As plantas e seus usos nos quintais de Alta Floresta, Mato Grosso
Plants and uses in Alta Floresta homegardens, Mato Grosso, Brazil
Jociane Rosseto de Oliveira Silva1; Ivan Cleiton de Oliveira Silva2; Maria de Fatima Barbosa Coelho3; Elisangela Clarete Camili4
1Mestre em Agricultura Tropical, Coordenação de Engenharia Florestal, Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus II Perimetral Rogério Silva, Jardim Flamboyant, Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. E-mail: jorosseto@hotmail.com; 2Mestre em Ciências Ambientais, Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus II Perimetral Rogério Silva, Jardim Flamboyant, Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. E-mail: ivanunemataf@unemat.br; 3Doutora em Fitotecnia, Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, E-mail: coelhomfstrela@gmail.com; 4Doutora em Agronomia (Horticultura), Professora da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, E-mail: eccamili@hotmail.com.
Recebido: 27/10/2018; Aprovado: 26/03/2019
Resumo: As plantas dos quintais urbanos são utilizadas para múltiplas finalidades, com destaque para as espécies alimentícias e medicinais. O objetivo do presente estudo foi realizar o levantamento das espécies vegetais e seus respectivos usos nos quintais de dois bairros em Alta Floresta, estado de Mato Grosso e estabelecer o perfil dos informantes. Na seleção dos entrevistados aplicou-se a amostragem bola de neve, onde foram utilizadas as técnicas de observação direta e participante, sendo os principais envolvidos na manutenção dos quintais indagados sobre o manejo das plantas e as partes utilizadas para cada uso. Foram observados 99 táxons pertencentes a 49 famílias botânicas. As famílias mais frequentes foram Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae. As espécies Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson estavam presentes em 50% dos quintais. As categorias de uso citadas pelos informantes foram: a) arborização; b) condimentar; c) cultivo; d) frutífera; e) medicinal e f) paisagismo. Mais de 50% das espécies destina-se ao uso alimentício, destacando a função de segurança alimentar dos quintais. A segunda categoria com maior número de espécies foi a de uso medicinal com 29 táxons, pertencentes à 17 famílias e, Lamiaceae foi a família com maior número de espécies usadas. O uso medicinal mais citado foi na forma de decocção (chá) para gripes e resfriados.
Palavras-chave: Plantas medicinais; Biodiversidade; Segurança alimentar
Abstract: The plants of the urban homegardens are used for multiple purposes with emphasis on food and medicinal species. The aim of the present study was to survey the plant species and their respective uses in the homegardens of two neighborhoods in Alta Floresta, Mato Grosso State and to establish the profile of the informants. In the selection of the interviewees the snowball sampling was used where the techniques of direct observation and participant were used, being the main ones involved in the maintenance of the quintals inquired about the management of the plants and the parts used for each use. A total of 99 taxa belonging to 49 botanical families were observed. The most frequent families were Lamiaceae, Fabaceae and Myrtaceae. Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg and Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson were the species present in 50% of the homegardens. The categories of use cited by the informants were: a) afforestation; b) seasoning; c) cultivation; d) fruitful; e) medicinal and f) landscaping. More than 50% of the species is destined for food use, highlighting the food security function of the backyards. The second category with the greatest number of species was the one of medicinal use with 29 taxa belonging to 17 families, and Lamiaceae was the family with the largest number of species used. The most cited medicinal use was in the form of decoction (tea) for colds and flus.
Key words: Medicinal plant; Biodiversity; Food security
INTRODUÇÃO
A área no entorno das residências, onde é cultivada uma mistura de espécies agrícolas e florestais e, onde são criados pequenos animais domésticos é denominada quintal (KUMAR; NAIR, 2006).
A manutenção da tradição em cultivar diferentes espécies no quintal está relacionada com a segurança alimentar e aumento da renda familiar (AMARAL et al., 2016), introdução e domesticação de espécies (GAO et al., 2012), eficiência do uso da terra, conservação de espécies e sustentabilidade (KUMAR; NAIR, 2006; FLORENTINO et al., 2007), aumento da biodiversidade (OAKLEY, 2004) e cuidados com a saúde. Os quintais são importantes na conservação de plantas medicinais por comunidades rurais e urbanas (BAJPAI et al., 2013; PERNA; LAMANO-FERREIRA, 2014).
