Verde urbano na conservação da biodiversidade em João Pessoa, Paraíba

 

Urban green in conservation of biodiversity in João Pessoa, Paraiba, Brazil

 

Yuri Rommel Vieira Araújo1; Zayne Christina Gonçalves Moreira2

 

1Mestre em Energias Renováveis e graduação em Engenharia Florestal, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba (83)  987742006, yuriaraujo@florestal.eng.br; 2Graduanda em Geografia, graduada em Administração e especialização em Gestão Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, zaynemoreira@gmail.com.br

 

Recebido: 03/04/2019; Aprovado: 06/12/2019

 

Resumo: O crescimento urbano tem alterado cada vez mais às características naturais dos ecossistemas em áreas povoadas, resultando na redução de áreas naturais e de biodiversidade. Para minimizar os impactos negativos da expansão urbana são criadas as áreas verdes e áreas protegidas. Neste contexto, este estudo objetivou analisar a importância do verde urbano existente na área urbana do município de João Pessoa, Paraíba, para a conservação da biodiversidade em um aglomerado populacional. O método consistiu na pesquisa exploratória e explicativa, com levantamento bibliográfico do acevo público e trabalho de campo em áreas verdes, parques, praças, remanescentes florestais, áreas de preservação e Unidades de Conservação. Foram identificadas 85 espécies arbóreas e palmeiras de 34 famílias diferentes, onde sete foram enquadradas em perigo de extinção. Também foram identificadas 36 espécies de aves, nove de répteis e oito mamíferos. Constatou-se uma interação entre grupos específicos da fauna com espécies da flora. O verde urbano de João Pessoa contribui para a conservação da flora nativa e espécies ameaçadas de extinção; existem grupos de aves, mamíferos e répteis utilizando o verde urbano para alimentação, abrigo ou alimentação, e; o município apresenta uma diversidade de espécies relevantes, mesmo assim, há a necessidade de criar áreas protegidas.

 

Palavras-chave: Remanescentes florestais; Arborização urbana; Espécies ameaçadas

 

Abstract: Urban growth has increasingly altered the natural characteristics of ecosystems in populated areas, resulting in the reduction of natural areas and biodiversity. To minimize the negative impacts of urban sprawl, green areas and protected areas are created. In this context, this study aimed to analyze the importance of urban green in the urban area of João Pessoa, Paraíba, for the conservation of biodiversity in a population cluster. The method consisted of exploratory and explanatory research, with bibliographic survey of public access and field work in green areas, parks, squares, forest remnants, preservation areas and Conservation Units. We identified 85 tree and palm species from 34 different families, seven of which were endangered. Thirty six bird species, nine reptile species and eight mammal species were also identified. An interaction between specific groups of fauna and species of flora was found. The urban green of João Pessoa-PB contributes to the conservation of native flora and endangered species; there are groups of birds, mammals and reptiles using urban green for food, shelter or feeding, and; the municipality has a diversity of relevant species, yet there is a need to create protected areas.

 

Key words: Forest remnants; Arborization urban; Endangered species

 

INTRODUÇÃO

 

As rápidas modificações da paisagem e as mudanças sem planejamento nas últimas décadas, induzidas principalmente pela expansão urbana, provocaram uma série de alterações no uso do solo, destruição, fragmentação dos espaços naturais e ao isolamento de habitats naturais, causando prejuízo para a biodiversidade (MACIEL; BARBOSA, 2015). Neste contexto, os ambientes naturais existentes nos perímetros urbanas, tem recebido atenção para a conservação da fauna, além de exercer funções estéticas e de lazer, onde, atualmente, encontra-se em locais de proteção ambiental e/ou classificadas como áreas verdes (VILANOVA; MAITELLI, 2009).

Estas áreas são consideradas como áreas livres, com predominância de vegetação arbórea, acessível ao uso da população, proporcionando inúmeros benefícios, a exemplo da qualidade e equilíbrio ambiental, além da saúde e bem-estar da população, constituindo assim, um recurso importante para o planejamento e desenvolvimento de um ambiente urbano mais saudável (LONDE; MENDES, 2014).

Nas áreas verdes das quadras no perímetro urbano do município de Palmas-TO, tratando-se de locais não edificáveis, observou-se que as mesmas apresentam importância no ponto de vista socioeconômico e ambiental, devido à elevada proporção de espécies arbóreas com múltiplos usos, garantindo o fornecimento de alimentos para humanos, animais e aplicação medicinal (PINHEIRO et al, 2018).

Entre as áreas verdes existentes no perímetro urbano, além das praças e parques, podemos citar as de preservação permanentes e remanescentes florestais. Os remanescentes florestais ou florestas urbanas, desenvolvem diversos serviços ecossistêmicos em área densamente povoada, a exemplo do vale de Aburrá (Colômbia) que captura aproximadamente 228 toneladas de poluentes atmosféricos por ano (ARROYAVE-MAYA et al., 2018). Na mata ciliar do rio Torres, cidade de San José-Costa Rica, Quesada-Acuña et al. (2018), constataram a interação existente entre a fauna e as áreas verdes, servindo de locais de fornecimento de alimento e abrigo, e favorecendo a regeneração da vegetação nativa. Em outro exemplo, no município de Iquito - Perú, a riqueza de espécies de avefauna no ambiente urbano se mantém, devido às condições ambientais existentes na cidade, onde os pomares de árvores frutíferas existentes na grande maioria das casas atraem os pássaros, servindo de poleiros, lugar de reprodução e nidificação (VÁSQUEZ et al., 2016).

