Filmes comestíveis de blendas políméricas de quitosana, pectina e fécula de mandioca
Edible films from polyneric blends of chitosan, pectin and cassava starch
Películas
comestibles de mezclas
poliméricas de quitosano, pectina y almidón de yuca
Tamara Lorena Eufrazio da Costa1;
Ricardo Henrique de Lima Leite2; Edna Maria Mendes Aroucha3;
Francisco Klebson Gomes dos Santos4
1Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Engenharia de Materiais, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido,
Mossoró, Rio Grande do Norte; loreninha_0403@hotmail.com; 2Professor da Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, Mossoró, RN, +558433178200, ricardoleite@ufersa.edu.br; 3Professora da Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, Mossoró, RN, aroucha@ufersa.edu.br; 4Professor da Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, Mossoró, RN, klebson@ufersa.edu.br
Recebido: 04/07/2019; Aprovado: 24/09/2020
Resumo: Os materiais poliméricos não biodegradáveis, tem se tornado um
problema devido ao longo tempo de degradação destes no meio ambiente. Assim,
estudos demonstram interesse em relação ao desenvolvimento de filmes
poliméricos e misturas destes como materiais funcionais nas mais diversas
áreas, especialmente devido a suas características como biocompatibilidade,
biodegradabilidade e não-toxicidade. Logo, objetivou-se desenvolver e
caracterizar filmes comestíveis produzidos por blendas poliméricas, compostas
por polissacarídeos naturais, visando sua utilização como recobrimentos
comestíveis para frutos. Foram desenvolvidos sete filmes poliméricos pela
técnica casting: filme 1 (Quitosana),
filme 2 (Pectina), filme 3 (Fécula de Mandioca), filme 4 (Quitosana + Pectina),
filme 5 (Quitosana + Fécula de Mandioca), filme 6 (Pectina + Fécula de
Mandioca) e filme 7 (Quitosana + Pectina + Fécula de Mandioca). Todos
apresentaram superfícies homogêneas e sem separação de fases. Em relação às
propriedades óticas, todos obtiveram alta luminosidade, sendo que os mais
opacos foram os de quitosana, apresentando L* 77,40 ± 0,28 (4). Quanto as
propriedades de barreira, os valores de solubilidade foram menores nos que
continham quitosana devido a sua insolubilidade em água, sendo 22% para o 1 e
18% para o 5. Os filmes formados pelas blendas proporcionaram redução da taxa
de permeação de água sem comprometer suas características, como os filmes 4 e
5, com taxa de 14,15 g.m-2.h-1 e 20,43 g.m-2.h-1,
respectivamente.
Palavras-chave: Filmes Comestíveis; Propriedades de barreira; Vida
de prateleira.
Abstract: Non-biodegradable polymeric materials have
become a problem due to their long degradation time in the environment. Thus,
studies show interest in the development of polymeric films and mixtures of
these as functional materials in the most diverse areas, especially due to
their characteristics such as biocompatibility, biodegradability and
non-toxicity. Therefore, the objective was to develop and characterize edible
films produced by polymeric blends, composed of natural polysaccharides, aiming
at their use as edible coatings for fruits. Seven polymeric films were
developed using the casting technique: film 1 (Chitosan), film 2 (Pectin), film
3 (Cassava Starch), film 4 (Chitosan + Pectin), film 5 (Chitosan + Cassava
Starch), film 6 (Pectin + Cassava Starch) and film 7 (Chitosan + Pectin +
Cassava Starch). All presented homogeneous surfaces and without phase
separation. Regarding optical properties, all obtained high luminosity, the most opaque being those of chitosan, presenting L * 77.40 ±
0.28 (4). Regarding the barrier properties, the solubility values were lower
in those containing chitosan due to their insolubility in water, 22% for 1 and
18% for 5. The films formed by the blends provided a reduction in the water
permeation rate without compromise its characteristics, such as 4 and 5, with a
rate of 14.15 g.m-2.h-1 and 20.43 g.m-2.h-1,
respectively.
Key
words: Edible Films; Barrier properties; Shelf life.
