ARTIGO CIENTÍFICO

 

Classificação fisiológica de sementes florestais quanto a tolerância à dessecação e armazenamento

 

Physiological classification of forest seeds for desiccation and storage tolerance

 

Clasificación fisiológica de semillas forestales para la desecación y tolerancia al almacenamiento

 

Keilyson Naazio Oliveira Moraes¹, Fiama Natacha Lima de Oliveira², Marilene de Campos Bento³, Rychaellen Silva de Brito4, Antônio Gilson Gomes Mesquita5.

 

¹Mestre em Ciência, Inovação e Tecnologia, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, fone: +5568999682720, e-mail: keilysonmoraes@hotmail.com; ²Mestre em Ciência, Inovação e Tecnologia, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, e-mail: fiamanatacha@hotmail.com;  ³Doutora em Biologia Vegetal, Pesquisadora do Laboratório de Analise de Sementes Florestais, Parque Zoobotânico, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, e-mail: marilenepz@yahoo.com.br; 4Doutoranda em Produção Vegetal, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, fone: (68) 999393187, e-mail: rychaellenbrito@gmail.com; 5Professor Titular na Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências Biológica e da Natureza, Rio Branco, Acre, e-mail: mesquitaagg@gmail.com.

 

Recebido: 29/05/2019; Aprovado: 08/12/2019

 

Resumo: Objetivou-se neste estudo classificar as sementes de aguano (Swietenia macrophylla King) e matamatá (Eschweilera juruensis R. Knuth) quanto à tolerância a dessecação pelo método SCR (Seed Coat Ratio), teste de 100 sementes, e pelo protocolo convencional. O experimento foi conduzido no Laboratório de Análises de Sementes Florestais da Universidade Federal do Acre. Para condução dos experimentos pelo método SCR foram utilizadas 40 sementes dissecadas em envoltório e eixo embrionário. Para o teste de 100 sementes foram utilizados dois ambientes, controle seco e controle úmido. Para o método convencional, as sementes de S. macrophylla foram submetidas à secagem a 6 e 5% e E. juruensis à secagem a 12 e 5%, ambas as espécies armazenadas por 90 dias com 5% do grau de umidade. Para avaliar o vigor foi utilizado o teste de emergência. O método SCR para as sementes de S. macrophylla foi de P=0,0046, classificadas como ortodoxas e as sementes de E. juruensis classificadas como recalcitrantes com P=0,96. No teste de 100 sementes a secagem a 15% ocasionou uma germinação de 76% para S. macrophylla e a perca do vigor das sementes de E. juruensis, após a secagem. Quando submetidas a secagem a 5% e armazenadas por 90 dias, as sementes de S. macrophylla apresentaram emergência de 93%, já as sementes de E. juruensis não mantiveram o vigor. A classificação fisiológica das espécies florestais quanto a tolerância a dessecação e ao armazenamento para Swietenia macrophylla classificada ortodoxa e Eschweilera juruensis como recalcitrante.

 

Palavras-chave: Recalcitrantes; Ortodoxas. Sensibilidade à dessecação.

 

Abstract: The objective of this study was to classify the seeds of aguano (Swietenia macrophylla King) and matamatá (Eschweilera juruensis R. Knuth) according to the desiccation tolerance by the SCR method (Seed Coat Ratio), test of 100 seeds, and by the conventional protocol. The experiment was carried out at the Forest Seed Analysis Laboratory of the Federal University of Acre. For conducting the experiments using the SCR method, 40 seeds dissected in wrap and embryonic axis were used. For the test of 100 seeds, two environments were used, dry control and wet control. For the conventional method, the seeds of S. macrophylla were subjected to drying at 6 and 5% and E. juruensis to drying at 12 and 5%, both species stored for 90 days with 5% of moisture content. The emergency test was used to assess vigor. The SCR method for the seeds of S. macrophylla was P = 0.0046, classified as orthodox and the seeds of E. juruensis classified as recalcitrant with P = 0.96. In the 100 seeds test, 15% drying caused 76% germination for S. macrophylla and the loss of vigor of E. juruensis seeds after drying. When submitted to drying at 5% and stored for 90 days, the seeds of S. macrophylla showed an emergence of 93%, whereas the seeds of E. juruensis did not maintain vigor. The physiological classification of forest species according to desiccation and storage tolerance for Swietenia macrophylla classified as orthodox and Eschweilera juruensis as recalcitrant.
 
