As plantas e seus usos nos quintais de Alta Floresta, Mato Grosso

Plants and uses in Alta Floresta homegardens, Mato Grosso, Brazil

Jociane Rosseto de Oliveira Silva1; Ivan Cleiton de Oliveira Silva2; Maria de Fatima Barbosa Coelho3; Elisangela Clarete Camili4

1Mestre em Agricultura Tropical, Coordenação de Engenharia Florestal, Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus II Perimetral Rogério Silva, Jardim Flamboyant, Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. E-mail: jorosseto@hotmail.com; 2Mestre em Ciências Ambientais, Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus II Perimetral Rogério Silva, Jardim Flamboyant, Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. E-mail: ivanunemataf@unemat.br; 3Doutora em Fitotecnia, Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, E-mail: coelhomfstrela@gmail.com; 4Doutora em Agronomia (Horticultura), Professora da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, E-mail: eccamili@hotmail.com.

Recebido: 27/10/2018; Aprovado: 26/03/2019

Resumo: As plantas dos quintais urbanos são utilizadas para múltiplas finalidades, com destaque para as espécies alimentícias e medicinais. O objetivo do presente estudo foi realizar o levantamento das espécies vegetais e seus respectivos usos nos quintais de dois bairros em Alta Floresta, estado de Mato Grosso e estabelecer o perfil dos informantes. Na seleção dos entrevistados aplicou-se a amostragem bola de neve, onde foram utilizadas as técnicas de observação direta e participante, sendo os principais envolvidos na manutenção dos quintais indagados sobre o manejo das plantas e as partes utilizadas para cada uso. Foram observados 99 táxons pertencentes a 49 famílias botânicas. As famílias mais frequentes foram Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae. As espécies Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson estavam presentes em 50% dos quintais. As categorias de uso citadas pelos informantes foram: a) arborização; b) condimentar; c) cultivo; d) frutífera; e) medicinal e f) paisagismo. Mais de 50% das espécies destina-se ao uso alimentício, destacando a função de segurança alimentar dos quintais. A segunda categoria com maior número de espécies foi a de uso medicinal com 29 táxons, pertencentes à 17 famílias e, Lamiaceae foi a família com maior número de espécies usadas. O uso medicinal mais citado foi na forma de decocção (chá) para gripes e resfriados.

Palavras-chave: Plantas medicinais; Biodiversidade; Segurança alimentar

Abstract: The plants of the urban homegardens are used for multiple purposes with emphasis on food and medicinal species. The aim of the present study was to survey the plant species and their respective uses in the homegardens of two neighborhoods in Alta Floresta, Mato Grosso State and to establish the profile of the informants. In the selection of the interviewees the snowball sampling was used where the techniques of direct observation and participant were used, being the main ones involved in the maintenance of the quintals inquired about the management of the plants and the parts used for each use. A total of 99 taxa belonging to 49 botanical families were observed. The most frequent families were Lamiaceae, Fabaceae and Myrtaceae. Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg and Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson were the species present in 50% of the homegardens. The categories of use cited by the informants were: a) afforestation; b) seasoning; c) cultivation; d) fruitful; e) medicinal and f) landscaping. More than 50% of the species is destined for food use, highlighting the food security function of the backyards. The second category with the greatest number of species was the one of medicinal use with 29 taxa belonging to 17 families, and Lamiaceae was the family with the largest number of species used. The most cited medicinal use was in the form of decoction (tea) for colds and flus.

Key words: Medicinal plant; Biodiversity; Food security

INTRODUÇÃO

A área no entorno das residências, onde é cultivada uma mistura de espécies agrícolas e florestais e, onde são criados pequenos animais domésticos é denominada quintal (KUMAR; NAIR, 2006).

