ARTIGO CIENTÍFICO
Sustentabilidade ecológica e socioeconômica em agroecossistema de base familiar na Província de Gaza, Moçambique
Ecological and socioeconomic
sustainability in a family-based agroecosystem in the Province of Gaza,
Mozambique
Sistema ecológico y
socioeconómico sostenible de agricultura basada en la
familia en la Provincia de Gaza, Mozambique
Eugénio da Piedade Edmundo Sitoe1;
António Elísio Jose2; Stélio Boaventura Paulino
Nuvunga3
1Direcção
Provincial da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional de
Gaza, Moçambique. Mestrado em
Agroecologia no Instituto Superior Politécnico de Gaza (Moçambique), Fone:
+258846515775; e-mail: genitodapiedade@gmail.com;
2Instituto
Superior Politécnico de Gaza, Moçambique.
Doutorado em Ciência e
Tecnologia de Alimentos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, (Brasil);
e-mail: aelisiojose@gmail.com; 3Escola Superior de Negócios e
Empreendedorismo de Chibuto, Moçambique. Mestrado em
Solos e Nutrição de Plantas, Universidade Federal de Viçosa (Brasil); e-mail: stelionuvunga@gmail.com.
Recebido: 20/06/2019; Aprovado: 19/12/2019
Resumo:
A complexidade do
ambiente organizacional e dos novos desafios dos mercados, conduzem a
exploração intensiva e consequente degradação dos recursos naturais, daí que, o
monitoramento dos agroecossistema é indispensável
para o desenvolvimento das unidades de produção. Nessa conjuntura, o trabalho
objetivou avaliar a sustentabilidade da atividade agrícola de Nhocuene, Província de Gaza, Moçambique. O estudo foi
conduzido através da entrevista dirigida aos produtores e analisadas com base
nas técnicas de análise de conteúdo. Avaliou-se 23
indicadores de
dimensão ecológico e socioeconômico. Os resultados mostram níveis instáveis de
sustentabilidade de agroecossistema
de Nhocuene na dimensão ecológica, e socioeconômico.
Isso pode ser justificado pelos níveis baixos de sustentabilidade obtidos nas
dimensões:
(i) ecológica- produtividade (4), intensidade de uso da área (3), matéria
orgânica c/ origem na propriedade (4), variação de produtividade (4), área com
cultivo orgânico (0), diversidade de técnicas alternativas (3) e perda de
colheita (3); (ii) económica-controle económica dos
preços dos produtos (3), controle financeiro das actividades
desenvolvidas (0), forma de apresentação dos produtos nos mercados (1), destino
do produto produzido (3) e dificuldade de acesso a crédito rural (3) e (i)
social - pessoas ocupadas por ha (2), satisfação com actividade
desenvolvida (4), grau de escolaridade (4), participação em cursos de
agricultura (0), organizações e associações (0) e satisfação com assistência
técnica pública (4). As potencialidades do agroecossistema,
ficam evidenciadas nas boas médias encontradas para: (i) dimensão ecológica-
disponibilidade de água (10), áreas com erosão (10); (ii)
dimensão econômica a diversidade produtiva para o consumo da família (9) e resistência
à estiagem (10) e (iii) dimensão social- estado de
saúde dos produtores (10). Com base nos resultados conclui-se que a formação académica
dos profissionais que atuam na assistência técnica em Nhocuene,
deve contemplar a realidade tão diversificada dos agricultores familiares.
Palavras-chave: Actividade Agrícola, Indicadores de sustentabilidade,
Agricultores Familiares.
Abstract: A complex organizational environment
and two new challenges in two markets led to the intensive exploitation and
consequent degradation of two natural resources, which, or monitoring two
agroecosystems and indispensable for the development of productive units. At
this juncture, or work objectively endorse the
sustainability of agricultural activity in Nhocuene,
Gaza Province, Mozambique. Or I was conducted through an interview directed to
producers and analyzed based on content analysis techniques. 23 indicators of
the ecological and socioeconomic dimension. The results show that there are
sustainable agroecosystemic Nhocuene
systems in the ecological and socioeconomic dimension. This can be justified by
the level of sustainability obtained in the following dimensions: (i) ecological production (4), intensity of use of area (3),
organic material with origin of property (4), variation of production (4), area
organic farming (0), diversity of alternative techniques (3) and crop loss (3);
(ii) economic and economic control of two prices of two products (3), financial
control of the activities performed (0), presentation of two products to the
market (1), destination of the product produced (3) and difficulty in accessing
the product. rural credit (3) and (i) social - people
employed by ha (2), satisfaction with the activity developed (4), educational
level (4), participation in agricultural courses (0), organizations and
associations (0) and satisfaction with public technical assistance (4). As
potentialities of the agroecosystem, the means found for: (i)
ecological dimension - water availability (10), areas with erosion (10); (ii)
economic dimension to productive diversity for family consumption or
consumption (9) and drought resistance (10) and (iii) social dimension - health
status of two producers (10). Based on the results, it was concluded that two
academic professionals with technical assistance in Nhocuene
should consider two family farmers academically.
