ARTIGO CIENTÍFICO

Levantamento Etnobotânico de Quintais Agroflorestais em Agrovila no Município de Altamira, Pará

Ethnobotanical survey of homegardens in Agrovila in the municipality of Altamira, Pará, Brazil

Sâmya Cristina Brazão Pereira1*, Iselino Nogueira Jardim2, Alessandra Doce Dias de Freitas3, Vinicius de Campos Paraense4

1Engenharia Florestal, Pós-graduanda em Gestão em Sistemas Agroextrativistas para Territórios de Uso Comum na Amazônia, Universidade Federal do Pará, Altamira, Pará; samyabrazao@gmail.com; 2Professor Doutor em Plantas Medicinais, Universidade Federal do Pará, Altamira, Belém; jardim@ufpa.br; 3Professora Doutora em Ciências Agrárias, Universidade Federal do Pará, Altamira, Pará; aledoce@ufpa.com.br; 4Professor Doutorando em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Universidade Federal do Pará, Altamira, Pará; viniciuscp@ufpa.com.br

Recebido para publicação em 29/01/2018; aprovado em 20/03/2018

Resumo: Os sistemas agroflorestais surgiram como alternativas de uso da terra, capazes de conciliar a produção agrícola e florestal, concomitantemente à conservação dos recursos naturais. O objetivo do presente trabalho foi avaliar os quintais agroflorestais em Agrovila no município de Altamira, Pará, em relação à composição e diversidade florística, além dos usos das plantas. Os dados foram obtidos a partir de 26 quintais estabelecidos na agrovila Princesa do Xingu, por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos informantes-chave, selecionados através da técnica bola de neve. Para analisar o uso e relevância das espécies levantadas foram calculados os índices de diversidade de Shannon-Wiener, equitabilidade de Pielou e valor de importância (IVs). Foram identificadas 118 espécies vegetais pertencentes a 52 famílias botânicas, destacando-se: Fabaceae, Arecaceae, Anacardiaceae, sendo a maioria utilizada especialmente na alimentação das famílias. Dentre as espécies com maior valor de importância para os entrevistados, destacaram-se a laranja, coco, manga, cacau, cupuaçu, limão e açaí. As categorias alimentar e medicinal foram as mais importantes para os entrevistados, as quais indicaram preocupação com a segurança alimentar e saúde para a comunidade rural, respectivamente. Os índices de Shannon-Wiener e de equitabilidade de Pielou indicaram, respectivamente, diversidade moderada e menor heterogeneidade de indivíduos por espécies nos quintais da agrovila Princesa do Xingu.

Palavras-chave: Etnocategorias; Subsistência; Plantas Medicinais; Fabaceae.

Abstract: Agroforestry systems have emerged as land use alternatives, capable of reconciling agricultural and forestry production, concomitantly with the conservation of natural resources. The objective of this work was to evaluate the homegardens present in an Agro-villa in the municipality of Altamira, Pará, Brazil, concerning its composition and floristic diversity, besides the uses of plants. The data were obtained from 26 homegardens established in the Xingu Princess agrovila by means of semi-structured interviews with key informants, selected by snowball technique. In order to analyze the use and relevance of the surveyed species, the Shannon-Wiener diversity index, Pielou equitability index and importance value (IVs) were calculated. A total of 117 plant species, belonging to 52 botanical families, were identified, highlighting: Fabaceae, Arecaceae, Anacardiaceae, most of them being used in family feeding. Among the species with the highest importance value to the interviewees, orange, coconut, mango, cacao, cupuaçu, lemon and açaí were highlighted. The food and medicine categories were the most important to the interviewees, which indicated concern with food safety and health for the rural community, respectively. The Shannon-Wiener and Pielou equitability indexes indicated moderate diversity and lower individual heterogeneity, respectively, per species in the homegardens of the Xingu Princesa agrovila.

Key words: Ethnocategories; Subsistence; Medicinal plants; Fabaceae

INTRODUÇÃO

O avanço do desmatamento na Amazônia é decorrente de diversas causas, como a expansão de atividade agropecuária, extração ilegal de madeira, incêndios florestais e aumento da densidade populacional (ARRAES et al., 2012). Acrescenta-se ainda, que a construção de grandes projetos e a relação inadequada homem/meio ambiente, são vistos como causas principais de todo o problema socioambiental vivido hoje nessa região (PARAENSE et al., 2013).