Resumen: Los materiales poliméricos
no biodegradables se han convertido en un problema debido a su largo tiempo de
degradación en el medio ambiente. Así, los estudios muestran interés en el
desarrollo de películas poliméricas y mezclas de estas como materiales funcionales
en las más diversas áreas, especialmente por sus características como
biocompatibilidad, biodegradabilidad y no toxicidad. Por lo tanto, el objetivo
fue desarrollar y caracterizar películas comestibles producidas por mezclas
poliméricas, compuestas por polisacáridos naturales, con el objetivo de su uso
como recubrimientos comestibles para frutas. Se desarrollaron siete películas
poliméricas mediante la técnica de casting: película 1
(Quitosano), película 2 (Pectina), película 3 (Fécula de yuca), película 4
(Quitosano + Pectina), película 5 (Quitosano + Fécula de yuca), película 6
(Pectina + Almidón de yuca) y película 7 (Quitosano + Pectina + Almidón de
yuca). Todos presentaron superficies homogéneas y sin separación de fases. En
cuanto a las propiedades ópticas, todas obtuvieron alta luminosidad, siendo las
más opacas las del quitosano, presentando L * 77.40 ± 0.28 (4). En cuanto las propiedades barrera, los valores de solubilidad fueron
menores en los que contenían quitosano debido a su insolubilidad en agua, 22%
para 1 y 18% para 5. Las películas formadas por las mezclas proporcionaron una
reducción en la tasa de permeación del agua sin comprometer sus
características, como 4 y 5, con una tasa de 14,15 g.m-2.h-1
y 20,43 g.m-2.h-1, respectivamente.
Palabras llave: Películas comestibles;
Propiedades de barrera; Duración.
INTRODUÇÃO
Filmes comestíveis produzidos por polímeros podem ser uma alternativa
eficiente para o prolongamento da vida útil dos alimentos (FAKHOURI et al.,
2015), por outro lado, os mesmos são bastantes
hidrofílicos e tendem a se desestruturar facilmente. Para tentar sanar esse
problema, estão ganhando destaques novos estudos com a mistura entre os
polímeros, as chamadas blendas poliméricas, com a finalidade de formar novos
materiais com propriedades de superfície melhoradas e biocompatibilidade em
comparação com as do único componente (LEWANDOWSKA et al., 2015).
Para a formação de blendas poliméricas, os polissacarídeos estão sendo
estudados como bons candidatos, pois são amplamente utilizados para a obtenção
de filmes comestíveis, devido às suas propriedades e estruturas de redes
poliméricas, e principalmente por serem boas barreiras ao dióxido de carbono,
eficazes na redução das trocas gasosas e das taxas de reações oxidativas, no
entanto, apresentam a desvantagem de serem bastante hidrofílicos (ALVES et al.,
2010).
A quitosana é um polissacarídeo derivado da desacetilação
da quitina com características de biodegradabilidade, antimicrobiana e
antifúngica (THEVARAJAH et al., 2017). Entretanto, tem alta permeabilidade ao
vapor de água, principalmente devido ao seu caráter hidrofílico (AGUIRRE-LOREDO
et al., 2016).
A pectina é um polissacarídeo natural e a sua utilização é crescente
devido à elevada disponibilidade e à não toxicidade, aliadas ao baixo custo
(RAMPINO et al., 2016), porém, como desvantagem apresentam filmes muito frágeis
e hidrofílicos, o que impede sua ampla aplicação (NESIC et al., 2017).
A fécula de mandioca é um polímero natural obtido de recursos
renováveis, abundante e de baixo custo, com comportamento termoplástico (MARAN
et al., 2013; SELIGRA et al., 2016). No entanto, filmes obtidos a partir desse
material possuem restrições tecnológicas devido ao seu caráter hidrofílico e à
sua alta retrogradação. A partir disso, a reação de reticulação com ácido cítrico é comum para limitar a retrogradação do amido e melhorar o seu desempenho para
várias aplicações (SELIGRA et al., 2016).
Baseado no exposto objetivou-se desenvolver filmes comestíveis
produzidos por blendas poliméricas dos polissacarídeos naturais, quitosana,
pectina e fécula de mandioca.
MATERIAL E
MÉTODOS
Os materiais utilizados foram: quitosana em pó (Grau de desacetilação de 85%), fornecida pela Polymar
Indústria e Com. Imp. e Exp Ltda® - Brasil; amido de
mandioca (18% em peso de amilose e 82% em peso de amilopectina), obtido da
Primícias do Brasil®, localizada na cidade de Macaíba – RN; pectina
e glicerol, obtidos da Dinâmica Química Contemporânea Ltda – Brasil; ácido
acético P.A glacial, pureza mínima de 99,8%, obtido da PROQUÍMIOS Comércio e
Indústria®, localizada no Rio de Janeiro – Brasil; ácido cítrico anidro P.A,
usado como agente de reticulação do amido, obtido da
QHEMIS Indústria química do Brasil Ltda® – Brasil.
