Análise da dinâmica no uso da terra
maranhense na Amazônia Legal
Analysis
of the dynamics in the use of Maranhão land in the
Legal Amazon
Carlos
Augusto Alves Cardoso Silva1, Kamilla
Andrade de Oliveira2, Maria Patrícia
Pereira Castro3, Ana Karla da Silva Oliveira4,
Edmilson Igor Bernardo Almeida5, Washington da Silva Sousa6
1Graduando
em Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Maranhão, Chapadinha, (98)
8435-8666, carlosaugusto8435@gmail.com; 2Doutora
em Meteorologia Agrícola, Universidade Federal do Maranhão, Chapadinha, , kamilla.andrade@ufma.com.br;
3Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal do Maranhão, mariapatriciacastro0512@gmail.com; 4Graduanda
em Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Maranhã, karlinha_oliveira95@hotmail.com; 5Doutor
em Agronomia, Universidade Federal do Maranhão, edmilson_i@hotmail.com; 6Doutor
em Física, Universidade Federa do Maranhão, wssousa@gmail.com
Recebido: 30/04/2019; Aprovado: 24/06/2019
Resumo: Por muitos anos as produções agropecuárias
foram as principais causas do desmatamento na Amazônia Legal, principalmente
após as políticas desenvolvimentistas para região amazônica, a partir da década
60. Neste contexto, objetivou-se analisar no período de 2002 a 2017, a dinâmica espaço-temporal do uso e cobertura do solo nos
municípios maranhenses situados na Amazônia Legal. O estudo aconteceu em 170
municípios que fazem parte do território da Amazônia Legal. Utilizou-se para
aplicação do coeficiente de correlação, os dados referentes às áreas
desmatadas, área total utilizada na agricultura e quantidade de bovinos. Empregou-se também os dados de área territorial e estimativa
populacional dos municípios de maior área desmatada. Observou-se que o
desmatamento na Amazônia Legal, no Maranhão, teve expressiva redução de 131.428 hectares, entre os anos
de 2002 a 2017. Em contraste a isso, o número de bovinos e a área utilizada na
agricultura aumentaram de 4,33 para 7,098 milhões e 1,052 para 1,573 milhões de hectares,
respectivamente. O desmatamento da Amazônia Legal no Maranhão, em 16 anos,
esteve amplamente (70%) concentrado em 25 municípios, principalmente os
localizados próximos a importantes rodovias federais ou com fácil acesso a
outros estados, como o Pará. Embora, os indicadores de desmatamento na Amazônia
Legal situada no Maranhão, indiquem que há redução em 16 anos, é necessário
atentar ao desenvolvimento sustentável na agropecuária, ou seja, equilíbrio
entre o econômico, ecológico e social, pois há muito que pode ser preservado,
ainda. Também é importante a adequada fiscalização ambiental em áreas de divisa
do estado, que demonstram uma forte tendência a impactos ambientais, associados
ao desmatamento.
Palavras-chave: Desmatamento; Bovinocultura; Agropecuária
Abstract: For many years, crop and livestock production were the main
causes of deforestation in the Amazon Region, mainly after the developmentalist
policies for the Amazon region in the 60s. In this context, the objective was
to analyze, from 2002 to 2017, the spatiotemporal dynamics of land use and land
cover in Maranhão municipalities located in the Legal
Amazon. The study took place in 170 municipalities that are part of the
territory of the Legal Amazon. For the application of the correlation
coefficient, data referring to deforested areas, total area used in agriculture
and number of cattle were used. The data of territorial area and population estimation
of the municipalities of larger deforested area were also used. Deforestation
in the Legal Amazon in Maranhão was significantly
reduced by 131,428 hectares from 2002 to 2017. In contrast, the number of
cattle and the area used for agriculture increased from 4.33 to 7.098. million and 1.052 to 1.573 million hectares, respectively.
Deforestation of the Legal Amazon in Maranhão, in 16
years, was largely (70%) concentrated in 25 municipalities, mainly those
located near important federal highways or with easy access to other states,
such as Pará. Although, deforestation indicators in
Legal Amazon located in Maranhão, indicate that there
is a reduction in 16 years, it is necessary to pay attention to sustainable
development in agriculture, that is, balance between the economic, ecological
and social, because there is much that can still be preserved. Appropriate
environmental oversight in state boundary areas, which show a strong tendency
to environmental impacts associated with deforestation, is also important.