Assim, como alternativas de uso sustentável da terra, surgiram os Sistemas Agroflorestais (SAF), os quais são capazes de conciliar produção agrícola e florestal, viabilizando a conservação dos recursos naturais, juntamente com os benefícios sociais e econômicos oferecidos, principalmente aos produtores e agricultores familiares na Amazônia (SANTOS; PAIVA, 2002).

Dentre as diversas modalidades de SAF existentes, os quintais agroflorestais (QAFs) são de grande expressão na região amazônica, à medida que se constituem de pequenas áreas no entorno das residências, onde é desenvolvido o manejo de árvores, arbustos e ervas de usos múltiplos, intimamente associados aos cultivos agrícolas anuais e perenes, e à criação de animais domésticos de pequeno porte (NODA et al., 2001). Esses espaços, além de desempenharem papel importante na subsistência, bem como no aproveitamento constante da mão de obra e na composição da renda familiar, são responsáveis pelas complexas relações estabelecidas entre as comunidades humanas com o componente vegetal, que segundo Carniello et al. (2010), compreendem o objeto do estudo etnobotânico local.

Entretanto, observa-se que pouca atenção tem sido dada aos QAFs na região amazônica, à medida que pesquisas acerca desses sistemas produtivos, além de escassas, estão concentradas principalmente em estudos de composição florística, sem enfatizar a influência que esses agroecossistemas exercem sobre a segurança alimentar das famílias, bem como à geração de informações capazes de implementar o manejo e a conservação destas áreas (FLORENTINO et al., 2007; GAZEL-FILHO, 2008). Essa situação vem corroborando a mitigação do saber empírico das populações tradicionais quanto ao uso dos recursos naturais disponíveis, constituindo-se num conhecimento ameaçado de ser extinto (VEIGA; SCUDELLER, 2011).

Dessa maneira, a realização de estudos etnobotânicos em quintais e sistemas agroflorestais demonstra sua relevância, à medida que o conhecimento das potencialidades e limitações para a manutenção desses sistemas, juntamente com os costumes e saberes tradicionais se revelam como elementos fundamentais para nortear ações educativas e de manejo que objetivam aumentar a valorização dos saberes para a conservação da diversidade biológica e cultural local (SILVA et al., 2015).

Dessa forma, este trabalho teve como objetivo avaliar os quintais agroflorestais em Agrovila no município de Altamira, Pará, em relação à composição e diversidade florística, além dos usos das plantas.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente levantamento etnobotânico foi realizado em Altamira, Pará, mais precisamente na mesorregião Sudoeste Paraense. Este município possui uma área de 159 533,401 km², correspondentes a 12,8% da área do estado (IBGE, 2010). A sede do município está situada a uma altitude de 109 m, coordenadas 03º12’10”S e 52º12’21”W, distando 816 km de Belém, capital do estado.

O clima de Altamira é do tipo equatorial Am e Aw, da classificação de Köppen, apresentando temperaturas médias de 26 ºC e precipitação mensal média de 1.700 mm (ALVAREZ et al., 2013). A paisagem natural apresenta predominância da Floresta Equatorial Latifoliada. Os solos são classificados, como Latossolo Amarelo e Podzólico Vermelho-Amarelo (FAPESPA, 2016).

Na agrovila Princesa do Xingu, a 28 km da sede do município de Altamira, residem 80 famílias compostas principalmente de trabalhadores rurais. A agrovila conta com uma escola municipal, energia elétrica, telefones públicos, um posto de saúde, e a água provém de poços artesianos individuais.

A seleção da agrovila Princesa do Xingu foi devido a fatores como, a facilidade de acesso e contato com a liderança da agrovila.

A metodologia utilizada para caracterização dos QAFs foi o Diagnóstico Rural Rápido (DRR), no qual é possível coletar as informações-chave de forma rápida e eficiente para a compreensão da realidade e condições locais do ambiente rural (METTRICK, 1993). Utilizando-se a aplicação de questionário semiestruturado (com perguntas abertas e fechadas), as entrevistas foram realizadas em forma de diálogos, para que houvesse maior entrosamento entre as partes, desenvolvendo, desta maneira, uma relação de amizade entre ambos. As informações repassadas foram anotadas em fichas de entrevistas, utilizando também gravador digital para auxiliar nos registros das informações, a partir do consentimento dos entrevistados.