Keywords: Agricultural Activity, Sustainability Indicators, Family
Farmers.
Resumen: La complejidad del entorno organizacional y los nuevos
desafíos de los mercados conducen a la explotación intensiva y la consiguiente
degradación de los recursos naturales, por lo tanto, el monitoreo de los agroecossistemas es indispensable para el desarrollo de las
unidades de producción. En este momento, el trabajo tenía como objetivo evaluar
la sostenibilidad de la actividad agrícola en Nhocuene,
provincia de Gaza, Mozambique. El estudio se realizó a través de entrevistas
con productores y se analizó en base a técnicas de análisis de contenido.
Evaluamos 23 indicadores de dimensión ecológica y socioeconómica. Los
resultados muestran niveles inestables de sostenibilidad del agroecossistema Nhocuene en la
dimensión ecológica y socioeconómica. Esto puede explicarse por los bajos
niveles de sostenibilidad obtenidos en las dimensiones: (i) productividad
ecológica (4), intensidad de uso del área (3), materia orgánica con origen en
la propiedad (4), variación de productividad (4), área con cultivo orgánico
(0), diversidad de técnicas alternativas (3) y pérdida de cultivos (3); (ii) control económico-económico de los precios de los
productos (3), control financiero de las actividades realizadas (0),
presentación de productos en los mercados (1), destino del producto producido
(3) y dificultad para acceder al crédito rural ( 3) y (i) social - personas
empleadas por ha (2), satisfacción con la actividad (4), nivel educativo (4),
participación en cursos agrícolas (0), organizaciones y asociaciones (0) y
satisfacción con el cuidado técnica pública (4). Las potencialidades del agroecossistema se evidencian en los buenos promedios
encontrados para: (i) dimensión ecológica - disponibilidad de agua (10), áreas
con erosión (10); (ii) dimensión económica:
diversidad productiva para el consumo familiar (9) y resistencia a la sequía
(10), y (iii) dimensión de salud social de los
productores (10). Con base en los resultados, se puede concluir que la
educación de los profesionales que trabajan en asistencia técnica en Nhocuene debe abordar la realidad diversa de los
agricultores familiares.
Palabras-clave: Actividad agrícola, Indicadores de sostenibilidad,
Agricultores familiares.
INTRODUÇÃO
O atual contexto organizacional da atividade produtiva em Nhocuene, é baseada no crescimento das relações de produção e consumo, na busca de produtos distintos, com menos ou sem uso de produtos agrotóxicos. Estas atividades trazem incertezas de ordem ecológica, econômica e social e geram necessidades de adaptação das famílias agricultoras no aspeto do desenvolvimento tecnológico amigas do ambiente, (PAULA et al., 2012).
Uma das dificuldades encontradas por vários extensionistas, e agricultores familiares em Nhocuene, é saber o quanto um agroecossistema específico é saudável, ou mais literalmente, em que estado de saúde e sustentabilidade se encontra-se depois de várias atividades nelas desenvolvidas com os pressupostos da agroecologia, ou seja, até que ponto as expectativas dos produtores e consumidores estão sendo satisfeitas. Por outro lado, a falta de conhecimento das consequências advindas pelas práticas de manejo inadequado, afeta, a estabilidade ecológica de um agroecossistema, (ALTIERI., 2013).
Na procura da simetria entre o crescimento socioeconômico e a conservação dos recursos naturais, tem-se nos últimos anos reforçado o protótipo do desenvolvimento sustentável, e para o efeito, tem-se buscado determinar mecanismos hábeis de subsidiar as ações da sociedade que acompanhem na direção do desenvolvimento sustentável (REIS et al., 2013).
