ARTIGO CIENTÍFICO
Prebióticos fruto-oligossacarídeos como
substituto do açúcar comercial em sobremesas aeradas de morango com matriz não
láctea
Prebiotics
fructooligosaccharides as a substitute for commercial sugar in aerated
strawberry desserts with a non-dairy matrix
Bruno Fonsêca
Feitosa1*;
Cláudia Patrícia Mourão Lima Fontes2; Emanuel Neto Alves de Oliveira3; Adalva Lopes Machado3;
Juvêncio Olegário de Oliveira Neto1;
João Vitor Fonseca Feitoza4
1Discente
em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Campina Grande, Pombal,
Paraíba, brunofonsecafeitosa@live.com,
juvencio_oliveira12@hotmail.com,
2Docente do Instituto Federal do Ceará, Ubajara, Ceará, cpfontes25@gmail.com; 3Docente
do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Pau dos Ferros, Rio Grande do
Norte, emanuel.oliveira16@gmail.com,
adalva.machado@ifrn.edu.br; 4Docente
do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Apodi, Rio Grande do Norte, joaovitorlg95@hotmail.com
Recebido: 06/05/2019; Aprovado:
11/09/2019
Resumo: A associação
entre alimentação e saúde, bem como o crescente número de casos de
intolerâncias alimentares tem motivado a indústria alimentícia a inovar em
produtos que possuam boas propriedades nutricionais e sejam apreciados tanto
pelos atributos sensoriais quanto pela praticidade de preparo e consumo. Desta
forma, objetivou-se com este trabalho avaliar a utilização de prebióticos fruto-oligossacarídeos como substituto do
açúcar convencional em sobremesas aeradas de morango com matriz não láctea.
Para esse propósito, foram elaboradas três formulações: S1 -
controle – 100% sacarose, S2 - 50% sacarose e 50%
fructooligosaccharides (FOS)
e S3 - 100% FOS; além de realizadas análises microbiológicas
(Coliformes 35 e 45ºC), físico-químicas (composição centesimal e valor
calórico) e sensoriais (cor, aroma, consistência, sabor, impressão global e
intenção de compra). Todas as sobremesas atenderam aos padrões microbiológicos
e físico-químicos. Quanto às características sensoriais, as formulações S1
e S2 apresentaram as maiores médias para os atributos avaliados.
Desta forma, conclui-se que a elaboração de sobremesas à base de soja, com
substituição da sacarose pelo FOS é viável, bem aceita e nutritiva.
Palavras-chave: Frangaria x ananassa Duch.; Intolerância alimentar; Alimentos funcionais
Abstract: The
association between diet and health, as well as the increasing number of cases
of food intolerances has encouraged the food industry to innovate in products
that have good nutritional properties and are appreciated by both their sensory
attributes and the convenience of preparation and consumption. Based on the
above, this work had a prebiotic use of fructo-oligosaccharides
as a substitute for conventional sugar in strawberry aerated desserts with a
non-dairy matrix. For this purpose, three formulations were prepared: S1
- control - 100% sucrose, S2 - 50% sucrose and 50% (FOS) and S3
- 100% FOS; microbiological (Coliforms 35 and 45 ºC), physico-chemical
(proximate composition and caloric value) and sensory analysis (color, aroma,
consistency, taste, overall impression and purchase intent) were performed. All
desserts met the microbiological and physico-chemical
standards. For the sensory characteristics, the S1 and S2
formulations had the highest average for the evaluated attributes. Thus, it was
concluded that it the preparation soy-based desserts, with replacement of
sucrose by FOS is feasible, well accepted and nutritious.
Key words: Frangaria x ananassa Duch.;
Food intolerance; Functional foods
INTRODUÇÃO
Uma vida saudável depende especialmente de uma alimentação rica em
nutrientes essenciais e exercícios físicos regulares. Neste contexto, o leite
se destaca como um alimento completo nutricionalmente, em virtude da composição
rica em proteínas, gorduras, açúcares e sais minerais, além de ser um produto
acessível a toda população brasileira (BARBOSA et al.,
2014).
