte de algumas das suas espécies (HARIDASAN; ARAÚJO, 1987; HARIDASAN, 2000), o que também configura uma vantagem competitiva em solos distróficos com baixa saturação de bases trocáveis, baixa capacidade de troca catiônica, alta acidez e altas concentrações de Al no perfil, como é o caso da maioria dos solos no bioma Cerrado. Além disso, muitas espécies das referidas famílias têm estratégias reprodutivas bem adaptadas às condições climatológicas do Cerrado, apresentando dispersão das sementes no início da estação chuvosa, boa germinação e ausência de dormência nas sementes (OLIVEIRA, 2008).

Tabela 1. Estimativa dos parâmetros fitossociológicos das famílias e do grupo das árvores mortas, na área de cerrado sensu stricto. Ao nível de amostragem a 0 cm do solo (CAS), ordenadas em ordem decrescente de valor de importância, em que NI= número de indivíduos; NSp = número de espécies; DA = densidade absoluta (número de indivíduos/ha); DR = densidade relativa (%); FrA = frequência absoluta (unidade de amostra/total de amostra); FrR = frequência relativa (%); DoA = dominância absoluta (m²/ha); DoR = dominância relativa(%) e IVI = índice de valor de importância (%).

Famílias

NI

NSp

DA

DR

FrA

FrR

DoA

DoR

IVI%

Myrtaceae

165

7

330

18,21

100

3,65

2,84

7,64

9,84

Vochysiaceae

131

4

262

14,46

100

3,65

2,88

7,76

8,62

Burseraceae

63

1

126

6,95

100

3,65

4,72

12,71

7,77

Fabaceae

58

14

116

6,40

100

3,65

3,95

10,65

6,90

Anacardiaceae

49

4

98

5,41

100

3,65

3,56

9,59

6,22

Morta

38

1

76

4,19

100

3,65

2,65

7,15

5,00

Sapindaceae

48

2

96

5,30

100

3,65

2,21

5,96

4,97

Malpighiaceae

54

4

108

5,96

100

3,65

0,84

2,27

3,96

Tiliaceae

18

1

36

1,99

100

3,65

1,18

3,19

2,94

Rubiaceae

29

6

58

3,20

80

2,92

0,95

2,57

2,90

Combretaceae

15

1

30

1,66

80

2,92

1,46

3,94

2,84

Bombacaceae

10

2

20

1,10

80

2,92

1,60

4,32

2,78

Chrysobalanaceae

22

5

44

2,43

80

2,92

1,11

2,98

2,78

Polygonaceae

25

1

50

2,76

100

3,65

0,69

1,86

2,75

Annonaceae

23

6

46

2,54

100

3,65

0,68

1,83

2,67

Loganiaceae

19

1

38

2,10

80

2,92

1,05

2,83

2,61

Apocynaceae

19

5

38

2,10

80

2,92

0,61

1,64

2,22

Proteaceae

14

1

28

1,55

100

3,65

0,42

1,14

2,11

Icacinaceae

18

1

36

1,99

80

2,92

0,53

1,42

2,11

Outras espécies

88

35

176

9,68

980

35,77

3,16

8,56

18,01

Total

906

102

1812

100

2740

100

37,09

100

100

As espécies com maior número de indivíduos foram Myrcia fallax (137), Qualea multiflora (68) Protium heptaphyllum (63), Magonia pubescens (42), Qualea grandiflora (31),Byrsonima pachyphylla (28), Tapirira guianensis (28) e Qualea parviflora (28), totalizando 46,90% dos indivíduos amostrados (Tabela 2).

Excluindo as mortas treze espécies de diferentes famílias apresentaram 100% de frequência absoluta, sendo comuns em todas as cinco parcelas entre elas estão Myrcia fallax, Protium heptaphyllum, Qualea multiflora, Tapirira guianensis, Magonia, pubescens, Qualea parviflora, Luehea grandiflora, Copaifera langsdorffii, Coccoloba mollis, Vatairea macrocarpa, Xylopia aromatica, Astronium fraxinifolium e Roupala montana no entanto as quatro últimas espécies apresentaram poucos indivíduos, apesar da alta frequência (Tabela 2).

As espécies que apareceram em apenas uma das parcelas foram Platypodium elegans, Hirtella martiana, Hirtella gracilipes, Gomidesia lindeniana, Sclerolobium aureum, Brosimum gaudichaudii, Coussarea hydrangeaefolia, Psychotria carthagenensis, Byrsonima laxiflora, Davilla elliptica, Aspidosperma macrocarpo, Pouteria ramiflora, Psidium myrsines, Agonandra brasiliensis, Styrax ferrugineus, Rapanea gardneriana, Anona crasiflora, Anacardium occidentale, Mouriripusa, Psidium guineense, Guatteria nigrescens, Alibertia edulis, Cordia glabrata, Guatteria vilosíssima, Ficus insipida, Hymenaea courbaril, Ascomium dasycarpum, Guarea macrophylla, Tachigali aurea, Machaerium opacum, Porcelia macrocarpa, Maytenus robusta, Tabebuia ocrhacea, Diospyros burchelli, Zanthoxylum rhoifolium, Licania humilis, Physocalym mascaberrimum, Cybianthus detergens, Harcornias peciosa, Brosimum guianense, Aspidosperma ramiflora, Connarus suberosus, Guarea guidonia, Rourea induta, Aspidosperma parvifolium, Cochlospermum regium, Hyeronima alchorneoides, Ouratea hexasperma e Bauhinia rufa, totalizando 48,03% das espécies amostradas.