Com relação à interação entre o verde urbano e a fauna alguns estudos tem abordado esta temática nos últimos anos.  No município de Três Rios-RJ, em uma área de parque e praças, Estrada et al. (2014), estudaram o grupo de Mirmecofauna, tratando-se das espécies de formigas. No fragmento urbano do município de Campo Grande -MS, Bogiani et al. (2012) estudaram o grupo das Lepidopteras, sendo identificadas 62 espécies de borboletas. Em área urbana no oeste da Bahia, Santos e Calado (2014) estudaram os mosquitos (Diptera: Culicidae) com o objetivo de verificar a presença de espécies de interesse em saúde pública. Em fragmentos florestais urbanos da bacia hidrográfica do Rio Cachoeira, Joinville-SC, Dornelles et al. (2017) registraram 32 espécies de mamíferos, incluindo gambás, tamanduás, morcegos, graxaim e gato-do-mato. Na Unidade de Conservação “Parque Estadual Dois Irmãos”, localizado no Recife-PE, inserido totalmente em área urbana, Melo et al. (2018) registraram 34 espécies de anfíbios pertencentes a 10 famílias e 27 espécies de répteis, de 17 famílias.

Devido as constantes modificações das áreas naturais ainda existentes em áreas urbanas, a realização de uma análise sobre a importância destas áreas, para a conservação e permanência da diversidade de espécies nos conglomerados urbanos é indispensável. Em que, neste contexto, não foi encontrado estudo realizado no perímetro urbano do município de João Pessoa-PB. Desta forma, o presente estudo propôs analisar a importância do verde urbano existente no perímetro urbana do município de João Pessoa-PB, para a conservação da biodiversidade em um aglomerado populacional.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

A cidade de João Pessoa apresenta uma densidade demográfica de 3.421,30 hab/km2, com uma área territorial de 211,474 km2 e população total de 723.515 habitantes, localiza-se no extremo leste da Paraíba. Cerca de 99,6% da população reside na área urbana (IBGE, 2019).

O município de João Pessoa faz parte da mesorregião da zona da mata paraibana, entre as coordenadas 7º14’29” de Latitude Sul / 34º58’36” de Longitude Oeste e 7º03’18” de Latitude Sul / 34º47’36” de Longitude Oeste. Limita-se, ao Sul, com o município do Conde, ao Oeste com os municípios de Bayeux e Santa Rita, ao Norte com o município de Cabedelo e ao Leste com o Oceano Atlântico (Figura 1). Inserido sob o domínio da Bacia Geológico Pernambuco-Paraíba que se estende pelo litoral do estado de Pernambuco ao Rio Grande do Norte. Com solo formando mosaicos, com várias associações de solos, associados com Argissolos, Neossolos, Espodossolos, Organossolos, Gleissolos e Alissolos (JOÃO PESSOA, 2012)

 

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo na cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil.

               

As temperaturas médias anuais do município oscilam em torno de 24ºC do período considerado mais frios, julho e agosto, e de 28ºC no período considerado mais quente, fevereiro. A precipitação anual médio dos últimos 30 anos foi de 1.700 mm, com máximas entre abril e junho que podem ultrapassar os 300 mm. De acordo com as classificações climáticas de Köppen o município encontra-se dentro do domínio tropical quente-úmido (MORAIS, 2009).

O município insere-se no bioma Mata Atlântica com formação florestal conhecida por Mata de Tabuleiro, composta por Floresta Estacional Semidecídual, Formação Litorânea, Campos de Várzea, Manguezais e Vegetação de Restinga (JOÃO PESSOA, 2012; MORAIS, 2009). Entre duas bacias hidrográficas, ao norte a Bacia do Rio Paraíba e ao sul a Bacia do Rio Gramame, entremeada pelas bacias hidrográficas dos rios Cabelo, Jaguaribe, Aratú, Jacarapé, Cuiá e Camurupim (MORAIS, 2009).

O método utilizado consistiu na pesquisa exploratória e explicativa (SEVERINO, 2007), com levantamento bibliográfico e trabalho de campo com foco na observação e identificação das interações entre a biota existentes nas áreas naturais. Este tipo de pesquisa busca levantar informações sobre o objeto estudado, além de registrar, buscar identificar suas causas, seja através da aplicação do método experimental ou interpretação possibilitada pelo método qualitativo.

O trabalho teve inicio com a revisão bibliográfica, com o levantamento dos documentos do acervo público municipal sobre a condição das áreas naturais, áreas verdes e Unidades de Conservação, e florestas urbanas, no perímetro urbano de João Pessoa-PB. Em seguida houve o levantamento e coleta de dados, com a análise dos estudos, diagnósticos, pareceres e laudos técnicos elaborados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de João Pessoa (Semam) das áreas verdes municipais do período entre 2013 e 2018.