Foram preparadas soluções individuais de cada componente polimérico, a
uma concentração de 2% em relação à massa seca do polímero 20 g/L, e o
glicerol, adicionado em 20% (base seca de polímero), como plastificante. A
solução de quitosana foi preparada por dissolução em ácido acético 1%, sob
agitação para a completa dissolução por até 12h a 26°C (BARON et al., 2017). A
solução de fécula de mandioca foi preparada por dissolução do polímero em água
destilada. Ácido cítrico foi adicionado a 10% (base seca de fécula) como agente
reticulante, conforme descrito por Seligra et al., (2016); a mistura foi agitada até completa
dissolução sob aquecimento até 70°C; atingindo essa temperatura, a agitação
continuou por mais 15 minutos. A solução de pectina foi preparada diluindo o
polímero em água destilada, com agitação constante até a completa dissolução
(BARON et al., 2017).
As soluções foram depositadas (80mL) em placas de acrílico com diâmetro
de 15 cm. Os filmes foram formados pela técnica casting, sendo deixados para secar durante 4 à 6h, utilizando uma
estufa com circulação de ar a 40ºC. A Tabela 1 resume a constituição de cada
filme.
Tabela 1.
Planejamento Experimental com a composição dos filmes comestíveis produzidos |
||
Filme |
Biopolímero |
Composição (%) |
1 |
Quitosana |
100 |
2 |
Pectina |
100 |
3 |
Fécula de Mandioca |
100 |
4 |
Quitosana + Pectina |
50 + 50 |
5 |
Quitosana + Fécula de Mandioca |
50 + 50 |
6 |
Pectina + Fécula de Mandioca |
50 + 50 |
7 |
Quitosana + Pectina + Fécula de Mandioca |
33,33 + 33,33 + 33,33 |
A espessura média foi realizada por um micrômetro digital Mitutoyo® (precisão de 0,001mm) em 5 posições diferentes
dos filmes, de acordo com Luchese et al., (2015). As
medidas de cor dos filmes, assim como a opacidade, foram determinadas com um colorímetro Konica Minolta®,
modelo CR-10, e utilizando os parâmetros de cores CIELab
de acordo com Zavareze et al., (2012). Avaliaram-se
os valores de L [luminosidade (0 - preto, 100 - branco)], a [de verde (-) ao
vermelho (+)], e b [de azul (-) a amarelo (+)].
A opacidade dos filmes (Y) foi realizada de acordo com o método de Fakhouri et al., (2015), sendo calculada conforme Eq. 1,
descrita por Zavareze et al., (2012), sendo Ypreto e Ybranco
a opacidade obtida em fundo preto e em fundo branco, respectivamente.
Y = (Ypreto/Ybranco) x 100 (Eq. 1)
A determinação da solubilidade (S) foi seguida de acordo com
metodologia desenvolvida por Casariego et al. (2009),
e determinada conforme a Eq. 2, onde mi e mf são as massas inicial e final do filme:
S = ((mi - mf)/ mi) x 100
(Eq. 2)
A Taxa de Permeabilidade ao Vapor de Água (TPVA) dos filmes foi
determinada utilizando adaptação da norma padrão ASTM E96-80 da American Society for Testing
and Materials (ASTM,
1980). Foram cortados quadrados de 2 cm x 2 cm e posicionados sobre o orifício
de células de permeação, de modo que a única perda de massa ocorre pelo fluxo
de vapor de água através dos filmes. Em seguida as células foram depositadas
dentro de um dessecador contendo sílica como dessecante. Foram realizadas
pesagens de hora em hora, medindo a massa das células de permeabilidade. Foi
calculada e plotada a inclinação da curva (massa de água versus tempo) por
regressão linear, representada pelas alterações no peso de água que se difunde
através do filme por unidade de tempo (g/s). A TPVA foi calculada a partir do
coeficiente linear da reta dividido pela área de transferência (m²). Assim, a
TPVA (g/m2.h) dos filmes foi medida de acordo com a Eq. 3.
TPVA = m / (t x A) (Eq.
3)
Em que: m - massa de água que atravessa o filme (g); t
- tempo no qual ocorre a perda de massa (h); A - área exposta do filme (m2).