Oakley (2004) em diversos estudos realizados na Ásia, África e América Latina confirma que os quintais domésticos contêm espécies de ciclo curto, contribuindo para alimentar as famílias durante o período da fome, até a colheita dos cultivos principais, que são reservas estratégicas de material genético, funcionam como espaços de conservação de variedades especiais ou preferenciais, e como locais de experimentação de novas variedades.
No Brasil destacam-se os usos das espécies vegetais mantidas nos quintais domésticos para fins alimentícios e medicinais (FLORENTINO et al., 2007; GUARIM NETO; AMARAL, 2010; AGUIAR; BARROS, 2012; FREITAS et al., 2012; EICHEMBERG; AMOROZO, 2013; FREITAS et al., 2015; GARCIA et al., 2015; PEREIRA; FIGUEIREDO NETO, 2015).
No município de Aripuanã região Norte de Mato Grosso, onde a vegetação é caracterizada como Floresta Amazônica, Brito (1996) relatou dentre as espécies identificadas nos quintais, os principais usos como sendo ornamental (102 espécies), alimentício (79 espécies) e medicinal (53 espécies).
Em Alta Floresta foram conduzidos dois estudos sobre a diversidade de plantas nos quintais. Em um deles, Santos (2004) verificou que os quintais são destinados ao manejo de árvores, arbustos e ervas, para diferentes finalidades, com espécies perenes e anuais, cultivadas em consórcio com pequenos animais, sendo a responsabilidade pela manutenção, exercida principalmente pelas mulheres, que complementam a renda familiar com a venda de alguns vegetais produzidos, especialmente as plantas olerícolas. Em outro estudo realizado em Alta Floresta, Gervazio (2015) observou 30 quintais, onde constatou-se que o maior número de espécies cultivadas eram das famílias Fabaceae, Asteraceae, Myrtaceae e Lamiaceae e o maior número de indivíduos eram das famílias Euphorbiaceae, Musaceae, Malvaceae e Poaceae, com uma média de 236,87 plantas por quintal.
Considerando que a região se encontra em processo de expansão demográfica e há necessidade de estudos sobre a composição florística dos quintais, o objetivo no presente trabalho foi realizar o levantamento das espécies vegetais e seus respectivos usos nos quintais de dois bairros em Alta Floresta/MT.
MATERIAL E MÉTODOS
O município de Alta Floresta possui área de 8.947,07 km2 e situa-se na região norte do estado de Mato Grosso, a 830 km de distância da capital, Cuiabá. Alta Floresta foi fundada em 19 de maio de 1976 com famílias na maioria vindas do sul do Brasil para realizar atividades agrícolas. Está localizado nas coordenadas 09º52'32" S e 56º05'10" W, com população de 49.233 habitantes, segundo o censo de 2010 (IBGE, 2010).
O clima é tropical chuvoso e, segundo Koppen é classificado como Am, com duas estações bem definidas, verão chuvoso e inverno seco e, apresenta elevado índice pluviométrico no verão, podendo atingir médias superiores a 2.750 mm com intensidade máxima em janeiro, fevereiro e março, com nítido período de seca. As temperaturas ficam entre 20 a 38 °C, tendo em média 26 °C, podendo chegar aos 40 °C nos dias mais quentes em alguns pontos do município. A altitude é de 250 a 450 m acima do nível do mar (ALVARES et al., 2014).