A manutenção da tradição em cultivar diferentes espécies no quintal está relacionada com a segurança alimentar e aumento da renda familiar (AMARAL et al., 2016), introdução e domesticação de espécies (GAO et al., 2012), eficiência do uso da terra, conservação de espécies e sustentabilidade (KUMAR; NAIR, 2006; FLORENTINO et al., 2007), aumento da biodiversidade (OAKLEY, 2004) e cuidados com a saúde. Os quintais são importantes na conservação de plantas medicinais por comunidades rurais e urbanas (BAJPAI et al., 2013; PERNA; LAMANO-FERREIRA, 2014).

Oakley (2004) em diversos estudos realizados na Ásia, África e América Latina confirma que os quintais domésticos contêm espécies de ciclo curto, contribuindo para alimentar as famílias durante o período da fome, até a colheita dos cultivos principais, que são reservas estratégicas de material genético, funcionam como espaços de conservação de variedades especiais ou preferenciais, e como locais de experimentação de novas variedades.

No Brasil destacam-se os usos das espécies vegetais mantidas nos quintais domésticos para fins alimentícios e medicinais (FLORENTINO et al., 2007; GUARIM NETO; AMARAL, 2010; AGUIAR; BARROS, 2012; FREITAS et al., 2012; EICHEMBERG; AMOROZO, 2013; FREITAS et al., 2015; GARCIA et al., 2015; PEREIRA; FIGUEIREDO NETO, 2015).

No município de Aripuanã região Norte de Mato Grosso, onde a vegetação é caracterizada como Floresta Amazônica, Brito (1996) relatou dentre as espécies identificadas nos quintais, os principais usos como sendo ornamental (102 espécies), alimentício (79 espécies) e medicinal (53 espécies).

Em Alta Floresta foram conduzidos dois estudos sobre a diversidade de plantas nos quintais. Em um deles, Santos (2004) verificou que os quintais são destinados ao manejo de árvores, arbustos e ervas, para diferentes finalidades, com espécies perenes e anuais, cultivadas em consórcio com pequenos animais, sendo a responsabilidade pela manutenção, exercida principalmente pelas mulheres, que complementam a renda familiar com a venda de alguns vegetais produzidos, especialmente as plantas olerícolas. Em outro estudo realizado em Alta Floresta, Gervazio (2015) observou 30 quintais, onde constatou-se que o maior número de espécies cultivadas eram das famílias Fabaceae, Asteraceae, Myrtaceae e Lamiaceae e o maior número de indivíduos eram das famílias Euphorbiaceae, Musaceae, Malvaceae e Poaceae, com uma média de 236,87 plantas por quintal.

Considerando que a região se encontra em processo de expansão demográfica e há necessidade de estudos sobre a composição florística dos quintais, o objetivo no presente trabalho foi realizar o levantamento das espécies vegetais e seus respectivos usos nos quintais de dois bairros em Alta Floresta/MT.

MATERIAL E MÉTODOS

O município de Alta Floresta possui área de 8.947,07 km2 e situa-se na região norte do estado de Mato Grosso, a 830 km de distância da capital, Cuiabá. Alta Floresta foi fundada em 19 de maio de 1976 com famílias na maioria vindas do sul do Brasil para realizar atividades agrícolas. Está localizado nas coordenadas 09º52'32" S e 56º05'10" W, com população de 49.233 habitantes, segundo o censo de 2010 (IBGE, 2010).

O clima é tropical chuvoso e, segundo Koppen é classificado como Am, com duas estações bem definidas, verão chuvoso e inverno seco e, apresenta elevado índice pluviométrico no verão, podendo atingir médias superiores a 2.750 mm com intensidade máxima em janeiro, fevereiro e março, com nítido período de seca. As temperaturas ficam entre 20 a 38 °C, tendo em média 26 °C, podendo chegar aos 40 °C nos dias mais quentes em alguns pontos do município. A altitude é de 250 a 450 m acima do nível do mar (ALVARES et al., 2014).