O ângulo de contato foi determinado pela técnica da gota séssil,
composto por uma base móvel, uma câmera (VP 540s, Intelbras®)
e uma pipeta (PASSERONE et al., 1979; SIDDIQI et al., 2000; BOINOVICH et al.,
2014). A resistência à tração e a percentagem de alongamento à ruptura foram
avaliadas por um teste de tração segundo o método ASTM D-882-91 (1996),
utilizando-se uma máquina universal de ensaios DL 10000, com capacidade máxima
de 100 kN, marca EMIC – Equipamentos e Sistemas de
Ensaios Ltda®.
As amostras seguiram a mesma norma e foram avaliadas com 50 mm de
comprimento e 5 mm de largura. A força e a distância foram registradas durante
a extensão das amostras a 0,8 mm/s até à ruptura. A resistência à tração foi
calculada dividindo a força máxima pela secção transversal do filme, conforme a
Eq.4. O alongamento na ruptura foi calculado pelo comprimento causado pela
tensão dividido pelo comprimento inicial, de acordo com a Eq. 5.
σ =
Fm / A
(Eq. 4)
ϵ =
ΔL / L0 x 100
(Eq.
5)
Em que: σ - resistência à tração (MPa); Fm - força máxima (N); A - área de seção
transversal do filme (m2); ϵ - alongamento (%); L0 -
distância inicial de separação (m); L - distância de ruptura (m).
A avaliação da morfologia dos filmes foi
feita por microscópio eletrônico de varredura, com alta resolução da superfície
das amostras. As amostras de filme foram fixadas em suportes (stubs) de
alumínio, com fita adesiva de carbono e recobertas com uma fina camada de ouro,
em um metalizador a vácuo, modelo Q150R. Foi aplicada
uma tensão de 10 kV, com magnitude de 1000x. O equipamento utilizado é da marca
TESCAN®, modelo VEGA 3.
Todos os ensaios foram realizados em triplicata. Os dados foram
submetidos à análise de variância (ANOVA), e as médias comparadas pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade. O software utilizado foi
o Sttatistica versão 13.2 (Tibco
Inc., USA).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
A Tabela 2 apresenta os valores de espessura, parâmetros de cor e
opacidade dos filmes e blendas biopoliméricas. Houve
diferença estatística (p < 0,05) para a espessura comparando as blendas com
os filmes individuais. A variação nos valores das espessuras dos filmes é
decorrente principalmente do processo casting,
onde os filmes são secos em suportes, gerando pequenas variações de espessuras.
Bof et al., (2015) encontraram cerca de 0,066 mm para
blendas de amido de milho e quitosana (na proporção de 50% de cada polímero),
havendo diferença estatística (p<0,05) comparando as blendas com os filmes
individuais.
Tabela 2. Espessura e propriedades ópticas dos
filmes comestíveis
produzidos por blendas poliméricas dos polissacarídeos naturais, quitosana, pectina
e fécula de mandioca |
|||||
Filme |
Espessura (mm) |
COR |
Opacidade |
||
a* |
b* |
L* |
|||
1 |
0,059 ± 0,002cd |
-3,55 ± 0,07c |
34,65 ± 1,91a |
81,00 ± 0,71b |
45,31 ± 0,13b |
2 |
0,055 ± 0,004de |
-2,95 ± 0,07d |
12,15 ± 0,21b |
83,15 ± 0,07cd |
45,40 ± 0,12b |
3 |
0,050 ± 0,001e |
-2,85 ± 0,07d |
7,85 ± 0,07b |
84,40 ± 0,14c |
45,14± 0,24b |
4 |
0,067 ± 0,004a |
-3,05 ± 0,21d |
33,70 ± 1,98a |
77,40 ± 0,28a |
46,96 ± 0,45a |
5 |
0,056 ± 0,002cd |
-3,85 ± 0,07c |
17,00 ± 0,14c |
82,20 ± 0,14bd |
45,56 ± 0,16b |
6 |
0,041 ± 0,002b |
-7,65 ± 0,07a |
10,55 ± 0,21b |
83,65 ± 0,07cd |
45,31 ± 0,13b |
7 |
0,061 ± 0,003c |
-4,95 ± 0,07b |
20,05 ± 1,48c |
81,20 ± 0,57b |
45,75 ± 0,58ab |
Letras diferentes nas colunas indicam diferença
estatística (p<0,05),
pelo teste de Tukey a 5% de
significância. Filme 1 – 100% quitosana; Filme 2 – 100 % pectina; Filme 3 –
100 % fécula de mandioca; Filme 4 – 50 % quitosana + 50 % pectina; Filme 5 –
50 % quitosana + 50 % fécula de mandioca; Filme 6 – 50 % pectina + 50 %
fécula de mandioca; Filme 7 – 33,33 % quitosana + 33,33 % pectina + 33,34%
fécula de mandioca |
Azevedo et al. (2017) estudando o efeito da substituição do amido de
milho por proteína de soro de leite em blendas biodegradáveis, encontraram
filmes mais
espessos variando entre 0,33 e 0,39 mm e não apresentaram diferença
significativa (p <0,05). Fakhoury et al. (2012) formulando filmes a partir de misturas de amido de mandioca e
gelatina com diferentes plastificantes, obtiveram
filmes transparentes e ligeiramente brilhantes com espessura variando
entre 0,034 e 0,075 mm, percebendo
aumento na espessura a medida que aumentava a quantidade de amido ou gelatina.
