ARTIGO CIENTÍFICO
Crescimento inicial e biomassa de
espécies utilizadas como adubação verde em sistema de aleias
Initial growth and biomass of
the species used as green fertilization in the alley cropping
Bruna Bandeira de Freitas¹; Daniela Pauletto¹; Iara Rayana
Leal de Sousa¹
¹Universidade Federal do Oeste do Pará, bruna-bandeira@hotmail.com; danielapauletto@hotmail.com; rayana.iaraleal@gmail.com
Recebido: 13/03/2019; Aprovado: 03/11/2019
Resumo: Objetivou-se com este trabalho
avaliar o crescimento inicial de espécies perenes como gliricídia
(Gliricidia sepium) e ingá-xixica (Inga heteraphylla) e o desempenho da produção
de biomassa de espécies herbáceas, como a crotalária juncea
(Crotalaria juncea L.) e
feijão-de-porco (Canavalia ensiformis
DC.), utilizadas para adubação verde. O monitoramento do crescimento das
espécies foi acompanhado por seis meses. Para avaliar a biomassa, as plantas
foram podadas rente ao solo, onde foi obtido o material vegetal total para
determinar o peso de massa verde, e retiraram-se quatro amostras de cada
parcela para obter o peso da massa seca. O crescimento em altura final para o
ingá-xixica foi de 0,77 m e de 1,81 m para a gliricídia.
As taxas de crescimento absoluto (TCA) para altura total (Ht)
diferem entre ambas as espécies, onde a média da gliricídia
apresenta maior valor, de 5,06 cm mes-1 em Ht,
e a de ingá-xixica é de 2,68 cm mês-1. Na avaliação de biomassa
total observou-se diferença entre as duas espécies, tanto para massa verde como
para a seca, destacando-se o feijão de porco nas duas avaliações com maior
produtividade de biomassa fresca de 8,6 t ha-1 e seca 1,6 t ha-1.
Para indicação no uso como adubação verde, a espécie perene gliricídia,
apresentou os melhores parâmetros dendrometricos e, a
espécie herbácea feijão de porco, a maior produção de biomassa.
Palavras-chave: Gliricidia sepium; Inga heteraphylla;
Cultivo
em faixas
Abstract: The objective of this work was to evaluate the initial growth
of perennial species as gliciridia (Gliricidia sepium)
and inga-xixica (Inga heteraphylla)
and the performance of the biomass production of herbaceous species such as
crotalaria juncea (Crotalaria juncea
L.) and jack beans (Canavalia ensiformis DC.)
used for green manure. Monitoring of species growth was followed for six
months. To evaluate the biomass, the plants were pruned close to the soil,
where the total plant material was obtained to determine the green mass weight,
and four samples were taken from each plot to obtain the dry mass. The final
height growth for inga-xixica was 0.77 m and 1.81 m
for gliricidia. Absolute growth rates (TCA) for total
height (Ht) differ between both species, in which the
average of gliricidia has the highest value, 5.06 cm
mes-1 in Ht, and that of inga-xixica is 2.68 cm mes-1. In the total biomass evaluation there was a difference between the two species,
both for green and dry mass, with the best jack beans biomass in the two
evaluations with the highest fresh biomass productivity of 8.6 t ha-1 and dry
1.6 t ha-1. For use in green manure, the perennial species gliricidia, which presented the best dendrometric
parameters, and the herbaceous species jack beans, with the highest biomass
production.
Key words: Gliricidia sepium; Inga heteraphylla; Band cultivation
INTRODUÇÃO
A adubação verde é uma prática agrícola que consiste no plantio de
espécies vegetais em rotação ou em consórcio com culturas de interesse
econômico, podendo ser anuais ou perenes, para cobertura e proteção do solo por
determinado período de tempo ou permanente. Além
disso, também contribui para manter ou melhorar as condições físicas, químicas
e biológicas do solo, proteção da superfície quanto no aporte de fitomassa proveniente da parte aérea e raízes, introdução
de microrganismos em profundidade no solo melhorando sua afertilidade
e uso eventual da biomassa produzida para alimentação animal ou para outras
finalidades (WUTKE et al., 2014 ; SILVA et al., 2014; ESPINDOLA et al., 2005).