É nesse âmbito que surge o conceito do desenvolvimento sustentável. Segundo Fonseca. (2013), a sustentabilidade sugere que haja uma compatibilidade entre a produção e a conservação dos recursos naturais no tempo, embaçados em aspetos ecológicos e associados aos fatores econômicos e sociais. Trata- se de se consciencializar a sociedade atual em atenderem as suas necessidades, sem comprometerem as gerações futuras (CALEGARE et al., 2011).
Para melhor compressão do processo de avaliação de sustentabilidade ecológico e socioeconômico, surgem os indicadores, que são ferramentas estabelecidas com vista a garantia do processo de avaliação de resultados em relação às metas de sustentabilidade, provendo às partes interessadas condições adequadas de acompanhamento e dando suporte ao processo decisório (ALTIERI., 2013).
Mediante a utilização dos indicadores, o presente trabalho teve como objetivo avaliar os pontos críticos de sustentabilidade do agroecossistema de base familiar na região de Nhocuene, Província de Gaza, Moçambique, estabelecendo os indicadores de sustentabilidade na dimensão ecológico e socioeconômico.
Caracterização
da área de estudo
O estudo foi desenvolvido em Nhocuene (25°11'54.05"S; 33°30’42.96"E), distrito de Chongoene (figura 1), província de Gaza, sul de Moçambique, limitado a sul pelo oceano índico, a norte pelo distrito de chibuto, a este pelos distritos de bilene e a oeste pelo distrito de mandlacazi. O local de estudo dispõe, segundo RBL (2018), de uma superfície de 1.908 km2 da qual 919 ha de terra é cultivada por 2023 produtores familiares e uma densidade populacional de 110.6 hab/km2 sendo a relação da dependência económica potencial de aproximadamente 1:1.3, isto é, por cada 10 crianças ou anciões existe 13 pessoas em idade ativa, a população é jovem (44%, abaixo de 15 anos de idade), maioritariamente feminina (taxa de masculinidade de 43%) e de matriz rural (taxa de urbanização de 20%).
O mesmo autor refere que a mesma localidade é influenciado pelos anticiclones dos oceanos índicos e atlânticos e as precipitações ocorrem durante a estação quente, com maior pico em janeiro e fevereiro. A precipitação média anual varia de 825 mm a 1145 mm, decrescendo muito rapidamente da costa para o interior. Os valores da evaporação mensal são ligeiramente mais elevados no interior que na costa, devido à baixa precipitação e às elevadas temperaturas. O período de crescimento vegetal das plantas, decresce da costa para o interior, variando de 308 dias em todo território avaliado.
Figura 1. Localização de Nhocuene distrito de Chongoene,
província de Gaza, sul de Moçambique
Fonte: RBL, 2018
Os solos são machongos com uma camada turfosa de 20 a 100 cm e tipicamente húmidos, sujeitos à atividade de exploração familiar resultante do uso de fogo para a destruição dos restolhos das culturas anteriores e para a limpeza do terreno (figura 2), acompanhado de utilização dos agroquímicos (adubações e pulverizações) para o alcance do rendimento das culturas.
Figura 2. Destruição de restos de culturas com recurso a fogo
Fonte: Dados da pesquisa
2019
O estudo foi conduzido em 2018 e baseou-se em pesquisa bibliográfica e estudo de caso através do método de avaliação dos agroecossistemas com base no uso dos indicadores de sustentabilidade (MASERA et al., 2000; Reis et al., 2013) e método de desenvolvimento integrado sustentável (IDS) - biograma, proposto por Melo e Cândido (2013). O método do uso dos indicadores de sustentabilidade, que consiste em um marco teórico para a identificação e seleção, das dimensões (ecológicos, socioeconômicos) ajudou na obtenção dos indicadores mais vaiáveis para análise da situação atual do agroecossistema de base familiar da região. O método do IDS, que consiste em agrupar os indicadores em respectivas dimensões e atributos, facilitou a criação dos biogramas (gráficos) e sua respectiva interpretação.
O estudo do caso foi baseado em inúmeras visitas feitas à região de Nhocuene e entrevistas dirigidas aos agricultores familiares e o técnico responsável pela área de extensão rural na região. Estas intervenções ajudaram no processo de quantificação do número total dos agricultores da região, seleção e escolhas dos indicadores que se adequassem a situação real. Do total de 2023 produtores familiares registrados e existentes nas unidades de produção em Nhocuene, SIDAE (2018), foram inqueridos 647 e os dados foram analisados com base nos conteúdos descritos por BARDIN (2010).