Key words: Deforestation;
Cattle breeding; Farming
INTRODUÇÃO
A região Amazônica possui uma área de
5.217.423 km², equivalente aos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso,
Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins e parcialmente, o estado do Maranhão ao
oeste do Meridiano 44º, a área total corresponde por 61% do território nacional,
a criação da Amazônia Legal e suas divisões foram decorrentes da lei de n°
1.806 de 06/01/1953 que teve como objetivo o desenvolvimento da região (MARTHA JÚNIOR et al., 2011).
Desde da década de 60 as
políticas voltadas para o desenvolvimento da Amazônia brasileira tiveram
caráter econômico, visando fortalecer a economia da região e uma maior ocupação
territorial, sem planejamento e controle para alcançar um desenvolvimento
sustentável. Essas ações desenvolvimentistas são observadas através das
construções de redes rodoviárias, incentivos fiscais para estimular
investimentos agropecuários e a migração regional (ALVES, 2002; BAER, 2009; ARRAES et al., 2012).
Em decorrência de alcançar maior
desenvolvimento regional e rápida ocupação territorial, a partir dos anos 60 e
70 a extração da madeira e a presença de empresas do setor madeireiro
aumentaram significativamente durante a década de 80 (VERÍSSIMO; PEREIRA, 2015), sendo um
dos setores responsáveis pela devastação de grandes áreas com florestas da
Amazônia Legal.
Nesse sentido, o desmatamento esteve
dividido em dois recortes temporais: antes de 1980 e a partir de 1980. No
primeiro recorte o desmatamento esteve relacionado com a
abertura de estradas, incentivo de colonização, melhor organização da
atividade agropecuária com vantagens de incentivos fiscais. O segundo recorte, foi caracterizado pelas
ações do primeiro recorte, tendo em vista uma maior valorização econômica dos
resultados dos setores de exploração dos recursos naturais, principalmente as
atividades madeireiras e a pecuária extensiva (DINIZ et
al., 2009).
Em decorrência do aumento do
desmatamento, no ano de 2004 foi criado o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
Legal (PPCDAm), com a
finalidade de reduzir o desmatamento de forma mais acentuada e continua, sem
esquecer de promover um desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal (BRASIL,
2012).
No entanto, as políticas contra o desmatamento
da Amazônia Legal instigaram dois argumentos sobre o desenvolvimento regional:
o primeiro retratava sobre uma possível diminuição do desenvolvimento
econômico, devido o impedimento do aumento da produção agropecuária; e o
segundo, que era possível aumentar a produção e reduzir o desmatamento,
utilizando áreas que já haviam sido desmatadas. (BARRETO;
SILVA 2013).
Em relação aos meios de produção na
Amazônia Legal, a pecuária é a que mais se destacou, devido seu crescimento ao
longo dos anos, principalmente a bovinocultura que passou de 37,16 milhões em
1995 para 80,29 milhões em 2013 (ASSAD, 2016). No entanto, esse crescimento esteve
com alta correlação com o desmatamento até meados dos anos 2000 a 2006 (RIVERO et al., 2009; MARGULIS 2003). Mas, a
partir de 2007 a pecuária continuou crescendo e o desmatamento reduzindo,
ocorrendo uma correlação negativa (BARRETO; SILVA
2013).
Estudos realizados por Brum et al. (2011) relacionados ao desmatamento na Amazônia
Legal, no período de 2000 a 2009, mostraram que houve maiores incrementos de
áreas desmatadas nos anos de 2000 a 2005, sendo 2004 o mais expressivo que os
demais, através das fiscalizações mais acentuadas, no período de 2006 a 2009
foram os anos que apresentaram uma menor área desmatada.
Além disso, dados gerados pelo o Projeto
de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (PRODES), indicaram que o
desmatamento na Amazônia Legal no período de agosto de 2016 a julho de 2017
alcançou 6.947 km², possuindo uma redução de 12% em relação a 2016 (7.893 km²)
e de 75% correspondente ao ano de 2004. Além disso, os estados de maiores áreas
desmatadas nos anos de 2002 a 2017, foram: Pará (38,77%), Mato
Grosso (29,62%), Rondônia (12,89%), Amazonas (6,22%), Maranhão (5,74%), Acre
(3,41%), Roraima (1,96%), Tocantins (0,81%) e Amapá (0,58%) (INPE, 2019).