Após estas duas etapas, foram realizadas observações in loco da interação (quanto à utilização da área para alimentação, abrigo ou reprodução) existente entre a fauna (vertebrado), flora e as áreas naturais, com a identificação das espécies faunísticas e arbóreas observadas nos remanescentes florestais do Parque Natural Municipal do Cuiá, Parque Cabo Branco, Parque Solón de Lucena, Parque Ecológico Augusto dos Anjos, Parque Lauro Pires Xavier, Parque Zoobotânico Arruda Câmara,  áreas de preservação dos Rios Cuiá, Jaguaribe, Gramame e Riacho do Padre, e da cobertura arbórea das praças e canteiros centrais, mediante caminhadas no período entre 2015 e 2018.

Ao todo, foram realizadas 38 visitas in loco, sendo 3 no Parque Natural Municipal do Cuiá (294688.64 mE e 9204746.00 mS), 2 no Parque Cabo Branco (301598.83 mE e 9209256.77 mS), 3 no Parque Solón de Lucena (292526.22 mE e 9212629.62 mS), 1 no Parque Ecológico Augusto dos Anjos (295024.57 mE e 9202667 mS), 1 no Parque Lauro Pires Xavier (293813.74 mE e 9213015.27 mS), 1 no Parque Ecológico Jaguaribe (297847.77 mE e 9212359.58 mS), 2 no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (292772.00 mE e 9213191.71 mE), 4 na área de preservação do Rio Cuiá (296920,86 mE e 9204423.82 mS), 3 no Rio Jaguaribe (291662.29 mE e 9207489.07 mS), 4 no Rio Gramame (292756.38 mE e 9201557.22 mS) e 4 no Riacho do Padre (298017.81 mE e 92011680.36 mS). Além de 9 em locais públicos como praças e canteiros centrais (Praça da Independência (293295.51 mE e 9212640.7 mS), Praça Silvio Porto (296750.58 mE e 9214761 mS), Praça do Coqueiral (296262.47 mE e 9206604.32 mS), Praça da Paz (296372.46 mE e 9209549 mS), Praça Pedro América (291624.94 mE e 9212722.38 mS), Praça Alcides Carneiro (296983.28 mE e 9214567,42 mS), Av. Hilton Solto Maior (294454.76 mE e 9207493.39 mS) Av. Ministro José Américo de Almeida (293848.29 mE e 9212007.49 mS) e Rua Bacharel José de Oliveira Curchatuz (296816.35 mE e 9217074.28 mS)).

Para o levantamento arbóreo, além da identificação in loco das espécies nas áreas verdes, foram utilizados como dados secundários o Estudo de Viabilidade Ambiental (EVA) da Área de Implantação do Parque Natural Municipal do Cuiá (JOÃO PESSOA, 2011).

As identificações das espécies arbóreas ocorreram mediante as características taxonômicas (reprodutivas e vegetativas), e posterior comparação com material do Herbário Lauro Pires Xavier da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e literatura especializada por Lorenzi (2008), além de comparações com exemplares depositados e disponibilizados no herbário virtual do Missouri Botanical Garden (TROPICOS, 2019). A nomenclatura foi atualizada pelo site da Lista da Flora do Brasil (REFLORA, 2019), adotando o sistema de classificação do Angiosperm Phylogeny Group IV (APG, 2016).

A identificação in loco da fauna considerou apenas o grupo dos vertebrados, ocorrendo mediante constatações visuais, com auxílio de binoculo e câmera fotográfica, e posterior reconhecimento com especialista e comparação com a bibliografia especializa (PIACENTINI et al., 2015; WILSON; REEDER, 2005; BIOLIB BIOLOGICAL LIBRARY, 2019; DUNNING; RIDGELY, 1989). As visitas foram realizadas nos horários da manhã, entre 09h e 11h, e tarde, entre 13h e 17h, no período de 2015 a 2018, em dias aleatórios. Também foram utilizados vestígios da presença de animais como pegadas, estrumes, ninhos e locais de reprodução.

As espécies da flora e fauna identificadas nas áreas verdes foram tabuladas em uma planilha, sendo organizada em ordem alfabética por família e espécie. Como critério para classificação da existência de relação interespecífica entre a fauna, a flora e as áreas verdes, se utilizou a constatação visual e identificação de vestígios da ocorrência de alguma etapa de vida como desenvolvimento, alimentação, abrigo ou reprodutivo in loco. No que tange a influência das áreas verdes para a conservação da biodiversidade se considerou a existência de ação mútua ou compartilhada entre dois ou mais elementos bióticos e identificação de espécies categorizadas como ameaçadas de extinção (vulnerável, em perigo ou criticamente em perigo), conforme a lista vermelha de espécies brasileiras ameaçadas de extinção (BRASIL, 2014) e da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais –IUCN (CNCFLORA, 2019). Durante as vistorias in loco foram feitas constatações do usufruto e interações da população com as áreas verdes.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

O verde urbano existente no município de João Pessoa-PB está localizado nas Unidades de Conservação (UC), parques urbanos, praças, canteiros centrais das avenidas, áreas de preservação permanentes das bacias hidrográficas, falésias vivas e mortas, e áreas definidas no macrozoneamento urbano durante o planejamento urbano como Zonas Especiais de Preservação (ZEP), tratando-se de áreas que apresentam restrições legais em seu uso.

