ARTIGO CIENTÍFICO
Análise
multidimensional da sustentabilidade em sistemas produtivos de leite em Santana
do Livramento, Rio Grande do Sul
Multidimensional
analysis of sustainability in milk production systems in
Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brazil
Cassiano Jivago
Lemos da Silva1, Márcio Zamboni Neske2, Cláudio Becker3,
Anor Aluizio Menine Guedes4, Anelisi
Inchauspe de Oliveira5, Silvana Peres Miotti6
1Mestrando em Ciência do
Solo, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, (55)
99941-2744, ks-siano@hotmail.com; 2Doutor
em Desenvolvimento Rural, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Santana
do Livramento, marcio-neske@uergs.edu.br; 3Doutor em Sistemas de Produção Agrícola
Familiar, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Santana do Livramento, claudio-becker@uergs.edu.br; 4Mestre
em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, Universidade Estadual do Rio Grande do
Sul, Santana do Livramento, anor-guedes@uergs.edu.br; 5Bacharelanda
em Agronomia, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Santana do
Livramento, anelisinchauspe@gmail.com; 6Bacharela
em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial, Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul, Santana do Livramento.
Recebido: 04/04/2019; Aprovado: 19/09/2019
Resumo: Objetivou-se avaliar a sustentabilidade dos agroecossistemas dedicados à produção de leite no município
de Santana do Livramento - RS, como forma de esclarecer resultados ecológicos e
socioeconômicos para identificar alternativas de auxilio aos produtores na
promoção do desenvolvimento sustentável. A produção de leite no município vem
enfrentando diversos problemas, dentre os principais encontram-se o aumento do
custo de produção e baixo valor pago pelo produto, que ameaçam o futuro deste
segmento produtivo. Avaliou-se a sustentabilidade em quatro unidades produtoras
de pecuária leiteira, através da Análise e Diagnóstico dos Sistemas Agrários,
para verificar atributos sistêmicos de sustentabilidade em concordância com o
Método de Análise Econômico-Ecológica de Agroecossistemas.
Verificou-se que os maiores índices de intensidade produtiva foram em sistemas
de manejos que respeitam o ambiente, com uso do Pastoreio Racional Voisin, que aumenta a autonomia econômica, além da
produtividade, e consequentemente, da renda e autonomia sobre os processos
produtivos. Observou-se, que agroecossistemas com
maior diversidade produtiva tendem a possuir maiores condições de resposta às
adversidades. A desigualdade de gênero na família impede a representatividade
das mulheres, que pode ainda, afastar os membros mais jovens da família das
atividades produtivas. Ressalta-se que, em nenhuma família há completa
satisfação com a atividade produtiva do leite e a renda final, em virtude do
aumento dos custos de produção e constates reduções no valor pago pelo litro de
leite. Conclui-se que, a sustentabilidade dos agroecossistemas
e a promoção do desenvolvimento sustentável no município está atrelada às formas de manejo oriundas da Agroecologia.
Palavras-chave: Agroecologia; Pastoreio Racional Voisin; Produção leiteira; Produção sustentável
Abstract: The objective of
this study was to evaluate the sustainability of agroecosystems
dedicated to milk production in the municipality of Santana do Livramento - RS, as a way to clarify ecological and
socioeconomic results to identify alternatives to aid producers in promoting
sustainable development. Milk production in the municipality has been facing
several problems, among which are the increased production cost and low value
paid for the product, which threaten the future of this productive segment.
Sustainability was evaluated in four dairy farming units, through the Analysis
and Diagnosis of Agrarian Systems, to verify systemic sustainability attributes
in accordance with the Economic-Ecological Analysis Method of Agroecosystems. It was found that the highest rates of
productive intensity were in environmentally friendly management systems, using
Voisin Rational Grazing, which increases economic autonomy,
productivity and, consequently, income and autonomy over production processes.
It was observed that agroecosystems with higher
productive diversity tend to have higher conditions of response to adversity.
Gender inequality in the family precludes women's representativeness, which may
further alienate younger family members from productive activities. It is
noteworthy that in no family there is complete satisfaction with the productive
activity of milk and the final income, due to the increase of production costs
and reductions in the amount paid per liter of milk. In conclusion, the
sustainability of agroecosystems and the promotion of
sustainable development in the municipality is linked
to the level of management approach from the perspective of agroecology.
Key words: Agroecology; Rational
Grazing Voisin; Dairy production; Sustainable
production
INTRODUÇÃO
Localizado na Campanha Gaúcha, o munícipio de Santana do Livramento
está situado na região da Fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul,
fazendo fronteira direta com a cidade de Rivera, no Uruguai. A cidade de
Santana do Livramento foi fundada pelos portugueses durante o período das Sesmarias,
ocupando a segunda maior extensão territorial do estado, corroborando ao
tradicional reconhecimento da produção extensiva da pecuária de corte (MOREIRA;
BECKER, 2018).