O presente estudo foi realizado em dezesseis quintais de dois Bairros de Alta Floresta/MT: Setor F (no centro) e Cidade Alta (na periferia). Na seleção dos entrevistados foi aplicada a técnica de amostragem bola de neve (snowball), ou seja, iniciou-se a entrevista com a pessoa responsável por um quintal, escolhida aleatoriamente, no final da entrevista solicitou-se que o entrevistado indicasse outra pessoa e assim, sucessivamente. Foram usadas as técnicas de observação direta e participante, onde os principais envolvidos na manutenção dos quintais são indagados sobre o manejo das plantas e as partes empregadas para cada uso e também sobre o perfil socioeconômico (idade, escolaridade, origem, tempo de residência, etc.) (ALBUQUERQUE et al., 2014).

Assim como citado em Albuquerque et al. (2014) realizou-se a comprovação in loco das espécies citadas pelos informantes nas entrevistas.

Em cada quintal visitado foram feitos levantamentos das espécies vegetais com a coleta de amostras para exsicatas e identificação no Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso. As informações foram compiladas sob a forma de um banco de dados, utilizando-se matrizes de textos, conforme metodologia proposta por Amorozo e Viertler (2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Alta Floresta/MT foi formado com migrantes de outros Estados brasileiros. Neste estudo verificou-se que a maioria dos entrevistados é procedente do estado do Paraná, seguido de Minas Gerais, Maranhão e Rondônia (Figura 1A). Segundo Guarim Neto e Novais (2008) isso reflete o processo de colonização da região norte de Mato Grosso devido à migração das pessoas oriundas da região sul do Brasil para áreas poucas exploradas, objetivando a compra de áreas maiores e produtivas por baixo custo.

Todos os proprietários dos quintais possuem algum grau de formação acadêmica como pode ser verificado na Figura 1B. A maioria cursou o ensino médio ou tem o terceiro grau incompleto, situação diferente da encontrada em outros estudos realizados no Mato Grosso e Rio Grande do Norte, onde verificou-se uma baixa escolaridade entre os proprietários (AMARAL; GUARIM NETO, 2008; CARNIELLO et al., 2010; FREITAS et al., 2012; FREITAS et al., 2015).


Figura 1. Estado de origem (A) e grau de escolaridade (B) dos entrevistados em Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

Os quintais apresentaram em média 703 m2 de área total (Figura 2A). Os lotes em Alta Floresta são relativamente grandes, como ocorre em outros municípios do Estado. Em estudo realizado em Mirassol do Oeste/MT, constatou-se que a extensão territorial de 97% dos lotes variou entre 200 a 1000 m2 (CARNIELLO et al., 2010). Em Rosário Oeste/MT a área média dos quintais analisados foi de 622 m2, incluindo a área do domicílio, sendo que todos os terrenos possuíam o formato retangular (AMARAL; GUARIM NETO, 2008). Em outro estudo, conduzido por Gervazio (2015) em Alta Floresta observou-se que os quintais possuíam área média de 2.500 m2.

Dos entrevistados, 43,75% responderam que residem no local entre 1 a 5 anos, período relativamente curto de tempo para que um grande número de espécies seja cultivado (Figura 2B), no entanto, o tempo médio de residência nos quintais estudados é de 10,63 anos.

Verificou-se que 57% dos entrevistados são mulheres, as quais são responsáveis pela escolha das espécies a serem cultivadas, pelo plantio e manutenção dos quintais. Havendo, portanto, um equilíbrio em relação ao gênero na execução de tarefas nos quintais, resultado semelhante ao constatado por Santos et al. (2013) em quintais agroecológicos na comunidade Mem de Sá, Itaporanga d’Ajuda-SE; entretanto, esses resultados diferem da maioria dos estudos, onde observou-se predominância das mulheres como responsáveis pelos quintais (FLORENTINO et al., 2007; FREITAS et al., 2012; AMARAL et al., 2016).