No que se refere ao desmatamento no
estado do Maranhão, segundo estudos realizados pela SEMA
(2011), o desmatamento acumulado até o ano de 2009 foi de 101.521 km², os dados
revelaram que o ano 1988 foi o mais expressivo em áreas desmatadas no período
de 1998 a 2010, entre os anos 2002 a 2009 o estado evidenciou alguns municípios
que obtiveram incrementos de desmatamento entre 90 km² e 400 km²,
correspondendo a percentuais crescentes.
Apesar da redução do desmatamento na
Amazônia brasileira ao longo dos anos, sabe-se ainda muito pouco sobre a
contribuição do estado do Maranhão em relação a tal causa, possuindo poucos
estudos que retratam sobre o assunto. Além disso, poucos trabalhos abordam
sobre as causas do desmatamento nos municípios do estado e quais se destacam
pela quantidade de área desmatada.
Em virtude disto, objetivou-se em analisar a dinâmica espaço-temporal do uso e cobertura do solo dos
municípios maranhense situados na Amazônia Legal no período de 2002 a 2017,
através da aplicação do coeficiente de correlação entre o desmatamento, área
total utilizada na agricultura e o quantitativo de bovinos, evidenciando os
municípios de maior área desmatada no período analisado.
MATERIAL E
MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no território
amazônico, referente ao estado do Maranhão, que é parcialmente coberto ao Oeste
do meridiano 44° (SUDAM, 2016), conforme a figura 1.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, a Amazônia Legal
no estado do Maranhão é constituída por 181 municípios. No entanto, 11
municípios localizam-se na linha do limite da Amazônia Legal (figura 1), não
fazendo parte do território analisado por completo, os municípios de: Buriti
Bravo, Cachoeira Grande, Codó, Itacu, Morros,
Paraibano, Presidente Vargas, São João do Soter,
Senador Alexandre Costa, Timbiras e Vargem Grande. Nesse sentido, o estudo
referiu-se somente aos 170 municípios que fazem parte por total do território
Amazônico.
Figura 1. Localização da
área de estudo, Amazônia Legal no estado do Maranhão, Brasil.
Fonte: elaborado pelo autor através de dados do IBGE,
2019.
O clima na Amazônia Legal segundo Koppen é caracterizado em equatorial e tropical, os estados
do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Amapá, norte do Mato Grosso e oeste de
Roraima predomina-se o clima equatorial, que é marcado durante todo ano por
alta umidade e elevadas temperaturas. O clima tropical é constatado no Centro e
Sul do Mato Grosso, em Tocantins e ao leste de Roraima, com temperaturas em
médias de 20°C e amplitudes que não excedem 10°C (ASSAD, 2016).
No perímetro da Amazônia Legal para o ano de
2013 havia 6.801.826 habitantes, havendo um grande crescimento, em relação ao
censo de 2000, onde esse número era de apenas 5.651.475 de pessoas, o
território possuía uma densidade de 20,49 hab/km²
para o ano de 2013 e uma taxa de crescimento de 6,37% entre 2010 a 2013 (SUDAM,
2016).
Utilizou-se como referência
as informações coletadas ao banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), especificamente
no acervo da plataforma SIDRA. Foram adquiridos os dados de área plantada na
agricultura das culturas permanente e temporária, rebanho de bovinos, área
territorial e população estimada para o ano de 2017.
Fez-se necessário o uso
de dados em relação ao incremento do desmatamento nos anos de 2002 a 2017,
sendo obtidos através do Projeto de Estimativa do Desflorestamento da Amazônia
– PRODES, responsável pela mensuração do desmatamento da Amazônia Legal desde de 1988 (INPE, 2019). Os valores utilizados no estudo
foram concernentes ao desmatamento por município que compõem o território
amazônico maranhense.
O trabalho avaliou se existe
uma correlação no período de 2002 a 2017 entre as variáveis: áreas desmatadas,
quantidade de bovinos e área usada na agricultura das culturas permanentes e
temporárias. Para
análise de correlação, utilizou-se o coeficiente de Pearson, com o auxílio do software
Excel®, como é descrito na equação 1:
Em que os valores medidos de ambas as variáveis. Enquanto, são as médias aritméticas de
ambas as variáveis.