A produção de leite se desenvolveu a partir da formação dos primeiros
assentamentos no município, na década de 1990. A imigração de pessoas de outras
regiões do estado proporcionou uma ruptura da cultura produtiva, baseada na
produção extensiva da pecuária de corte. Neste contexto, estabeleceu-se mais
fortemente a pecuária de leite como produção primária, pelo rápido e alto
retorno financeiro, com um custo inicial relativamente baixo (AGUIAR; MEDEIROS,
2010).
De toda forma, a produção de leite, na maioria das propriedades santanenses,
é consideravelmente tecnificada, e assim, dependente
da produção de forragem para alimentação dos animais, além de outros insumos
externos como vacinas, produtos alopáticos, sal mineral, ração, sementes e
adubos. Dados encontrados por Sabbag e Costa (2015)
em um estudo na região da Alta Paulista no estado de São Paulo indicaram 57%
dos custos básicos para produção de leite despendidos para
aquisição de insumos. Mediante o exposto por Lenzi
(2012), a produtividade pecuária no Brasil ainda é baixa
devido ao seu manejo, baseado em sistemas de pastoreio intensivo, que
fracassam em termos ambientais, mediante a degradação que se expande.
Julga-se necessário este estudo, visto a importância socioeconômica
deste segmento produtivo, associado ao fato de estar se tornando uma importante
fonte de renda em propriedades familiares, as quais, em grande parte possuem
poucos animais e a administração, quando realizada, ser feita pelo próprio
núcleo familiar (DOMENICO et al., 2017).
A análise da sustentabilidade de agroecossistemas
tem abordado temas recorrentes à produção ecológica e à dinâmica
socioambiental, procurando monitorar a sustentabilidade destes locais. Em
Santana do Livramento há pouco debate sobre esta dinâmica, mesmo com o
constante aumento das unidades produtivas e avanço das problemáticas para a
produção do leite no município. Ocorre, então, uma necessidade de conhecer os
níveis de sustentabilidade dos agroecossistemas que
atuam na produção de leite no município, para demonstrar a realidade por trás
dos processos produtivos.
Nesse contexto, com este trabalho objetivou-se avaliar a
sustentabilidade dos agroecossistemas dedicados à
produção de leite no município de Santana do Livramento, mediante avaliação dos
mecanismos de produção dos animais e integração familiar ao ambiente produtivo,
como forma de esclarecer os resultados ecológicos e socioeconômicos, bem como
identificar mecanismos para auxiliar os produtores na promoção do
desenvolvimento sustentável.
MATERIAL E
MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no ano de 2017, no município de
Santana do Livramento - RS. Foram avaliadas quatro propriedades rurais distintas
com produção, essencialmente, de pecuária leiteira. Para a escolha dos locais,
buscou-se integrar propriedades que retratam as diferentes tipologias
representantes desta cadeia de produção no município. Foram avaliadas duas
propriedades pertencentes a assentados da reforma
agrária: ambas familiares; e duas propriedades familiares obtidas através de
herança.
O procedimento metodológico foi dividido em duas etapas: i) análise das
unidades de produção; e ii)
avaliação da sustentabilidade das unidades de produção.
A etapa de avaliação das propriedades foi desenvolvida mediante a
realização de um diagnóstico agrícola, obtendo-se a compreensão da situação em
que se encontram as unidades de produção agropecuária, e um estudo categorizado
avaliativo da paisagem e da produção da Unidade de Produção Agrícola (UPA). A
metodologia utilizada esteve de acordo com o Guia Metodológico: diagnósticos de
sistemas agrários do INCRA/FAO (GARCIA FILHO, 1999).
Esta etapa contemplou uma entrevista com cada família, visando
reconhecer o seu funcionamento, tipologia de produção e a realização de um
estudo dos subsistemas de produção encontrados. Realizou-se uma entrevista com
os componentes do Núcleo Social de Gestão do Agroecossistema
(NSGA) (PETERSEN et al., 2017), para avaliar a origem
da família e sua trajetória até chegar à propriedade, sendo importante para
identificar o que caracterizou as escolhas produtivas na unidade e seus
recursos no momento. Por fim, avaliou-se os
subsistemas presentes, através da observação da primeira etapa, e entrevista
com os componentes da família, para verificar a logística de funcionamento dos agroecossistemas, modelos de produção, custos com produção
e valores de renda.
Conforme a necessidade de preservar a identidade das famílias
entrevistadas, serão usadas letras de A à D para diferenciá-las.
O Núcleo Social de Gestão do Agroecossistema
A pertence a assentados da reforma agrária e tem base produtiva considerada
familiar. A propriedade é constituída de dois lotes, pertencentes a dois irmãos
que produzem de forma conjunta. A família é composta pelo patriarca e seu
irmão, a matriarca, uma filha e três filhos. Entretanto, apenas um dos filhos
da família ainda reside na propriedade e auxilia nas atividades produtivas
durante os finais de semana, devido à necessidade de permanecer na região
urbana para estudar.