Figura 2. Área dos quintais (A) e tempo de residência (B) citados pelos entrevistados em Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

A composição florística observada nos quintais de Alta Floresta corresponde a 99 táxons pertencentes à 49 famílias botânicas (Tabela 1). As famílias mais frequentes foram Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae (Figura 3). As espécies mais frequentes foram Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson, presentes em 50% dos quintais. C. nucifera está presente com frequência em muitos quintais brasileiros (FREITAS et al., 2012; SANTOS et al., 2013; FREITAS et al., 2015), possivelmente por produzir frutos que podem ser comercializados para aumentar a renda das famílias e pelos múltiplos usos na alimentação e saúde. A presença de M. cauliflora pode estar relacionada com a origem dos entrevistados que na maioria são do Paraná, pois, a espécie é originária da Mata Atlântica.

O hábito de crescimento predominante foi o herbáceo, com 50 espécies, enquanto o arbustivo e arbóreo foram representados por 25 e 24 espécies, respectivamente. A predominância de espécies herbáceas foi observada em outros estudos (PILLA et al., 2006; ALBERTASSE et al., 2010), possivelmente pela- facilidade de se cultivar ervas em quintais (PILLA et al., 2006).

Tabela 1. Plantas encontradas nos quintais com suas respectivas famílias, nomes vernaculares, hábito de crescimento, categoria de uso, origem (N – nativa ou E – exótica) e frequência de quintais em que estão presentes em dois bairros de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

Família/espécie

Nome vernacular

Hábito de crescimento

Categoria de uso

Origem

Frequência

Aliaceae

Allium fistulosum L.


cebolinha


herbáceo


condimentar


E


37,5

Alismataceae

Echinodorus grandiflorus  (Cham. & Schltr.) Micheli


chapéu-de-couro


herbáceo


medicinal


N


6,3

Amaranthaceae

Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze


terramicina


herbáceo


medicinal


N


25,0

Chenopodium ambrosioides L.

erva-de-Santa-Maria

herbáceo

medicinal

E

25,0

Anacardiaceae

Anacardium occidentale L.

Mangifera indica L.


caju

manga


arbóreo

arbóreo


frutífera frutífera


N

E


18,8

18,8

Annonaceae

Annona squamosa L.


atta, pinha


arbustivo


frutífera


E


18,8

Apiaceae

Petroselinum crispum (Mill.)


salsinha


herbáceo


condimentar


E


12,5

Araceae

Dieffenbachia picta Schott


comigo-ninguém-pode


herbáceo


paisagismo


E


18,8

Arecaceae

Cocos nucifera L.


coco, coco-verde


arbóreo


frutífera


E


50,0

Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart

bocaiuva, macaúba

arbóreo

frutífera

N

18,8

Aristolochiaceae

Aristolochia esperanzae Kuntze


cipó-mil-homens


herbáceo


medicinal


N


18,8

Asteraceae

Lactuca sativa L.

Mikania glomerata Spreng.

Cichorium intybus L.

Calendula officinalis L.


alface

guaco

chicória

calêndula


herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo


cultivo medicinal

cultivo medicinal


E

N

E

E


18,8

12,5

12,5

6,3

Betulaceae

Corylus avellana L.


avelã


herbáceo


medicinal


E


12,5

Bignoniaceae

Tecoma stans (L.) Juss ex. Kenth.

Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo


ipê-de-jardim

ipê


arbustivo

arbóreo


arborização

arborização


E

E


6,3

12,5

Boraginaceae

Symphytum officinale L.


confrei


herbáceo


medicinal


E


12,5

Brassicaceae

Brassica oleracea var. acephala L.

Eruca sativa (Mill.)


couve-de-folhas

rúcula


herbáceo

herbáceo


cultivo

cultivo


E

E


12,5

12,5

Bromeliaceae

Aechmea blanchetiana (Baker) L.B.Sm.