Nos últimos anos tem aumentado o número de indivíduos intolerantes à
lactose, carboidrato presente no leite e em seus derivados (SILVA et al., 2019). Neste quadro clínico, a deficiência na
atuação ou síntese da enzima lactase impossibilita a
digestão da lactose. Em muitos casos é recomendada a suspensão no consumo de
produtos lácteos, uma vez que resulta em uma série de desconfortos, tais como:
dores abdominais, diarreias, náuseas, vômitos e flatulências (SALOMÃO et al., 2012; FAEDO, 2013).
Em virtude disso, uma variedade de matérias-primas tem sido estudada em
substituição ao leite, entre as quais se destaca o extrato de soja. A soja (Glycine max)
constitui-se de uma excelente fonte de nutrientes, principalmente proteínas de
alta qualidade, não contendo lactose e colesterol. Além destes benefícios,
também contribui para a prevenção de cânceres (DONG et
al., 2012), controla o nível de açúcar no sangue e retarda a osteoporose,
decorrente da idade, e hipertensão (MATTHEWS et al., 2011; VALSECCHI et al.,
2011).
Apesar da qualidade nutricional do extrato, seu uso na elaboração de
produtos alimentícios é prejudicado pelo sabor característico de feijão cru,
sendo necessárias para seu consumo alternativas para mascarar o gosto
desagradável. Neste âmbito, uma opção viável consiste na saborização
destes produtos com polpas de frutas, assim como procedeu Spada
et al. (2015). Com essa medida, as características
sensoriais de sobremesas são aperfeiçoadas, conferindo um maior conteúdo de
vitaminas, fibras, entre outros compostos essenciais à alimentação (CHANG et al., 2010).
O morango (Fragaria x ananassa
Duch) é um fruto muito apreciado em todo o mundo, devido às propriedades sensoriais,
em especial a cor e sabor, e por seus benefícios à saúde (BOMBARELY et al., 2010; KURAS; KORBIN, 2010). Em detrimento de sua
composição em compostos fenólicos, com baixo percentual de calorias, que o
consumo desta fruta está bastante associado à atividade antioxidante, reduzindo
a possibilidade de infecções (VIZZOTTO, 2012; GASPEROTTI et
al., 2015; ZHU et al., 2015).
Além disso, ele apresenta fibras solúveis, minerais (cálcio, ferro,
fósforo e potássio), vitaminas (A, complexo B e C), entre outros compostos
(TACO, 2017). A China liderou a produtividade média mundial de morangos, com
aproximadamente 3 milhões de toneladas (FAO, 2015). O
Brasil movimenta aproximadamente 130 mil toneladas anualmente, sendo Minas
Gerais o estado com 65% da oferta (IBRAF, 2012). O morango é distribuído para o
processamento industrial, na produção de sorvetes, iogurtes e sobremesas, bem
como, para seu consumo in natura
(GIAMPIERI et al., 2012).
Ao longo dos últimos anos, o avanço nos conhecimentos sobre a relação
entre alimentação e saúde tem levado à geração de novos produtos, cujas funções
pretendem ir além do conhecido papel nutricional dos alimentos. Os prebióticos,
por exemplo, são considerados fibras ou ingredientes alimentares que agem sobre
a flora intestinal. Eles proliferam bactérias benéficas ao organismo, reduzem
as bactérias patogênicas e previnem a diarreia e constipação, reduzindo o
colesterol sérico (OLIVEIRA, 2010).
Como exemplo de prebióticos, destaca-se o fruto-oligossacarídeos (FOS),
carboidrato não calórico, que pode ser consumido de forma segura por indivíduos
diabéticos, já que não é metabolizado pelo organismo. Em geral, apresentam
elevada solubilidade, não cristalizam, nem precipitam, bem como possuem um
terço do poder adoçante da sacarose. Eles podem ser utilizados na formulação de
produtos alimentícios em substituição parcial ou total do açúcar, compondo uma
alternativa de agregar valor aos produtos industrializados (PIMENTEL et al., 2012b; SEOLIN et al., 2013; NOBRE et al., 2014).
Associado as suas características nutricionais, é importante que os
alimentos sejam práticos e rápidos para o preparo e consumo. Neste cenário,
destacam-se as sobremesas aeradas tipo mousse,
caracterizadas como uma emulsão de óleo em água. Elas são estabilizadas por
proteínas e incorporadas de ar durante o batimento mecânico, conferindo-lhe uma
textura mais leve, sua principal característica (GRANATO et
al., 2010).