O sistema de cultivo em aleias caracteriza-se pelo manejo
de culturas de interesse que são cultivadas nos corredores formados pelas
entrelinhas constituídas por plantas adubadeiras de
rápido crescimento, arbóreas ou
arbustivas (MEIRELLES E SOUZA, 2015). Mattar et al. (2013) e Paulino
et al. (2011) relatam que a poda periódica das plantas adubadeiras
pode gerar uma ciclagem de nutrientes para o agroecossistema
e melhorar as propriedades do solo.
As leguminosas apresentam elevado potencial de fixação biológica de
nitrogênio (FBN) e produção de biomassa, portanto, seu uso além de proporcionar
economia com fertilizantes, contribui para o manejo ecológico, fundamental para
a produção orgânica, estabelecimento e manutenção dos produtores no mercado de
forma competitiva e menos dependentes de subsídios (ESPINDOLA et al., 2006).
Segundo Wolschick et al. (2016), o uso dessas
espécies pode ser considerado uma forma viável de amenizar os impactos da
agricultura, trazendo sustentabilidade ao manejo dos solos agrícolas.
A implantação de leguminosas arbustivas e arbóreas ajuda a dinamizar a
ciclagem de nutrientes, também colabora na economia de água, na proteção contra
pragas e doenças, e no controle da erosão laminar, produzindo pólen e néctar
para os inimigos naturais, melhora a estrutura do solo pela adição de matéria
orgânica e atividade dos sistemas radiculares dessas plantas, além de auxiliar
a redução de infestação por plantas indesejáveis de vegetação espontânea (ALVES
et al., 2004).
Destacam-se como espécies promissoras para a prática da adubação verde
as espécies avaliadas no presente estudo: as perenes gliricídia
(Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) e ingá-xixica (Inga heteraphylla Willd.) e as herbáceas crotalária juncea
(Crotalaria juncea L.) e
feijão-de-porco (Canavalia ensiformis
DC.), por serem plantas rústicas, de rápido crescimento, adaptadas a condições
de baixa fertilidade e elevadas temperaturas (AGUIAR JÚNIOR et al., 2011;
XISTO, 2009). Diante do exposto, o objetivo com este trabalho foi avaliar o
crescimento inicial de espécies perenes e o desempenho da produção de biomassa
de espécies herbáceas utilizadas para adubação verde, visando uma proposta de
alternativa de adubação verde para a região.
MATERIAL E
MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido em uma área localizada na Fazenda
Experimental da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA, localizada às
margens da rodovia PA 370 (Curuá-una), no município
de Santarém, estado do Pará. A altitude média de 35 metros, a classificação
climática da região é Am- Clima tropical úmido ou subúmido (classificação Koppen),
sendo quente e úmida, com variação de temperatura média anual na faixa de 25 a
28 ºC, umidade relativa média do ar de 86% e precipitação média anual é de 1920
mm, sendo que a maior intensidade ocorre de dezembro a maio, quando a
precipitação mensal varia de 170 a 300 mm mês-1 (FERREIRA, 2011). Os
dados de precipitação utilizados neste trabalho, no período de agosto de 2017 a
março de 2018, foram obtidos por meio de pluviômetro em plástico rígido, instalado
na fazenda experimental, com escala de 0 a 130 mm e monitoramento diário.
Os solos no município são do tipo Latossolo
Amarelo de textura média, argilosa a muito argilosa de textura indiscriminada
(IDESP, 2014). Em grande parte da fazenda experimental, houve atividades
voltadas para a pecuária, principalmente criação de animais bovinos, e,
posteriormente, a área ficou em pousio por cerca de 10 anos antes da
implantação do experimento deste estudo.