Ananas comosus (L.) Merril


bromélia

abacaxi


herbáceo

herbáceo


paisagismo

frutífera


N

E


6,3

6,3

Cariacaceae

Carica papaya L.


mamão


arbustivo


frutífera


E


37,5

Celastraceae

Maytenus ilicifolia (Schrad.) Planch.


espinheira-santa


arbustivo


medicinal


N


12,5

Chrysobalanaceae

Licania tomentosa Benth. Fritsch


oiti


arbóreo


arborização


N


12,5

Costaceae

Costus spiralis (Jacq.) Roscoe


caninha-do-brejo


herbáceo


medicinal


N


25,0

Cupressaceae

Chamaecyparis lawsoniana (A.Murray) Parl.


pinheiro


arbóreo


arborização


E


18,8

Cucurbitaceae

Cucurbita moschata Duchesne


abóbora


herbáceo


cultivo


E


12,5

Euphorbiaceae

Manihot esculenta Crantz

Codiaeum variegatum L.


mandioca

cróton


arbustivo

arbustivo


cultivo

paisagismo


N

E


12,5

6,3

Fabaceae

Enterolobium maximum Ducke

Hymenolobium excelsum Ducke

Parkia multijuga Benth.

Hymenaea courbaril L.

Torresea acreana Ducke

Phaseolus vulgaris L.


timburil

angelim

barjão

jatobá

cerejeira

feijão


arbóreo

arbóreo

arbóreo

arbóreo

arbóreo

herbáceo


arborização

arborização

arborização paisagismo

arborização cultivo


N

N

N

N

N

E


6,3

6,3

6,3

12,5

6,3

12,5

Heliconiaceae

Heliconia chartacea Lane ex Barreiros


helicônia


herbáceo


paisagismo


N


12,5

Lamiaceae

Plectranthus barbatus Andr.

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. 

Ocimum micranthum Willd.

Mentha pulegium L.

Mentha piperita L.

Ocimum basilicum L.

Leonurus sibiricus L.

Melissa officinalis L.

Origanum vulgare L.

Rosmarinus officinalis L.


boldo

malvarisco

alfavaca

poejo

menta

manjericão

macaé

cidreira

orégano

alecrim


herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo

herbáceo


medicinal

medicinal

medicinal

medicinal

medicinal

medicinal

medicinal

medicinal

condimentar

medicinal


E

E

E

E

E

E

E

E

E

E


43,7

25,0

31,3

31,3

18,8

12,5

6,3

18,8

6,3

25,0

Lauraceae

Persea americana Mill.


abacate


arbóreo


frutífera


E


6,3

Liliaceae

Sansevieria trifasciata Hort.

Aloe vera L. Burm.


espada-de-São-Jorge

babosa


herbáceo

herbáceo


paisagismo

medicinal


E

E


12,5

6,3

Malphiguiaceae

Malpighia glabra L.


acerola


arbustivo


frutífera


E


37,5

Malvaceae

Ceiba pentranda (L.) Gaertn.


paineira


arbóreo


arborização


N


6,3

Gossypium barbadense L.

Hibiscus rosa-sinensis L.

Malva sylvestris L.

algodão

hibisco

malva

arbustivo

arbustivo

herbáceo

medicinal

paisagismo

medicinal

E

E

E

25,0

12,5

18,8

Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K.Schum.

cupuaçu

arbustivo

frutífera

N

25,0

Theobroma cacao L.

cacau

arbustivo

frutífera

E

12,5

Meliaceae

Azadirachta indica A.Juss.

Swietenia macrophylla King


nim

mogno


arbóreo

arbóreo


arborização arborização


E

N


6,3

6,3

Moraceae

Ficus benjamina L.

Artocarpus integrifolia L.

Morus nigra L.


figueira

jaca

amora


arbóreo

arbóreo

arbóreo


arborização frutífera frutífera


E

E

E


18,8

18,8

25,0

Musaceae

Musa sp.


banana


arbóreo


frutífera


E


37,5

Myrtaceae

Psidium guajava L.

Eugenia uniflora L.

Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg

Syzygium cumini (L.) Skeels

Eugenia stipitata McVaugh

Eugenia uvalha Cambess.


goiaba

pitanga

jabuticaba

jambolão

araçá-boi

uvaia


arbustivo

arbustivo

arbustivo

arbóreo

arbóreo

arbóreo


frutífera

frutífera

frutífera

frutífera

frutífera

frutífera


E

N

N

E

N

N


25,0

12,5

50,0

12,5

6,3

18,8

Nyctaginaceae

Bougainvillea spectabilis Willd.


primavera


arbustivo


paisagismo


N


25,0

Orchidaceae

Cattleya spp.


orquídea


herbáceo


paisagismo


N


31,3

Oxalidaceae

Averrhoa carambola L.


carambola


arbóreo


frutífera


E


18,8

Papaveraceae

Chelidonium majus L.


figatil


herbáceo


medicinal


E


25,0

Passifloraceae

Passiflora edulis Sims


maracujá


herbáceo


frutífera


N


25,0

Poaceae

Saccharum officinarum L.

Bambusa gracilis Hort. ex Rivière & C. Rivière

Cymbopogon citratus (DC) Stapf.


cana-de-açúcar

bambu-de-jardim

capim-santo


arbustivo

herbáceo

herbáceo


cultivos paisagismo

medicinal


E

E

E


25,0

12,5

31,3

Polypodiaceae

Polypodium lepidopteris (Langds. & Fisch.) Kunze


samambaia


herbáceo


paisagismo


E


12,5

Portulacaceae

Portulaca grandiflora Hook.


onze-horas


herbáceo


paisagismo


E


12,5

Punicaceae

Punica granatum L.


romã


arbustivo


medicinal


E


31,3

Rubiaceae

Mussaenda erythrophylla Schumach & Thonn.

Ixora chinensis Lam.


mussaenda

ixora


arbustivo

arbustivo


paisagismo

paisagismo


E

E


18,8

18,8

Rutaceae

Citrus x aurantium L.

Citrus x limon (L.) Osbeck

Citrus x sinensis (L.) Osbeck

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew.

Ruta graveolens L.


Laranja-azeda

limão

laranja

jaborandi

arruda


arbustivo

arbustivo

arbustivo

herbáceo

herbáceo


frutífera

frutífera

frutífera

medicinal

medicinal


N

N

N

N

N


31,3

31,3

18,8

12,5

25,0

Hydrangeaceae

Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser.


hortência


herbáceo


paisagismo


E


6,3

Solanaceae

Capsicum spp.

Solanum lycopersicum L.

Capsicum annuum L.


pimentas

tomate

pimentão


herbáceo

herbáceo

herbáceo


condimentar

cultivo

cultivo


E/N

N

E


12,5

12,5

12,5

Verbenaceae

Duranta repens L.

Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson


pingo-de-ouro

cidreira


arbustivo

arbustivo


paisagismo

medicinal


E

N


31,3

50,0

Vitaceae

Vitis vinifera L.


uva


herbáceo


frutífera


E


6,3

Zingiberaceae

Zingiber officinale Roscoe

Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm.

Curcuma aromatica Salisb.


gengibre

colônia

açafrão


herbáceo

arbusto

herbáceo


condimentar

medicinal

condimentar


E

E

E


18,8

18,8

18,8

Figura 3. Famílias botânicas mais frequentes (A) e número de espécies (B) nos quintais de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

As categorias de uso citadas pelos informantes foram: a) arborização: espécies que proporcionam sombra, resultando em um ambiente agradável nos quintais; b) condimentar: espécies usadas no preparo de alimentos como tempero; c) cultivo: espécies herbáceas plantadas no quintal para alimentação; d) frutífera: espécies arbóreas que produzem frutos comestíveis; e) medicinal: espécies usadas para preparo de remédios caseiros e; f) paisagismo: espécies destinadas à ornamentação, decoração e embelezamento dos quintais (Figura 4).

A categoria de uso com maior número de espécies foi a medicinal, com 29 táxons, pertencentes à 17 famílias, com predominância da família Lamiaceae (Tabela 2). O uso mais frequente é na forma de chás para gripes e resfriados.