A NSGA B é composta por assentados da reforma agrária. O núcleo
familiar é constituído pelo patriarca, a matriarca e três filhos. Atualmente,
apenas um de seus filhos reside na propriedade, juntamente com a esposa e uma
filha de três anos. Estes somente auxiliam nas atividades por cinco horas
diárias, devido à necessidade de estudar. A matriarca e proprietária trabalha
na empresa Coperforte (Cooperativa Regional dos
Assentados da Fronteira Oeste Ltda.), e consegue auxiliar durante quatro horas
por dia. O patriarca exerce por mais de oito h/dias as atividades, com auxílio
de um empregado que reside na propriedade atualmente.
O NSGA C está localizado numa propriedade própria, no Rincão da Bolsa,
adquirida e passada do antigo proprietário ao seu filho, atual gestor. O núcleo
familiar é composto pelo patriarca, pela matriarca e uma filha. A filha ainda
reside na propriedade, entretanto cursa ensino superior e não possui qualquer
envolvimento com a atividade produtiva.
O NSGA D possui propriedade localizada na BR 293 (sentido Santana do
Livramento - Quaraí, RS), adquirida pelo marido da matriarca. O núcleo familiar
é composto pela matriarca, sua filha, seu genro e uma neta de dois anos. A
gestão é realizada pela matriarca. O manejo da propriedade é decidido entre o
núcleo familiar, com auxílio de um engenheiro agrônomo de confiança.
Este método avaliativo foi escolhido porque possibilita o entendimento
das potencialidades e limitações existentes nos NGSA, para embasar possíveis
intervenções futuras.
A sustentabilidade foi verificada após criterioso estudo das etapas
anteriores, visto a necessidade de reduzir o máximo da subjetividade
interpretativa do autor, passiva do guia utilizado.
Nesta etapa, avaliou-se a sustentabilidade a partir do método de
Análise econômico-ecológica de agroecossistemas,
proposto por Petersen et al.
(2017). Contudo, adotaram-se atributos sistêmicos de acordo com o objetivo da
análise e realidade local, para as quais se avaliou a intensidade, em
concordância com Ploeg (2008). A autonomia, a responsividade, a equidade de gênero e o protagonismo da
juventude foram avaliados de acordo com Petersen et al., (2017), e qualidade de vida, em concordância com
Herculano (2000).
Para avaliação da intensidade, seguiram-se critérios propostos por Ploeg (2008), mas com alguns indicadores diferenciados, com
a finalidade de associá-los com os demais atributos avaliados. Esta avaliação
foi organizada de uma forma que possa comparar unidades com valores de
produtividade e área disponível para produção, sem prejudicar os valores
finais. Ozelame; Machado (2012),
salientam que a relação da intensidade e o uso dos recursos de uma
propriedade podem ser utilizados como forma de avaliar o seu desempenho
produtivo. A avaliação da intensidade seguiu os seguintes indicadores: i)
autonomia econômica; ii)
rentabilidade; e iii) produtividade. A autonomia
econômica foi avaliada através da porcentagem obtida pela razão entre o Valor
Agregado Bruto (VAB) e o Valor Bruto de Produção (VBP), que possibilitou
identificar a autonomia da renda obtida com o leite em proporção à quantidade
gasta. Para avaliação da rentabilidade utilizou-se a razão entre o VAB e a
quantidade de litros produzidos no ano, que indicará o VAB em cada litro de
leite produzido. A produtividade foi avaliada através da intensidade no uso da
terra, ou seja, obtida através da razão entre a quantidade de litros de leite
produzidos em um ano e a quantidade de hectares utilizados para produção.
Para a aquisição e planificação dos dados referentes a esta etapa, as
famílias novamente foram entrevistadas e responderam a um questionário
previamente elaborado. O questionário foi elaborado de acordo com a necessidade
de averiguar as condições dos indicadores de sustentabilidade que compõe os
atributos.
Os indicadores pontuaram notas de 1 a 5 respectivamente: muito baixo,
baixo, médio, alto e muito alto, para facilitar a mensuração das condições de
cada um e comparação entre os agroecossistemas.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Os valores encontrados indicaram a intensidade da autonomia econômica,
rentabilidade e produtividade para cada NSGA. Os dados de intensidade podem ser
verificados na Figura 1.
Figura 1. Intensidade de agroecossistemas no munícipio de Santana do
Livramento, Rio Grande do Sul.
Os valores apresentados na Figura 1 demonstram que o NSGA D apresentou
o maior valor de autonomia econômica, enquanto os demais núcleos obtiveram
valores relativamente próximos, com baixa diferença, que pode ser explicado
pelo manejo das pastagens encontrado no agroecossistema
D, baseado no sistema de PRV sobre campo nativo, sem plantio de pastagens
suplementares, uma vez que nas demais as suplementações e conduções do sistema
não diferem o que ocasionou valores mais aproximados.
O princípio do PRV está no desenvolvimento da biocenose do solo e nos
tempos de repouso e de ocupação das parcelas de pastagens, sempre variáveis, em
função de condições climáticas, de fertilidade do solo, das espécies vegetais e
tantas outras manifestações de vida, cuja avaliação não se enquadra em esquemas
preestabelecidos (PINHEIRO MACHADO, 2004).