O experimento com espécies perenes foi instalado em fevereiro de 2017
com o plantio das mudas de ingá-xixica (Inga heteraphylla Willd.) e gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Walp.), e foram divididas quatro faixas com as espécies,
sendo duas faixas alternadas de cada espécie (Figura 1). O ingá-xixica foi plantado
por meio de mudas feitas com sementes, e a gliricídia
com mudas oriundas de estacas com introdução de 10 cm no solo, ambas produzidas
no viveiro da Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA e levadas a campo
quando atingiram altura superior a 50 cm e inseridas ao solo para que fossem
enraizadas. O plantio foi realizado em fileiras simples com espaçamento de 2 m
entre as plantas e 6 m entre fileiras, totalizando 20 exemplares de cada
espécie.
O experimento com espécies de ciclo curto foi desenvolvido nas
entrelinhas do plantio de espécies perenes (ingá-xixica e gliricídia).
A limpeza da área, que continha vegetação secundária, foi realizada pelo corte
raso e queima controlada dos resíduos vegetais (setembro e outubro de 2016),
visto que essa condição de manejo ainda é a realidade que domina na região.
Para a implantação do experimento, realizado em novembro de 2017, foram
realizados tratos culturais como limpeza manual e roçagem semi-mecanizada
entre as quatro linhas de plantio. Em seguida procedeu-se a aplicação de 2,5 t.ha-1 kg de calcário
dolomítico nessas entrelinhas, estabelecendo um período de 48 dias, tempo
aproximado necessário para o calcário corrigir a acidez no solo, segundo Cravo
et al. (2010).
Em janeiro de 2018, foram coletadas 10 amostras de solo de 0-20 cm de
profundidade com o auxílio de um trado, para verificação das características
químicas do solo após a aplicação do calcário (Tabela 1). Em seguida, foram
incorporados ao 180 kg de esterco bovino curtido, sendo um em cada linha das espécies
perenes já implantadas, para auxiliar no desenvolvimento das plantas adubadeiras e a queima realizada anteriormente se justifica
por ser tipicamente comum na região, sendo as espécies adubadeiras
alternativas a essa prática.
Tabela 1. Características químicas do solo (0-20 cm) no
local de estudo na Fazenda Experimental da Ufopa,
Santarém-Pará. |
|||||||||||||
MO |
N |
P |
K |
Na |
Al |
Ca |
Ca+Mg |
pH |
H+Al |
CTC |
Saturação |
||
g/kg |
(%) |
mg/dm³ |
cmolc/dm³ |
Água |
cmolc/dm³ |
Total |
Efetiva |
Base |
Alumínio |
||||
cmolc/dm³ |
V% |
m% |
|||||||||||
21,9 |
0,09 |
4 |
18 |
11 |
0,8 |
0,6 |
1,0 |
4,50 |
4,58 |
5,56 |
1,87 |
19,26 |
41,6 |
Após aplicação de esterco, foram plantadas as sementes de feijão de
porco (Canavalia ensiformes) e crotalária (Crotalaria juncea) nas
entre linhas do ingá-xixica e gliricídia, semeadas
manualmente em cova, onde foram inseridas três sementes de cada espécie, aos 15
dias após a germinação, foi realizado o desbaste, deixando-se a planta mais
vigorosa. Desta maneira, foram semeadas em 7 linhas espaçadas com 50 cm entre
cada cova, em parcelas de 6 x 4 m, resultando em densidade de 3,5 plantas m-2(Figura
1). As plantas foram cortadas 60 dias após o plantio.
Figura 1. Croqui representativo dos experimentos com as
espécies ingá-xixica, gliricídia, feijão-de-porco e
crotalária na Fazenda Experimental da Ufopa, Santarém,
Pará.
Para o monitoramento do crescimento das espécies, os indivíduos foram
numerados através de placas de identificação e mensurados a partir do sexto mês
de implantação em campo até os 11 meses de idade. Para o monitoramento,
utilizaram-se medidas de dimensões lineares com mensuração mensal das
variáveis: altura total (Ht) e diâmetro a altura do
colo (DAC), utilizando trenas e paquímetro digital com gliricídia
medindo DAC inicial de 18,62 cm e ingá-xixica 8,95 cm.