O presente estudo foi realizado em dezesseis quintais de dois Bairros de Alta Floresta/MT: Setor F (no centro) e Cidade Alta (na periferia). Na seleção dos entrevistados foi aplicada a técnica de amostragem bola de neve (snowball), ou seja, iniciou-se a entrevista com a pessoa responsável por um quintal, escolhida aleatoriamente, no final da entrevista solicitou-se que o entrevistado indicasse outra pessoa e assim, sucessivamente. Foram usadas as técnicas de observação direta e participante, onde os principais envolvidos na manutenção dos quintais são indagados sobre o manejo das plantas e as partes empregadas para cada uso e também sobre o perfil socioeconômico (idade, escolaridade, origem, tempo de residência, etc.) (ALBUQUERQUE et al., 2014).
Assim como citado em Albuquerque et al. (2014) realizou-se a comprovação in loco das espécies citadas pelos informantes nas entrevistas.
Em cada quintal visitado foram feitos levantamentos das espécies vegetais com a coleta de amostras para exsicatas e identificação no Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso. As informações foram compiladas sob a forma de um banco de dados, utilizando-se matrizes de textos, conforme metodologia proposta por Amorozo e Viertler (2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O município de Alta Floresta/MT foi formado com migrantes de outros Estados brasileiros. Neste estudo verificou-se que a maioria dos entrevistados é procedente do estado do Paraná, seguido de Minas Gerais, Maranhão e Rondônia (Figura 1A). Segundo Guarim Neto e Novais (2008) isso reflete o processo de colonização da região norte de Mato Grosso devido à migração das pessoas oriundas da região sul do Brasil para áreas poucas exploradas, objetivando a compra de áreas maiores e produtivas por baixo custo.
Todos os proprietários dos quintais possuem algum grau de formação acadêmica como pode ser verificado na Figura 1B. A maioria cursou o ensino médio ou tem o terceiro grau incompleto, situação diferente da encontrada em outros estudos realizados no Mato Grosso e Rio Grande do Norte, onde verificou-se uma baixa escolaridade entre os proprietários (AMARAL; GUARIM NETO, 2008; CARNIELLO et al., 2010; FREITAS et al., 2012; FREITAS et al., 2015).
Figura 1. Estado de origem (A) e grau de escolaridade (B) dos entrevistados em Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.
Os quintais apresentaram em média 703 m2 de área total (Figura 2A). Os lotes em Alta Floresta são relativamente grandes, como ocorre em outros municípios do Estado. Em estudo realizado em Mirassol do Oeste/MT, constatou-se que a extensão territorial de 97% dos lotes variou entre 200 a 1000 m2 (CARNIELLO et al., 2010). Em Rosário Oeste/MT a área média dos quintais analisados foi de 622 m2, incluindo a área do domicílio, sendo que todos os terrenos possuíam o formato retangular (AMARAL; GUARIM NETO, 2008). Em outro estudo, conduzido por Gervazio (2015) em Alta Floresta observou-se que os quintais possuíam área média de 2.500 m2.
Dos entrevistados, 43,75% responderam que residem no local entre 1 a 5 anos, período relativamente curto de tempo para que um grande número de espécies seja cultivado (Figura 2B), no entanto, o tempo médio de residência nos quintais estudados é de 10,63 anos.
Verificou-se que 57% dos entrevistados são mulheres, as quais são responsáveis pela escolha das espécies a serem cultivadas, pelo plantio e manutenção dos quintais. Havendo, portanto, um equilíbrio em relação ao gênero na execução de tarefas nos quintais, resultado semelhante ao constatado por Santos et al. (2013) em quintais agroecológicos na comunidade Mem de Sá, Itaporanga d’Ajuda-SE; entretanto, esses resultados diferem da maioria dos estudos, onde observou-se predominância das mulheres como responsáveis pelos quintais (FLORENTINO et al., 2007; FREITAS et al., 2012; AMARAL et al., 2016).
Figura 2. Área dos quintais (A) e tempo de residência (B) citados pelos entrevistados em Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.