Foram avaliados 23 indicadores discriminados em 3 dimensões (ecológicas, econômicas e sociais), em uma escala que variava de 0 (estado de sustentabilidade crítica) a 10 (estado ótimo de sustentabilidade), como descrito abaixo.
Na dimensão ecológica (quadro 1), avaliou-se os seguintes indicadores: (i) produtividade do solo, orçada com base na percentagem média obtida na unidade de produção. Com este indicador, avaliou-se o índice de alcance dos bons rendimentos e o nível de variações de produção por hectare com o decorrer do tempo, ponderada de 0 a 10; (ii) disponibilidade de água, obtida com base no volume e constância permanente das fontes de água, ponderada de 0 a 10; (iii) intensidade de uso da área, avaliada com base na análise da intensidade do uso da terra anualmente, em relação aos ganhos obtidos por ano na unidade de produção, ponderada de 0 a 10; (iv) matéria orgânica com origem na propriedade, avaliada conforme a concentração de matéria orgânica produzida na unidade de produção, ponderada de 0 a 10; (v) área com erosão visível, avaliada mediante sinais de erosão e com base nas respostas dadas pelos produtores, em relação a variável em causa, ponderada de 0 a 10; (vi) variação da produtividade, mensurada com base na variação entre a produtividade maior em relação a menor declarada, desde o início da produção até o período do inquérito, ponderada de 0 a 10; (vii) resistência à estiagem, medida com base nas notas atribuídas, em relação a situação dos produtores a quanto da problemática com escassez da água na unidade de produção, ponderada de 0 a 10; (viii) área com cultivo orgânico, obtida com base na percentagem da área com cultivo orgânico certificado em relação ao total da área cultivada, ponderada de 0 a 10; (ix) diversidade técnica, mensurada com base nos valores atribuídos para a quantidade de técnicas alternativas utilizadas na unidade de produção, ponderada de 0 a 10; (x) perda de colheita - quantificada com base nas notas atribuídas para percentagem de perda de colheita nas unidades de produção, ponderada de 0 a 10.
Na dimensão econômica (Quadro 2) avaliou-se: (i) controle sobre os preços dos produtos, orçado mediante a capacidade dos produtores em gerenciarem e alterarem os preços dos seus produtos em função de flutuação nos mercados, ponderado de 0 a 10; (ii) controle financeiro das atividades, avaliado por meio do controle da renda obtida pelos produtores familiares, em relação aos custos de produção e receitas obtidas, ponderado de 0 a 10; (iii) diversidade produtiva para o consumo, medido mediante resultado da produção, na situação, em que a diversidade produtiva diminui os gastos externos com alimentação, ponderado de 0 a 10; (iv) apresentação do produto comercial, mensurado pelo percentual comercializado, conforme parâmetros de ponderação 0 a 10; (v) destino da produção, quantificado do percentual de produtos entregues ao mercado, ponderado de 0 a 10 segundo a forma de apresentação do produto; (vi) acesso a crédito rural, quantificado com base nas notas atribuídas segundo tipo de fonte para crédito rural para empregabilidade no agroecossistema, tendo como parâmetro, crédito rural em bancos, crédito não rural em bancos, outras entidades comerciais, pessoas físicas e falta de financiamento, ponderado de 0 a 10.