A partir das variáveis coletadas para a análise do crescimento de
ingá-xixica e gliricídia, foram determinadas as taxas
de crescimento absoluto (TCA) e de crescimento relativo (TCR) para os
parâmetros Ht e DAC, conforme metodologia de Benincasa (2004), de acordo com as Eqs.
(1) e (2).
(1)
Em que: TCA- Taxa
de crescimento absoluto; M2- Medição final da altura ou diâmetro; M1- Medição
inicial da altura ou diâmetro; T2- Tempo final e T1- Tempo inicial.
(2)
Em que: M2-
medição final da altura ou diâmetro; M1- medição inicial da altura ou diâmetro;
T2- T1 = intervalo de tempo; ln - logarítmo neperiano.
Optou-se pelo uso da TCA, pois esta expressa
o crescimento da planta em um intervalo de tempo em relação à variável
acumulada no início desse intervalo (MACHADO et al., 2006). A TCA é indicada
para avaliar a velocidade média de crescimento ao longo do período de
observação (BENINCASA, 2004).
Para as variáveis Ht e DAC, utilizaram-se o
Incremento Médio Mensal (IMM) e Incremento Absoluto (IA) submetidos ao teste T
de Student não-pareado, ao nível de 95% de
probabilidade. As análises foram realizadas através do software Biostat.
Para avaliação do grau de dispersão e associação linear entre duas
variáveis, calculou-se o coeficiente de correlação de Person (r), adotando-se a
escala estabelecida por Dancey e Reidy
(2006), em que r = 0,10 até 0,30 indica correlação fraca, r = 0,40 até 0,60
corresponde à correlação moderada e r = 0,70 até 1 significa correlação
forte.
Para a avaliação da biomassa, as plantas foram cortadas rente ao solo
aos 60 dias. O material vegetal total de cada parcela foi pesado a fim de se
determinar o peso de massa verde. E com o objetivo de determinar a massa seca,
após a pesagem da massa verde, retiraram-se quatro amostras de cada espécie por
parcela, sendo que cada amostra continha quatro plantas escolhidas
aleatoriamente. As amostras coletadas foram acondicionadas em sacos de papel e
colocadas em estufa de ventilação forçada a 65 °C, até atingir peso constante.
Posteriormente, o material restante de massa verde foi distribuído de forma
uniforme na superfície sobre cada parcela em campo.
Foi realizada a média das amostras das parcelas. Os dados foram
analisados estatisticamente por meio de médias comparadas pelo teste T de Student pareado a
5%, usando o software BioEstat 5.3.
A porcentagem de sobrevivência das mudas foi avaliada com base no
número de mudas no início e ao final no experimento.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
A sobrevivência do ingá-xixica foi de 95%, enquanto o percentual de
sobrevivência que a gliricídia apresentou foi de 75%.
Miranda e Valentim (2000) observaram valores superiores com um percentual de
95% de sobrevivência aos 12 meses de idade para a espécie de Gliricidia Sepium
plantadas em sistema de mudas. Em plantios de espécies perenes, entre elas o
gênero Inga e Gliricidia em
sistemas agroflorestais. Costa et al. (2009) relataram 78% sobrevivência em
estudo realizado no estado do Amazonas.
Silva e Corrêa (2008) também encontraram resultados parecidos, com 77,8%
para espécies arbóreas no Distrito Federal, enquanto que
Almeida e Sánchez (2005) consideram mortalidade de 10% de mudas como referência
em projetos de reflorestamento, valor este aproximado à média de mortalidade da
espécie ingá-xixica neste estudo. O pH ácido do solo da área experimental pode
ser um dos fatores que afetaram a sobrevivência da gliricídia,
que foi a espécie com menor porcentagem de sobrevivência, embora Drumond e Carvalho Filho (1999) tenham informado que a
espécie se desenvolva em diversos tipos de solos e tenha alta resistência à
seca, baseados em estudos no semiárido brasileiro.