Figura 4. Categorias de uso das espécies de plantas presentes nos quintais de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

Tabela 2. Plantas medicinais identificadas nos quintais de Alta Floresta com seus respectivos usos. Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.

Família/espécie

Nome vernacular

Usos

Alismataceae

Echinodorus grandiflorus  (Cham. & Schltr.) Micheli


chapéu-de-couro


chá para o fígado e rins

Amaranthaceae

Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze


terramicina


chá das folhas para dor, febre e infecções

Chenopodium ambrosioides L.

erva-de-Santa-Maria

sumo das folhas com leite para verminoses

Aristolochiaceae

Aristolochia esperanzae Kuntze


cipó-mil-homens


estômago, fígado, raiz contra picada de cobra

Asteraceae

Mikania glomerata Spreng.

Calendula officinalis L.


guaco

calêndula


xarope das folhas para gripe

chá das flores para cicatrizar ferimentos

Betulaceae

Corylus avellana L.


avelã


cataplasma com a casca para cicatrizar úlceras

Boraginaceae

Symphytum officinale L.


confrei


amassar as folhas para cicatrizar ferimentos

Celastraceae

Maytenus ilicifolia (Schrad.) Planch.


espinheira-santa


chá das folhas para úlcera no estômago

Costaceae



Costus spiralis (Jacq.) Roscoe

caninha-do-brejo

chá para os rins e pedra nos rins

Lamiaceae

Plectranthus barbatus Andr.

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. 

Ocimum micranthum Willd.

Mentha pulegium L.

Mentha piperita L.

Ocimum basilicum L.

Leonurus sibiricus L.

Melissa officinalis L.

Rosmarinus officinalis L.


boldo

malvarisco

alfavaca

poejo

menta

manjericão

macaé

cidreira

alecrim


chá para indigestão, dor no estômago e fígado

chá e lambedor para gripe e dor na garganta

chá para gripe

xarope para gripe

xarope para gripe

xarope para gripe

chá para os rins

chá das folhas como calmante

chá das folhas como estimulante

Liliaceae

Aloe vera L. Burm.


babosa


gel das folhas para queimaduras

Malvaceae

Gossypium barbadense L.

Malva sylvestris L.


algodão

malva


chá das folhas usado no banho após o parto

chá das folhas como anti-inflamatório

Papaveraceae

Chelidonium majus L.


figatil


chá para problemas do fígado

Poaceae

Cymbopogon citratus (DC) Stapf.


capim-santo


chá das folhas como calmante

Punicaceae

Punica granatum L.


romã


chá da casca do fruto para a garganta e rouquidão

Rutaceae

Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew.

Ruta graveolens L.


jaborandi

arruda


chá para problemas com os rins e para os cabelos

chá das folhas para lavar os olhos

Verbenaceae

Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson


cidreira


chá das folhas como calmante

Zingiberaceae

Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm.


colônia


chá para baixar a pressão

Outros estudos etnobotânicos verificaram maior número de espécies de uso medicinal nas famílias Lamiaceae e Asteraceae, como constatado por Albertasse et al. (2010) no estado do Espírito Santo, Giraldi e Hanazaki (2010) em Santa Catarina, Pilla et al. (2006) em São Paulo e Moreira e Guarim Neto (2015) no Mato Grosso.

As espécies da família Lamiaceae destacam-se por serem ricas em óleos essenciais, o que confere às mesmas propriedades aromáticas e medicinais, daí a maior representatividade desta família neste e em diversos outros trabalhos sobre o levantamento das espécies vegetais em quintais domésticos (Mosca; Loiola, 2009; Freitas et al., 2012; Paulino et al., 2012; Alves; Povh, 2013).