Key words: Recalcitrants; Orthodox; Sensitivity to desiccation.
 

Resumen: El objetivo de este estudio fue clasificar las semillas de aguano (Swietenia macrophylla King) y matamatá (Eschweilera juruensis R. Knuth) con respecto a la tolerancia a la desecación por el método SCR (Seed Coat Ratio), la prueba de 100 semillas y el protocolo convencional. El experimento se llevó a cabo en el Laboratorio de Análisis de Semillas Forestales de la Universidad Federal de Acre. Para realizar los experimentos utilizando el método SCR, se utilizaron 40 semillas diseccionadas en envoltura y eje embrionario. Para la prueba de 100 semillas, se utilizaron dos ambientes, control seco y control húmedo. Para el método convencional, las semillas de S. macrophylla se sometieron a secado al 6 y 5% y E. juruensis a secado al 12 y 5%, ambas especies almacenadas durante 90 días con un 5% de contenido de humedad. La prueba de emergencia se utilizó para evaluar el vigor. El método SCR para las semillas de S. macrophylla fue P = 0.0046, clasificado como ortodoxo y las semillas de E. juruensis clasificadas como recalcitrantes con P = 0.96. En la prueba de 100 semillas, el 15% de secado causó el 76% de germinación para S. macrophylla y la pérdida de vigor de las semillas de E. juruensis después del secado. Cuando se sometieron a secado al 5% y se almacenaron durante 90 días, las semillas de S. macrophylla mostraron una emergencia del 93%, mientras que las semillas de E. juruensis no mantuvieron el vigor. La clasificación fisiológica de las especies forestales según la tolerancia a la desecación y al almacenamiento de Swietenia macrophylla clasificada como ortodoxa y Eschweilera juruensis como recalcitrante.

 

Palabras clave: Recalcitrantes; Ortodoxo Sensibilidad a la desecación.

 

INTRODUÇÃO

 

O sucesso da conservação de sementes está relacionado com a capacidade de mantê-las vivas em condições atípicas ao processo de germinação, especificamente, com a mínima quantidade de água e com a mais baixa temperatura possível (BARBEDO; SANTOS JUNIOR, 2018). Sendo necessário o conhecimento prévio do seu comportamento fisiológico durante a secagem e o armazenamento, já que sementes de diferentes espécies necessitam de condições especiais para a sua conservação (NERY et al., 2014).

Estima-se que 20 a 25% das espermatófitas produzam sementes não ortodoxas, mas esse percentual pode chegar a valores próximos a 50% em ecossistemas úmidos como florestas tropicais, o que dificulta ou mesmo impede a conservação ex situ dessas espécies, ainda que em médio prazo (WALTERS et al., 2013).  A tolerância à dessecação baseia-se na capacidade dos organismos de recuperar as funções biológicas quando são reidratados, após sofrerem desidratação natural ou artificial (REGO et al., 2013). Consiste-se em uma importante estratégia de adaptação, pois mantém sua viabilidade por um longo período em condições favoráveis (PELISSARI et al., 2013).

As sementes são classificadas em três categorias quanto  à tolerância à dessecação e a capacidade de armazenamento: sementes ortodoxas, que toleram a secagem a baixos teores de água (2-5%) e podem ser armazenadas a baixas temperaturas (-20 ºC) por longos períodos; sementes recalcitrantes comuns entre as espécies florestais da Região Tropical, as quais não toleram dessecação a baixos teores de água, nem o armazenamento a baixas temperaturas; e sementes intermediarias, que toleram a secagem somente até o grau de umidade entre  7 à 10% e não toleram o armazenamento a baixas temperaturas por tempo prolongado (ROBERTS, 1973; ELLIS et al., 1990; HONG; ELLIS, 1996; SACANDÉ et al., 2004).