Em estudo realizado por Costa et al. (2009), os adubos
verdes (Gliricidia sepium e Inga edulis) se
destacaram como importantes fontes de N, K e Ca, e a adição frequente desses
adubos verdes se mostrou como fonte de P. Os atributos relacionados à
fertilidade do solo P, K e Ca + Mg apresentam valores de 4 mg dm-³,
18 mg dm-³ e 1,0 cmolc dm-³ respectivamente,
valores estes que encontram-se na classe de teores baixos baseado recomendações
de adubação e calagem para o estado do Pará (CRAVO et al., 2010).
Na Figura 2, estão representadas as médias das alturas das espécies de
ingá-xixica e gliricídia no decorrer dos seis meses
de acompanhamento, em que as duas espécies apresentaram crescimento contínuo em
altura total (Ht).
Figura 2. Altura total média (m) e desvio padrão das espécies
ingá-xixica e gliricídia em Santarém, Pará.
O ingá-xixica apresentou um leve acréscimo (7%) na altura no mês 11,
fator este que pode ser reflexo do início do período chuvoso, durante o mês de
dezembro de 2017, com precipitação de 157 mm e 262 mm em janeiro de 2018,
valores superiores aos meses anteriores (agosto a novembro) com precipitação
acumulada de 57 mm. As médias de crescimento em altura, aos 11 meses, para o
ingá-xixica foram de 0,77 m e 1,81 m para a gliricídia.
Melo et al. (2015) constataram crescimento de gliricídia
de 0,18 m, aos dois meses. Em estudo com Inga marginata, realizado por Nascimento et
al. (2012), são descritos resultados de 1,5 m de altura com espaçamento de 2 m
entre as plantas aos 22 meses, dobro de tempo deste experimento. Na idade de
início das medições (seis meses), a gliricídia apresentou
DAC com valor médio de 2,03 cm para mudas produzidas a partir de estacas
(Figura 3). Este resultado pode ser considerado satisfatório quando comparado
aos encontrados por Silva (2009), quando mostram que esta espécie, aos três
meses de idade, em experimento realizado com sementes, apresentou diâmetro de
0,72 cm. Já no cultivo em viveiro na Paraíba foi relatado aos 100 dias um
diâmetro de 0,62 cm por Cavalcante et al. (2016)
O ingá-xixica apresentou 1,2 cm de DAC aos 11 meses de acompanhamento
(Figura 3), enquanto Nascimento et al. (2012) constataram 3,9 cm de DAC em
cultivo aos 22 meses de idade para a espécie do mesmo gênero Inga marginata.
Constatou-se diferença significativa entre as médias de DAC das duas
espécies avaliadas ao nível de 95% de confiabilidade, sendo que as médias da gliricídia apresentaram maiores valores, de 2,03 cm no
primeiro mês e 2,60 cm no último mês, enquanto o ingá-xixica variou de 1,01 a
1,24 cm no primeiro e último mês, respectivamente.
Figura 3. Diâmetro a altura do colo (DAC) e desvio padrão das
espécies ingá-xixica e gliricídia em Santarém, Pará.
As taxas de crescimento absoluto (TCA) para Ht
diferem entre ambas as espécies em que a média de gliricídia
apresenta maior valor (5,06 cm mes-1 em Ht)
que o ingá-xixica (2,68 cm mês-1 (Tabela 2). A TCA para a variável
DAC apresentou diferença estatística em que a gliricídia
destacou-se com maiores valores (1,15 mm mês-1) que o ingá-xixica
(0,48 mm mês-1).