O parâmetro a*, que corresponde a uma tendência ao verde, apresentou
diferença significativa (p <0,05) para as blendas. Os filmes contendo quitosana
apresentam uma coloração mais amarelada, parâmetro b*, mostrando diferença
significativa (p < 0,05). O parâmetro L*, referente à luminosidade, sofreu
uma redução para os filmes 1, 5 e 7. Todos estes resultados estão associados à
cor natural da matéria-prima utilizada para obtenção dos
mesmos (o pó de quitosana).
A opacidade dos filmes diferiu estatisticamente (p < 0,05) apenas
para o filme 4, havendo uma redução da luminosidade L* = 77,40, corroborando
com o valor encontrado de opacidade para este filme (46,96).
Azevedo et al. (2017) estudando as propriedades de transparência óptica
em filmes com substituição do amido de milho pelo isolado de proteína de soro
de leite, concluíram que estas apresentaram diferença significativa (p
<0,05). Para a luminosidade (L*), não apresentou diferença significativa (p
<0,05) variando de 85,17 a 88,75.
A Tabela 3 apresenta os resultados de solubilidade, TPVA, ângulo de
contato e as medidas de resistência à tração e alongamento na ruptura dos
filmes e blendas poliméricas. Os filmes 2 e 6 se dispersaram e perderam sua
integridade, devido à alta solubilidade em água, o que não é uma característica
desejada para filmes que serão usados para o recobrimento de frutos, pois estes
não devem se desintegrar tão facilmente. Uma diferença estatística (p<0,05)
foi observada entre a solubilidade das blendas em comparação com os filmes
individuais.
Observou-se uma discreta
diminuição dos valores de solubilidade nas misturas binárias e na ternária com
exceção do filme 6 que se manteve na média de 65% de solubilidade em água. Isso
se deve a interação da hidroxila do glicerol com a matriz polimérica dos
polissacarídeos, aumentando os espaços entre as cadeias e a mobilidade
molecular, facilitando a migração de moléculas de vapor de água pelo filme e,
por conseguinte, aumentando a solubilidade (BELIBI et al., 2014).
Os valores mais altos de TPVA nos filmes individuais podem ser
explicados pela interação com o glicerol, onde este pode alojar-se facilmente
entre as moléculas do polímero e formar ligações de hidrogênio com os grupos
hidroxila (AZEVEDO et al., 2017). O comportamento observado para as blendas
demonstra que a integridade destas foi o fator determinante para suas
propriedades de barreira, e pode ser explicado pela teoria de volume livre para
polímeros, em que um plastificante a baixa concentração é intercalado na cadeia
polimérica sem levar a um aumento no volume livre (MENEGUIN et al., 2014). Com ênfase
para o filme 5, da blenda quitosana/fécula, onde o tipo de ligação de
hidrogênio reduz a disponibilidade de grupos hidrofílicos nas matrizes de
quitosana, reduzindo a TPVA (BOF et al., 2015).
Chillo et
al. (2008) observaram que a TPVA é influenciada pelo glicerol, sendo maior à
medida que aumenta a concentração do plastificante.
Azevedo et al. (2015) estudaram o efeito do ácido cítrico em filmes de
proteína de soro de leite e relataram uma redução na TPVA com adição de ácido
cítrico a 5%. Segundo os autores, a ligação de hidrogênio formada com um grupo
hidroxila e um grupo carboxila aumenta a interação inter/intramolecular
entre os aditivos presentes no filme.
Levando em consideração o que Jaramillo et
al. (2015) propõem em seus estudos, pode-se admitir que a menor hidrofilia ou maior hidrofobicidade
será encontrada em ângulos acima de 65º e o contrário se admite para ângulos
abaixo de 65º.