Baseando-se nas observações do usufruto entre a população e estas áreas, existem as áreas verdes de uso direto (onde ocorre o aproveitamento adequado dos recursos naturais existentes, servindo de locais de passagem, descanso ou lazer) tratando-se dos canteiros centrais, jardins, praças públicas e parques, onde os munícipes desfrutam diretamente da área, com árvores distribuídas aleatoriamente, parques infantis e outros atrativos. E as áreas verdes conservadas, constituídas pelos maciços florestal das unidades de conservação, áreas de preservação permanente (APP) e zonas especiais de preservação, que apresentam cobertura vegetal nativa e não tem um uso direto e intensivo por parte da população.

Constatou-se que os remanescentes florestais sofrem influência de ações antrópicas, seja mediante a deposição de resíduos sólidos (domésticos, eletrônicos ou construção e demolição), exploração irregular de produtos madeireiros e não madeireiros, e até ocupação irregular. Essas ações foram identificadas tanto em áreas particulares, quanto em áreas protegidas ou de preservação. Se tratando de áreas protegidas, tal degradação foi constatada no: Parque Lauro Pires Xavier; Parque Cabo Branco; Parque Ecológico Augusto dos Anjos; Parque Ecológico Jaguaribe, e; Parque Natural Municipal do Cuiá, além das áreas de preservação nos leitos dos rios e nascentes. Nos Parques Sólon de Lucena e Arruda Câmara, por se tratarem de parques de uso direto pela população e apresentar uma gestão mais efetiva por parte do poder público, fica mais difícil à realização da degradação destes locais.

Esta degradação em remanescentes florestais e áreas preservadas no perímetro urbano acontecem em outras regiões do país. Na Mata do Quilombo, Campinas-SP, no trecho próximo à estrada ocorrem frequentes queimadas, e na mata ciliar, Damame et al. (2019) encontraram descarte de resíduos da construção civil, lixo doméstico, cultos religiosos e tráfego de pessoas. Na região do Centro-Oeste, mas especificamente no município de Porangatu-GO, os impactos ambientais identificados por Costa e Pires (2017) em áreas protegidas foram provocados pelo crescimento populacional e urbano, relacionado ao desenvolvimento local nas últimas décadas. Este mesmo estudo aborda que as principais ações causadoras de impacto são a deposição de resíduos de construção e demolição, resíduos sólidos urbanos, ocupações e desmatamentos, assim como o lançamento de efluentes.

Vale ressaltar que as unidades de conservação (UCs) localizados em áreas urbanas estão sujeitas a diversos agentes degradadores e ações antrópicas com significativos impactos ambientais como desmatamento, caça ilegal, extrativismo predatório, lançamento de águas servidas, deposição de resíduos sólidos (FIGUEIREDO et al., 2017).

Nas áreas urbanas, um agente causador de alteração da paisagem é a população, como relatado nos estudos citados e constatada in loco nos parques municipais. No entanto, no caso do município de João Pessoa, não se pode afirmar se esta degradação ocorre pela falta consciência da população das consequências de suas ações (pela falta de instrução ou educação ambiental) ou pelo desprezo com a natureza, sendo necessário um estudo específico que aborde este tema.

Em estudo realizado nos fragmentos florestais do município de João Pessoa-PB, contatou-se que os mesmos tratam-se de áreas bastante reduzidas, com formas lineares, e com intenso efeito de borda, trazendo uma série de implicações pra fauna e flora (DANTAS et al, 2017). O mesmo estudo alerta para a necessidade de ações para evitar o desaparecimento de espécies, apontando como áreas prioritárias para preservação os remanescentes dos bairros do Muçumagro, Ponta do Seixas, Portal do Sol, Jardim Oceania e Aeroclube, por corresponderem à vegetação ciliar e/ou áreas de nascentes, além de alto grau de fragilidade.

Destaca-se que estes remanescentes indicados por Dantas et al. (2017) como área prioritária para conservação, também é recomendada no Plano de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica de João Pessoa (JOÃO PESSOA, 2012), para a mesma finalidade.

No tocante a riqueza de biodiversidade existente no município, o verde urbano que se destaca são as APPs representadas pelas matas ciliares das bacias hidrográficas que cortam o município, remanescentes vegetais, parques urbanos e unidades de conservação. Algumas destas áreas apresentam potenciais a se tornarem parques municipais, devido ao seu estado de conservação faunístico e florístico. No entanto, devido à urbanização, alguns trechos de área de preservação estão sendo modificada, não apresentando mais as suas características naturais.

Na avaliação geral dos dados coletados referentes às espécies arbóreas e palmeiras que compõem a paisagem das áreas verdes, foram identificadas 92 espécies, de 84 gêneros distribuídos em 38 famílias. Do total de espécies identificadas, 32 foram encontradas tanto em ambiente totalmente urbano, a exemplo das praças, canteiros centrais e parques, quanto em locais naturais, como em vegetação nativa e UC. Em termos de riqueza, a família botânica Fabaceae, se destaca como sendo a mais abundante, com 23 espécies. Este resultado deve-se ao fato da Fabaceae ser considerada a família mais rica e abundante nas florestas da América do Sul (HUECK, 1972).

As espécies vegetais nativas encontradas no paisagismo de praças e jardins públicos, canteiros centrais e trevos das avenidas, deve-se a política pública municipal implantada na última década, de utilização de espécies nativas no paisagismo, com a criação de um viveiro municipal de plantas nativas. A utilização inicial de espécies nativas no paisagismo urbano ocorreu devido ao efeito estético que a vegetação arbórea proporciona ao formato do tronco e da copa, coloração e formato das folhas e da flor, aroma, tipo do fruto, adaptação ao microclima da região e como ferramenta de conservação. No caso das espécies naturalizada ou exótica nos remanescentes florestais, provavelmente é resultante do efeito de borda, onde tais espécies se proliferam após encontrar condições ideais para o seu desenvolvimento nas bordas das matas.