A técnica empregada para a identificação dos entrevistados da comunidade foi o snowball (bola de neve) (BERNARD, 1994). Essa técnica é uma forma de amostra não probabilística utilizada em pesquisas sociais, em que os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que por sua vez indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo proposto, o “ponto de saturação”. Este é atingido, quando os novos entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, ou começam a indicar indivíduos que participaram do processo, sem acrescentar novas informações relevantes à pesquisa (WHA, 1994). Portanto, a snowball (“bola de neve”) é uma técnica de amostragem que utiliza cadeias de referência, uma espécie de rede.

A identificação das espécies foi realizada com base nos nomes vernaculares mencionados pelos produtores. Após a entrevista, o material botânico foi coletado com o prévio consentimento dos entrevistados, para a posterior herborização e determinação das amostras botânicas. Em seguida, as amostras foram levadas ao Laboratório de Tecnologia da Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Pará - Campus Altamira, onde a identificação foi confirmada a partir de comparação com material botânico e aparatos bibliográficos. Foi adotado o sistema APG III (2009) para classificação das famílias botânicas, a grafia do nome das espécies e de seus autores está de acordo com o The Plant List (2013) Version 1.1.

Foi calculado também o índice de diversidade de Shannon-Wiener (Equação 1) e o índice de equitabilidade de Pielou (Equação 2), que permitem comparações entre a diversidade do conhecimento etnobotânico de diferentes comunidades (BEGOSSI, 1996).

(Eq. 1)

(Eq. 2)

Em que: S = número de espécies; pi = ni/N; ni = número de citações por espécie; N = número total de citações; H’= índice de diversidade; e = índice de equitabilidade de Pielou.

O Valor de Importância (IVs) foi estimado pelo indicador proposto por Byg e Balslev (2001), que mede a proporção de informantes que citaram uma espécie como mais importante.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados por meio da técnica snowball, 26 informantes-chave, sendo 23 mulheres e três homens, entre 21 e 72 anos de idade. Os entrevistados são oriundos de diversos estados, sendo a maioria migrante da região Nordeste do Brasil, e apenas três nascidos no estado do Pará. De acordo com os entrevistados, o manejo dos quintais é realizado na maior parte pelas mulheres e crianças, que executam a poda das árvores, as retiradas de ervas daninhas, além de realizarem capinas periódicas, irrigação, limpeza, e em alguns casos também se utiliza a serrapilheira para a agregação de nutrientes ao solo. Portanto, as mulheres além de assumirem os tratos e manutenção dos quintais, ainda tomam a frente das tarefas do lar. Nesse sentido, a mulher além de ampliar a biodiversidade do quintal, contribui para a segurança alimentar, geração de renda e promoção da saúde da família. Mulheres como principais mantenedoras de quintais foram encontradas em outros estudos recentes (COELHO et al., 2016; FREITAS et al., 2012). Para House e Ochoa (1998), geralmente a mulher tem uma percepção multidimensional, buscando ampliar a biodiversidade de sua roça, enquanto o homem possui um ponto de vista unidimensional, empenhando-se em melhorar o rendimento de algumas espécies em particular. Segundo Coelho et al. (2016), essa predominância ocorre porque os homens lidam com atividades externas aos arredores das residências, sejam estas remuneradas ou não.

O tamanho dos QAFs variou entre 600 m2 e 15.000 m2, o que ficou fora do esperado por Nair (1986) que é abaixo de 10.000 m2, todavia, áreas são encontradas nos mais diversos tamanhos e formatos citados em diversos estudos dentro e fora do Brasil (FLORENTINO et al., 2007; GAZEL-FILHO, 2008; VIEIRA et al., 2012; FIGUEIREDO JUNIOR et al., 2013; CHITSONDZO; SILVA, 2013; ALMEIDA; GAMA, 2014). Além disso, o tamanho não está relacionado com a diversidade e abundância de espécies, pois se encontram quintais pequenos com grande número de espécies e quintais grandes com poucas espécies (FREITAS; MAGALHAES, 2012). Dessa forma, o espaço físico é um dos fatores, que influenciam a sobrevivência dos quintais como áreas de manutenção de agrobiodiversidade e de produção em pequena escala (GERVÁSIO et al., 2015). Estudos realizados em quintais urbanos e não urbanos no Peru indicaram que características específicas como o tamanho, forma do local, perfil socioeconômico e de acesso a material de plantio, como a disponibilidade de sementes e mudas estão fortemente relacionadas à diversidade dos quintais (COOMES; BAN, 2004).