Quadro 1. Indicadores de sustentabilidade ecológica
utilizados para avaliar as unidades de produção familiar de Nhocuene |
|||
Indicador e
relação |
Parâmetro |
Nota atribuída |
Estado de sustentabilidade/ situação |
Produtividade do
solo (+) |
Não satisfatório |
0 |
Crítico |
Razoável |
4 |
Instável |
|
Média |
6 |
Estável |
|
Satisfatório |
10 |
Ótimo |
|
Disponibilidade
de água (+) |
Escassa |
0 |
Crítico |
Depende da chuva |
4 |
Instável |
|
Depende de Sistema
de rega |
6 |
Estável |
|
Depende do Lençol freático |
10 |
Ótimo |
|
Intensidade de
uso da área. (-) |
Maior |
0 |
Crítico |
Razoável |
4 |
Instável |
|
Ligeiro |
6 |
Estável |
|
Leve |
10 |
Ótimo |
|
M.O com origem
na propriedade (+) |
Não tem |
0 |
Crítico |
Por vezes |
4 |
Instável |
|
Pouco |
6 |
Estável |
|
Sempre |
10 |
Ótimo |
|
Área com erosão visível (+) |
Severa |
0 |
Crítico |
Pouca |
4 |
Instável |
|
Razoável |
6 |
Estável |
|
Nunca |
10 |
Ótimo |
|
Variação da produtividade (-) |
Variação de 75% |
0 |
Crítico |
Variação de 50% |
4 |
Instável |
|
Variação de 25% |
6 |
Estável |
|
Sem variação |
10 |
Ótimo |
|
Resistência à
estiagem (+) |
Nunca |
0 |
Crítico |
Pouco |
4 |
Instável |
|
Razoável |
6 |
Estável |
|
Sempre |
10 |
Ótimo |
|
Área com cultivo orgânico (+) |
0 % da área |
0 |
Crítico |
25 % da área |
4 |
Instável |
|
50 % da área |
6 |
Estável |
|
75 a 100% da área |
10 |
Ótimo |
|
Diversidade
técnica (+) |
1 Técnica de
cultivo |
0 |
Crítico |
2 Técnicas de cultivo |
4 |
Instável |
|
4 Técnicas de cultivo |
6 |
Estável |
|
+ de 4 técnicas |
10 |
Ótimo |
|
Perda de
colheita (-) |
Até 75% |
0 |
Crítico |
Até 50% |
4 |
Instável |
|
Até 25% |
6 |
Estável |
|
Sem perdas |
10 |
Ótimo |
|
Fonte: Adaptado de Fonseca (2013). |
Quadro 2. Indicadores de sustentabilidade económica utilizados para avaliar as
unidades de produção familiar de Nhocuene |
|||
Indicador e relação |
Parâmetro |
Nota atribuída |
Estado de sustentabilidade/situação |
Controle sobre os
preços dos produtos (+) |
Não a controle |
0 |
Crítico |
Pouco controle |
4 |
Instável |
|
Controle razoável |
6 |
Estável |
|
Muito controle |
10 |
Ótima |
|
Controle financeiro das
atividades (+) |
Não a controle |
0 |
Crítico |
Pouco controle |
4 |
Instável |
|
Controlo razoável |
6 |
Estável |
|
Muito controle |
10 |
Ótima |
|
Diversidade produtiva
para o consumo (+) |
Dependem de 1 atividade |
0 |
Crítico |
Dependem de 2 atividade |
4 |
Instável |
|
Dependem de 4 atividade |
6 |
Estável |
|
Dependem de mais de 4 atividade |
10 |
Ótimo |
|
Apresentação do produto
comercial (+) |
Bruto |
0 |
Crítico |
Limpo |
4 |
Instável |
|
Limpo e embalado |
6 |
Estável |
|
Limpo, embalado e com marca |
10 |
Ótima |
|
Destino da produção (+) |
Consumo |
0 |
Crítico |
Consumo e venda caseira |
4 |
Instável |
|
Consumo e venda em mercado |
6 |
Estável |
|
Consumo interno, venda em mercados e supermercados |
10 |
Ótima |
|
Acesso a crédito rural (+) |
Não consegue empréstimo |
0 |
Crítico |
Credito em outras entidades (agiotas) |
4 |
Instável |
|
Credito rural em bancos |
6 |
Estável |
|
Credito rural em bancos, fundo de desenvolvimento comunitário e fundo dos 7
milhões |
10 |
Ótima |
|
Fonte: Adaptado de Fonseca (2013). |
Na dimensão social
(Quadro 3), avaliou-se: (i) pessoas ocupadas por hectare, obtido através do
número de agricultores familiares que trabalham constantemente na unidade de
produção.