Em estudo realizado por Amazonas e Barbosa (2011), em remanescente da microbacia hidrográfica do Rio Timbó, João Pessoa-PB, os autores identificaram 129 espécies vegetais, de diferentes hábitos, sendo 58 espécies de hábito arbóreo, 27 trepadeira, 24 arbustos, 11 erva, cinco são arbustos escandentes e quatro subarbustos. O quantitativo de espécie encontrada no estudo realizado na microbacia do Rio Timbó mostra que a vegetação existente no município é maior que o identificado neste estudo, no entanto, se for considerado apenas as espécies arbóreas, os valores se aproximam. No presente estudo, foram identificados 73 espécies de hábito arbóreo, enquanto que no estudo realizado na microbacia do Rio Timbó, 58.

O plano municipal de conservação e recuperação de João Pessoa quantificou 550 táxons, distribuídas em 102 famílias de 354 gêneros, de diferentes hábitos (JOÃO PESSOA, 2012). O mesmo plano destaca que ocorre uma predominância de vegetação nativa em estágio inicial e médio de regeneração, no município. Vale ressaltar que este quantitativo preliminar de espécies identificadas se deve a ampla metodologia utilizada, com consultas aos herbários nas universidades da Paraíba e de outras regiões, incluindo herbários virtuais fora do país, além de estudos bibliográficos realizados ao longo da última década. Estes valores servem como referência da riqueza da flora existente no município e do potencial que a cidade tem em se tornar um nicho de conservação vegetal, consequentemente da biodiversidade.

No município de Major Sales-RN, Nascimento e Guedes (2015) quantificaram 1.070 indivíduos, de 21 espécies vegetais que compõem a arborização da cidade. Na cidade de Timon-MA, Morais e Machado (2014) identificaram 86 espécies vegetais na arborização das ruas, praças e canteiros centrais. No levantamento preliminar, realizado neste estudo, foram identificadas 65 espécies vegetais que compõem a arborização urbana, no entanto, para se obter um valor mais condizente com a realidade, é necessário realizar um inventário da arborização urbana.

No presente estudo foram identificadas sete espécies arbóreas classificadas como ameaçada de extinção (Tabela 1). As espécies jitaí (Apuleia leicocarpa), cedro-cheiroso (Cedrela odotara) e cedro (Cedrela fissilis) são classificados como vulneráveis (VU), conforme o Centro Nacional de Conservação (CNCFLORA, 2019) e a Lista vermelha das espécies ameaçada de extinção (BRASIL, 2014). A referida classificação indica que as espécies enfrentam um risco de extinção na natureza. As espécies ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus) e sucupira-preta (Bowdichia virgiliodes) estão classificadas como quase ameaçadas (NT), indicando que as mesmas, no momento, não se qualificam como ameaçadas, mas estão perto ou suscetível de serem qualificadas em uma categoria de ameaça num futuro próximo. O pau-brasil (Paubrasilia echinata) e louro-cheiroso (Ocotea odorifera) estão classificadas como em perigo (EN), tratando-se de espécies que enfrentam um risco muito elevado de extinção na natureza.


 

Tabela 1. Espécies arbóreas identificadas nas áreas verdes e na arborização urbana do município de João Pessoa, Paraíba, categorizada como ameaçada de extinção.

Família/Espécies

Nome Comum

DS

In Loco

Status CNC

AB

RFN

BIGNONIACEAE

Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos

Ipê-roxo

x

x

x

NT

FABACEAE

Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr

Jitaí*

x

x

x

VU

Bowdichia virgilioides Kunth

Sucupira-preta

x

x

x

NT

Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C. Lima & G.P.Lewis

Pau-brasil*

x

x

 

EN

LAURACEAE

Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer

Louro-cheiroso*

 

 

x

EN

MELIACEAE

Cedrela fissilis Vell.

Cedro*

x

VU

Cedrela odorata L.

Cedro-cheiroso*

 

 

x

VU

DS: Identificação por dados secundários; In loco: Identificação em campo; AB: Presente na arborização das praças, canteiros e parques; RFN: Presente nos remanescentes florestais naturais; Status CNC: Conservação da espécie; EN: em perigo; NT: quase ameaçada; VU: vulnerável em extinção;*: Consta na lista vermelha das espécies ameaçada de extinção (Portaria MMA nº 443/2014).

 

Destas, cinco (ipê-roxo (H. impetiginosus), jitaí (A. leicocarpa), sucupira-preta (B. virgiliodes), pau-brasil (P. echinata) e cedro (C. fissilis)) foram identificadas fazendo parte da arborização urbana em canteiros centrais, praças e parques, demonstrando que a utilização de espécies nativas na arborização contribui para a conservação ex situ. Duas foram identificadas apenas nos remanescentes florestais (louro-cheiroso (O. odorifera) e cedro-cheiroso (C. odotara)). O pau-brasil (P. echinata) e o cedro (C. fissilis) foram identificados apenas na arborização urbana.