A composição florística observada nos quintais de Alta Floresta corresponde a 99 táxons pertencentes à 49 famílias botânicas (Tabela 1). As famílias mais frequentes foram Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae (Figura 3). As espécies mais frequentes foram Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson, presentes em 50% dos quintais. C. nucifera está presente com frequência em muitos quintais brasileiros (FREITAS et al., 2012; SANTOS et al., 2013; FREITAS et al., 2015), possivelmente por produzir frutos que podem ser comercializados para aumentar a renda das famílias e pelos múltiplos usos na alimentação e saúde. A presença de M. cauliflora pode estar relacionada com a origem dos entrevistados que na maioria são do Paraná, pois, a espécie é originária da Mata Atlântica.
O hábito de crescimento predominante foi o herbáceo, com 50 espécies, enquanto o arbustivo e arbóreo foram representados por 25 e 24 espécies, respectivamente. A predominância de espécies herbáceas foi observada em outros estudos (PILLA et al., 2006; ALBERTASSE et al., 2010), possivelmente pela- facilidade de se cultivar ervas em quintais (PILLA et al., 2006).
Tabela 1. Plantas encontradas nos quintais com suas respectivas famílias, nomes vernaculares, hábito de crescimento, categoria de uso, origem (N – nativa ou E – exótica) e frequência de quintais em que estão presentes em dois bairros de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. |
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Família/espécie |
Nome vernacular |
Hábito de crescimento |
Categoria de uso |
Origem |
Frequência |
Aliaceae Allium fistulosum L. |
cebolinha |
herbáceo |
condimentar |
E |
37,5 |
Alismataceae Echinodorus grandiflorus (Cham. & Schltr.) Micheli |
chapéu-de-couro |
herbáceo |
medicinal |
N |
6,3 |
Amaranthaceae Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze |
terramicina |
herbáceo |
medicinal |
N |
25,0 |
Chenopodium ambrosioides L. |
erva-de-Santa-Maria |
herbáceo |
medicinal |
E |
25,0 |
Anacardiaceae Anacardium occidentale L. Mangifera indica L. |
caju manga |
arbóreo arbóreo |
frutífera frutífera |
N E |
18,8 18,8 |
Annonaceae Annona squamosa L. |
atta, pinha |
arbustivo |
frutífera |
E |
18,8 |
Apiaceae Petroselinum crispum (Mill.) |
salsinha |
herbáceo |
condimentar |
E |
12,5 |
Araceae Dieffenbachia picta Schott |
comigo-ninguém-pode |
herbáceo |
paisagismo |
E |
18,8 |
Arecaceae Cocos nucifera L. |
coco, coco-verde |
arbóreo |
frutífera |
E |
50,0 |
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart |
bocaiuva, macaúba |
arbóreo |
frutífera |
N |
18,8 |
Aristolochiaceae Aristolochia esperanzae Kuntze |
cipó-mil-homens |
herbáceo |
medicinal |
N |
18,8 |
Asteraceae Lactuca sativa L. Mikania glomerata Spreng. Cichorium intybus L. Calendula officinalis L. |
alface guaco chicória calêndula |
herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo |
cultivo medicinal cultivo medicinal |
E N E E |
18,8 12,5 12,5 6,3 |
Betulaceae Corylus avellana L. |
avelã |
herbáceo |
medicinal |
E |
12,5 |
Bignoniaceae Tecoma stans (L.) Juss ex. Kenth. Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo |
ipê-de-jardim ipê |
arbustivo arbóreo |
arborização arborização |
E E |
6,3 12,5 |
Boraginaceae Symphytum officinale L. |
confrei |
herbáceo |
medicinal |
E |
12,5 |
Brassicaceae Brassica oleracea var. acephala L. Eruca sativa (Mill.) |