A maioria destas sobremesas é feita a partir de uma base láctea e
apresentam produção e consumo caseiro. Comumente são encontradas em docerias, padarias, lanchonetes e restaurantes, cuja
composição difere no tipo e quantidade dos ingredientes, assim como no modo de
preparo. Por não apresentarem definição técnica, podem ser classificadas como
um “Produto Pronto para o Consumo”, visto que são alimentos preparados e não
necessitam de outros ingredientes para o consumo (SALVIANO et
al., 2012).
Com base no exposto, este trabalho visou avaliar a utilização de
prebióticos fruto-oligossacarídeos como alternativa para agregação de valor em
sobremesas aeradas de morango, sendo empregado como substituto do açúcar
convencional em matriz alimentar não láctea.
MATERIAL E
MÉTODOS
Os produtos foram elaborados no Laboratório de Processamento de
Alimentos, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
do Norte (IFRN), campus Pau dos
Ferros-RN. Foram utilizados extrato de soja (AdeS®), polpa de morango (Nossa Fruta®), gelatina em
pó incolor e sem sabor (Royal®), açúcar cristal (Favo de mel®) e prebióticos -
fruto-oligossacarídeos (Fosvita®), obtidos em
supermercados do município de Pau dos Ferros – RN.
Baseado em testes preliminares, definiu-se três formulações de sobremesas
aeradas de morango, diferenciadas pela substituição parcial e total da sacarose
por fruto-oligossacarídeos (FOS), sendo S1 – (controle) 100% de
sacarose, S2 - 50% de sacarose e 50% de FOS e S3 - 100%
de FOS. Os demais ingredientes utilizados estão descritos na Tabela 1.
Tabela 1. Proporção dos ingredientes utilizados nas
sobremesas aeradas de morango |
|||
Ingredientes |
Sobremesas aeradas de morango |
||
S1 (%) |
S2 (%) |
S3 (%) |
|
Extrato de soja |
45,0 |
45,0 |
45,0 |
Concentrado de morango |
45,0 |
45,0 |
45,0 |
Gelatina em pó |
1,0 |
1,0 |
1,0 |
Sacarose |
9,0 |
4,5 |
- |
Fruto-oligossacarídeos |
- |
4,5 |
9,0 |
S1: controle – 100% sacarose; S2:
50% sacarose e 50% FOS; S3: 100% FOS. |
Para elaboração das sobremesas, preparou-se um concentrado de polpa de morango,
através do aquecimento (agitação constante, a 100 ºC/ 5 min.) de uma mistura de
sacarose 20% e polpas de morango 80%. Em seguida, homogeneizou-se
os ingredientes respectivos de cada formulação, durante 2 minutos (velocidade
máxima), com auxílio de liquidificador industrial (SKYMSEN®).
Todas as formulações foram refrigeradas (4 ºC)
durante 2 horas e, após este período, procedeu-se com a aeração em batedeira
(Arno Agili®) por 10 minutos. As sobremesas foram
acondicionadas em recipientes de polietileno, com capacidade de 200 mL, e
armazenadas sob refrigeração (4°C).
A qualidade microbiológica das sobremesas e do concentrado de morango
foi avaliada em relação a contagem de Coliformes a 35 e 45°C (NMP/g), segundo Silva
et al. (2017b). Estes são parâmetros microbiológicos
estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), na
Resolução RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001 (BRASIL,
2001).
As sobremesas foram analisadas, em triplicata, quanto aos parâmetros
físico-químicos umidade, cinzas (IAL, 2008), lipídeos (FOLCH et
al., 1957), proteínas (AOAC, 2016), carboidratos por diferença (100 - %
lipídeos - % cinzas - % umidade - % proteínas) e valor calórico (BRASIL, 2005).
Avaliou-se a aceitação sensorial de 80 provadores, não treinados, de
acordo com Dutcosky (2013). Os atributos analisados foram cor, aroma,
consistência, sabor e impressão global, utilizando-se escala hedônica de nove
pontos: 9 - gostei muitíssimo, 8 - gostei muito, 7 -
gostei moderadamente, 6 - gostei ligeiramente, 5 – nem gostei/nem desgostei, 4
- desgostei ligeiramente, 3 - desgostei moderadamente, 2 - desgostei muito e 1
- desgostei extremamente.