Em estudo realizado na Mata Atlântica Mineira, no Parque Estadual Rio Doce-MG, França e Stehmann (2013) identificaram seis espécies com ameaça de extinção, sendo três na categoria de vulnerável e as demais como em perigo, conforme as listas estadual e nacional de espécies ameaçada. Destaca-se que a espécie louro-cheiroso (O. odorífera) identificada no estudo em Minas Gerais, também foi encontrada em João Pessoa, existindo apenas no remanescente florestal das áreas protegidas.

No que concerne à fauna constatada na vegetação urbana, foram identificados 53 espécies, distribuída em 33 famílias. O maior grupo foi a avifauna, com 36 espécies, seguido pelos répteis com nove e mamíferos com oito espécies (Tabela 2). Todas as espécies identificadas estão classificadas como menos preocupante (LC), com relação ao estado de conservação. No entanto, esta classificação pode não representa a situação (estado de conservação) real das espécies em nível municipal, devido à falta de estudos locais.

O plano de conservação e recuperação da Mata Atlântica de João Pessoa (JOÃO PESSOA, 2012), quantificou 275 táxons de vertebrados, entre aves, anfíbios, reptes e mamíferos no município. Número bem superior ao identificado neste estudo. Na área urbana de Maringá-PR, Crepaldi e Ferreira (2018) identificaram 19 espécies de avefauna, se destacando, em termos de abundância, espécies encontradas em João Pessoa-PB a exemplo de bem-te-vi (Pitangus sulhuratus), pardal (Passer domesticus), quero-quero (Vanellus chilensis) e suiriri (Tyrannus melancholicus). Neste mesmo estudo realizado em Maringá-PR, os autores constataram que oito espécies foram encontradas apenas no Parque de Cinquentenário, tratando-se de mata nativa, localizado no perímetro urbano. Vásquez et al.(2016) em estudo realizado da cidade de Iquito, Loreto (Peru), registraram 56 espécies de aves no ambiente urbano, 84 espécies na área periurbana e 72 nas florestas.

 

Tabela 2. Fauna identificada in loco nas áreas verdes e na arborização urbana no município de João Pessoa, Paraíba.

Grupo

Família/Espécie

Nome comum

EC

Quant. Visualizações

Aves

Accipitridae

Geranoatus albicaudatus (Vieillot, 1816)

Gavião-de-calda-branca

LC

1

Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)

Gavião-carijó

LC

3

Urubituinga urubutinga (Gmelin, 1788)

Gavião-preto

LC

3

Ardeidae

 

 

Ardea alba (Linnaeus, 1758)

Garça-branca-grande

LC

15

Butorides striata (Linnaeus, 1758)

Socozinho

LC

5

Cathartidae

 

 

Coragyps atratus (Bechstein, 1793)

Urubu-de-cabeça-preta

LC

20

Charadriidae

 

 

Vanellus chilensis (Molina, 1782)

Quero-quero

LC

15

Caprimulgidae

 

 

Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789)

Bacural

LC

1

Columbidae

 

 

Columbina talpacoti (Temminck, 1811)

Rolinha-caldo-de-feijão

LC

12

Columba livia (Gmelin, 1789)

Pombo-domético

LC

21

Cuculidae

 

 

Crotophaga ani (Linnaeus, 1758)

Anu-preto

LC

16

Guira guira (Gmelin, 1788)

Anu-branco

LC

8

Estrildidae

 

 

Estrilda astrild (Linnaeus, 1758)

Bico-de-lacre

LC

6

Falconidae

 

 

Caracara plancus (Miller, 1777)

Carcará

LC

7

Furnariidae

 

 

Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788)

Carrega-madeira

LC

4

Galbulidae

 

 

Galbula ruficauda (Cuvier, 1816)

Fura-barreira

LC

2

Hirundinidae

 

 

Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783)

Andorinha-do-rio

LC

2

Jacanidae

 

 

Jacana jacana (Linnaeus, 1766)

Jaçana

LC

1

Passeridae

 

 

Passer domesticus (Linnaeus, 1758)

Pardal

LC

13

Picidae

 

 

Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788)

Pica-pau-verde-barrado

LC

3

Veniliornis passerinus (Linnaeus, 1766)

Picapauzinho-anão

LC

4

Pipridae

 

 

Chiroxiphia pareola (Linnaeus, 1766)

Padre

LC

1

Manacus manacus (Linnaeus, 1766)

Rendeira

LC

1

Psittacidae

 

 

Diopsitta nobilis (Linnaeus, 1758)

Maracanã-pequeno

LC

11

Rallidae

 

 

Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758)

Galinha-d'água

LC

1

Porphyrio martinicus (Linnaeus, 1766)

Frango-d'água

LC

3

Strigidae

 

 

Athene cunicularia (Molina, 1782)

Coruja-buraqueira

LC

4

Trochilidae

 

 

Amazilia leucogaster (Gmelin, 1788)

Beija-flor-de-barriga-branca

LC

6

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788)

Beija-flor-tesoura

LC

7

Thraupidae

 

 

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758)

Sibito

LC

12

Thraupis palmarum (Wied, 1823)

Sanhaçu-do-coqueiro

LC

6

Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766)

Sanhaçu

LC

3

Troglodytidae

 

 

Troglodytes musculus (Naumann, 1823)

Rouxinol

5

Tyrannidae

 

 

Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766)

Lavadeira

LC

10

Pitangus sulhuratus (Linnaeus, 1766)

Bem-te-vi

LC

15

Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819)

Suiriri

LC

3

Mamíferos

Bradypodidae

 

 

Bradypus variegatus (Schinz, 1825)

Preguiça

LC

3

Callitrichidae

 

 

Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758)

Sagui-de-tufos-brancos

LC

8

Canidae

 

 

Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)

Cachorro-do-mato

LC

1

Cavidae

 

 

Cavia sp.