Metodologias para classificação de sementes de espécies florestais nativas submetidas a dessecação e ao armazenamento são utilizadas por vários pesquisadores. Nery et al. (2014), através do protocolo proposto por Hong e Ellis (1996), classificaram as sementes de Casearia sylvestris e Eremanthus incanus como ortodoxas, após a dessecação e ao armazenamento a -20 °C, as sementes de Qualea grandiflora, foram classificada como intermediárias e as sementes de Guarea kunthiana e Protium heptaphyllum como recalcitrantes. Pritchard et al. (2004), propuseram um teste utilizando apenas 100 sementes o qual pode fornecer indicações preliminares sobre a tolerância à dessecação, sendo utilizado principalmente quando se tem poucas sementes por espécie.

Daws et al. (2006), estudando o comportamento de 104 espécies com relação à sensibilidade à dessecação, concluíram que existe uma tendência para que espécies com maior sensibilidade apresentem maior razão entre o envoltório e a massa de matéria seca da semente, “Seed Coat Ratio” – SCR, descrito por Pritchard et al. (2004). Freitas e Almeida (2016), ao utilizarem esta metodologia puderam classificar 24 espécies florestais em tolerante (ortodoxa) e intolerante (recalcitrante) a dessecação, comparando alguns resultados obtidos com a literatura. Os mesmos concluíram que a previsão da tolerância da semente ao dessecamento pelo método SCR foi eficiente para 42% das espécies estudadas. Do restante, 33% não foram encontrados na literatura e 6% apresentaram resultados oposto ou foram classificadas segundo a literatura como intermediárias.

Diante do exposto este trabalho teve como objetivo classificar as sementes de aguano (Swietenia macrophylla King) e matamatá (Eschweilera juruensis R. Knuth) quanto a tolerância à dessecação e o comportamento no armazenamento pelo método SCR (Seed Coat Ratio), teste de 100 sementes, e pelo protocolo convencional.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

Os frutos de Swietenia macrophylla foram colhidos com auxílio de podão diretamente da copa de duas matrizes, que foram selecionadas com uma distância superior a 100 m entre si,  na zona rural do município de Sena Madureira – Acre, no ramal da Copaíba, nas fazendas “Os Bentos” (1W 00' 18"  , 89S 59' 58" ) e “Copaíba” (73W 32' 52"  , 9S 41' 54") no dia 28 de Julho de 2018. Os frutos de Eschweilera juruensis foram coletados no solo devido já ter ocorrido a queda natural, na Reserva Florestal Humaitá (67W 39' 50”, 9S 45' 07"), na cidade de Porto Acre – Acre, no dia 03 de maio de 2018. Os frutos das duas espécies coletadas foram acondicionados em sacos tipo ráfia e transportados até o Laboratório de Análises de Sementes Florestais do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (PZ/UFAC).

Em laboratório os frutos de Swietenia macrophylla ficaram dispostos sobre lona a pleno sol, a fim de completarem o processo de maturação, caracterizado pela abertura espontânea. O beneficiamento das sementes de ambas as espécies foi realizado manualmente, e logo após as sementes foram acondicionadas em saco plástico transparente e armazenadas em geladeira sob temperatura de 12 °C com 40% de umidade relativa até o início dos experimentos. Antes de cada teste as sementes foram submetidas a assepsia através da imersão em hipoclorito de sódio (NaClO) a 3% da solução comercial com 2,5% de princípio ativo por três minutos, seguindo-se com três enxágues em água (BRASIL, 2013). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC).