Em relação à produtividade, percebe-se uma diferença entre os agroecossistemas, ainda com maiores valores auferidos pelo
NSGA D, em virtude deste agregar um maior número de animais por hectare e
consequentemente, uma quantidade maior de vacas lactantes e produção de leite
por hectare. Valores elevados também podem ser verificados no NSGA C, em
virtude da melhor seleção genética aplicada aos rebanhos e suplementação com
pastagens e ração, mas que, todavia, reduzem os valores de autonomia e lhe
conferem o valor mais baixo para tal indicador. Os valores entre o NSGA A e
NSGA B, apesar de os núcleos serem caracteristicamente semelhantes, ficaram
distantes devido ao baixo número de animais em lactação encontrados no NSGA B,
que não representavam nem a metade do número de animais encontrados no NSGA A,
mesmo com áreas de produção relativamente proporcionais, que pode ser explicado
pelo manejo mais intensivo aplicado no NSGA A, além da maior oferta de
pastagens e suplementos, que apesar de aumentarem os custos, representam
valores de autonomia próximos devido ao elevado acréscimo da produção.
Percebe-se na análise conjunta dos indicadores de autonomia econômica e
produtividade que nos NSGA A e C, os valores encontrados remetem ao modo
clássico de produção de commodities,
com alto aporte de insumos, que aumentam significativamente a produtividade,
mas reduzem a autonomia, ou seja, uma lógica de aumento de renda através do
aumento da quantidade produzida, que se torna insustentável ao longo do tempo.
Os valores da rentabilidade foram verificados pela diferença dos custos
de produção e valor pago por litro, que tendencialmente, consoante a Figura 1,
aumentam conforme se dilata a produtividade. Isso pode ser explicado pelo
aumento no valor pago pelo litro de leite em decorrência do volume entregue à
indústria, caso do NSGA D, que entrega um volume maior em cada coleta; e do
NSGA C, que obtém um valor significativo pela comercialização do leite
diretamente aos consumidores a um valor mais alto do que o pago pela indústria.
Tal fato explica também a baixa diferença dos valores entre o NSGA A e NSGA B,
que recebem o mesmo valor pela comercialização. A diferença entre estes
valores, ainda, pode ser explicada em decorrência dos custos de produção, em
concordância ao NSGA D que possui maior autonomia e consequentemente maior
rentabilidade por litro produzido, despontando dos demais.
A autonomia foi avaliada através do uso dos indicadores relacionados
aos recursos genéticos, equipamentos e infraestrutura, as forrageiras para
alimentação dos animais, a fertilidade do solo, da mão-de-obra empregada na
produção e a soberania alimentar, que podem ser verificados na Figura 2.
Em relação aos valores encontrados para os recursos genéticos, podem
ser destacados os maiores valores no NSGA B e D, para qual o NSGA B possui tal
resultado decorrente da baixa dependência de aquisição de animais de outras
propriedades para compor a genética do rebanho, realizando inseminação na
própria propriedade e, ainda, o uso de touros. O NSGA D possui elevada
genética, em decorrência do controle interno com aquisição de sêmen para
mantença do padrão, além do uso de touros para monta natural. O NSGA C possui
valores medianos pela alta genética possuinte, entretanto realiza aquisição de
alguns animais de outras propriedades em dados momentos. Os valores mais baixos
foram encontrados no NSGA A, pois comumente fazem aquisição de novilhas de
outras propriedades na tentativa de melhorar a genética, mesmo que ainda façam
inseminação e uso de touros, porém, visando à venda da maior parte das novilhas
geradas.
Figura 2. Pontuação de agroecossistemas
em relação aos indicadores de autonomia no munícipio de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul
Silva et al., (2013), em pesquisa realizada em
Pombal, na Paraíba, constatou que apenas 14% dos produtores de leite do
município utilizam a inseminação natural, o que caracteriza baixo manejo
reprodutivo dos animais, uma vez que é sabido que a inseminação artificial é
uma alternativa para o melhoramento genético do rebanho, o qual possibilitará
aumento na produtividade das vacas, ou seja, maior produção de leite,
concomitantemente, com redução do custo de manutenção de um touro reprodutor na
propriedade. Entretanto, o uso do touro ainda é uma alternativa sustentável
para agroecossistemas com menor poder econômico, como
no caso do NSGA B, no qual selecionaram um touro com alto potencial genético,
visando reduzir o uso de inseminação artificial, com a prática por monta
natural em primeira instância, e em caso de insucesso aplica-se a inseminação
artificial. Algo semelhante é utilizado no NSGA D, no qual utilizam
primeiramente a inseminação artificial, e se não funcionar, as vacas são
direcionadas para a monta natural.
Os valores referentes à infraestrutura e equipamentos possuintes,
demonstram que o NSGA D possui todos os equipamentos que necessitam para
manutenção da propriedade, preservando os maiores valores deste atributo. O
NSGA C possui valores altos devido à baixa dependência de contratação de
equipamentos externos para plantio, preparo do solo ou colheita. Os valores dos
NSGA A e B se mantêm iguais devido ao hábito comum dos assentados da reforma
agrária, associados à Coperforte, de contratarem
maquinário da cooperativa para preparo do solo, plantio e colheita do milho
para silagem.