Se forem agrupadas as espécies usadas na alimentação, incluindo as frutíferas, de cultivo e condimentares tem-se 42 espécies, ou seja, 42% do total informado, o que indica a importância dos quintais para a segurança alimentar das famílias. As frutas e hortaliças constituem valiosas fontes de nutrientes para as famílias, uma alternativa econômica para o consumo destes produtos em épocas de crise, e que, de outra maneira, seria de difícil obtenção (VALADÃO et al., 2006). Garcia et al. (2015) afirmam que os quintais exercem papel importante na segurança alimentar dos agricultores familiares, pela riqueza de espécies encontradas nos extratos arbóreos e arbustivos, em sua maioria por espécies que proporcionam alimentação saudável, com riqueza de nutrientes.

Em Boa Vista/RR, Semedo e Barbosa (2007) verificaram que o cultivo de árvores frutíferas em quintais caseiros segue um padrão que concentra a escolha em poucas espécies, não-originárias da Amazônia, mas, tradicionalmente consagradas pelo êxito na produção de frutos. No presente estudo a preferência por fruteiras exóticas também foi verificada, com destaque para a bananeira (Musa sp.). Nos quintais de Santarém/PA, Winklerprins (2010) constatou a presença de 33 espécies de plantas frutíferas em um total de 98 espécies.

Na categoria de arborização e paisagismo, existem muitas espécies que são plantadas com o objetivo de gerar sombra para os proprietários e, de acordo com os entrevistados, este espaço normalmente é o local onde os adultos conversam e descansam, as crianças brincam e realizam-se festas. As árvores também servem de abrigo para aves que vivem em áreas urbanas ou que estejam de passagem pelo local, e podem produzir frutos que eventualmente são consumidos por alguns animais frugívoros.

Nota-se ainda, a presença de espécies arbóreas trazidas da floresta Amazônica como Hymenolobium excelsum Ducke, Parkia multijuga Benth., Hymenaea courbaril L., Torresea acreana Ducke e Swietenia macrophylla King. O uso de espécies nativas do bioma da região é importante na conservação e domesticação e, Freitas et al. (2012) também constataram o uso de espécies nativas regionais nos quintais domésticos. Segundo Florentino et al. (2007) é comum observar a presença de espécies nativas nos quintais, que em geral estão relacionadas ao uso madeireiro, no entanto, em Alta Floresta são importantes para amenizar o calor e embelezar as ruas.

A maioria das espécies não são nativas (68 táxons), assim como constatado no levantamento feito em quintais de Cáceres-MT por Pereira e Figueiredo Neto (2015). Embora seja comum observar a presença de espécies nativas nos quintais das regiões tropicais úmidas e áridas, em todos há um domínio de plantas exóticas (ALBUQUERQUE et al., 2005). Embora não sejam nativas, são espécies cultivadas e utilizadas há muito tempo pela população brasileira, como é o caso dos representantes da família Lamiaceae (boldo, malvarisco, alfavaca, poejo, menta, manjericão, macaé, cidreira e alecrim).

Com relação à origem das espécies mantidas nos quintais, a maioria (82%) foi obtida com amigos, as demais foram oriundas de vizinhos da zona rural, viveiro municipal do estado do Paraná, da cidade de Lucas do Rio Verde/MT, coletadas na Floresta e no Cerrado e adquiridas na feira do produtor. Esta situação difere do constatado por Pereira e Figueiredo Neto (2015) em Cáceres-MT, onde 37,98% das plantas foram obtidas a partir de “mudas compradas” e as outras origens foram 18,98% de “mudas ganhas” e 24,06% “encontradas no local”.

CONCLUSÕES

Os quintais domésticos de Alta Floresta, Mato Grosso tem grande diversidade vegetal, cerca de 100 espécies pertencentes a 49 famílias botânicas.

As famílias mais frequentes são Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae, com destaque para as espécies Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson.

O uso alimentício seguido do emprego medicinal da maioria das espécies, indica a importância do incentivo à manutenção da diversidade nos quintais e dessas espécies para a segurança alimentar.

AGRADECIMENTO

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Bolsa de Produtividade concedida à segunda autora.

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