Tabela 2. Taxa de crescimento absoluto (TCA) e
taxa de crescimento relativo (TCR) em altura total (HT) e diâmetro a altura
do colo (DAC) para as espécies ingá-xixica e gliricídia. |
|||
|
Ingá-xixica |
Gliricídia |
Valor-p |
|
TCA |
|
|
HT (cm/mês-1) |
2,68 |
5,06 |
0,023 |
DAC (mm/mês-1) |
0,48 |
1,15 |
0,015 |
|
TCR |
|
|
HT (cm.cm/mês-1) |
0,04 |
0,03 |
0,307 |
DAC (mm.mm/mês-1) |
0,04 |
0,05 |
0,390 |
Para a taxa de crescimento relativo (TCR) da variável Ht, as diferenças não foram significativas com média de
0,04 e 0,03 cm mês-1 para ingá-xixica e gliricídia,
respectivamente.
Conceitualmente a taxa de crescimento de uma planta é uma função do
tamanho inicial (BENINCASA, 2004), e por este motivo a TCR é apontada como o
índice mais indicado para avaliar crescimento inicial de plantas na mesma
espécie (LIMA et al., 2007). As variações na TCR podem ser decorrentes das
diferenças genéticas entre espécies e variedades, do estágio de desenvolvimento
da planta, das condições climáticas e do manejo empregado (OLIVEIRA et al.,
2000). Considerando este índice, verificou-se que as duas espécies em análise
tiveram o mesmo comportamento, visto que não houve diferença estatística,
indicando que a alocação de material foi proporcional ao tamanho inicial para
as duas espécies. Porém, considerando a produção de biomassa para uso como
adubação verde, percebe-se que a TCA se mostrou mais representativa do que a
TCR, por demonstrar mais claramente os ganhos em crescimento inicial ao longo
do tempo, pois, conforme exposto por Carvalho et al. (1999), um dos principais
parâmetros utilizados na avaliação dos adubos verdes é a produção de biomassa
aérea, pois reflete o potencial de extração e ciclagem de nutrientes.
O uso de espécies de apoio em sistema de cultivo em aleias pressupõe
que a espécie perene cultivada entre as de ciclo curto tenha uma rápida
produção de biomassa para que seja possível realizar podas periódicas e assim
acrescentar material vegetal ao solo e favorecer os cultivos de interesse
econômico (MARIN et al., 2007; QUEIROZ et al., 2007). Assim, índices como a
TCR, que consideram somente o crescimento proporcional ao tamanho inicial,
apontam que o ingá-xixica apresentou o mesmo crescimento que a gliricídia, não refletindo o desenvolvimento em campo,
visto que a gliricídia foi à espécie que mais se
desenvolveu em Ht com Incremento Médio Mensal (IMM)
de 5,1 cm comparado a 2,7 cm para o ingá-xixica (Tabela 3). Sousa et al.
(2007), em estudo realizado no Amazonas, constataram que o ingá-xixica
apresentou menor tolerância a podas drásticas enquanto a gliricídia
se adapta melhor a esse manejo.
Tabela 3. Incremento
Médio Mensal (IMM) e Incremento Absoluto (IA) em altura total para duas
espécies (Ingá-xixica e gliricídia) em Santarém,
Pará. |
|||
Igá-Xixica |
Gliricídia |
Valor p |
|
IMM (cm) |
2,7 |
5,1 |
0,0252 |
IA (cm) |
13,6 |
25,3 |
0,0252 |
A
espécie que mais se destacou em crescimento absoluto para diâmetro foi a gliricídia com 5,7 mm de incremento, enquanto o ingá
apresentou 2,4 mm (Tabela 4). Os valores para a primeira espécie representam ¼
do valor encontrado por Miranda e Valentim (2000), que observaram um incremento
de 19,7 mm em acompanhamento da mesma espécie por 4 anos no estado do Acre.
Melo et al. (2015) constataram um DAC de 6,6 mm para avaliação de crescimento
de gliricídia aos dois meses.