O valor mais alto para forrageiras encontrado no NSGA D deve-se ao
melhoramento do campo nativo aplicado na propriedade, que não necessita plantio
de pastagens para mantença dos animais, mantendo valor 4
em virtude da utilização de ração para aumentar a produção de leite. O valor
médio do NSGA B é explicado pela baixa necessidade de reposição de sementes
para plantio de pastagens, utilizando a prática de colheita e armazenamento de
banco de sementes. Os resultados dos NSGA A e C estão relacionados à alta necessidade
de plantio de pastagens e suplementação com ração para produção, além da
aquisição anual de sementes.
Em relação aos resultados da regeneração da fertilidade do solo,
somente no NSGA D não é realizada adubação para correção de nutrientes, e isto
em decorrência da alta regeneração do agroecossistema
promovido pelo PRV, que se mantêm estável ou, inclusive, melhora as suas
qualidades. Nos demais agroecossistemas avaliados, há
necessidade de adubação química para promover desenvolvimento das pastagens.
Em relação à mão-de-obra, o NSGA A mostrou maior sustentabilidade, pois
todas as atividades são desempenhadas pela família sem a necessidade de
contratar pessoal em período integral. Nos agroecossistemas
B e C, há emprego de um funcionário para que a demanda do serviço seja
atendida. Para o desempenho e manutenção do NSGA D, as atividades são atendidas
quase que exclusivamente por funcionários.
Nos agroecossistemas A e B, percebe-se uma
maior soberania alimentar em decorrência do plantio de hortifrutigranjeiros,
criação de outros animais e beneficiamento de produtos que incrementam a base alimentar, promovendo baixa dependência de aquisição de
alimentos em mercados externos. No agroecossistema D,
os valores ficaram superiores aos do C, devido à criação de bovinos de corte em
outra localidade que suprem a demanda de carne da família. O NSGA C não produz
nada além de leite, sendo necessária a aquisição de todos os alimentos para
manutenção da família.
A responsividade corresponde à resposta do agroecossistema a uma possível aversão da produção, que foi
avaliada segundo a diversidade produtiva, a diversidade de rendas, os mercados
acessados para comercialização dos produtos e os estoques de recursos, conforme
apresentado nos resultados dos agroecossistemas na
Figura 3.
Figura 3. Adversidades enfrentadas por agroecossistemas
no munícipio
de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul
Conforme observado na Figura 3, assim como nos resultados da Autonomia,
de modo geral, o NSGA C teve os valores mais baixos, indicando menor
sustentabilidade deste atributo.
Pode ser
observado que os valores da diversidade produtiva, diversidade de renda e os
mercados acessados se mantiveram iguais. Isto é explicado em virtude de que
quanto mais produtos são ofertados pela propriedade, maior será a diversidade
de rendas, gerando maior segurança em caso de um dos subsistemas ter uma baixa produtiva, agregando maior segurança na renda
da família. Para tais indicadores, o NSGA A possui os maiores valores, em
virtude da variedade produtiva, que resulta em excedentes para comercialização,
além do leite ser comercializado em duas vias, onde o
subproduto queijo agrega maior valor na venda em feiras.
Os valores do NSGA B, apesar do manejo produtivo se assemelhar ao A,
mostraram-se inferiores em decorrência da maior parte da renda ser composta
pela venda do leite e o escoamento ocorrer somente por
uma via. Os valores para os NSGA C e D se mantiveram iguais devido a estes
possuírem somente o subsistema de leite como alternativa de renda, com apenas
um mercado para escoamento do produto. Cabe ressaltar, que os NSGA C e D
tiveram grandes perdas anteriormente, em virtude falência da empresa que
coletava o leite, o que ocasionou em sérios problemas às famílias e a mantença
destas até uma nova empresa retomar a coleta, o que mostra a importância de
avaliar este atributo.
Para o indicador de estoque de recursos, que foi avaliado pela presença
de reservatório de sementes, forragens, alimentos, ou capital imobilizado em
forma de rebanho, dentre outros, os maiores valores foram encontrados nos agroecossistemas B e D, devido a estes possuírem diversas
formas de estoques, tanto em produção de feno, banco de sementes, animais para
comércio em caso de problemas e alternativas de produção, como no caso do NSGA
D para o PRV que mantêm estoque de pastagens em forma de campo nativo. Os
valores mais baixos encontrados nos agroecossistemas A
e C são explicados pelo baixo estoque de recursos nestas propriedades, que
possuem somente animais para descarte e novilhas para venda, e que, em caso de
uma adversidade familiar ou de renda, poderia comprometer o subsistema.