couve-de-folhas rúcula |
herbáceo herbáceo |
cultivo cultivo |
E E |
12,5 12,5 |
Bromeliaceae Aechmea blanchetiana (Baker) L.B.Sm. Ananas comosus (L.) Merril |
bromélia abacaxi |
herbáceo herbáceo |
paisagismo frutífera |
N E |
6,3 6,3 |
Cariacaceae Carica papaya L. |
mamão |
arbustivo |
frutífera |
E |
37,5 |
Celastraceae Maytenus ilicifolia (Schrad.) Planch. |
espinheira-santa |
arbustivo |
medicinal |
N |
12,5 |
Chrysobalanaceae Licania tomentosa Benth. Fritsch |
oiti |
arbóreo |
arborização |
N |
12,5 |
Costaceae Costus spiralis (Jacq.) Roscoe |
caninha-do-brejo |
herbáceo |
medicinal |
N |
25,0 |
Cupressaceae Chamaecyparis lawsoniana (A.Murray) Parl. |
pinheiro |
arbóreo |
arborização |
E |
18,8 |
Cucurbitaceae Cucurbita moschata Duchesne |
abóbora |
herbáceo |
cultivo |
E |
12,5 |
Euphorbiaceae Manihot esculenta Crantz Codiaeum variegatum L. |
mandioca cróton |
arbustivo arbustivo |
cultivo paisagismo |
N E |
12,5 6,3 |
Fabaceae Enterolobium maximum Ducke Hymenolobium excelsum Ducke Parkia multijuga Benth. Hymenaea courbaril L. Torresea acreana Ducke Phaseolus vulgaris L. |
timburil angelim barjão jatobá cerejeira feijão |
arbóreo arbóreo arbóreo arbóreo arbóreo herbáceo |
arborização arborização arborização paisagismo arborização cultivo |
N N N N N E |
6,3 6,3 6,3 12,5 6,3 12,5 |
Heliconiaceae Heliconia chartacea Lane ex Barreiros |
helicônia |
herbáceo |
paisagismo |
N |
12,5 |
Lamiaceae Plectranthus barbatus Andr. Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. Ocimum micranthum Willd. Mentha pulegium L. Mentha piperita L. Ocimum basilicum L. Leonurus sibiricus L. Melissa officinalis L. Origanum vulgare L. Rosmarinus officinalis L. |
boldo malvarisco alfavaca poejo menta manjericão macaé cidreira orégano alecrim |
herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo herbáceo |
medicinal medicinal medicinal medicinal medicinal medicinal medicinal medicinal condimentar medicinal |
E E E E E E E E E E |
43,7 25,0 31,3 31,3 18,8 12,5 6,3 18,8 6,3 25,0 |
Lauraceae Persea americana Mill. |
abacate |
arbóreo |
frutífera |
E |
6,3 |
Liliaceae Sansevieria trifasciata Hort. Aloe vera L. Burm. |
espada-de-São-Jorge babosa |
herbáceo herbáceo |
paisagismo medicinal |
E E |
12,5 6,3 |
Malphiguiaceae Malpighia glabra L. |
acerola |
arbustivo |
frutífera |
E |
37,5 |
Malvaceae Ceiba pentranda (L.) Gaertn. |
paineira |
arbóreo |
arborização |
N |
6,3 |
Gossypium barbadense L. Hibiscus rosa-sinensis L. Malva sylvestris L. |
algodão hibisco malva |
arbustivo arbustivo herbáceo |
medicinal paisagismo medicinal |
E E E |
25,0 12,5 18,8 |
Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K.Schum. |
cupuaçu |
arbustivo |
frutífera |
N |
25,0 |
Theobroma cacao L. |
cacau |
arbustivo |
frutífera |
E |
12,5 |
Meliaceae Azadirachta indica A.Juss. Swietenia macrophylla King |
nim mogno |
arbóreo arbóreo |
arborização arborização |
E N |
6,3 6,3 |
Moraceae Ficus benjamina L. Artocarpus integrifolia L. Morus nigra L. |
figueira jaca amora |
arbóreo arbóreo arbóreo |
arborização frutífera frutífera |
E E E |
18,8 18,8 25,0 |
Musaceae Musa sp. |
banana |
arbóreo |
frutífera |
E |
37,5 |
Myrtaceae Psidium guajava L. Eugenia uniflora L. Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg Syzygium cumini (L.) Skeels Eugenia stipitata McVaugh Eugenia uvalha Cambess. |
goiaba pitanga jabuticaba jambolão araçá-boi uvaia |
arbustivo arbustivo arbustivo arbóreo arbóreo arbóreo |