A composição florística observada no local em estudo resultou no registro de 117 espécies pertencentes a 52 famílias. A família mais importante na amostra foi Fabaceae (13,5%), seguida por Arecaceae, Anacardiaceae e Myrtaceae, (11,5% cada) (Tabela 1). Os informantes relataram diversos usos para as espécies, como os observados na Tabela 1. As famílias botânicas mais bem representadas no levantamento de Quaresma et al. (2015) em QAFs de cinco comunidades em Igarapé-Açu e Marapanim, Nordeste paraense Arecaceae, Fabaceae e Lamiaceae. Spiller et al. (2016), analisando a estrutura de QAFs em bairro na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, registrou 52 espécies pertencentes a 27 famílias botânicas, com destaque para as famílias Arecaceae, Araceae e Liliaceae.

Tabela 1. Espécies vegetais encontradas nos quintais agroflorestais da Agrovila Princesa do Xingu, Altamira, Pará.

Nome Popular

Nome Científico

Família

Usos

Nº de Citações

IVs

Laranja

Citrus sinensis (L.) Osbeck

Rutaceae

Al, Me

22

0,85

Coco

Cocos nucifera L.

Arecaceae

Al, Me

18

0,69

Manga

Mangifera indica L.

Anacardiaceae

Al

17

0,65

Cacau

Theobroma cacao L.

Malvaceae

Al

16

0,62

Cupuaçu

Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K.Schum.

Malvaceae

Al

14

0,54

Limão

Citrus limon (L.) Osbeck

Rutaceae

Al, Me

14

0,54

Açaí

Euterpe oleracea Mart.

Arecaceae

Al

13

0,50

Erva-cidreira

Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson

Verbenaceae

Me, Al

12

0,46

Abacate

Persea americana Mill.

Lauraceae

Al

11

0,42

Acerola

Malpighia glabra L.

Malpighiaceae

Al, Me

10

0,38

Jambo

Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M.Perry

Myrtaceae

Al, Me

10

0,38

Banana

Musa sp.

Musaceae

Al

9

0,35

Caju

Anacardium occidentale L.

Anacardiaceae

Al, Me

9

0,35

Jaca

Artocarpus heterophyllus Lam.

Moraceae

Al

8

0,31

Capim-santo

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf

Poaceae

Me, Al

7

0,27

Goiaba

Psidium guajava L.

Myrtaceae

Al, Me

6

0,23

Biriba

Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.

Annonaceae

Al

6

0,23

Cajarana

Spondias dulcis Parkinson

Anacardiaceae

Al

5

0,19

Tangerina

Citrus reticulata Blanco

Rutaceae

Al

5

0,19

Hortelã

Mentha piperita L.

Lamiaceae

Me

5

0,19

Alfavaca

Ocimum basilicum L.

Lamiaceae

Al, Me

5

0,19

Jabuticaba

Myrcia cauliflora Berg.

Myrtaceae

Al

4

0,15

Urucum

Bixa orellana L.

Bixaceae

Al

4

0,15

Abiu

Pouteria guianensis Aubl.

Sapotaceae

Al

4

0,15

Mastruz

Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants.

Amaranthaceae

Me

4

0,15

Mamão

Carica papaya L.

Caricaceae

Al

4

0,15

Noni

Morinda citrifolia L.

Rubiaceae

Me

4

0,15

Babosa

Aloe vera (L.) Burm.f.

Xanthorrhoeaceae

Or, Me

4

0,15

Macaxeira

Manihot esculenta Crantz

Euphorbiaceae

Al

4

0,15

Graviola

Annona muricata L.

Annonaceae

Al, Me

3

0,12

Ipê-amarelo

Handroanthus serratifolius (Vahl) S.O.Grose

Bignoniaceae

Or, Me

3

0,12

Azeitona

Olea europaea L.

Oleaceae

Al

3

0,12

Alecrim

Rosmarinus officinalis L.

Lamiaceae

Me

3

0,12

Couve

Brassica oleracea L.

Brassicaceae

Al

3

0,12

Cana

Saccharum officinarum L.

Poaceae

Al

3

0,12

Abacaxi

Ananas comosus (L.) Merr.