Tabela 4. Incremento
Médio Mensal (IMM) e Incremento Absoluto (IA) em DAC para duas espécies em Santarém,
Pará. |
|||
Ingá-xixica |
Gliricídia |
Valor p |
|
IMM (mm) |
0,5 |
1,1 |
0,0151 |
IA (mm) |
2,4 |
5,7 |
0,0151 |
A diferença entre o IA (3,3 mm) para diâmetro nas duas espécies
demostra que o crescimento inicial destas espécies se mostrou distinto. Um
fator atrelado a este resultado pode estar ligado à parte aérea da planta, pois
as duas espécies avaliadas apresentam comportamento distinto. A gliricídia tem crescimento cespitoso, formando em média
quatro a cinco fustes (AGUIAR JÚNIOR et al., 2011), além de apresentar alta
capacidade de regeneração e resistência à seca (DRUMOND; CARVALHO FILHO, 1999).
Já o ingá-xixica demonstrou uma incipiente ramificação e crescimento da copa
com notável dimensão inferior ao da gliricídia. Neste
sentido, monitorar outras variáveis como diâmetro da parte aérea ou quantidade
de ramos poderia ofertar mais parâmetros para comparação das espécies.
O desenvolvimento da parte aérea e formação de copa se apresentam de
forma imprescindível para espécies utilizadas para adubação verde, o que
indicou que a gliricídia tem a maior potencialidade,
pois aos 11 meses de idade já apresentava ramificação suficiente para execução
de podas, enquanto que o ingá-xixica ainda detinha
aspecto de muda.
O manejo do sistema de aleias é feito por meio de podas da parte aérea
das leguminosas durante a estação de crescimento da cultura principal, e o
produto dessas podas é aplicado no solo, onde se decompõe e fornece nutrientes
às plantas (EIRAS; COELHO, 2011). O número de cortes realizados por ano depende
da velocidade de rebrota das leguminosas após cada corte e da adequação às
características das espécies semeadas nas entrelinhas. A semeadura nas
entrelinhas ocorre no início das chuvas, desta forma, é feita uma poda drástica
da leguminosa para retardar a rebrota e recomposição da copa e, com isto,
atenuar seu efeito competitivo (BARRETO; CARVALHO FILHO, 1992).
Espera-se que, com a incorporação periódica de quantidades expressivas
de biomassa das leguminosas nas entrelinhas, obtenham-se melhorias nas
características químicas, físicas e biológicas dos solos, com consequente
aumento do seu potencial produtivo (SILVA; MENDONÇA, 1995). Logo, no presente
estudo, a gliricídia se destaca nesse quesito, pois
apresentou um crescimento mais expressivo que o ingá-xixica. Eiras e Coelho
(2011) ainda relatam que a poda para espécies perenes deve ser realizada na
estação chuvosa, para que as árvores tenham rápida reposição das suas folhas,
pois, se ocorrer no final das chuvas, as copas permanecem bastante reduzidas
durante a estação seca, com menor capacidade de sombreamento.
A Tabela 5 apresenta as principais correlações verificadas para
variáveis dendrométrias e pluviométricas. O efeito da
precipitação mensal sobre a Ht do ingá-xixica (r
=0,39) obteve um resultado de correlação fraca, enquanto para a mesma variável dendrométrica quanto ao número de dias com chuva a
correlação foi considerada moderada (r=0,42), demostrando que as variáveis
pluviométricas não expressaram influência relevante sobre o crescimento desta
espécie. Embora Farias et al. (2009) demonstrem que a espécie perene gliricídia se desenvolva melhor em períodos chuvosos,
Carvalho Filho et al. (1997) afirmam que a mesma espécie é uma leguminosa
arbórea que apresenta crescimento rápido e enraizamento profundo, o que lhe
confere tolerância à seca.