Determinação do grau de umidade: O grau de umidade inicial das sementes foi determinado de acordo com Brasil (2009), pelo método de estufa a 105 °C ± 3 °C, por 24 horas, com quatro repetições de 5g de sementes por tratamento, totalizando oito sementes por repetição para S. macrophylla e duas sementes por repetição para E. juruensis.

Classificação fisiológica em relação à secagem e o armazenamento: Para a classificação fisiológica das sementes em relação a secagem e o armazenamento foram testadas três metodologias, a fim de comparar seus resultados.

Método SCR (Seed Coat Ratio): Para a previsão de tolerância ou intolerância ao dessecamento das sementes de S. macrophylla e de E. juruensis, foram utilizadas 40 unidades de sementes (4 repetições de 10 sementes) dissecadas em envoltório e eixo embrionário. O material foi pesado e envolto em papel alumínio e levado a temperatura de 105 °C ± 3 °C, por 24 horas. Posteriormente, calculou-se a massa de cada parte dissecada, com o auxílio de balança de precisão, sendo então calculada a relação do envoltório com a massa da semente – SCR (Seed Coat Ratio) = (Massa seca do envoltório (endocarpo e testa))/(Massa seca da unidade de dispersão). Para o cálculo da probabilidade de a semente ser recalcitrante foi utilizada a equação proposta por Daws et al. (2006); Gold; Hay (2008).

 

Sendo: a = SCR (razão entre a massa seca do envoltório da semente e a massa seca da semente); b = Log10 (peso seco da semente).

 

Então, se P < 0,5 a semente é provavelmente tolerante a dessecação – ortodoxa; Se P > 0,5 a semente é provavelmente sensível à dessecação – recalcitrante.

Método do Teste de 100 sementes: O teste procedeu conforme a metodologia adaptada por Pritchard et al. (2004). Primeiro, determinou-se o grau de umidade de 10 sementes individuais conforme metodologia descrita por Brasil (2009), seguido do teste de germinação em germinador tipo B.O.D com temperatura constante de 30 °C, com duas amostras de 13 sementes, em bandejas plásticas contendo como substrato vermiculita (BRASIL, 2013). Para dessecação foram armazenadas trinta e duas sementes em recipiente de vidro contendo sílica gel em quantidade igual ao peso das sementes. Ao mesmo tempo, foi realizado o controle úmido contendo 32 sementes acondicionadas em recipiente de vidro fechado, utilizando vermiculita umedecida, para manter as condições de umidade; ambas mantidas em ambiente de laboratório (25 °C ±1 °C). Para as amostras dessecadas, foi realizada a troca da sílica gel sempre que necessário e as sementes foram pesadas diariamente até atingirem o grau de umidade de 15%, calculado por meio da equação proposta por Cromarty et al. (1985).

 

Sendo: Pd: Peso desejado (g); Pi: Peso inicial (g); Ui: Umidade inicial (%); Ud: Umidade desejada (%).

 

Quando as sementes atingiram 15% do grau de umidade, foram retiradas seis sementes das amostras dessecadas e seis do controle úmido para se determinar o grau de umidade conforme Brasil (2009). Em seguida, realizou-se o teste de germinação utilizando-se duas amostras de 13 sementes, tanto da amostra dessecada quanto do controle úmido, sendo posteriormente avaliada a porcentagem de germinação. 

Método do protocolo convencional proposto por Hong e Ellis (1996): A metodologia utilizada para a classificação fisiológica das sementes quanto à tolerância ao armazenamento foi baseada no protocolo convencional proposto por Hong e Ellis (1996), com ajuste na temperatura de armazenamento das sementes para -14 °C.

As sementes recém-beneficiadas de S. macrophylla e de E. juruensis foram divididas em subamostras e submetidas à secagem sobre ventilador na temperatura de ambiente de laboratório (25 °C ±1 °C), de acordo com os níveis de hidratação a serem obtidos (6 e 5% para S. macrophylla e de 12 e 5% para E. juruensis). As sementes permaneceram sobre ventilador, sendo realizadas pesagens sucessivas até que o peso encontrado coincidisse com o grau de umidade desejado por meio da expressão proposta por Cromarty et al. (1985). As sementes com grau de umidade de 5% foram acondicionadas em saco transparente de polietileno e armazenadas em congelador a -14 °C por três meses.