Quadro 3. Indicadores de sustentabilidade social utilizados para avaliarem as
unidades de produção familiar de Nhocuene |
|||
Indicador e relação |
Parâmetro |
Nota atribuída |
Estado de sustentabilidade/situação |
Pessoas
ocupadas por ha (+) |
Ocupado por casal idoso |
0 |
Critico |
Ocupado por casal jovem e respetivos filhos |
4 |
Instável |
|
Ocupado por casal de idosos, filhos e netos |
6 |
Estável |
|
Ocupado por casal de idosos, filhos e netos
e mãos de terceiros (sazonais) |
10 |
Ótimo |
|
Satisfação
com a actividade (+) |
Não satisfeito |
0 |
Critico |
Satisfeito a 25% |
4 |
Instável |
|
Satisfeito a 75 % |
6 |
Estável |
|
Satisfeito a 100% |
10 |
Ótimo |
|
Grau
de Escolaridade (+) |
Sem formação |
0 |
Critico |
Com formação primária |
4 |
Instável |
|
Com nível básico completo |
6 |
Estável |
|
Com nível médio completo |
10 |
Ótimo |
|
Participação
em cursos de agricultura. (+) |
Nunca |
0 |
Critico |
1 Vez por ano |
4 |
Instável |
|
2 Vezes por ano |
6 |
Estável |
|
Sempre |
10 |
Ótimo |
|
Organização
e associativismo (+) |
Sem conhecimento |
0 |
Critico |
Não existe |
4 |
Instável |
|
Existe mas não participo |
6 |
Estável |
|
Existe e participo |
10 |
Ótimo |
|
Estado
de Saúde das pessoas (+) |
Doenças crónicas |
0 |
Critico |
Frequentemente fico doente |
4 |
Instável |
|
Por vezes fico doente |
6 |
Estável |
|
Dificilmente adoeço |
10 |
Ótimo |
|
Satisfação
com assistência técnica pública (+) |
Péssima |
0 |
Critico |
Baixa |
4 |
Instável |
|
Média |
6 |
Estável |
|
Alta |
10 |
Ótimo |
|
Fonte: Adaptado de Fonseca (2013). |
Ainda no quadro 3 avaliou-se
a (ii) satisfação com a atividade desenvolvida,
estimada pela média das notas atribuída segundo
a declaração do produtor em relação a sua satisfação
com a atividade desenvolvida na unidade de produção, ponderada de 0 a 10; (iii) grau de escolaridade,
quantificado o percentual das pessoas com nível escolar que trabalham nas
unidades de produção, ponderada de 0 a 10; (iv)
participação em cursos de agricultura, obtido com base no número de pessoas que
tem cursos de agropecuária, ponderado de 0 a 10; (v) organizações e
associativismos – obtida com base na média das notas atribuídas para casos de existência de produtores que tem
conhecimento de existência de
organizações e associações e que participam, ponderada de 0 a 10; (vi) estado
de saúde, obtido da média das notas atribuídas, segundo o estado de saúde dos
produtores familiares que trabalha na unidade de produção, ponderada de 0 a 10;
(vii) satisfação com assistência técnica, obtida com
base nas notas conferidas, segundo o grau de satisfação dos produtores
familiares em relação à assistência técnica e atividade de extensão rural,
ponderada de 0 a 10.
Definidos os
indicadores, foram determinados os parâmetros que contém informações objetivas,
classificadas pelos agricultores entrevistados. Os parâmetros foram definidos
com base em trabalhos afins, nas informações e/ou colocações dos agricultores. O
uso de parâmetros permitiu atribuir notas para grau de sustentabilidade de cada
indicador conforme a Tabela 1.
Situação |
Notas |
Crítico |
0 |
Instável |
4 |
Estável |
6 |
Ótima |
10 |
Fonte: adaptado de Verona (2008). |
O
cálculo das dimensões foi feito baseando-se nas equações 1 e 2.
Para
obter o índice de cada dimensão, foram somados os valores referentes a cada
indicador e dividido pelo número total do próprio indicador, conforme Eq. 1.
Dimensão =
(Eq. 1)
E para se obter o
índice geral de sustentabilidade do agroecossistema, foram somados
as médias dos valores referentes a cada dimensão e dividido pelo número total
dos indicadores, conforme descrito na Eq. 2.
NGS = (Eq. 2)
Para
análise e interpretação, os dados foram agrupados por indicadores, calculadas
as médias, segundo Bardin (2010), e o seu processamento
foi feito
através do pacote estatístico IBM SPSS
Statistics 25.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Com o presente
estudo, foi possível se fazer uma análise
comparativa entre os índices de sustentabilidade, composto por dados de
dimensões ambientais, econômica e social. Os índices de sustentabilidade do
agroecossistema de base familiar de Nhocuene assumiram níveis críticos (0) e
ótimos (10),
Quadro 4, sendo que os maiores índices, foram observados na dimensão ecológica.
Os baixos níveis de sustentabilidade observado nas dimensões económicas e
social comprometeram a estabilidade de todo
agroecossistema, considerando-se que a média geral de sustentabilidade obtida
foi de 4.