frutífera frutífera frutífera frutífera frutífera frutífera |
E N N E N N |
25,0 12,5 50,0 12,5 6,3 18,8 |
Nyctaginaceae Bougainvillea spectabilis Willd. |
primavera |
arbustivo |
paisagismo |
N |
25,0 |
Orchidaceae Cattleya spp. |
orquídea |
herbáceo |
paisagismo |
N |
31,3 |
Oxalidaceae Averrhoa carambola L. |
carambola |
arbóreo |
frutífera |
E |
18,8 |
Papaveraceae Chelidonium majus L. |
figatil |
herbáceo |
medicinal |
E |
25,0 |
Passifloraceae Passiflora edulis Sims |
maracujá |
herbáceo |
frutífera |
N |
25,0 |
Poaceae Saccharum officinarum L. Bambusa gracilis Hort. ex Rivière & C. Rivière Cymbopogon citratus (DC) Stapf. |
cana-de-açúcar bambu-de-jardim capim-santo |
arbustivo herbáceo herbáceo |
cultivos paisagismo medicinal |
E E E |
25,0 12,5 31,3 |
Polypodiaceae Polypodium lepidopteris (Langds. & Fisch.) Kunze |
samambaia |
herbáceo |
paisagismo |
E |
12,5 |
Portulacaceae Portulaca grandiflora Hook. |
onze-horas |
herbáceo |
paisagismo |
E |
12,5 |
Punicaceae Punica granatum L. |
romã |
arbustivo |
medicinal |
E |
31,3 |
Rubiaceae Mussaenda erythrophylla Schumach & Thonn. Ixora chinensis Lam. |
mussaenda ixora |
arbustivo arbustivo |
paisagismo paisagismo |
E E |
18,8 18,8 |
Rutaceae Citrus x aurantium L. Citrus x limon (L.) Osbeck Citrus x sinensis (L.) Osbeck Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew. Ruta graveolens L. |
Laranja-azeda limão laranja jaborandi arruda |
arbustivo arbustivo arbustivo herbáceo herbáceo |
frutífera frutífera frutífera medicinal medicinal |
N N N N N |
31,3 31,3 18,8 12,5 25,0 |
Hydrangeaceae Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. |
hortência |
herbáceo |
paisagismo |
E |
6,3 |
Solanaceae Capsicum spp. Solanum lycopersicum L. Capsicum annuum L. |
pimentas tomate pimentão |
herbáceo herbáceo herbáceo |
condimentar cultivo cultivo |
E/N N E |
12,5 12,5 12,5 |
Verbenaceae Duranta repens L. Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson |
pingo-de-ouro cidreira |
arbustivo arbustivo |
paisagismo medicinal |
E N |
31,3 50,0 |
Vitaceae Vitis vinifera L. |
uva |
herbáceo |
frutífera |
E |
6,3 |
Zingiberaceae Zingiber officinale Roscoe Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm. Curcuma aromatica Salisb. |
gengibre colônia açafrão |
herbáceo arbusto herbáceo |
condimentar medicinal condimentar |
E E E |
18,8 18,8 18,8 |
Figura 3. Famílias botânicas mais frequentes (A) e número de espécies (B) nos quintais de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.
As categorias de uso citadas pelos informantes foram: a) arborização: espécies que proporcionam sombra, resultando em um ambiente agradável nos quintais; b) condimentar: espécies usadas no preparo de alimentos como tempero; c) cultivo: espécies herbáceas plantadas no quintal para alimentação; d) frutífera: espécies arbóreas que produzem frutos comestíveis; e) medicinal: espécies usadas para preparo de remédios caseiros e; f) paisagismo: espécies destinadas à ornamentação, decoração e embelezamento dos quintais (Figura 4).
A categoria de uso com maior número de espécies foi a medicinal, com 29 táxons, pertencentes à 17 famílias, com predominância da família Lamiaceae (Tabela 2). O uso mais frequente é na forma de chás para gripes e resfriados.
Figura 4. Categorias de uso das espécies de plantas presentes nos quintais de Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil.