Bromeliaceae

Al

3

0,12

Cheiro-verde

Petroselinum crispum (Mill.) Fuss

Apiaceae

Al

3

0,12

Abóbora

Cucurbita sp.

Cucurbitaceae

Al

3

0,12

Jasmim

Jasminum officinale L.

Oleaceae

Or

3

0,12

Boldo

Plectranthus barbatus Andrews

Lamiaceae

Me

3

0,12

Fruta-pão

Artocarpus altilis (Parkinson ex F.A.Zorn) Fosberg

Moraceae

Al, Me

2

0,08

Mogno

Swietenia macrophylla King

Meliaceae

Ma

2

0,08

Macharimbé

Cenostigma tocantinum Ducke

Fabaceae

Or

2

0,08

Nim

Azadirachta indica A.Juss.

Meliaceae

Me, Ma

2

0,08

Senna

Senna alexandrina Mill.

Fabaceae

Me

2

0,08

Canela

Cinnamomum verum J.Presl

Lauraceae

Al, Me

2

0,08

Amor-crescido

Portulaca pilosa L.

Portulacaceae

Me

2

0,08

Pupunha

Bactrisga sipaes H.B.K.

Arecaceae

Al

2

0,08

Pariri

Fridericia chica (Bonpl.) L.G.Lohmann

Bignoniaceae

Me

2

0,08

Pequi

Caryocar brasiliense A.St.-Hil.

Caryocaraceae

Al

2

0,08

Ingá

Inga edulis Mart.

Nephrolepidaceae

Al

2

0,08

Pimenta-de-cheiro

Capsicum chinense Jacq.

Solanaceae

Al

2

0,08

Maracujá

Passiflora sp.

Passifloraceae

Al, Me

2

0,08

Quiabo

Abelmoschus esculentus (L.) Moench

Malvaceae

Al

2

0,08

Samambaia

Nephrolepis exaltata (L.) Schott

Davalliaceae

Or

2

0,08

Pimenta-malagueta

Capsicum frutescens L.

Solanaceae

Al

2

0,08

Bucha

Luffa cyllindrica L.

Cucurbitaceae

Me

1

0,04

Ata

Annona squamosa L.

Annonaceae

Al

1

0,04

Melancieira

Alexa grandiflora Ducke

Fabaceae

Al

1

0,04

Sapoti

Manilkara zapota (L.) P. Royen

Sapotaceae

Al, Me

1

0,04

Tomate

Lycopersicon esculentum Mill.

Solanaceae

Al

1

0,04

Comigo-ninguém-pode

Dieffenbachia amoena Bull.

Araceae

Mi

1

0,04

Malva

Malva sylvestris L.

Malvaceae

Me

1

0,04

Cebolinha

Allium fistulosum L.

Amaryllidaceae

Al

1

0,04

Ameixa-do-cerrado

Ximenia americana L.

Ximeniaceae

Al

1

0,04

Sambaiba

Curatella americana L.

Dilleniaceae

Or

1

0,04

Inajazeiro

Attalea maripa (Aubl.) Mart.

Arecaceae

Al

1

0,04

Mufumbo

Combretum laxum Jacq.

Combretaceae

Me

1

0,04

Jenipapo

Genipa americana L.

Rubiaceae

Al

1

0,04

Cajá

Spondias mombin L.

Anacardiaceae

Al

1

0,04

Leiteiro

Euphorbia umbellata (Pax) Bruyns

Euphorbiaceae

Me

1

0,04

Pimenta-do-reino

Piper nigrum L.

Piperaceae

Me

1

0,04

Cagaita

Eugenia dysenterica DC.

Myrtaceae

Al, Me

1

0,04

Pata-de-vaca

Bauhinia forficata Link

Fabaceae

Me

1

0,04

Abricó-do-Pará

Mammea americana L.

Calophyllaceae

Al

1

0,04

Bacuri

Platonia insignis Mart.

Clusiaceae

Al

1

0,04

Pitanga

Eugenia uniflora L.

Myrtaceae

Al

1

0,04

Groselha

Ribes nigrum L.

Grossulariaceae

Al

1

0,04

Carnaúba

Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore

Arecaceae

Or

1

0,04

Araticum

Annona coriacea Mart.

Annonaceae

Al

1

0,04

Ariá

Calathea allouia (Aubl.) Lindl.