Quadro
4. Dimensões,
indicadores e índices de sustentabilidade do agroecossistema em Nhocuene, Gaza, Moçambique |
|||
DIMENSÃO |
INDICADOR |
Relação |
Índice |
Ecológico |
Produtividade (peso da
produção/ha) |
+ |
4ns |
Disponibilidade de água |
+ |
10* |
|
Intensidade de uso da área da UP |
- |
3ns |
|
Matéria Orgânica com origem na
propriedade (%) |
+ |
4ns |
|
Área com erosão visível |
- |
10* |
|
Variação de produtividade |
- |
4ns |
|
Resistência à estiagem |
+ |
10* |
|
Área com cultivo orgânico |
+ |
0ns |
|
Diversidade de técnicas
alternativas |
+ |
3ns |
|
Perda de colheita |
- |
3ns |
|
Econômico |
Controle sobre os preços dos
produtos |
+ |
3ns |
Controle Financeiro das atividades |
+ |
0ns |
|
Diversidade produtiva para o
consumo da família |
+ |
9* |
|
Apresentação do produto comercial |
+ |
1ns |
|
Destinação da produção |
+ |
3ns |
|
Acesso a crédito rural oficial |
+ |
3ns |
|
Social |
Pessoas ocupadas por ha |
+ |
2ns |
Satisfação com a atividade |
+ |
4ns |
|
Grau de Escolaridade |
+ |
4ns |
|
Participação em cursos de
agricultura. |
+ |
0ns |
|
Organização e associativismo |
+ |
0ns |
|
Estado de Saúde das pessoas |
+ |
10* |
|
Satisfação com assistência técnica
pública |
+ |
4ns |
|
Índice
Geral de Sustentabilidade |
4ns |
||
* = Sustentável, n.s = não sustentável. A relação positiva (+) significa que o aumento no valor da
variável resulta na melhoria do sistema agrícola; negativa (-) significa que
o aumento no valor da variável resulta na piora do sistema agrícola. |
Na figura 3 está exposto
o estado de sustentabilidade geral do agroecossistema onde se observa um baixo
nível de sustentabilidade das três dimensões na manutenção de sustentabilidade
do agroecossistema. Em (A) observa-se a situação da dimensão ecológica, composta por 10
indicadores de sustentabilidade, relacionados a conservação e manutenção da
produtividade dos recursos naturais presentes no agroecossistema. Nota-se que
os indicadores como: disponibilidade de água (média 10), áreas com erosão
visível (média 10) e resistência a estiagem (média 10), apresentam níveis
ótimos de sustentabilidade, quando comparados aos demais indicadores nesta
dimensão. Os resultados mostram que são vários os indicadores da dimensão
ecológica que necessitam de ações para melhoria da sua sustentabilidade no seio
dos agricultores familiares de Nhocuene, visto que apresentam desempenho entre
crítico e instável.
Os indicadores que comprometeram a sustentabilidade da
dimensão ecológica são: produtividade (4), intensidade de uso da área da unidade
de produção (3), matéria orgânica com origem na propriedade (4), variação de
produtividade (4), área com cultivo orgânico (0), diversidade de técnicas
alternativas (3) e perda de colheita (3). A média geral do desempenho deste
indicador foi de 5 que mostra um estado instável de sustentabilidade da
dimensão, daí que medidas futuras devem ser tomadas em consideração para a melhoria,
pois segundo FAGUNDES et al. (2000) e RICARTEL et al. (2006) “cuidados ecológicos, são necessários para garantir e
preservar as condições gerais de estabilidade entre as atividades produtivas e
o meio ecológico”.
Resultados similares, foram obtidos pelo Marzall
e Almeida (2000) quando avaliavam o contributo da dimensão ecológica na
sustentabilidade dos agroecossistemas, tendo
constatado que várias ações devem ser levadas acabo no âmbito da produção para
a garantia da manutenção e estabilidade dos agroecossistemas
a longo período do tempo. Para Jesus (2005) Altieri
(2013) e Paula et al. (2012), a sustentabilidade ecológica só pode ser
alcançada quando a humanidade perceber e respeitar as distintas interações
ecológicas presentes entre vários níveis tróficos na natureza, pois segundo
Santo et al. (2014), os elementos
existentes na natureza interagem entre si e de si com o meio ambiente em uma
interdependência de uns dos outros para a manutenção de sustentabilidade
ecológica dos agroecossistemas. Para Paula et al.,
(2012) essa inteiração, parte dos produtores, passa pelos consumidores em
várias ordens e terminam em decompositores, que fazem a decomposição da matéria
orgânica, transformando-a novamente em matéria inorgânica que passa a ser utilizado
pelos produtores (processo de transformação da matéria). Daí, quando baseado
nos princípios do Fagundes et al. (2000), essas interações podem ser alcançadas
pela incorporação da matéria orgânica, utilização da diversificação de técnicas
do cultivo amigas do ambiente e pelo processo de internalização das
externalidades resultantes do processo produtivo.