Dessas espécies citadas acima 37 apareceram com apenas um individuo, totalizando 36,27% das espécies encontradas no fragmento estudado. Cabe ressaltar que é um número muito elevado de espécies que ocorrem com apenas um indivíduo, indicando uma alta susceptibilidade à extinção local dessas espécies, caso ocorra morte ou corte desses indivíduos. Isso pode ser devido à grande diversidade da flora, ao padrão de distribuição da espécie e a baixa densidade das populações (SILVA e SOARES, 2002).

As espécies que mostraram maior dominância relativa foram Protium heptaphyllum (12,71%), Tapirira guianensi s(7,93%), Myrcia fallax (5,69%) e Magonia pubescens (5,09%).

Com relação ao índice de valor de importância destacaram-se as espécies Myrcia fallax (7,67%), Protium heptaphyllum (7,29%), Qualea multiflora (4,54%), Tapirira guianensis (4,41%) e Magonia pubescens (3,97%). Um grande número de espécies (68,62%) apresentaram IVI menor que 1% (Tabela 2). Segundo Martins (1979), a presença de um grande número de espécies com baixo IVI é uma característica das florestas tropicais. Poucas espécies detêm altos valores relativos de densidade, de frequência e de dominância, enquanto muitas espécies apresentam poucos indivíduos e têm baixo IVI.

Tabela 2. Estimativa dos parâmetros fitossociológicos das espécies botânicas e do grupo de árvores mortas, na área de cerrado sensu stricto. Ao nível de amostragem a 0 cm do solo (CAS), ordenadas em ordem decrescente de valor de importância, em que NI= número de indivíduos; DA = densidade absoluta (número de indivíduos/ha); DR = densidade relativa (%); FrA = frequência absoluta (unidade de amostra/total de amostra); FrR = frequência relativa (%); DoA = dominância absoluta (m²/ha); DoR = dominância relativa(%) e IVI = índice de valor de importância (%).

Espécies

NI

DA

DR

FrA

FrR

DoA

DoR

IVI%

Myrcia fallax (Rich.) DC.

137

274

15,12

100

2,2

2,11

5,69

7,67

Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand.

63

126

6,95

100

2,2

4,72

12,71

7,29

Qualea multiflora Mart.

68

136

7,51

100

2,2

1,45

3,9

4,54

Mortas

38

76

4,19

100

2,2

2,65

7,15

4,52

Tapirira guianensis Aubl.

28

56

3,09

100

2,2

2,94

7,93

4,41

Magonia pubescens A. St. –Hil.

42

84

4,64

100

2,2

1,89

5,09

3,97

Qualea parviflora Mart.

Luehea grandiflora Mart.

Terminalia argentea Mart.

28

18

15

56

36

30

3,09

1,99

1,66

100

100

80

2,2

2,2

1,76

0,78

1,18

1,46

2,11

3,19

3,94

2,47

2,46

2,45

Copaifera langsdorffii Desf.

13

26

1,43

100

2,2

1,26

3,39

2,34

Coccoloba mollis Casar.

25

50

2,76

100

2,2

0,69

1,86

2,27

Antonia ovata Pohl.

19

38

2,1

80

1,76

1,05

2,83

2,23

Qualea grandiflora Mart.

31

62

3,42

80

1,76

0,54

1,45

2,21

Byrsonima pachyphylla A. Juss.

28

56

3,09

80

1,76

0,39

1,04

1,97

Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke

17

34

1,88

100

2,2

0,6

1,61

1,90

Xylopia aromatica (Lam.) Mart.

14

28

1,55

100

2,2

0,53

1,44

1,73

Emmotum nitens(Benth.) Miers.

18

36

1,99

80

1,76

0,53

1,42

1,72

Astronium fraxinifolium Schott

15

30

1,66

100

2,2

0,43

1,16

1,67

Roupala montana Aubl.

14

28

1,55

100

2,2

0,42

1,14

1,63

Outras espécies

275

550

30,33

2740

60,4

11,50

30,95

40,55

Total

906

1812

100

4540

100

37,12

100

100

Ao realizar a comparação dos dados deste trabalho com outros estudos (Tabela 3) pode-se perceber que o número de indivíduos por/ha variou de 165 a 1804 e área basal de 8,4m²/ha a 37,1 m²/ha. Segundo Felfili et al. (1994), as amplitudes de densidade e área basal nos cerrados sensu stricto de Goiás e do Distrito Federal, variam entre 664 a 1396 indivíduosha­¹ e 5,79 a 11,30 m² ha-¹, respectivamente.