Preá

2

Dasyproctidae

 

 

Dasyprocta prymnolopha (Wagler, 1831)

Cutia

LC

1

Didelphidae

 

 

Didelphis albiventris (Lund 1840)

Timbú

LC

6

Echimyidae

 

 

Thrichomys apereoides (Lund, 1839)

Capivara

LC

1

Muridae

 

 

Rattus novergicus (Berkenhout, 1769)

Gabiru

LC

5

Réptes

Alligatoridae

 

 

Caiman latirostris (Daudin, 1802)

Jacaré-de-papo-amarelo

LC

2

Amphisbaenidae

 

 

Amphisbaena alba (Linnaeus 1758)

Cobra-de-duas-cabeças

LC

1

Boidae

 

 

Boa constrictor (Linnaeus, 1758)

Jibóia

LC

1

Chelidae

 

 

Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812)

Cágado

LC

3

Colubridae

 

 

Philodryas nattereri (Steindachner 1870)

Cobra-corre-campo

LC

2

Iguanidae

 

 

Iguana iguana (Linnaeus, 1758)

Iguana

LC

3

Philodryas

 

 

Philodryas sp.

Cobra-cipó

2

Teiidae

 

 

Tupinambis teguixin Linnaeus, 1758

Teiju

LC

6

Tropiduridae

 

 

Tropidurus torquatus (Wied, 1820)

Lagartixa

LC

12

EC: Estado de conservação da espécie; LC: Menos preocupante; Quant. Visualizações: quantidade de visualizações dos respectivos animais em campo.

 

Em relação à avefauna de João Pessoa, o quantitativo de espécie encontrada no presente estudo foram maiores que os identificados no município de Maringá e inferior ao encontrado no plano da Mata Atlântica e no município de Iquito. A abundância do grupo de aves encontrada neste estudo decorre da facilidade de locomoção que os mesmos têm em comparação aos demais grupos de fauna. A urbanização, fragmentação e a dinâmica da cidade, dificulta a locomoção dos demais grupos, pois precisam percorrer grandes distâncias no solo, sendo vulneráveis a predadores e ações humanas.

Em cinco fragmentos florestais no município de Joinville-SC, Dorrnelles et al. (2017) registraram 32 espécies de mamíferos de 13 famílias, sendo o maior quantitativo do grupo dos pequenos mamíferos, representados principalmente por quirópteros, registrando também grupos de carnívoros. A diferença no quantitativo encontrada neste estudo e no município de Joinville/SC é em decorrência do método utilizado para identificação das espécies, o primeiro utilizou-se apenas de observação direta (visual) e vestígios, e o segundo de captura, observação direta e armadilhas.

Em um fragmento florestal no perímetro urbano de Patos de Minas-MG, Lima e Gonçalves (2016) identificaram 10 espécies de mamíferos, distribuídas em seis ordens, sendo apenas uma identificada com status de conservação considerada ameaçada. Este mesmo estudo concluiu que o remanescente em questão desempenha um papel importante para a conservação da mastofauna da região, tendo como função área de refúgio.

Na Reserva Biológica Tamboré, Santana de Paranaíba-SP, tratando-se de um remanescente do perímetro urbano de São Paulo, Fuentes et al. (2017) identificaram 14 espécies de répteis, sendo seis de lagarto e oito de serpente, onde nenhuma consta na lista de espécies ameaçadas de extinção. Número maior que o identificado neste estudo, e menor que o catalogado pelo Plano de Conservação da Mata Atlântica (JOÃO PESSOA, 2012).

Em uma formação vegetal de restinga no Estado da Paraíba, Campos et al. (2018) encontraram 30 espécies de mamíferos, distribuídas em 16 famílias. Quantidade menor que o encontrado por Feijó et al. (2016), na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba, onde identificaram 70 espécies, distribuídas em 23 famílias.

Com relação à interação identificada entre a fauna e a flora no perímetro urbano de João Pessoa, foi observada uma harmonia direta entre o Pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros) e o Picapauzinho-anão (Veniliornis passerinus) e os indivíduos vegetais da família da Arecaceae, em especial o coqueiro (Cocos nucifera) e palmeira-mexicana (Veitchia merrillii). Constatou-se que alguns indivíduos das espécies vegetais, presentes na arborização e parques, estavam sendo utilizados como locais de nidificação e abrigo, sendo registradas algumas entradas e saídas das respectivas aves dos ninhos.

Na área de preservação do riacho do Padre, zona sul do município foram constatadas a presenta de um adulto e um jovem da avefauna conhecida como padre (Chiroxiphia pareola), um lagarto iguana (Iguana iguana) jovem, as margens da nascente, e a ave fura-barreira (Galbula ruficauda). A presença de indivíduos jovens nesta área indica que a fauna existente no local em questão, encontra condições adequada ou suficiente para manter um ciclo reprodutivo. No entanto, estudo relata que a falta de contato entre grupos faunísticos, poderá acarretar uma erosão genética, com o cruzamento entre os indivíduos de um mesmo grupo genético ou similar geneticamente, tornando a população mais vulnerável a extinção (SANTOS; SILVA, 2015).