Figura 3. Estado de sustentabilidade
do agroecossistema. (A) Dimensão ecológica; (B) Dimensão
econômica; (C) Dimensão social
Em (B) da figura anterior é representada a situação da
dimensão econômica, composta por 06 indicadores de sustentabilidade, expressa
pela capacidade dos sistemas de alcançar crescimento econômico com prudência
ambiental e equidade social. A média geral da dimensão fixou-se em 3, da qual o
maior nível de sustentabilidade foi encontrado no indicador diversidade
produtiva para o consumo familiar, com nota 9 e o menor no controle financeiro
da atividade, nota 0.
Jesus (2005) também identificou, num estudo de género, uma realidade
de baixo desempenho desta dimensão, tendo salientado que suas constatações
resultavam da falta de educação financeira dos agricultores aliada ao baixo
nível de escolaridade que estes detêm. O mesmo autor salienta que o nível de
sustentabilidade econômica pode ser alcançado pelo processo de agregação de
valor dos produtos produzidos, para além de se tornar possível e acessível os
tramites de acesso a créditos rurais aos produtores familiares. Neste quesito, Paula
et al. (2012)
indicam que o baixo nível de escolaridade e a falta de educação financeira
dificultam o processo de tomada de decisão mais acertada para a rentabilização
de qualquer atividade económica.
Como representado na figura 3 (C), ficou evidente que a
maior parte dos indicadores avaliados na dimensão social apresentou índice de
sustentabilidade entre crítico e instável, salvo o indicador estado de saúde
dos produtores que teve classificação ótima (10). Outros indicadores como pessoas
ocupadas por há, nota 2, satisfação com atividade desenvolvida, 4, grau de
escolaridade, 4, participação em cursos de agricultura, 0, organizações e
associações, 0 e satisfação com assistência técnica pública, 4, comprometeram o
estado de sustentabilidade do indicador como um todo. A média geral, 4, da dimensão
acima demostrou estado instável de sustentabilidade.
Coutinho (2014), avaliando a sustentabilidade de 2
agroecossistemas com barragens subterrâneas, encontrou resultados semelhantes, tendo
verificado que para que se garanta o índice de sustentabilidade da dimensão
social é importante que se reenterre que uma parte dos indicadores avaliados
neta dimensão não são gerenciados isoladamente pelos agricultores, mas tem o
desempenho influenciado pela ação do estado de cada País. De igual modo, Stefanoski et al.
(2013) constataram situação similar em
pesquisa com 4 agroecossistemas familiares, onde apuraram que o ponto de
partida para a sustentabilidade da dimensão social é resultante do processo de
fortificação da rede de extensão rural com impacto significativo no processo de
transferência, consolidação e materialização dos mesmo pelos agricultores
familiares.
Conforme indicado na figura 4, o nível de escolaridade varia
de ensino primário (253), básico (218), médio (79) e sem nenhuma formação (124)
dificultando, por conseguinte, o processo de tomada de decisão para a garantia
da sustentabilidade dos agroecossistemas, assumindo que Reis e Cândido
(2013), Jesus (2005) revelam a educação sendo a feramente chave que modifica
positivamente a forma de pensar do ser humano, dando a eles o poder inovador.
Jesus (2005) indica ainda que para que a dimensão social
seja sustentável, é necessário que a extensão rural trabalhe perfeitamente em
prol da satisfação dos agricultores, dando a estes, ferramenta chave que
garanta a capacidade de seleção de melhores técnicas de produção amigas do
ambiente.
O agroecossistema
de base familiar de Nhocuene é um sistema de produção agrícola que está em estado
instável de sustentabilidade cuja média (4) é resultado dos baixos níveis de desempenho
alcançados por maior parte dos indicadores. Os baixos níveis de
sustentabilidade são expressos em: (i) na dimensão
ecológico 5, (ii) dimensão económica 3 e na dimensão social 4. Esses valores
obtidos nas dimensões, estão em estado critico a instável, contudo, para a
sua melhoria rumo a garantia da sua sustentabilidade, considera-se importante o
engajamento entre os agricultores, sociedade e o poder público, com o intuito
de fortalecer a atividade agrícola e, por conseguinte, a construção de um
agroecossistema mais sustentável, viabilizando, assim, a existência de ações e
práticas que corroborem com o desenvolvimento local.
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