Marantaceae

Al

1

0,04

Sálvia

Salvia officinalis L.

Lamiaceae

Me

1

0,04

Bacabi

Oenocarpus mapora H. Karst.

Arecaceae

Al

1

0,04

Tipi

Petiveria alliacea L.

Petiveriaceae

Me

1

0,04

Caninha-do-brejo

Costus spicatus (Jacq.) Sw.

Costaceae

Me

1

0,04

Imbuarana

Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.

Fabaceae

Me

1

0,04

Cipreste

Cupressus sempervirens L.

Cupressaceae

Or, Ma

1

0,04

Elixir

Piper callosum Ruiz & Pav.

Piperaceae

Me

1

0,04

Araçá-boi

Eugenia stipitata McVaugh

Myrtaceae

Me

1

0,04

Pimentão

Capsicum annuum L.

Solanaceae

Al

1

0,04

Cebola

Allium cepa L.

Amaryllidaceae

Al

1

0,04

Chicória

Cichorium endivia L.

Asteraceae

Al

1

0,04

Meracelina

Graptophyllum pictum (L.) Griff.

Acanthaceae

Me

1

0,04

Sapucaia

Lecythis pisonis Cambess.

Lecythidaceae

Al, Or

1

0,04

Ixória

Ixora chinensis Lam.

Rubiaceae

Or

1

0,04

Bromélias

Alcantarea imperialis (Carrière) Harms

Bromeliaceae

Or

1

0,04

Avelós

Euphorbia tirucalli L.

Euphorbiaceae

Me

1

0,04

Louro

Laurus nobillis L.

Lauraceae

Ma

1

0,04

Samaúma

Ceiba pentandra (L.) Gaertn.

Malvaceae

Me

1

0,04

Castanha-do-Brasil

Bertholletia excelsa Bonpl.

Lecythidaceae

Al

1

0,04

Laranja-da-terra

Citrus aurantium L.

Rutaceae

Me

1

0,04

Rabo-de-galo

Acalypha hispida Burm. F.

Euphorbiaceae

Me

1

0,04

Coração

Caladium bicolor (Aiton) Vent.

Araceae

Or

1

0,04

Tamarindo

Tamarindus indica L.

Fabaceae

Al

1

0,04

Folha-da-fortuna

Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.

Crassulaceae

Mi

1

0,04

Algodão

Gossypium hirsutum L.

Malvaceae

Me

1

0,04

Sabugueiro

Sambucus nigra L.

Adoxaceae

Me

1

0,04

Gergelim

Sesamum indicum L.

Pedaliaceae

Me

1

0,04

Feijão

Phaseolus vulgaris L.

Fabaceae

Al

1

0,04

Figueira

Ficus carica L.

Moraceae

Al

1

0,04

Pitomba

Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk.

Sapindaceae

Al

1

0,04

Inhame

Colocasia esculenta (L.) Schott

Araceae

Al

1

0,04

Malva-do-reino

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.

Lamiaceae

Me

1

0,04

Carambola

Averrhoa carambola L.

Oxalidaceae

Al

1

0,04

Antúrio

Anthurium andraeanum Linden ex André

Araceae

Or

1

0,04

Seriguela

Spondias purpurea L.

Anacardiaceae

Al

1

0,04

Gengibre

Zingiber officinale Roscoe

Zingiberaceae

Al, Me

1

0,04

Etnocategorias: Alimentação (Al); Medicinal (Me); Místico (Mi); Ornamental (Or); Madeira (Ma), Outros usos (Ou)

O número total de citações foi de 378 e a família mais citada foi a Rutaceae (11,1% do total), seguida de Arecaceae (9,3 %) e Anacardiaceae (8,7%) (Tabela 1). O cultivo dos vegetais é uma atividade bem expressiva nos quintais estudados apresentando uma diversidade significativa. A principal etnocategoria de espécies observada foi a alimentícia com 51,4% do total identificado (Tabela 1). Esse resultado demonstra a preocupação dos entrevistados com a segurança alimentar. As espécies mais frequentes foram: laranja, coco, manga, cacau, cupuaçu, limão e açaí e, apresentaram IVs ≥ 0,50 (Tabela 1). Apesar das pequenas extensões de terra, os quintais estudados são capazes de garantir a segurança alimentar. Segundo Quaresma et al. (2015), as espécies alimentares exercem grande influência na dieta básica das famílias ao longo do ano. Além disso, espécies que possuem valor comercial como laranja, coco, cupuaçu e limão, contribuem para a renda da família, pela comercialização do seu excedente. De acordo com Nair (2006), os quintais agroflorestais ao mesmo tempo em que são utilizados para subsistência das famílias podem ser tidos como uma grande fonte de renda.