Calculou-se o Índice de Aceitabilidade Geral das sobremesas, conforme a
Equação 1, Considerando M como a nota média geral
obtida pelo atributo e N como a nota máxima adquirida pelo atributo (GULARTE,
2009).
|
(1) |
Foi avaliada a intenção de compra, através da escala hedônica de cinco
pontos: 5 - certamente compraria o produto, 4 - possivelmente
compraria o produto, 3 - talvez comprasse, talvez não comprasse, 2 - possivelmente
não compraria o produto e 1 - certamente não compraria o produto (DUTCOSKY,
2013).
Os dados obtidos foram avaliados com o auxílio do software Assistat versão 7.7 beta (SILVA; AZEVEDO, 2016).
Utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA), com Delineamento Inteiramente
Casualizado (DIC), sendo com 3 tratamentos e 3
repetições para as análises físico-químicas e 3 tratamentos e 80 repetições
para a avaliação sensorial. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a nível de
5% de significância (p<0,05).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
As sobremesas e o concentrado de morango apresentaram baixas contagens
para Coliformes a 30 e 45ºC (<3 NMP/g), que são microrganismos indicadores
das condições higiênico-sanitárias.
Observa-se a conformidade com a legislação, que preconiza o máximo de 1x102
NMP/g (BRASIL, 2001). Avaliando sobremesas láctea adicionadas de frutooligossacarídeos, Valencia (2015) também obteve baixa
contagem para Coliformes a 45ºC (1 x 10 NMP/g).
Na Tabela 2 estão apresentados os resultados físico-químicos das
sobremesas aeradas de morango.
Tabela 2. Avaliação físico-química das sobremesas aeradas de
morango (valores médios ± desvio-padrão) |
|||
Parâmetros |
Sobremesas aeradas de morango |
||
S1 |
S2 |
S3 |
|
Umidade (%) |
73,63 ± 0,25a |
73,48 ± 0,16a |
73,37 ± 0,17a |
Cinzas (%) |
0,15 ± 0,07a |
0,15 ± 0,13a |
0,15 ± 0,01a |
Lipídeos (%) |
0,59 ± 0,07a |
0,55 ± 0,10a |
0,59 ± 0,09a |
Proteínas (%) |
3,78 ± 0,10a |
3,76 ± 0,08a |
3,72 ± 0,06a |
Carboidratos (%) |
21,85 ± 0,28a |
22,10 ± 0,21a |
22,21 ± 0,12a |
Valor calórico (Kcal/100g) |
107,83 ± 0,95a |
108,23 ± 0,38a |
108,87 ± 1,02a |
S1: controle – 100% sacarose; S2:
50% sacarose e 50% FOS; S3: 100% FOS. Média ± desvio padrão seguidas na linha
pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância. |
Os produtos apresentaram elevado teor de umidade, acima de 73%, não ocorrendo
diferenças significativas (p<0,05) pelo teste de Tukey. É possível que o FOS tenha evitado a perda de água pelas
sobremesas, pois, conforme Silva et al. (2017a), esse prebiótico apresenta capacidade higroscópica e umectante.
Por outro lado, quanto menor o teor de água livre para reações químicas, enzimáticas
e microbiológicas maior o tempo de conservação e
vida-de-prateleira dos produtos (OLIVEIRA et al., 2017).
Quanto ao teor de cinzas, as sobremesas apresentaram média de 0,15%, o que
é considerado baixo. Segundo Pimentel et al. (2012a), o
FOS possui baixo conteúdo mineral. Semelhante a presente pesquisa, Seolin et al. (2013) também observaram
que a substituição da sacarose por fruto-oligossacarídeos não influenciou no
parâmetro de cinzas (0,44 e 0,45%), avaliando sobremesas do tipo sorvetes sabor
cappuccino.
As sobremesas apresentaram interação significativa (p<0,05) para o
teor de lipídeos, podendo ser consideradas de baixo teor lipídico. Segundo a
RDC nº 54 da ANVISA (BRASIL, 2012), um produto é considerado de baixo teor
lipídico, se conter o máximo de 3 g de gordura em uma porção. Assim, a
legislação RDC nº 359, Brasil (2003), define 120 g para cada porção de
sobremesa láctea (classificação que mais se aproxima deste produto).