O valor de área basal encontrado nesse estudo foi elevado quando comparado a outros estudos que empregaram um critério de inclusão menos abrangente que o adotado nesse trabalho (CAS ≥ 10 cm). É razoável, portanto, assumir que caso tivesse sido amostrado um critério de inclusão CAS ≥ 15,7cm (geralmente empregado em cerrado sensu stricto), teríamos registrado uma área basal menor. A elevada área basal encontrada aproxima-se da fisionomia de cerrado denso, um subtipo de cerrado sensu stricto. Segundo Ribeiro e Walter (1998), o cerrado denso representa a forma mais densa e alta de cerrado sensu stricto, com vegetação predominantemente arbórea, de altura média entre cinco e oito metros, cuja cobertura varia entre 50% e 70%. Dados estes que corroboram com a altura média registrada nesse estudo de 7,20m além de se aproximar com a altura encontrada no cerrado denso da RECOR – IBGE (ANDRADE et al., 2002), o que parece sustentar esta mesma classificação fisionômica para o fragmento estudado.

Ao se amostrar um hectare de cerrado sensu stricto espera-se encontrar um valor de riqueza no intervalo de 50 a 100 espécies (ASSUNÇÃO; FELFILI, 2004; BALDUINO et al., 2005; FELFILI; FAGG, 2007). Uma análise com 376 áreas de cerrado sensu lato ressaltou que é muito raro registrar mais do que 100 espécies/ha em um dado local (RATTER et al., 2003). Diante disso, embora o cerrado sensu stricto estudado possuir riqueza aparentemente elevada, principalmente se comparado a outras áreas de cerrado sensu stricto, dois fatores podem afirmar esta constatação: nosso estudo registrou 102 espécies ao abranger uma área menor do que muitos dos estudos com o qual foi comparado; além disso, as diferentes metodologias (formas de parcelas e critério de inclusão) empregadas nos estudos aqui comparados dificultam a interpretação de eventuais padrões que venham a ser detectados (BRIDGEWATER et al., 2004) (Tabela 3).

O índice diversidade de Shannon-Wienner (H’) na área estudada foi de 3,70, enquanto outros estudos no Tocantins, Goiás e Maranhão (Tabela 3) possuem variação de H’ entre 2,87 e 3,32. Embora o H’ do cerrado sensu stricto da área estudada indique alta diversidade, o critério de inclusão adotado (mais inclusivo) certamente influenciou neste resultado, dificultando comparações com valores deste índice para outros locais (BRIDGEWATER et al.,2004; MAGURRAN, 2004).

O valor da equabilidade sugere que os indivíduos estiveram distribuídos de forma razoavelmente equânime entre as espécies, caracterizando baixa dominância ecológica. No entanto, elevada densidade de algumas espécies, como Myrcia fallax, Protium heptahyllum e Qualea multiflora.

Tabela 3. Comparação dos principais parâmetros fitossociológicos entre diversas áreas de cerrado. Fisio. = Fisionomia da área; NI = número de indivíduos; AB = área basal total por hectare; H’ = índice de Shannon-Wiener; J’ = equitabilidade de Pielou; Crit. = critério de inclusão (CAS-circunferência a altura do solo); Nsp = Número de espécies.

Local de estudo

Fisio.

NI

AB

H’

J’

Crit.

Nsp

Presente estudo

cerrado s.s.

906

37,1

3,7

0,8

CAS ≥ 10

102

Parque estadual do Lajeado, TO¹

cerrado s.s.

1804

23,6

3,19

0,77

CAS ≥ 10

60

Dueré - TO2

cerrado s.s.

249

9,24

3,31

0,86

CAS ≥ 15

41

Rio Verde, GO3

Nordeste de GO e sudeste de TO4

Cerrado s.s.

cerrado s.s.

165

836

--

8,4

3,32

2,87

0,86

0,78

CAP ≥ 10

CAS ≥ 15,7

29

87

Filadélfia, TO5

cerrados.s

789

--

3,32

0,83

CAS ≥ 0,5

53

Carolina, MA5

cerrado s.s.

542

--

3,04

0,77

CAS ≥ 0,5

52

SANTOS (2000)¹; SILVA NETO et al. (2016)²; ROCHA. et al. (2014)3; FELFILI; FAGG (2007)4; MEDEIROS; WALTER (2012)5

CONCLUSÕES

As famílias que apresentaram maiores valores de densidade e frequência e consequentemente Índice de valor de importância foram Myrtacea, Vochysiaceae, Burseraceae e Fabaceae, sendo as mais representativas floristicamente para o Brasil central.

Entre as espécies os maiores valores foram obtidas por Myrcia fallax (Rich.) DC, Protium heptaphyllum (Aubl) Marchand, Qualea multiflora Mart. e Tapirira guianensis Aubl.

Os valores obtidos para o índice de diversidade de Shannon-Wienner e equabilidade estão dentre os padrões encontrados no Cerrado.

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