Tabela 5. Correlação
entre precipitação mensal (mm) e número de dias com chuva com diâmetro a altura
do colo (DAC) e altura total (Ht) das espécies
estudadas. |
||
Variáveis dendrométricas |
Variáveis pluviométricas |
|
Precipitação
mensal |
Número de
dias com chuva |
|
Ingá-xixica |
||
HT |
0,39 |
0,42 |
DAC |
0,07 |
0,12 |
Gliricídia |
||
HT |
-0,01 |
0,04 |
DAC |
0,29 |
0,33 |
Para o diâmetro do ingá-xixica e gliricídia,
a influência do número de dias e precipitação foi menos perceptível, pois
identificou-se baixa correlação referente ao diâmetro, sendo que desta forma é
inviável se estimar ou prever futuros comportamentos que envolvam tais
características conjuntamente.
Na avaliação de biomassa total das espécies observou-se diferença
estatística entre as duas espécies, tanto para massa verde quanto para massa
seca, se destacando o feijão-de-porco nas duas avaliações. O feijão-de-porco
teve o percentual de sobrevivência de 98%, enquanto a crotalária apresentou
apenas 45%.
A produtividade de biomassa fresca e seca das espécies estudadas
separadamente foi baixa (Tabelas 5), quando comparadas com informações
existentes na literatura, que apontam valores mais elevados, como Paulino et
al. (2009), que encontraram valores de 1,7 t ha-1 de massa seca para
crotalária aos 74 dias do plantio e 2,9 t ha-¹ aos 128 dias de
plantio.
A espécie que apresentou a maior produtividade foi o feijão-de-porco,
com biomassa fresca de (Tabela 6), sendo inferior a dados apresentados na
literatura, como Wutke et al. (2014), que listaram
uma produtividade de 22 a 40 t ha-1 de massa fresca e 5 a 8 t ha-1
para massa seca. A crotalária foi à
espécie que apresentou somente 2,1 t ha-1 de massa fresca e 0,99 t
ha-1 de massa seca; para estes mesmos autores, os valores
encontrados também foram superiores com 21 a 60 t ha-1 de massa
fresca e 4 a 15 t ha-1 de massa seca. Estes resultados demonstraram
diferença estatística entre as espécies para o peso da massa fresca e massa
seca.
Tabela 6. Massa
fresca e seca (média e desvio padrão) e teor de massa seca da parte aérea do
feijão-de-porco e crotalária, aos dois meses de plantio, em Santarém, Pará. |
|||||
Espécie |
Massa fresca |
Massa seca |
Teor de massa seca (%) |
||
g/planta |
t.ha-1* |
g/planta |
t.ha-1 |
||
Feijão de porco |
216,4 ±
49,4 |
8,6 |
40,1 ± 8,7 |
1,6 |
18,5 |
Crotalária |
52,8 ±
12,8 |
2,1 |
25,0 ± 8,1 |
0,99 |
47,3 |
*Valores considerando o plantio com espaçamento de 50
x 50 cm entre covas. |
Estudo
realizado em Goiás (Menezes e Leandro, 2004), constatou que o feijão-de-porco e
a crotalária, aos 90 dias após sua emergência, apresentaram produções de fitomassa superiores a 9,0 t ha-1, resultados
próximos ao encontrado no presente estudo para a espécie feijão-de- porco.
Estudo realizado por Dourado et al. (2001) no Mato Grosso do Sul, com
desenvolvimento de crotalária aos dois meses sobre ação de diferentes doses de
fósforo, encontrou resultados de massa verde que variou de 25,1 t ha -1
a 26,4 t ha -1 e massa seca variando de 3,4t ha -1 e 4,
05 t ha-1.
CONCLUSÕES
Para indicação no uso como adubação verde, a espécie perene gliricídia, apresentou os melhores parâmetros dendrometricos e, a espécie herbácea feijão de porco, a
maior produção de biomassa.
O crescimento inicial demonstrou que a gliricidia
é uma espécie com potencial e rusticidade para uso na adubação verde, destacando-se
em altura total e diâmetro a altura do colo, em relação ao ingá-xixica.
O feijão de porco se destacou em relação à crotalária, para o
desenvolvimento de biomassa, mostrando ser a melhor opção para adubação verde para
plantas de ciclo curto.
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