Jaramillo
et al., (2015) e Hosseini et al., (2016) afirmam que
um aumento dos valores de ângulo de contato das blendas, demonstra que estas
apresentam maior hidrofobicidade em comparação com os
filmes individuais. Assim, os valores de ângulo de contato encontrados
demonstraram filmes hidrofílicos, com resultados que também sugerem que os
materiais produzidos não oferecem uma barreira superficial significativa e que
as forças adesivas são maiores em relação às forças coesivas da água (JARAMILLO
et al., 2015).
Na Tabela 3 estão também os valores das propriedades mecânicas dos
filmes de resistência à tração e alongamento na ruptura. Os resultados dos
parâmetros de tração apresentam valores de rigidez com uma leve alteração
principalmente nas blendas que continham fécula de mandioca (filme 5 com σ = 0,031 MPa e filme 7 com σ = 0,023 MPa)
em comparação com o filme individual deste polímero que apresentava σ = 0,004 MPa. O alongamento na ruptura não
apresentou diferença significativa (p<0,05), com a mistura de polímeros,
apenas no filme 5, blenda de quitosana e fécula houve um aumento do alongamento
para ϵ = 2,402% em relação ao filme individual de
fécula de mandioca. Estas características são importantes nos materiais
de embalagem e podem contribuir para prever suas propriedades mecânicas como
embalagens de alimentos (SONG et al., 2018).
A Figura 1 apresenta imagens da análise morfológica realizada dos
filmes. Nas Figuras 1A e 1B, observa-se uma estrutura coesa e sem poros,
indicando gelatinização eficiente. No filme de fécula, Figura 1C, percebe-se o
grau de rugosidade alterado, porém diminuído nas blendas que continham esse
polímero, podendo-se inferir que isso tenha sido ocasionado pela adição do
ácido cítrico nessa solução polimérica. Bonilla et
al. (2013) estudando as propriedades da blenda de amido de trigo e quitosana
com a incorporação de antioxidantes, obtiveram uma microestrutura de filme
pouco heterogêneo inferindo que o ácido cítrico não afetou a rugosidade. Nos
filmes 4 e 7, Figuras 1D e 1G, ocorre uma certa irregularidade, como um
emaranhado na estrutura, ocasionada por uma possível separação de fases,
podendo indicar que são misturas parcialmente miscíveis. Essas irregularidades
podem ter ocorrido devido à não uniformização das soluções filmogênicas;
ou pela presença de mais de uma macromolécula na matriz polimérica; ou ainda,
as mudanças observadas na morfologia estão relacionadas às interações ente os
compostos poliméricos onde as forças repulsivas e/ou interações eletrostáticas
entre os componentes nas misturas podem levar ao aumento de tamanhos de microdomínios (LEWANDOWSKA et al., 2015).
Figura 1. Microscopia eletrônica de varredura dos filmes: Quitosana (A), Pectina (B), Fécula de Mandioca (C),
Quitosana/Pectina (D), Quitosana/Fécula (E), Pectina/Fécula (F), Quitosana/pectina/fécula
(G).
CONCLUSÕES
A melhor blenda é a de quitosana/fécula de mandioca, pois obteve bom desempenho
com relação às propriedades de solubilidade, TPVA, e a miscibilidade. Sendo
assim, a formação de blendas modifica a estrutura polimérica dos filmes puros,
proporcionando melhoras nas propriedades dos filmes poliméricos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade Federal Rural do Semi-Árido, por todo suporte ao trabalho.
REFERÊNCIAS
AGUIRRE
- LOREDO, R. Y.; RODRÍGUEZ - HERNÁNDEZ, A. I.; MORALES - SÁNCHEZ, E.;
GÓMEZ-ALDAPA, C. A.; VELAZQUEZ, G. Effect of equilibrium moisture content on barrier, mechanical
and thermal properties of chitosan
films. Food Chemistry, v. 196, p. 560–566, 2016. 10.1016/j.foodchem.2015.09.065
ALVES, V. D.; COSTA, N.;
COELHOSO, I. M. Barrier properties of biodegradable composite films based on
kappa-carrageenan/pectin blends and mica flakes. Carbohydrate
Polymers, v. 79, n. 2, p. 269–276, 2010. 10.1016/j.carbpol.2009.08.002
ASTM
E96/E80M (1980). Standard test methods for water vapour
transmission of materials. Annual Book of Standards.