Na mata ciliar do rio Torres, cidade de San José-Costa Rica, as aves desempenham um importante papel de dispersão de sementes na área urbana, onde os remanescentes florestais urbanos tornam-se uma importante fonte de alimento e abrigo para as comunidades de aves urbanas, em troca, favorecem a regeneração de áreas verdes, melhorando a entrada de sementes e facilitando as etapas de sucessão ecológica nas áreas degradadas (QUESADA-ACUÑA et al., 2018).

Em João Pessoa, foram constados em indivíduos arbóreos e arbustivos, de jardins públicos, parques e praças, a presença de ninhos de aves, sendo as mais visíveis às espécies rolinha-de-calda-de-feijão (Columbina talpacoti), rouxinol (Troglodytes musculus), beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), bem-te-vi (Pitangus sulhuratus) e sibito (Coereba flaveola). A espécie quero-quero (Vanellus chilensis) é facilmente encontrada em campos abertos, principalmente em jardins gramados, campos de futebol e área de lazer gramada. A coruja-buraqueira (Athene cunicularia) pode ser vista em área com vegetação de porte herbáceo/arbustivo, locais com pouca movimentação de pessoas ou as margens de UC.

A utilização da vegetação existente em locais públicos ou privados para alimento e nidificação, por parte das aves, não ocorre apenas em João Pessoa. No município de Iquito, Loreto-Perú, os pomares frutíferos existentes na grande maioria das residências servem de lugar para descanso, alimentação e nidificação para a avefauna (VÁSQUEZ et al., 2016).

Outro vestígio identificado foi à presença de frutos predados por animais, sendo os mais comuns pela a avefauna, se destacando as espécies vegetais: cajueiro (Anacardium occidentale L.); mangueira (Mangifera indica L.), aroeira-da-praia (Schinus terebinthifolia Raddi); cajazeira (Spondias mombin L.); araticum (Annona sp.); mangabeira (Hancornia speciosa Gomes); piriquiteira (Trema micranta (L.) Blume); castanhola (Terminalia catappa L.); ingá (Inga blanchetiana Benth e Inga capitata Desv.); fícus (Ficus bejamina L.); goiaba (Psidium guajava L.); araçá (Psidium guianeenses Sw.); jambeiro (Syzygium malaccenses (I.) Merr. & I.M.Perry); oliveira (Syzygium cumini (L.) Skeels); jenipapo (Genipa americana L.); angélica (Guettarda platypoda DC.), e; pitombeira (Talisia esculenta (Cambess.) Radlk). Esta constatação confirma a interação existente no município entre os grupos da fauna e flora.

Com relação aos mamíferos, a grande maioria das espécies identificadas, cinco, podem ser encontradas apenas nos remanescentes florestais. O sagui (Callithrix jacchus) e o timbu (Didelphis albiventris) podem ser encontrados também circulando nas praças, parques e locais bem arborizados, sendo espécies muito adaptada ao perímetro urbano do município. O gabiru (Rattus novergicus) geralmente é encontrado em locais com disponibilidade de alimentos, depósitos de lixos clandestinos as margens de remanescentes florestais e residências. Poucas foram às espécies de mamíferos silvestres encontrados circulando fora dos remanescentes florestais, devendo ser uma questão de hábito ou adaptabilidade. Isto indica a necessidade de se criar áreas protegidas como UC para preservar este grupo de animais, além de corredores ecológicos para evitar o isolamento de populações.

O grupo dos répteis segue o mesmo hábito da maioria dos mamíferos, exceto a lagartixa (Tropidurus torquatus), os demais têm hábitos florestais, sendo encontrados em áreas de preservação, parques com vegetação nativa e UC. A lagartixa (T. torquatus) corresponde a uma espécie bem adaptada, sendo encontradas nas árvores que compõe a arborização urbana, parques, praças, borda das matas e residências.

Na comparação dos resultados encontrados neste trabalho com os demais estudos apresentados, de outras localidades, percebe-se que o município de João Pessoa apresenta uma diversidade de espécies relevantes, se destacando a avefauna e a flora ameaçada de extinção presente na arborização. Mesmo assim, há a necessidade de se criar, sustentar, implantar e fiscalizar áreas protegidas para manter esta diversidade conservada, pois existem espécies de fauna e flora identificadas, unicamente, em locais com bom estado de conservação.

 

CONCLUSÕES

 

O verde urbano existente no município de João Pessoa, Paraíba contribui para a conservação da flora nativa do bioma Mata Atlântica e de espécies vegetais ameaçadas de extinção, mediante a existência de áreas protegidas e da utilização das mesmas na arborização urbana das praças, parques, jardins e canteiros centrais. Sendo identificadas sete espécies da flora categorizada como ameaçada de extinção.

Há existência de grupos de aves, mamíferos e répteis, utilizando as áreas verdes, remanescentes florestais e a vegetação da arborização para alimento, abrigo ou locais de reprodução.

Algumas espécies da flora e fauna são encontradas, unicamente, nos remanescentes florestais, indicando a necessidade de criação de áreas protegidas e com conectividade, para manter um fluxo gênico entre as populações.

 

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