O coeficiente de correlação possui como função, medir o grau
de correlação entre duas variáveis, apresentando valores que variam entre 1 (correlação positiva) a -1 (correlação negativa).
Além disso, o estudo
enfatizou os municípios que mais contribuíram com o desmatamento em 16 anos,
enfatizando as possíveis causas que podem ter levado a abertura de novas áreas.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
A área desmatada na Amazônia legal no Estado
do Maranhão nos últimos 16 anos, apresentou maior crescimento no ano de 2002,
tendo reduções de áreas nos anos subsequentes. Além disso, nota-se que a
superfície usada nas plantações temporárias e permanentes se manteve
praticamente estável sem grandes aberturas de novas áreas, no entanto houve um aumento
no rebanho de bovinos na região da Amazônia Legal no período de 2002 a
2017 (Figura 2).
Figura 2. Área plantada
(100 ha), desmatamento (ha) e criação de bovinos em áreas da Amazônia legal no
período de 2002 a 2017, estado do Maranhão.
Fonte: Elabora pelo autor através de dados do IBGE,
2019 e INPE, 2019.
Ao analisar o desmatamento na extensão
da Amazônia Legal maranhense é notável que o ano de 2002 (159.890 ha) foi o que gerou
um maior quantitativo, possuindo reduções expressivas nos anos de 2006 (58.720 ha) e 2007 (60.050 ha), e voltando a
crescer no ano seguinte com 125.730 ha, equiparando-se aos resultados da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais – SEMA (2011), quando retratam um
aumento no desmatamento no ano de 2008. As menores taxas de áreas desmatadas
ocorreram a partir do ano de 2009 (96.180 ha), sendo os anos
de 2011 (33.560 ha)
a 2017 (28.462 ha)
os mais significativos na redução de florestas devastadas.
Estudos realizados por Brum et al. (2011), na Amazônia Legal revelam que o estado do
Maranhão teve maiores áreas desmatadas nos anos 2000 e 2002 respectivamente, os
autores relatam uma redução mais expressiva no desmatamento na Amazônia Legal
brasileira entre os anos de 2005 a 2007, no período de 2000 a 2007.
Corroborando com os resultados de Castelo et al.
(2018), onde destacam uma redução no desmatamento a partir de 2004 em todos os
estados da Amazônia Legal entre 2002 a 2016.
Segundo Ferreira e Coelho
(2015), o desmatamento na Amazônia a partir de 2009 apresenta as maiores baixas
em relação à anos anteriores, continuando em queda nos
anos subsequentes, estando essas baixas relacionadas
com o período de desenvolvimento das políticas públicas ao combate do
desmatamento, sendo aplicadas de forma mais precisa.
Diferente
do desmatamento que teve grandes oscilações em áreas em 16 anos, a área de
plantação utilizada na agricultura temporária e permanente não teve abertura
expressiva de novas áreas, tendo em vista que a área era de 1,052
milhões de hectares em 2002, aumentando para 1,573 milhões de hectare no ano de
2017 (figura 2). Equiparando-se com os resultados
de Santos e Queiroz (2014), quando retratam uma diminuição nas curvas de
desmatamento e áreas plantadas nos anos de 1995 a 2011.
Ao analisar o desmatamento e a área
plantada é visível que há uma forte correlação negativa (-0,84), no entanto, no
período analisado não houve influência da área plantada no aumento do
desmatamento. Evidenciou-se que por mais que as áreas desmatadas tenham
diminuído e, não houve aumento de área muito expressiva na agricultura.
Em
relação à criação de bovinos na Amazônia Legal que estabeleceu aumentos
expressivos no número de animais, passando de 4,33 milhões para 7,098 milhões de cabeça nos anos de 2002 a 2017 (figura 2).
Apesar do aumento notou-se que o desmatamento permaneceu em decréscimo nos
últimos anos. Estando em concordância com os resultados de Assad (2016), quando relata uma
crescente expansão da bovinocultura na Amazônia Legal, juntamente com uma
significativa redução do desmatamento na região no período de 1995 a 2013.