As espécies medicinais foram o segundo grupo de maior importância para os entrevistados, com 35% do total identificado (Tabela 1). Três espécies se destacaram, a saber, laranja, coco e limão e, com maior IVs ≥ 0,50 (Tabela 1). Segundo os entrevistados, essas espécies vegetais os socorrem nos momentos de debilidade causada por alguma enfermidade física. As enfermidades mais comuns relatadas foram: pressão arterial, diarreias, problemas cardíacos, gripe e dores na coluna. Diversos trabalhos têm mostrado a importância do uso da laranja, coco e do limão no combate a inúmeras doenças (GURDAL; KULTUR, 2013; PINTO et al., 2015; TAN et al., 2015). Assim, o quintal tem um papel fundamental para o processo de obtenção de espécies medicinais, indicadas para os mais diferentes problemas de saúde.

Outras etnocategorias menos expressivas constituíram 13,6% dos recursos vegetais usados pelos entrevistados da agrovila, como ornamentais, madeireira e mística (Tabela 1). Plantas ornamentais são usadas para embelezar as residências; a madeira é utilizada para a obtenção de carvão e para construções de cercas e de pequenos utensílios; plantas de caráter místicas são usadas para espantar “olho gordo”. Portanto, diversos modos de uso dos recursos florísticos disponíveis nos quintais pela população, demonstra seus conhecimentos e utilizações tradicionais pelo uso e ou conhecimento das plantas locais. Essas etnocategorias são encontradas em outros estudos de QAFs com maior ou menor uso (SILVA et al., 2017; ALBUQUERQUE, et al., 2005).

O índice de Shannon-Wiener obtido nos quintais foi de 2,07, o que demonstra uma moderada diversidade de espécies, diante do grande número de indivíduos citados. Segundo Gliessman (2001) valores de índice de Shannon-Wiener entre 3 e 4 são encontrados em ecossistema naturais relativamente diversificados. Segundo Somarriba (1999), o índice de Shannon-Wiener cresce à medida que aumenta a riqueza de espécies na área e quando há uma maior distribuição de indivíduos entre todas as espécies. Figueiredo Júnior et al., (2013), analisando os quintais do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola Jatobá em Anapu-PA, encontraram o valor de 3,03, constatando alta diversidade dos estandes, devido à necessidade de cultivo de diferentes espécies para garantir a segurança alimentar dos comunitários. Veiga e Scudeller (2011), em estudo feito na comunidade São João do Tupé – AM, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Tupé, no estado do Amazonas, obtiveram o valor de 4,26 para o índice de Shannon, expressando alta diversidade de espécies nos quintais da comunidade, por possuírem uma vasta quantidade de espécies tanto frutíferas, quanto medicinais, demonstrando que estes valores tendem a se elevar, à medida que os indivíduos apresentam maior distribuição por espécies distintas. De acordo com Vieira et al. (2012), a diversidade de espécies em uma área pode ser determinada pelo tamanho, preferência do agricultor, hábitos alimentares, uso medicinal, ou pela maneira de como são conduzidos os quintais, uma vez que esses espaços são manejados exclusivamente pela mão de obra familiar e com baixo nível tecnológico.

A equitabilidade foi de 0,43 para os quintais da agrovila demonstrando baixa dominância ecológica e uma moderada heterogeneidade de espécies, explicado pela maior concentração de poucas espécies como laranjeiras, coqueiros, mangueiras e cacaueiros. Vieira et al. (2012) obteve equitabilidade de Pielou (e) de 0,85 em QAFs de Bonito – Pará, que indicou maior distribuição ou heterogeneidade de indivíduos por espécie.

CONCLUSÕES

Os índices de Shannon-Wiener e de equitabilidade indicam, respectivamente, diversidade moderada e menor heterogeneidade de indivíduos por espécies nos QAFs da agrovila Princesa do Xingu.

A população rural da agrovila Princesa do Xingu possui conhecimento das etnoespécies presentes nos quintais, utilizando-as principalmente no tratamento de enfermidades quanto para a segurança alimentar.

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