ASTM D882-91. (1996). Standard
test methods for tensile properties of thin plastic sheeting. Annual Book of
Standards.
AZEVEDO, V. M.; SILVA, E. K.;
PEREIRA, C. F. G.; COSTA, J. M. G. DA; BORGES, S. V. Whey protein isolate
biodegradable films: Influence of the citric acid and montmorillonite clay
nanoparticles on the physical properties. Food Hydrocolloids, v. 43, p.
252-258, 2015. 10.1016/j.foodhyd.2014.05.027
AZEVEDO, V. M.; BORGES, S. V.;
MARCONCINI, J. M.; YOSHIDA, M. I.; NETO, A. R. S.; PEREIRA, T. C.; PEREIRA, C.
F. G. Effect of replacement of corn starch by whey protein isolate in
biodegradable film blends obtained by extrusion. Carbohydrate Polymers, v. 157,
p. 971–980, 2017. 10.1016/j.carbpol.2016.10.046
BARON, R. D.; PÉREZ, L. L.;
SALCEDO, J. M.; CÓRDOBA, L. P.; SOBRAL, P. J. DO A. Production and
characterization of films based on blends of chitosan from blue crab (Callinectes
sapidus) waste and pectin from Orange (Citrus sinensis Osbeck) peel.
International Journal of Biological Macromolecules, v. 98, p. 676–683, 2017. 10.1016/j.ijbiomac.2017.02.004.
BELIBI, P. C.; DAOU, T. J.;
NDJAKA, J. M. B.; NSOM, D.; MICHELIN, L.; DURAND, B. A comparative study of
some properties of cassava and tree cassava starch films. Physics Procedia, v.
55, p. 220–226, 2014. 10.1016/j.phpro.2014.07.032 .
BOF, M. J.; BORDAGARAY, V. C.;
LOCASO, D. E.; GARCÍA, M. A. Chitosan molecular weight effect on
starch-composite film properties. Food Hydrocolloids, v. 51, p. 281–294, 2015. 10.1016/j.foodhyd.2015.05.018
BOINOVICH, L.; EMELYANENKO, A.
M.; KOROLEV, V. V; PASHININ, A. S. Effect of wettability on sessile drop freezing: when superhydrophobicity
stimulates an extreme freezing delay. Langmuir, v. 30, n. 6, p. 1659-1668 , 2014. 10.1021/la403796g
BONILLA, J.; TALÓN, E.;
ATARÉS, L.; VARGAS, M.; CHIRALT, A. Effect of the incorporation of antioxidants
on physicochemical and antioxidant properties of wheat starch – chitosan films.
Journal of Food Engineering, v. 118, n. 3, p. 271–278, 2013. 10.1016/j.jfoodeng.2013.04.008.
CASARIEGO, A.; SOUZA, B. W.
S.; CERQUEIRA, M. A.; TEIXEIRA, J. A.; CRUS, L.; DÍAZ, R.; VICENTE, A. A.
Chitosan/clay films properties as affected by biopolymer and clay
micro/nanoparticles concentrations. Food Hydrocolloids, v. 23, n. 7, p.
1895–1902, 2009. 10.1016/j.foodhyd.2009.02.007
CHILLO, S.; FLORES, S.;
MASTROMATTEO, M.; CONTE, A.; GERSCHENSON, L.; DEL NOBILE, M. A. Influence of
glycerol and chitosan on tapioca starch-based edible film properties. Journal of Food Engineering,
v. 88, n. 2, p. 159–168, 2008. 10.1016/j.jfoodeng.2008.02.002
CIELAB
– COMISSÃO INTERNACIONAL DE ILUMINAÇÃO – Sistema de cores, 1976. Disponível em: <http://www.sightgrip.co.uk/bbstest.htm>.
FAKHOURI, F. M.; MARTELLI, S.
M.; CAON, T.; VELASCO, J. I.; MEI, L. H. I. Edible films and coatings based on
starch/gelatin: Film properties and effect of coatings on quality of
refrigerated red crimson grapes. Postharvest Biology and Technology, v. 109, p.
57–64, 2015. 10.1016/j.postharvbio.2015.05.015.
HOSSEINI, S. F.; REZAEI, M.;
ZANDI, M.; FARAHMANDGHAVI, F. Development of bioactive fish gelatin/chitosan
nanoparticles composite films with antimicrobial properties. Food Chemistry, v.
194, p. 1266–1274, 2016. 10.1016/j.foodchem.2015.09.004.