Observou-se nas sobremesas média de 3,75% para as proteínas, não
diferindo significativamente entre si (p<0,05). Valencia (2015) obteve
resultados semelhantes, entre 3,29 e 3,83%, ao elaborar sobremesa láctea
cremosa de chocolate adicionada de fruto-oligossacarídeo e probióticos. Segundo
Chang et al. (2010), o considerável aporte de
proteínas advém da utilização de extrato de soja, que possui uma excelente
fonte de proteínas, agregando valor as sobremesas desenvolvidas com sua
utilização.
O teor médio de carboidratos foi de 22,05%, não ocorrendo diferença
significativa (p<0,05). Nobre et al. (2014) afirmam
que o FOS é um carboidrato que possibilita o consumo seguro por indivíduos
diabéticos, uma vez que ele não pode ser metabolizado pelo organismo. Em média,
o consumo das sobremesas indicou 108,31 Kcal/100g, demonstrando que a porção
das sobremesas elaboradas neste estudo fornece 129,97 Kcal. Isto é equivalente
a 6,50% de uma dieta balanceada em 2000 Kcal diárias,
viabilizando o consumo por um público que almeja uma dieta com baixo
potencial calórico.
Na Figura 1 estão expressos os resultados da avaliação sensorial, a
qual pode ser utilizada para uma melhor visualização das diferenças e
semelhanças quanto ao perfil hedônico dos respectivos atributos para cada
formulação. Observa-se que o centro da figura indica o ponto zero da escala,
aumentado sua magnitude para as extremidades, sendo que a média de cada
atributo por amostra é marcada no eixo correspondente em que o perfil sensorial
é traçado pela vinculação dos pontos.
Figura 1. Valores hedônicos para os atributos de cada sobremesa
aerada de morango.
A reprodução dos dados sugere que houve diferenças entre os valores
médios das sobremesas, com destaque para consistência, sabor e impressão
global. A sobremesa S1 destacou-se com maiores notas em comparação
as demais.
Os
resultados médios obtidos na avaliação sensorial de aceitação e intenção de
compra das sobremesas aeradas de morango estão expressos na Tabela 3.
Observa-se
que as formulações S1 e S2 apresentaram-se
estatisticamente semelhantes em todos os atributos avaliados, sendo que a
formulação S3 somente não se diferenciou significativamente
(p<0,05) das demais nos atributos cor e aroma. Spada et al. (2015) encontraram resultados semelhantes nos
atributos cor, aroma, consistência, sabor e aceitação global, com médias
variando entre “gostei ligeiramente” e “gostei muito”, ao caracterizar
sobremesas de soja enriquecidas com polpa de goiaba.
Tabela 3.
Análise sensorial de aceitação das sobremesas aeradas de morango (valores
médios ± desvio-padrão) |
|||
Atributos |
Sobremesas aeradas de morango |
||
S1 |
S2 |
S3 |
|
Cor |
7,24 ± 1,18a |
7,00 ± 1,21a |
6,89 ± 1,19a |
Aroma |
7,59 ± 1,37a |
7,62 ± 1,11a |
7,30 ± 1,16a |
Consistência |
6,98 ± 1,50a |
7,01 ± 1,50a |
5,41 ± 1,69b |
Sabor |
6,80 ± 1,59a |
6,56 ± 1,59a |
5,84 ± 1,70b |
Impressão global |
6,98 ± 1,43a |
6,91 ± 1,48a |
6,07 ± 1,60b |
Intenção de compra |
3,59 ± 0,92a |
3,43 ± 1,03a |
2,75 ± 0,94b |
S1: controle – 100% sacarose; S2:
50% sacarose e 50% FOS; S3: 100% FOS. Média ± desvio padrão
seguidas na linha pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo
teste de Tukey a 5% de significância. |
A aceitação e intenção de compra
dos consumidores é influenciada expressivamente pelo
atributo cor, o qual apresentou médias
entre os termos hedônicos “gostei ligeiramente” e “gostei muito”. A cor das
sobremesas foi influenciada pela cor do concentrado de morango. Segundo
Bombarely et al. (2010) e Kuras e Korbin (2010), a cor
do morango indica boa apreciação pelos consumidores em todo o mundo.