Não somente, estudos revelam que o maior problema não se
trata da pecuária em si, mas sim pela falta de maiores investimentos e uso de
novas tecnologias no processo de produção (RETTMANN, 2013). Barreto e
Silva (2013), destacam que entre os anos de 2007 e
2010, o valor da produção do setor agropecuária cresceu, enquanto o
desmatamento reduziu, ocorrendo uma correlação negativa. Além disso, Arima
et al. (2005) e Alencar et al. (2004), relatam que entre 2002 e 2003 a pecuária teve grandes avanços tendo como
os principais fatores a melhor produtividade resultante de boas condições
agroclimáticas e preços das terras relativamente baixo.
Dos 170 municípios analisados, o
desmatamento da Amazônia Legal no Maranhão de 2002 a 2017 esteve concentrado
70% em 25 municípios, como exposto na figura 3.
Figura 3. Os 25 municípios
que possuem 70% do desmatamento da Amazônia legal no estado do Maranhão de 2002
a 2017.
Os municípios Barra do
Corda e Grajaú foram os que registraram os maiores valores de áreas
desmatadas em 16 anos, com um total de 77.504 hectares (6,86%) e 64.116
hectares (5,67%), respectivamente. Enquanto isso, os municípios de Zé Doca, Cândido
Mendes, São Luís, Centro do Guilherme, Fortuna, Amapá do Maranhão, Governador
Luiz Rocha, Jenipapo dos Vieiras e Buritirana
revelaram valores de áreas desmatadas que variaram entre 16.860 hectares a
12.403 hectares e com percentual de 1,49% a 1,10%. Os demais municípios que
fazem parte da Amazônia Legal no Estado e que foram analisados registraram
valores abaixo de 1%.
Em um estudo sobre o desmatamento na
Amazônia Legal no Maranhão, 20 municípios destacaram-se como os de maiores
áreas desmatadas no período de 2002 a 2009, sendo eles: Açailândia, Amapá do
Maranhão, Amarante do Maranhão, Arame, Barra do Corda,
Buritirana, Centro Novo do Maranhão, Fortuna,
Gonçalves Dias, Governador Eugênio Barros, Itapecuru Mirim, Santa Luzia, São Domingos
do Maranhão, Tuntum, Buriticupu, Bom Jardim, Itinga do Maranhão, Grajaú, Bom
Jesus das Selvas e Cândido Mendes. Os municípios Amarante do Maranhão e Grajaú
passaram a integrar a lista dos maiores devastadores da Amazônia legal no
estado do Maranhão no período de 2010 a 2011 (SEMA, 2011), assemelhando-se com
os resultados exposto na figura 3. Tais resultados enfatizam que os munícipios
em destaque permaneceram em alta com o desmatamento.
Tabela 1. Área territorial,
área desmatada em 16 anos e percentual da área desmatada em relação a área total de municípios da Amazônia Legal no estado o
Maranhão, Brasil. |
|||
Municípios |
Área Territorial (ha) |
Área Desmatada (ha) |
Percentual (%) |
Barra do Corda |
520270 |
77504 |
14,90% |
Grajaú |
883090 |
64116 |
7,26% |
Bom Jardim |
659050 |
57678 |
8,75% |
Centro Novo do Maranhão |
825840 |
52024 |
6,30% |
Itinga do Maranhão |
358170 |
51260 |
14,31% |
Amarante do Maranhão |
743800 |
46535 |
6,26% |
Açailândia |
580640 |
43003 |
7,41% |
Bom Jesus das Selvas |
267910 |
42606 |
15,90% |
Buriticupu |
254560 |
41272 |
16,21% |
São Domingos do Maranhão |
115200 |
34907 |
30,30% |
Arame |
300870 |
32326 |
10,74% |
Santa Luzia |
476610 |
31636 |
6,64% |
Tuntum |
339000 |
26069 |
7,69% |
Gonçalves Dias |
87850 |
23673 |
26,95% |
Itapecuru Mirim |
147140 |
20212 |
13,74% |
Governador Eugênio Barros |
81700 |
20091 |
24,59% |
Zé Doca |
241610 |
16860 |
6,98% |
Cândido Mendes |
163370 |
15868 |
9,71% |
São Luís |
83480 |
15787 |
18,91% |
Centro do Guilherme |
107410 |
15399 |
14,34% |
Fortuna |
69500 |
14982 |
21,56% |
Amapá do Maranhão |
50240 |
14053 |
27,97% |
Governador Luiz Rocha |
37320 |
13570 |
36,36% |
Jenipapo dos Vieiras |
196290 |
13545 |
6,90% |
Buritirana |
81840 |
12403 |
15,16% |
Fonte:
elaborado pelo autor através de dados do IBGE, 2019 e INPE, 2019. |
Os municípios de maior área territorial
foram: Grajaú (883.090 ha), Centro Novo do Maranhão (825.840 ha), Amarante do Maranhão
(743.800 ha), Bom Jardim (659.050 ha), Açailândia (580.640 ha) e Barra do Corda (520.270 ha). Consequentemente, Barra do Corda, Grajaú, Bom Jardim e Centro Novo do Maranhão
destacaram-se pelos altos valores de áreas desmatadas (Tabela 1). Portanto,
tais resultados enfatizam que o desmatamento pode estar relacionado também com
a área territorial do município, ou seja, quanto maior for à área territorial,
pode ocorrer um maior desmatamento. Rivero et al. (2009), retrataram que nos estados do Pará e Amazonas
os municípios que registraram altas taxas de desmatamento, possuíam em geral
áreas totais muito grandes.