A avaliação da equidade de gênero foi realizada para verificar o papel
de cada gênero nas atividades desenvolvidas dentro dos NSGA. A Figura 4 demonstra
os resultados referentes à equidade de gênero nas propriedades avaliadas, numa
forma de demonstrar o papel de cada gênero nas atividades desenvolvidas dentro
do agroecossistema, que remetem a um ponto importante
da sustentabilidade.
Conforme resultados expostos por Patias et.
al. (2015), com produtores de leite de Santana do Livramento, há predominância
do gênero masculino com 62% do público das áreas produtivas, mediante apenas
38% do público feminino. Todavia, este é um indicativo importante para averiguação
dos motivos que acarretam na baixa presença de mulheres em propriedades
produtoras de leite no município.
Os resultados apresentados na Figura 4, de uma forma ampla, mostram que
o NSGA C apresentou os índices mais baixos em cinco dos seis atributos avaliados.
A divisão sexual do trabalho, tanto os domésticos quanto os de cuidados e
ordenha dos animais pelos adultos da família, demonstrou que os traços
culturais remetem à separação dos trabalhos em virtude do sexo, onde as
mulheres comumente cuidam da casa e os homens dos serviços produtivos. A
divisão sexual dos trabalhos pelos adultos demonstrou melhor cenário nos NSGA
A, B e C, por possuírem maior decisão de ambos os sexos na separação dos
trabalhos. No NSGA A, os trabalhos são organizados entre a família,
separando-os de acordo com a capacidade de cada membro para exercer a função.
No NSGA B, apenas recentemente esta divisão foi aceita pelo patriarca,
entretanto, atualmente as atividades domésticas e de produção são exercidas por
ambos os gêneros, sem qualquer pretexto. No NSGA C, tanto o patriarca como a
matriarca trabalham na ordenha e demais atividades, todavia ainda com certa
resistência do patriarca para os serviços domésticos. O NSGA D indicou menores
valores em decorrência da baixa participação dos membros da família nas
atividades produtivas, além de o genro da matriarca exercer as funções conforme
orientação.
Figura 4. Participação de cada gênero nas atividades
desenvolvidas em agroecossistema no munícipio de Santana do
Livramento, Rio Grande do Sul .
A organização dos jovens na divisão dos serviços domésticos e
produtivos mostrou maiores valores no NSGA B, pois nesta propriedade percebe-se
que estes participam de todas as atividades do agroecossistema,
contribuindo para o melhor desenvolvimento. No NSGA A os valores se mantiveram
medianos, devido ao fato de que atualmente os jovens estão pouco participativos
nos agroecossistemas, mas com certa predominância nas
atividades produtivas quando homens, e domésticas quando mulheres. No agroecossistema D, os valores medianos seguem os valores
dos adultos, pelas mesmas motivações. No sistema C os valores foram muito
baixos devido à jovem integrante do NSGA não participar das atividades
produtivas e ter baixa participação em quaisquer outras atividades.
Sobre a participação nas decisões de gestão do agroecossistema,
os maiores valores ficaram evidentes nos NSGA A e D. No NSGA A, as decisões de
gestão são organizadas por toda a família, em reunião com todos os integrantes,
que decidem a forma como prosseguirão a atividade produtiva. No NSGA D, apesar
de que nas atividades produtivas a família é pouco representativa, na gestão
todos os integrantes da produção são convocados a colaborar, inclusive o
capataz (responsável pela propriedade e demais funcionários) da propriedade,
juntamente do agrônomo que presta assistência. Dentro do NSGA B ainda há uma
segregação na gestão, havendo discussão entre a família, mas com o voto final
do patriarca, que aos poucos vem cedendo espaço para a família contribuir na
gestão. No NSGA C, as decisões da gestão são realizadas pelo patriarca, que não
abre espaços para os demais integrantes participarem.
A participação em espaços sócio-organizativos
como em cooperativas, associações, sindicatos, universidade, acesso a cursos de
formação, dentre outros, pelos homens e mulheres integrantes da família,
demonstrou valores maiores nos NSGA C e D, em virtude de em ambos os casos, os
membros participarem de associações, sindicatos e procurarem cursos para
ampliar conhecimento e participação social, representando a unidade familiar.
Nos NSGA A e B, há participação na cooperativa de recolhimento de leite, onde
os membros estão sempre integrados para conhecer a realidade da entidade a qual
são associados, e ainda, há maior participação das mulheres destas unidades na
procura de cursos e atividades que promovem o conhecimento que pode auxiliar na
unidade produtiva.
Para os resultados da apropriação da renda da propriedade, apesar da
pouca participação ofertada à família na gestão do NSGA B, este apontou os
melhores resultados juntamente do NSGA A. Nos NSGA A e B, a riqueza gerada pela
produção é pertencente à família, não possuindo um membro responsável para tal
função, sendo o dinheiro passível de acesso por qualquer membro. Na NSGA D o
resultado se mostrou baixo devido à renda ser apropriada e organizada pela
matriarca, que apenas informa ao restante da família os valores e repassa um
valor referente a um salário. Na família C, os valores arrecadados com a
produção são apropriados pelo patriarca, que impôs esta situação e a matriarca
demonstrou baixa resistência, o que resultou em valores muito baixos de
sustentabilidade para este indicador nesta análise.