O teste de viabilidade foi conduzido em casa de vegetação em bandejas plásticas (47x 37x 10 cm) contendo oito repetições de 50 sementes para S. macrophylla e com quatro repetições de 25 sementes para E. juruensis conforme Brasil (2013), tendo como substrato vermiculita. O experimento foi mantido úmido com irrigações diárias com auxílio de um regador manual.

Das avaliações diárias foram calculadas a porcentagem de emergência das sementes recém-colhidas (Controle) e das sementes submetidas a secagem, além das armazenadas por 90 dias. A estabilização da emergência foi considerada a partir do sétimo dia após a última emergência (MARCOS FILHO, 1999), sendo considerada plântulas normais aquelas com potencial de continuar seu desenvolvimento e sementes mortas, as que não germinaram ou estavam moles e mofadas (BRASIL, 2009).

Análise dos dados: Para verificação dos pressupostos da Análise de Variância, foram realizados os testes de Anderson-Darling para normalidade e de Levene para homogeneidade, ambos ao nível de significância α=0,05. Atendidos os pressupostos, os dados foram submetidos ao teste de Teste Tukey para análise de comparação entre as médias dos tratamentos a significância α=0,05.  As rotinas de cálculos foram realizadas por meio do software estatístico Sisvar (FERREIRA, 2008).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

A relação tegumento/semente (SCR) para espécie S. macrophylla apresentou o valor de P= 0,0046, valor este menor que 0,5 podendo ser classificada como ortodoxa, e as sementes de E. juruensis classificadas como recalcitrantes com P = 0,96.

Alguns atributos das sementes como o tamanho, a massa seca, o formato, o teor de água no momento da dispersão e a razão tegumento/semente (SCR) podem estar correlacionados com a tolerância à dessecação, podendo ser utilizados como preditores para avaliar a resposta das sementes à perda de água (LAN et al., 2014). Sementes sensíveis ao dessecamento geralmente possuem grandes volumes, maior massa seca, tegumento fino e elevado teor de água no momento da dispersão (DAWS et al., 2005; HAMILTON et al., 2013; JAYASURIYA et al., 2013; VAZ et al., 2016) características que foram encontradas nesse estudo com sementes de E. juruensis.

As sementes recém coletadas de S. macrophylla apresentaram grau de umidade inicial de 23% e 42% para as sementes E. juruensis. Ambas as espécies foram submetidas a secagem a 15% de grau de umidade, a fim de se realizar o teste de germinação pelo teste de 100 sementes.

A curva de germinação para as sementes de S. macrophylla foi crescente para todos os tratamentos (Figura 1A). As sementes sem tratamento (testemunha) apresentaram a melhor porcentagem de germinação (100%), seguidas do controle úmido com 92% de germinação e com grau de umidade de 25%, após a secagem a 15% do grau de umidade as sementes apresentaram 76% de germinação.

As sementes de E. juruensis apresentaram germinação inicial (testemunha) de 69%, já aquelas submetidas ao controle úmido apresentaram 54% de germinação com grau de umidade de 48% (Figura 1B). Esse aumento do teor de água pode ter sido devido as sementes estarem em um recipiente selado contendo vermiculita umedecida, favorecendo assim, o aumento da umidade da semente. Para as sementes mantidas no controle seco, foi observado que ao atingirem 15% do teor de água as sementes começaram a apresentar início de deterioração por apresentarem rachaduras no tegumento, perdendo assim, sua viabilidade.

Figura 1. Germinação das sementes de Swietenia macrophylla e Eschweilera juruensis submetidas a secagem a 15% do grau de umidade.