Em termos percentuais, destacaram-se os
municípios de Governador Luiz Rocha, São Domingos do Maranhão, Amapá do
Maranhão, Gonçalves Dias e Governador Eugênio Barros com valores de 36,36%,
30,30%, 27,97%, 26,95% e 24,59%, respectivamente. Esses valores enfatizam o
quanto representa as áreas desmatadas em 16 anos na área total do município.
Para uma análise das possíveis causas
do desmatamento nos municípios em questão, a Tabela 2 apresenta valores
referentes à população estimada, criação de bovinos (em cabeças) e área
plantada (hectares) das culturas permanentes e temporárias.
Em relação à população, os municípios
de São Luís, Açailândia, Barra do Corda, Buriticupu e
Santa Luzia retrataram uma maior estimativa populacional para o ano de 2017,
com valores de 1.091.868 (hab), 111.339 (hab), 87.135 (hab), 71.979 (hab) e 71.576 (hab),
respectivamente. O município de São Luís destacou-se pelo um maior crescimento
populacional em 16 anos, com um aumento de 185.301 habitantes. Além disso, a
área de produção agrícola reduziu nesse mesmo período, podendo ter ocorrido
influência da expansão urbana.
Segundo Diniz et
al. (2009), retratam que quanto maior o contingente populacional e a densidade
demográfica, acredita-se que haja um maior desmatamento, os mesmos autores
explicam que à medida que uma população aumenta há uma maior pressão sobre os
recursos naturais. Corroborando com resultados de Brum et
al. (2011), onde revelam que o aumento populacional apesar de menor escala, foi
um dos fatores que esteve relacionado com o desmatamento no município de
Sinop-MT, no sentido de crescimento do espaço urbano.
Tabela 2. População
estimada, quantidade de bovinos e área plantada das culturas permanentes e
temporárias de municípios da Amazônia Legal no estado do Maranhão, Brasil. Os
dados são referentes aos anos de 2002 e 2017. |
||||||||
Municípios |
População Estimada (hab) |
|
Bovinos (cabeças) |
|
Área Plantada (ha) |
|||
2002 |
2017 |
|
2002 |
2017 |
|
2002 |
2017 |
|
Açailândia |
93455 |
111339 |
368466 |
323636 |
4221 |
27137 |
||
Amapá do Maranhão |
5771 |
6895 |
5301 |
11667 |
1701 |
1462 |
||
Amarante do Maranhão |
33015 |
41106 |
85231 |
262724 |
10245 |
3885 |
||
Arame |
28985 |
32145 |
58919 |
139046 |
14883 |
12369 |
||
Barra do Corda |
78468 |
87135 |
45152 |
129077 |
17110 |
10925 |
||
Bom Jardim |
35577 |
41120 |
75538 |
160491 |
12480 |
13328 |
||
Bom Jesus das Selvas |
17409 |
34278 |
40608 |
127856 |
5214 |
8113 |
||
Buriticupu |
55405 |
71979 |
41365 |
138520 |
13663 |
20260 |
||
Buritirana |
14341 |
15180 |
28095 |
60422 |
3662 |
305 |
||
Cândido Mendes |
17730 |
19943 |
12771 |
4438 |
7297 |
2265 |
||
Centro do Guilherme |
6408 |
13555 |
8029 |
24321 |
3979 |
2874 |
||
Centro Novo do Maranhão |
15098 |
21565 |
9418 |
90608 |
5412 |
3137 |
||
Fortuna |
14391 |
15262 |
16484 |
33557 |
10225 |
3155 |
||
Gonçalves Dias |
16844 |
17586 |
18029 |
31750 |
5619 |
1370 |
||
Governador Eugênio Barros |
14981 |
16582 |
9374 |
24944 |
5769 |
3624 |
||
Governador Luiz Rocha |
6466 |
7708 |
5412 |
10925 |
3254 |
3157 |
||
Grajaú |
49089 |
69232 |
79601 |
173239 |
14293 |
26801 |
||
Itapecuru Mirim |
50532 |
67726 |
18688 |
17216 |
9150 |
5978 |
||
Itinga do Maranhão |
24832 |
25589 |