Em relação ao acesso de políticas públicas, O NSGA D possui os maiores
valores, em virtude de, comumente, utilizar esta modalidade de crédito, e em
todas às vezes, a decisão contar com a participação de toda a família mais o
capataz, para averiguar se realmente será vantajoso ou necessário o acesso.
Apesar da família A não realizar mais o acesso a estas políticas de crédito, as
decisões sempre foram em família, não cabendo a nenhum membro um maior peso nas
decisões. Assim como o NSGA A, atualmente o NSGA B não faz mais acesso a
políticas públicas, pois comumente era realizada a decisão em família, mas
endividaram-se devido a um acesso decidido pelo patriarca, sem o consentimento
e conhecimento pelos demais membros, que os impossibilita de continuar
acessando atualmente. Na família C, atualmente estão sendo quitadas as últimas
dívidas com acesso de crédito, que não devem mais ser realizados devido à
escolha pessoal do gestor, que sempre decidiu sozinho estas questões.
Prontamente foi avaliado o protagonismo da juventude em virtude destes
serem os responsáveis pela gestão futura da propriedade. A figura 5 demonstra
os valores que foram encontrados na avaliação, mediante análise de indicadores.
A figura 5 demonstra que os valores mais baixos do protagonismo da
juventude foram apresentados no NSGA C, devido à filha residente na propriedade
não estar integrada nas atividades produtivas.
Figura 5. Protagonismo da juventude nos agroecossistemas
no munícipio
de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul.
Diante da participação em espaços de aprendizagem, todas as unidades
demonstraram valores altos, explicado pela participação de todos os jovens em
universidades, cursos, ou já com ensino superior completo. Esta é uma variável
importante, apesar de não diferir entre as unidades, pois demonstra que há
interesse em expandir o conhecimento dos jovens e melhorar as condições futuras
da unidade de produção, mesmo que como gestores desta unidade.
Os resultados da participação nas decisões de gestão do agroecossistema também foram bastante positivos, o que
remete a uma grande abertura dos jovens para integração com os sistemas
produtivos, nas decisões da família e com a gestão da unidade. Este ponto
positivo mostra-se como um importante passo para a sustentabilidade futura
destes agroecossistemas.
Em relação aos valores da participação em espaços sócio-organizativos, os jovens do NSGA A estão
integrados com a Coperforte, inclusive membros da
família fazem parte da gestão da cooperativa, além de estarem sempre integrados
a outras atividades, como cursos, associações, universidade, dentre outros, que
contribuem para integração com a comunidade. Os valores para o NSGA B e D são
explicados, pela restrita participação por certos jovens desta família, mesmo
que todos possam participar o que acometeu em resultados altos mesmo assim.
Sobre os resultados para o acesso a políticas públicas, nos NSGA B e D,
os valores foram classificados como muito altos, pois no núcleo D os jovens,
inclusive, fazem acesso a crédito e outras políticas públicas para auxiliar na
organização do sistema produtivo, enquanto no B, apesar de os jovens não
acessarem, jamais foi negada tal possibilidade, sendo inclusive uma
oportunidade incentivada. No NSGA A, os jovens não recebem direito de acessar,
pois todas as decisões devem ocorrer em conjunto com a família.
Quanto à autonomia financeira, percebem-se novamente valores mais altos
no NSGA D, em virtude de os jovens nesta família recebem um valor referente a
um salário pelas atividades de produção, sendo uma taxa de tudo que é
produzido, para incentivar na autonomia e independência. No NSGA B, alguns
jovens recebem um valor referente a um salário, mesmo assim, possuem autonomia
de produção na propriedade para aumentar a renda, em virtude de que estes
produtos podem ser comercializados para agregação de renda. No NSGA A, os
jovens não possuem salários, nem são estimulados a produzirem algo para si, em
virtude da união da família definir que nenhuma renda deve ser apropriada de
forma exclusiva.
A qualidade de vida em um NSGA poderia ser entendida como resultado dos
demais atributos. Para tal, conforme exposto por Rocha et
al., (2013), a qualidade de vida está diretamente ligada à manutenção de um agroecossistema, o qual relaciona que este indicador não
pode ser medido somente com índices de desenvolvimento humano, e sim,
correlaciona-los com questões ambientais e de renda. De tal forma, neste artigo
foram atribuídas variáveis conforme recomendação metodológica,
correlacionando-as à situação da qualidade de vida enfrentada pelas famílias,
conforme os valores expostos na Figura 6.
Figura 6. Qualidade de vida das famílias em agroecossistemas no munícipio de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul.