O
atributo aroma, mais aceito em todas as sobremesas, indicou termos hedônicos
entre “gostei moderadamente” e “gostei muito”. Estes são superiores aos valores
obtidos por Macedo et al. (2014), variando entre
“gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”, ao avaliar sobremesas do tipo sorvetes
à base de leite de cabra com sabor de frutas tropicais (7,02-7,52).
Com
relação à consistência, observa-se que a formulação S2 demonstrou a
maior média (7,01), respectiva ao termo hedônico “gostei moderadamente”. Tal
fato evidencia o potencial do FOS em nível de 50%. Do mesmo modo, Seolin et al. (2013) obtiveram
maiores resultados na formulação com substituição até 50% de sacarose pelo FOS
em sorvete sabor cappuccino. A aplicação
do FOS pode aperfeiçoar a consistência de produtos, como as sobremesas, devido a propriedade espessante.
O sabor foi o atributo menos
apreciado nas sobremesas. É possível que a adição de FOS tenha influenciado
negativamente na doçura das sobremesas, uma vez que os consumidores comumente
consomem alimentos com elevadas concentrações de açúcares. Pimentel et al. (2012b) e Nobre et al. (2014) afirmam que os
fruto-oligossacarídeos apresentam uma doçura três vezes menor que o poder
adoçante da sacarose.
Deste modo,
a sobremesa mais bem aceita no atributo sabor foi a S1, com média de
6,80, ou seja, “gostei moderadamente”. Também é possível que as baixas notas atribuídas ao sabor tenham sido
decorrentes de uma característica adstringente da soja, pela qual não é bem
aceita, segundo Chang et al. (2010). A soja diminui a
qualidade sensorial de alguns produtos por apresentar sabor característico de
feijão cru (CHANG et al., 2010).
Os
produtos aerados apresentam um apelo sensorial e alto potencial para testes
mercadológicos (GRANATO et al., 2010), reflexo das
médias obtidas nas formulações S1 (6,98) e S2 (6,91) para
a impressão global. Valencia (2015) obteve resultados similares, ao
elaborar sobremesas lácteas cremosas de
chocolate adicionadas de fruto-oligossacarídeo e probióticos,
com médias superiores ao termo hedônico “gostei moderadamente”.
O resultados
obtidos no Índice de Aceitabilidade Geral (IA) das sobremesas aeradas de morango estão apresentados na Figura 2.
Figura 2. Índice de Aceitabilidade Geral das sobremesas aeradas
de morango.
Todas
as sobremesas apresentaram percentagens acima de 70%, destacando-se a
formulação S1, que atingiu quase 80%. Segundo Gularte (2009),
percentuais de IA acima de 70% demonstram boas perspectivas de aceitação para
que os produtos possam ser lançados no mercado. Spada et al. (2015) também encontraram percentuais acima de 70% na
caracterização sensorial de sobremesas de soja enriquecidas com polpa de
goiaba.
Percebe-se mais uma vez notas superiores para os produtos
S1 e S2 na intenção de compra, que não diferiram
significativamente (p<0,05),
destacando a viabilidade na substituição parcial da sacarose pelo FOS. A médias na intenção de compra corresponderam aos termos
“talvez comprasse/talvez não comprasse” e “provavelmente compraria o produto”.
A menor
sensação de doçura provocada pela sobremesa S3, cuja composição
possui 100% de FOS, pode ter sido responsável por seu menor IA e intenção de
compra. Macedo et al. (2014) atingiu uma intenção de
compra correspondente a “talvez comprasse/talvez não comprasse, ao
desenvolverem sorvetes à base de leite de cabra com sabor de frutas tropicais.
CONCLUSÕES
As sobremesas aeradas de morango elaboradas com fruto-oligossacarídeos são
de baixo teor lipídico, sobretudo, baixo teor calórico, com considerável aporte
proteico. As formulações com 100% de sacarose, e 50% sacarose e 50%
fruto-oligossacarídeos são as mais aceitas sensorialmente.
A utilização de prebióticos fruto-oligossacarídeos como alternativa
para agregação de valor em sobremesas aeradas de morango é viável em matriz
alimentar não láctea, requerendo estudos relacionados com a estabilidade
durante o armazenamento e comportamento reológico.
REFERÊNCIAS
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