Tabela 2. Plantas medicinais identificadas nos quintais de Alta Floresta com seus respectivos usos. Alta Floresta, Mato Grosso, Brasil. |
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Família/espécie |
Nome vernacular |
Usos |
Alismataceae Echinodorus grandiflorus (Cham. & Schltr.) Micheli |
chapéu-de-couro |
chá para o fígado e rins |
Amaranthaceae Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze |
terramicina |
chá das folhas para dor, febre e infecções |
Chenopodium ambrosioides L. |
erva-de-Santa-Maria |
sumo das folhas com leite para verminoses |
Aristolochiaceae Aristolochia esperanzae Kuntze |
cipó-mil-homens |
estômago, fígado, raiz contra picada de cobra |
Asteraceae Mikania glomerata Spreng. Calendula officinalis L. |
guaco calêndula |
xarope das folhas para gripe chá das flores para cicatrizar ferimentos |
Betulaceae Corylus avellana L. |
avelã |
cataplasma com a casca para cicatrizar úlceras |
Boraginaceae Symphytum officinale L. |
confrei |
amassar as folhas para cicatrizar ferimentos |
Celastraceae Maytenus ilicifolia (Schrad.) Planch. |
espinheira-santa |
chá das folhas para úlcera no estômago |
Costaceae |
|
|
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe |
caninha-do-brejo |
chá para os rins e pedra nos rins |
Lamiaceae Plectranthus barbatus Andr. Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. Ocimum micranthum Willd. Mentha pulegium L. Mentha piperita L. Ocimum basilicum L. Leonurus sibiricus L. Melissa officinalis L. Rosmarinus officinalis L. |
boldo malvarisco alfavaca poejo menta manjericão macaé cidreira alecrim |
chá para indigestão, dor no estômago e fígado chá e lambedor para gripe e dor na garganta chá para gripe xarope para gripe xarope para gripe xarope para gripe chá para os rins chá das folhas como calmante chá das folhas como estimulante |
Liliaceae Aloe vera L. Burm. |
babosa |
gel das folhas para queimaduras |
Malvaceae Gossypium barbadense L. Malva sylvestris L. |
algodão malva |
chá das folhas usado no banho após o parto chá das folhas como anti-inflamatório |
Papaveraceae Chelidonium majus L. |
figatil |
chá para problemas do fígado |
Poaceae Cymbopogon citratus (DC) Stapf. |
capim-santo |
chá das folhas como calmante |
Punicaceae Punica granatum L. |
romã |
chá da casca do fruto para a garganta e rouquidão |
Rutaceae Pilocarpus microphyllus Stapf ex Wardlew. Ruta graveolens L. |
jaborandi arruda |
chá para problemas com os rins e para os cabelos chá das folhas para lavar os olhos |
Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson |
cidreira |
chá das folhas como calmante |
Zingiberaceae Alpinia zerumbet (Pers.) B.L.Burtt & R.M.Sm. |
colônia |
chá para baixar a pressão |
Outros estudos etnobotânicos verificaram maior número de espécies de uso medicinal nas famílias Lamiaceae e Asteraceae, como constatado por Albertasse et al. (2010) no estado do Espírito Santo, Giraldi e Hanazaki (2010) em Santa Catarina, Pilla et al. (2006) em São Paulo e Moreira e Guarim Neto (2015) no Mato Grosso.
As espécies da família Lamiaceae destacam-se por serem ricas em óleos essenciais, o que confere às mesmas propriedades aromáticas e medicinais, daí a maior representatividade desta família neste e em diversos outros trabalhos sobre o levantamento das espécies vegetais em quintais domésticos (Mosca; Loiola, 2009; Freitas et al., 2012; Paulino et al., 2012; Alves; Povh, 2013).