Avaliando os resultados da Figura 6, percebe-se que nenhuma família
esboçou total satisfação com a principal atividade produtiva, da pecuária
leiteira. Cabe ressaltar que nenhuma família respondeu estar satisfeita com o
valor pago pelo litro de leite, sendo este o principal motivo pela insatisfação
da atividade. Tanto no NSGA B, quanto no C, os valores foram indicados como
altos, mas as famílias reconhecem que, apesar dos valores pagos pela produção
serem baixos, seria necessário melhorar o manejo dos animais e das pastagens,
inclusive numa transição para o PRV, para que os custos de produção fossem
reduzidos, na tentativa de aumentar a renda e não somente esperar por
pagamentos mais altos. No NSGA D, foi verificado que algumas alternativas para
melhoramento da genética devem ser tomadas, para que o potencial do campo
nativo seja mais bem exaltado, em virtude de que a oferta é alta, mas os
animais ainda não respondem satisfatoriamente. No NSGA A, a insatisfação com a
produção leiteira é tida como alta, com baixas perspectivas de melhoria, em
razão de o preço pago vir baixando gradativamente nos últimos anos, e os custos
para produção de silagem, plantio de pastagens e suplementação com ração
estarem constantemente aumentando. Conforme Aleixo et
al., (2007), concluíram em seu trabalho, o sistema produtivo de leite necessita
de aperfeiçoamentos, mediante adoção de tecnologias que melhorem a eficiência
produtiva, que possibilitem aumento de produtividade do rebanho, e assim
permitir a viabilidade deste segmento, dando condições sustentáveis à estes
produtores.
Para os resultados da relação familiar, observa-se que o NSGA A, possui
altos valores, devido ao grande entrosamento da família. No NSGA D, a relação
familiar é bastante próxima, com intensa aproximação entre os membros, que
convivem juntos, unidos e entrosados para manter a unidade de produção. No NSGA
C, apesar de nenhuma desavença familiar ser apontada, o indicador foi apontado
com parâmetro 4, devido ao afastamento da filha dos
processos produtivos da unidade. O NSGA B demonstrou os índices mais baixos,
que são explicados pelo fato de que apenas recentemente algumas desavenças
estão sendo superadas.
Para a satisfação com a moradia e habitação, os NSGA A, C e D
demonstraram intensa satisfação pelo local onde moram, com ideais condições
para todos os membros, sem quaisquer perspectivas de mudar para outro local, o
que remete a um bom índice de qualidade de vida. O resultado do indicador para
o NSGA B deve-se ao fato de a matriarca sentir-se mal pelas condições de
habitação do seu filho, juntamente da nora e do neto, que residem na
propriedade, mas na casa antiga da família, que havia sido abandonada pelas
baixas condições para moradia.
Em relação à renda familiar, os resultados da Figura 1, relacionados à
intensidade da autonomia econômica, demonstram que o maior valor foi apontado
para o NSGA D, em virtude da renda ser satisfatória à família
em relação ao emprego da mão-de-obra. O NSGA C, possuiu valores mais altos do
que o A e o B, se avaliarmos pela Figura 1, no qual apresentou o valor mais
baixo, mas, pela produtividade ser maior neste caso, o valor final acaba sendo
maior, que resulta numa satisfação maior. Para tal, as famílias do NSGA A e B
afirmaram que a renda precisa aumentar inclusive para melhorar outros
indicadores já expostos, como satisfação com moradia, a satisfação com a
atividade, a autonomia financeira dos membros, os estoques de recursos.
Os dados expostos para qualidade de vida em relação à soberania
alimentar relacionam-se com a autonomia da soberania alimentar, uma vez que nos
núcleos A e B, que necessitam de baixas aquisições de mercados externos para
suprir a alimentação da família, possuem também maiores valores de autoestima,
por produzirem alimentos culturalmente preferidos, com qualidade, com
consciência da origem e que geram economia a família. Nos agroecossistemas
C e D, os resultados se explicam pela demanda quase exclusiva dos mercados
externos para alimentar as famílias. Conforme relatam Grisa; Schneider (2008),
a produção para autoconsumo nas propriedades familiares deixa de ser
prioritária para se tornar complementar, e o esforço e a
mão-de-obra dedicados para produção são para aquelas atividades com
finalidade comerciais, mesmo assim, se tratam de uma parte valorizada da
propriedade, já que não é descartada, pois adere segurança alimentar e cultivos
de acordo com a preferência alimentar da família.
Conforme apontado por Altieri (2010), o
desenvolvimento de uma agricultura sustentável necessita de mudanças
significativas, inovações tecnológicas e da cooperação entre agricultores, que
só será possível através da iniciativa de movimentos sociais que cobrem políticas
públicas que fomentem formas sustentáveis de agricultura.
CONCLUSÕES
Na atividade produtiva do leite e a renda final há
completa satisfação das famílias, em virtude do aumento dos custos de produção
e constates reduções no valor pago pelo litro de leite.
Existe a necessidades de avançar na extensão rural
para auxiliar os núcleos produtores de leite do município a organizarem seus
sistemas produtivos, que concomitantemente resultará em aumento de outros
atributos de sustentabilidade em agroecossistemas.
A sustentabilidade dos agroecossistemas
de Santana do Livramento está atrelada às formas de manejo oriundas da
Agroecologia, e a promoção do desenvolvimento sustentável depende desta
abordagem.
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