113588 |
106549 |
9008 |
13933 |
||
Jenipapo dos Vieiras |
10241 |
16321 |
20253 |
61575 |
7290 |
2959 |
||
Santa Luzia |
73177 |
71576 |
87721 |
231658 |
25139 |
16755 |
||
São Domingos do Maranhão |
34182 |
33691 |
23517 |
56970 |
16154 |
5406 |
||
São Luís |
906567 |
1091868 |
890 |
1734 |
199 |
148 |
||
Tuntum |
35992 |
41342 |
47957 |
116831 |
11386 |
9243 |
||
Zé Doca |
47794 |
51084 |
42859 |
135189 |
7865 |
6124 |
||
Fonte: elaborado pelo autor através de
dados do IBGE, 2019. |
Dentre os municípios de maior rebanho
bovino no ano de 2017, destacaram-se: Açailândia (323.636 cabeças), Amarante do
Maranhão (262.724 cabeças), Santa Luzia (231.658 cabeças), Grajaú (173.239
cabeças) e Bom Jardim (160.491 cabeças. No entanto,
Açailândia e Itinga do Maranhão registraram uma redução no período de 2002 a
2017, passando de 368.466 para 323.636 e 113.588 para 106.549 animais,
respectivamente.
Esses quantitativos podem ser
explicados pelo fato que os anos de 2001, 2002 e 2003 foram marcados por
políticas de incentivos de desenvolvimento, por maiores facilidades de compras
de terras e também pelas maiores facilidades de substituição de florestas por pastagens.
Segundo Alencar et al. (2004), a pecuária na Amazônia
Legal em 2001 representava 29% do rebanho nacional, sendo motivado em partes
pela disponibilidade de capital para investimentos, como também pela expansão
do mercado internacional e nacional de carne e leite. Além disso, os avanços da pecuária nos anos
de 2002 e 2003 podem ser associados também, pelo baixo custo de terras (ALENCAR
et al., 2004; ARIMA et al., 2005).
Além disso, segundo Pantoja e Pereira
(2017), a produção de eucalipto cresceu significativamente nos municípios em
questão na última década, principalmente após a chegada da empresa Suzano Papel
e Celulose na região.
Mesmo com o aumento da pecuária em
praticamente quase todos os municípios, houve uma redução expressiva no
desmatamento da Amazônia Legal maranhense. Pesquisas mostram que em alguns
casos a forma de manejo bovina foi uma das principais causas para expansão de
áreas desmatadas, fatos que vem melhorando em relação ao manejo e criação
desses animais. De acordo com Rivero et al. (2009); Margulis
(2003); a pecuária bovina (gado) é atividade que mais está relacionada com o
desmatamento para os municípios da Amazônia legal com uma grande correlação
entre a quantidade de animais (bovinos) com o desmatamento.
Os municípios de maior área plantada foram:
Açailândia (27.137 ha), Grajaú (26.801 ha), Buriticupu (20.260 ha), Santa Luzia
(16.755 ha) e Intiga do Maranhão (13.933 ha). A área utilizada na agricultura diferente das
demais variáveis analisadas que aumentaram em 16 anos (população estimada e
rebanho de bovinos), registrou uma redução, sendo na maioria dos municípios o
ano de 2002 alcançou uma maior área que 2017. Dos 25 municípios analisados, 18
registraram uma redução de área, sendo eles: Amapá do Maranhão, Amarante do
Maranhão, Arame, Barra do Corda, Buritirana,
Centro do Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Fortuna, Gonçalves Dias,
Governador Eugênio Barros, Governador Luiz Rocha, Itapecuru Mirim, Jenipapo dos
Vieiras, Santa Luzia, São Domingos do Maranhão, São Luís, Tuntum e Zé Doca.