Se forem agrupadas as espécies usadas na alimentação, incluindo as frutíferas, de cultivo e condimentares tem-se 42 espécies, ou seja, 42% do total informado, o que indica a importância dos quintais para a segurança alimentar das famílias. As frutas e hortaliças constituem valiosas fontes de nutrientes para as famílias, uma alternativa econômica para o consumo destes produtos em épocas de crise, e que, de outra maneira, seria de difícil obtenção (VALADÃO et al., 2006). Garcia et al. (2015) afirmam que os quintais exercem papel importante na segurança alimentar dos agricultores familiares, pela riqueza de espécies encontradas nos extratos arbóreos e arbustivos, em sua maioria por espécies que proporcionam alimentação saudável, com riqueza de nutrientes.
Em Boa Vista/RR, Semedo e Barbosa (2007) verificaram que o cultivo de árvores frutíferas em quintais caseiros segue um padrão que concentra a escolha em poucas espécies, não-originárias da Amazônia, mas, tradicionalmente consagradas pelo êxito na produção de frutos. No presente estudo a preferência por fruteiras exóticas também foi verificada, com destaque para a bananeira (Musa sp.). Nos quintais de Santarém/PA, Winklerprins (2010) constatou a presença de 33 espécies de plantas frutíferas em um total de 98 espécies.
Na categoria de arborização e paisagismo, existem muitas espécies que são plantadas com o objetivo de gerar sombra para os proprietários e, de acordo com os entrevistados, este espaço normalmente é o local onde os adultos conversam e descansam, as crianças brincam e realizam-se festas. As árvores também servem de abrigo para aves que vivem em áreas urbanas ou que estejam de passagem pelo local, e podem produzir frutos que eventualmente são consumidos por alguns animais frugívoros.
Nota-se ainda, a presença de espécies arbóreas trazidas da floresta Amazônica como Hymenolobium excelsum Ducke, Parkia multijuga Benth., Hymenaea courbaril L., Torresea acreana Ducke e Swietenia macrophylla King. O uso de espécies nativas do bioma da região é importante na conservação e domesticação e, Freitas et al. (2012) também constataram o uso de espécies nativas regionais nos quintais domésticos. Segundo Florentino et al. (2007) é comum observar a presença de espécies nativas nos quintais, que em geral estão relacionadas ao uso madeireiro, no entanto, em Alta Floresta são importantes para amenizar o calor e embelezar as ruas.
A maioria das espécies não são nativas (68 táxons), assim como constatado no levantamento feito em quintais de Cáceres-MT por Pereira e Figueiredo Neto (2015). Embora seja comum observar a presença de espécies nativas nos quintais das regiões tropicais úmidas e áridas, em todos há um domínio de plantas exóticas (ALBUQUERQUE et al., 2005). Embora não sejam nativas, são espécies cultivadas e utilizadas há muito tempo pela população brasileira, como é o caso dos representantes da família Lamiaceae (boldo, malvarisco, alfavaca, poejo, menta, manjericão, macaé, cidreira e alecrim).
Com relação à origem das espécies mantidas nos quintais, a maioria (82%) foi obtida com amigos, as demais foram oriundas de vizinhos da zona rural, viveiro municipal do estado do Paraná, da cidade de Lucas do Rio Verde/MT, coletadas na Floresta e no Cerrado e adquiridas na feira do produtor. Esta situação difere do constatado por Pereira e Figueiredo Neto (2015) em Cáceres-MT, onde 37,98% das plantas foram obtidas a partir de “mudas compradas” e as outras origens foram 18,98% de “mudas ganhas” e 24,06% “encontradas no local”.
CONCLUSÕES
Os quintais domésticos de Alta Floresta, Mato Grosso tem grande diversidade vegetal, cerca de 100 espécies pertencentes a 49 famílias botânicas.
As famílias mais frequentes são Lamiaceae, Fabaceae e Myrtaceae, com destaque para as espécies Cocos nucifera L., Myrciaria cauliflora (Mart.) O.Berg e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson.
O uso alimentício seguido do emprego medicinal da maioria das espécies, indica a importância do incentivo à manutenção da diversidade nos quintais e dessas espécies para a segurança alimentar.
AGRADECIMENTO
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Bolsa de Produtividade concedida à segunda autora.
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