Média seguida pela mesma letra não difere estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. ns – não significativo

 

Pelo protocolo convencional de Hong e Ellis (1996), as sementes de S. macrophylla apresentaram uma alta porcentagem de emergência (93%), após 3 meses de armazenamento a – 14 °C (Tabela 1), portanto, a espécie pode ser classificada como ortodoxa. Os resultados aqui expostos corroboram com estudos feitos por Lima Júnior e Galvão (2005), os quais classificaram as sementes de S. macrophylla como ortodoxas por não apresentarem tolerância à secagem a níveis de 5%, podendo ser armazenadas em embalagens impermeáveis e sob temperatura de 2 a 5 °C por até 8 anos.

De acordo com Roberts (1973), sementes ortodoxas não apenas toleram a dessecação, mas também apresentam aumento em sua longevidade, por meio da redução da temperatura de armazenamento e do grau de umidade. Sementes dispersas com grau de umidade aproximado ou inferior a 20% são susceptíveis a apresentar comportamento ortodoxo quanto ao armazenamento (HONG; ELLIS, 1996). Para as sementes de S. macrophylla recém-coletadas observou-se grau de umidade entorno de 23%, sendo um indicativo do comportamento ortodoxo.

As sementes de E. juruensis apresentaram 60% de emergência com grau de umidade inicial de (41%) sendo que, à medida que as sementes foram submetidas a secagem foi observado a deterioração das mesmas (Tabela 1). Portanto, de acordo com as metodologias utilizadas, as sementes de E. juruensis podem ser classificadas como recalcitrantes.

Sementes de Eschweilera ovata também foram classificadas como sendo recalcitrantes (GUSSON, 2003). Para este tipo de sementes a perda da água desencadeia alguns processos deterioráveis, como a desnaturação de proteínas, alterações na atividade das enzimas peroxidases e danos no sistema de membranas, resultando na completa perda de sua viabilidade (NAUTIYAL; PUROHIT, 1985).

Em estudos feitos com sementes de  Eugenia stipitata, Calvi (2015) observou que essas sementes por serem altamente recalcitrantes, devem ser armazenadas com grau de umidade entre 54,7% e 62,2%, o qual foi obtido devido as sementes serem armazenadas em sacos plásticos com vermiculita umedecida em temperaturas entre 10 e 15 °C. Ainda segundo o mesmo autor, esta  condição  de armazenamento possibilitou as sementes manterem sua viabilidade por até um ano, devido ocasionar um retardo ao metabolismo germinativo, possibilitando a maturação dos embriões e  aumentando assim, a porcentagem final de germinação, em comparação às sementes recém-beneficiadas. 

 

Tabela 1. Teor de água, Germinação e Classificação Fisiológica de duas espécies florestais submetidas a dessecação e o armazenamento.

 

Espécie

Grau de umidade (%)

Emergência (%)

Classificação fisiológica

 

Swietenia macrophylla

Inicial (9%)

6%

5%

      5% Armazenada por 90 dias

95 a

98 a

66 b

93 a

 

Ortodoxa

Eschweilera juruensis

Inicial (41%)

12%

5%

      5% Armazenada por 90 dias

60 a

0 b

0 b

0 b

 

Recalcitrante

Média seguida pela mesma letra não difere estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

Os resultados apresentados ressaltam a necessidade de estudos básicos para se conhecer os mecanismos envolvidos com a tolerância ou sensibilidade a dessecação de sementes e a forma mais adequada para definir a melhor tecnologia de armazenamento principalmente para as espécies recalcitrantes, possibilitando assim a conservação das sementes sem que haja comprometimento na germinação.

 

CONCLUSÕES

 

A classificação fisiológica das espécies florestais quanto a tolerância a dessecação e ao armazenamento para Swietenia macrophylla classificada como tolerante a dessecação e ao armazenamento (ortodoxas) e Eschweilera juruensis como sensíveis a dessecação e ao armazenamento (recalcitrantes).

 

AGRADECIMENTO

 

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

 

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