Acredita-se que parte dessas áreas
foram destinadas a outros meios de produção, como por
exemplo: pastagens, plantações de eucalipto ou até mesmo por ocasiões da
expansão urbana motivado pelo o aumento populacional.
Oliveira et
al. (2018), retratam que houve um significativo aumento na produção de
eucalipto no Estado, os municípios de Itinga do Maranhão, Bom Jardim, Bom Jesus
das Selvas, Açailândia, Grajaú, dentre outros, foram responsáveis por parte da
produção de eucalipto no ano de 2015 para empresa Suzano Papel e Celulose.
Possuindo uma das principais rotas para o escoamento da produção a BR- 222 que
liga
o município de Estreito a São Luís, figura 4.
Com objetivo de se extrair maiores
informações sobre as causas do desmatamento, realizou-se um mapa dos 25
municípios que apresentaram os maiores índices de áreas devastadas no estado.
Figura 4. Mapa referente
aos 25 municípios de maior incremento de área desmatada no período de 2002 a
2016, rodovias e o corte da Amazônia no estado do Maranhão.
Fonte: elaborado pelo autor através de dados do IBGE,
2019.
Ao analisar os municípios em questão
notou-se que muitos compartilham de características em comum, a maioria dos
municípios são interligados ou ficam próximos de rodovias importantes do
Estado, como a BR-226, BR-222 e a BR-316. Podendo ser explicado pela maior
facilidade que os municípios possuem para realizarem o escoamento da produção.
Além disso, as BR- 222 e 135 fazem conexão até o porto do Itaqui em São Luís-
MA, passando a ser um importante mecanismo para transportação da produção
agrícola.
Em 2016, o porto do Itaqui foi
responsável por movimentar um total de 17,1 milhões de toneladas. Os produtos
agrícolas de maior embarque foram: soja (3.849.776 t), celulose (1.375.602 t),
milho (638.860 t) e farelo de soja (152.998 t). E os de maior desembarque,
foram: fertilizantes (638.860 t), trigo (87.393 t) e arroz (43.052 t) (MTPA,
2019).
Outro aspecto importante entre os
municípios refere-se à localização, em quase toda a totalidade são vizinhos,
além disso, houve uma maior concentração de municípios próxima à fronteira com
o Estado do Pará (figura 4), sendo possível a ocorrência de influência de um sobre
o outro em relação ao meio de produção e consequentemente a abertura de novas
áreas.
Segundo Alencar et
al. (2004), os estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia foram os campeões de
desmatamento, estando o estado do Pará com a segunda posição de maior rebanho
bovino no período de 1990 a 2001. Além
disso, o rebanho bovino cresceu significativamente nos anos de 2001 a 2010,
sendo um dos fatores de maior correlação com o desmatamento no estado do Pará
(CASTELO; ALMEIDA, 2015).
Esses resultados enfatizam que os fatores e
agentes causadores do desmatamento podem ser ou ocorrer das mais diversas
formas possíveis, possuindo grandes diferenças dependo da localização em
questão (FEARNSIDE, 2008).
Embora, os indicadores de desmatamento
na Amazônia Legal situada no Maranhão, indiquem que há redução em 16 anos, é
necessário atentar ao desenvolvimento sustentável na agropecuária, ou seja,
equilíbrio entre o econômico, ecológico e social, pois há muito que pode ser
preservado, ainda. Também é importante a adequada fiscalização ambiental em
áreas de divisa do estado, que demonstram uma forte tendência a impactos
ambientais, associados ao desmatamento.
CONCLUSÃO
O desmatamento na Amazônia Legal, no
estado do Maranhão, teve expressiva redução de 82%, entre os anos de 2002 a 2017. Em contraste a
isso, neste mesmo período o número de bovinos e a área utilizada na agricultura
aumentaram 39% e 33%, respectivamente.
O desmatamento da Amazônia Legal no
Maranhão, em 16 anos, esteve concentrado em 25 municípios, principalmente os
localizados próximos a importantes rodovias federais ou com fácil acesso a estados
fronteiriços.
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NEPSTAD, D.; MCGRATH, P.; MOUTINHO, P.; PACHECO, M. C.; SOARES FILHO, V. D. Desmatamento
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