JARAMILLO, C. M.; SELIGRA, P.
G.; GOYANES, S.; BERNAL, C.; FAMÁ, L. Biofilms based on cassava starch
containing extract of yerba mate as antioxidant and plasticizer. Starch, v. 67,
p. 780–789, 2015. 10.1002/star.201500033 .
LEWANDOWSKA, K.; SIONKOWSKA,
A.; GRABSKA, S. Chitosan blends containing hyaluronic acid and collagen.
Compatibility behaviour. Journal of Molecular
Liquids, v. 212, p. 879–884, 2015. 10.1016/j.molliq.2015.10.047.
LUCHESE, C. L.; FRICK, J. M.;
PATZER, V. L.; SPADA, J. C.; TESSARO, I. C. Synthesis and characterization of
biofilms using native and modified pinhão starch.
Food Hydrocolloids, v. 45, p. 203–210, 2015. 10.1016/j.foodhyd.2014.11.015
MARAN, J. P.; SIVAKUMAR, V.;
SRIDHAR, R.; THIRUGNANASAMBANDHAM, K. Development of model for barrier and
optical properties of tapioca starch based edible films. Carbohydrate Polymers,
v. 92, n. 2, p. 1335–1347, 2013. 10.1016/j.carbpol.2012.09.069.
MENEGUIN, A. B.; CURY, B. S.
F.; EVANGELISTA, R. C. Films from resistant starch-pectin dispersions intended
for colonic drug delivery. Carbohydrate Polymers, v. 99, p. 140–149, 2014. 10.1016/j.carbpol.2013.07.077.
NESIC, A.; ONJIA, A.;
DAVIDOVIC, S.; DIMITRIJEVIC, S; ERRICO, M. E.; SANTAGATA, G.; MALINCONICO, M.
Design of pectin-sodium alginate based films for potential healthcare
application: Study of chemico-physical interactions
between the components of films and assessment of their antimicrobial activity.
Carbohydrate Polymers, v. 157, p. 981–990, 2017. 10.1016/j.carbpol.2016.10.054
PASSERONE, A.; SANGIORGI, R.;
VALBUSA, G. surface tension and density of molten glasses in the system La2O3
Na2 Si2O5. Ceramurgia
International, v. 5. n. 1. p. 18-22, 1979. 10.1016/0390-5519(79)90005-X.
RAMPINO, A.; BORGOGNA, M.;
BELLICH, B.; BLASI, P.; VIRGILIO, F.; CESARO, A. Chitosan-pectin hybrid
nanoparticles prepared by coating and blending techniques. European Journal of
Pharmaceutical Sciences, v. 84, p. 37–45, 2016. 10.1016/j.ejps.2016.01.004.
SELIGRA, P. G.; JARAMILLO, C.
M.; FAMÁ, L.; GOYANES, S. Biodegradable and non-retrogradable
eco-films based on starch-glycerol with citric acid as crosslinking agent.
Carbohydrate Polymers, v. 138, p. 66–74, 2016. 10.1016/j.carbpol.2015.11.041.
SIDDIQI, N.; BHOI, B.;
PARAMGURU, R. K.; SAHAJWALLA, V.; OSTROVSKI, O. Slag - graphite wettability and
reaction kinetics Part 1 Kinetics and mechanism of molten FeO
reduction reaction. Ironmaking & steelmaking, v. 27, n. 5, p. 367-372,
2000. 10.1179/030192300677679.
SONG, X.; ZUO, G.; CHEN, F.
Effect of essential oil and surfactant on the physical and antimicrobial
properties of corn and wheat starch films. International Journal of Biological
Macromolecules, v. 107, p. 1302–1309, 2018. 10.1016/j.ijbiomac.2017.09.114.
THEVARAJAH, J. J.; LEEUWEN, M.
P. VAN; COTTET, H.; CASTIGNOLLES, P.; GABORIEAU, M. Determination of the
distributions of degrees of acetylation of chitosan. International Journal of
Biological Macromolecules, v. 95, p. 40–48, 2017. 10.1016/j.ijbiomac.2016.10.056.
ZAVAREZE, E. DA R.; PINTO, V.
Z.; KLEIN, B.; HALAL, S. M. L. EL; ELIAS, M. C.; HERNÁNDEZ, C. P.; DIAS, A. R.
G. Development of oxidised and heat-moisture treated
potato starch film. Food chemistry, v. 132, n. 1, p. 344–350, 2012. 10.1016/j.foodchem.2011.10.090.