ARTIGO CIENTÍFICO

 

Sustentabilidade e diversidade vegetal em agroecossistemas no município de Bragança Paulista, São Paulo

 

Sustainability and plant diversity in agroecosystems in Bragança Paulista, São Paulo, Brazil

 

Sostenibilidad y diversidad vegetal en agroecosistemas en Bragança Paulista, São Paulo, Brasil

 

 

Clovis José Fernandes de Oliveira Júnior1; Salomé Sarachu Santana2

 

1Pesquisador Científico no Instituto de Botânica da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, São Paulo floraacao@gmail.com; 2Bióloga, Universidade de São Paulo, São Paulo, salomesantana4@hotmail.com.

 

Recebido: 25/07/2019; Aprovado: 19/12/2019

 

Resumo: Devido a crescente constatação dos efeitos negativos da agricultura empresarial e das grandes monoculturas sobre o meio ambiente e os ecossistemas naturais, considerando ainda a presença de resíduos de pesticidas no alimento produzido, muitos pesquisadores têm apontado a necessidade de se pensar modelos de produção agrícola com maior equilíbrio socioambiental. Os sistemas agroflorestais e a utilização de espécies nativas encontram-se no rol de possibilidades que apresentam maior resiliência ecológica e promotora de desenvolvimento sustentável, capaz de produzir alimentos saudáveis, gerar renda e prover serviços ambientais e ecossistêmicos. Este trabalho, por meio de estudos em sistemas agroflorestais plantados por agricultoras e agricultores familiares na região do município de Bragança Paulista (SP, Brasil), objetivou analisar a diversidade de espécies encontrada nos agroecossistemas. As espécies foram categorizadas conforme sua origem e função no sistema, sendo também calculados os índices de diversidade e dominância. Buscou-se relacionar os resultados encontrados à sustentabilidade, no sentido de se construir parâmetros que possam avaliar a prestação de serviços ambientais pelo agroecossistema. Foi encontrado maior predomínio de espécies alimentares, em preterimento das espécies adubadeiras, bem como um equilíbrio entre exóticas e nativas. Os agroecossistemas apresentaram boa diversidade, com baixo índice de dominância. Concluímos que a categorização das espécies possibilita melhor planejamento da área, pois facilita a visualização das funções ecológicas que o agroecossistema é capaz de produzir, e que somado aos índices de diversidade, auxiliam na construção de parâmetros para monitorar a sustentabilidade e resiliência ecológica da propriedade.

 

Palavras-chave: Agroecologia; Sistemas agroflorestais; Agricultura familiar; Sociobiodiversidade.

 

Abstract: Due to growing evidence of the negative effects of corporate agriculture and large monocultures affecting the environment and natural ecosystems, and also considering the presence of pesticide residues in the food produced, many researchers are pointing to the need to ponder about models of agricultural production with greater socio-environmental balance. Agroforestry systems and the use of native species are among the possibilities that present greater ecological resilience and promote sustainable development, capable of producing healthy food, generating income and providing environmental and ecosystem services. This work, developed through studies on agroforestry systems planted by family farmers in the region of Bragança Paulista (SP, Brazil), aimed to analyze the diversity of species found in agroecosystems. Species were categorized according to their origin and function in the system, and diversity and dominance indices were also calculated. This study focused in relating to sustainability the results found in it, in order to build parameters that can evaluate the provision of environmental services by agroecosystem(s). A higher predominance of nutritional species, in disregard of fertilizing species was found, as well as a balance between exotic and native. Agroecosystems showed good diversity, with low dominance index. We conclude that classification of species allows a better planning of the area as it facilitates the visualization of the ecological functions that the agroecosystem is capable of producing and that, added to the diversity indices, help building parameters to monitor the sustainability and ecological resilience of the farm.

 

Key words: Agroecology; Agroforestry systems; Family farming; Sociobiodiversity.

 

Resumen: Debido a la creciente comprensión de los efectos negativos de la agricultura corporativa y los grandes monocultivos en el medio ambiente y los ecosistemas naturales, y considerando la presencia de residuos de pesticidas en los alimentos producidos, muchos investigadores han señalado la necesidad de pensar en modelos de producción agrícola con mayor equilibrio socioambiental. Los sistemas agroforestales y el uso de especies nativas se encuentran entre las posibilidades que presentan una mayor resiliencia ecológica y promueven un desarrollo sostenible, capaz de producir alimentos saludables, generar ingresos y proporcionar servicios ambientales y ecosistémicos. Este trabajo, a través de estudios sobre sistemas agroforestales plantados por agricultores familiares en la región de Bragança Paulista (SP, Brasil), tuvo como objetivo analizar la diversidad de especies que se encuentran en los agroecosistemas. Las especies se clasificaron según su origen y función en el sistema, y también se calcularon los índices de diversidad y dominancia. Intentamos relacionar los resultados encontrados con la sostenibilidad, a fin de construir parámetros que puedan evaluar la provisión de servicios ambientales por agroecosistemas. Se encontró un mayor predominio de especies alimenticias, en preferencia de especies fertilizantes, así como un equilibrio entre especies exóticas y nativas. Los agroecosistemas mostraron buena diversidad, con bajo índice de dominancia. Concluimos que la categorización de especies permite una mejor planificación del área, ya que facilita la visualización de las funciones ecológicas que el agroecosistema es capaz de producir, y eso sumado a los índices de diversidad, ayuda en la construcción de parámetros para monitorear la sostenibilidad y la resiliencia ecológica de la propiedad.

 

Palabras clave: Agroecología; Sistemas agroforestales; Agricultura familiar; Sociobiodiversidad.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Estudos apontam a insustentabilidade socioeconômica e ambiental no planeta, a qual está alicerçada no atual paradigma de produção e consumo, com alta pressão sobre os ecossistemas e recursos naturais (BROOKS et al., 2006; MORAN; OSTROM, 2009; CHAVES; CAMPOS, 2012). A partir dos avanços nos estudos da economia ecológica (MAY et al., 2003; CAVALCANTI, 2004; 2010) tornou-se mais fácil a percepção que sistemas agrícolas de base ecológica, como a agroecologia, são capazes de prover valiosos serviços ambientais (JOSE, 2009; OLIVEIRA JR. et al., 2014), promovendo a manutenção dos ciclos biogeoquímicos e maior resiliência ecológica (ALTIERI, 1999; SWIFT et al., 2004; JACKSON et al., 2007; CHAPPELL; LAVALLE, 2011).

Para Moran (2009), as florestas fornecem serviços ambientais essenciais para a estabilização do clima, pois transpiram grandes volumes de água, alimentando a umidade relativa do ar e o regime de chuvas, além de promover a recarga de águas subterrâneas; podem ainda armazenar carbono como biomassa vegetal e proteger o solo contra processos de erosão. De modo semelhante, as agroflorestas podem, ao mesmo tempo, apresentar grande produção de alimentos e produzir serviços ambientais (ALAVALAPATI et al., 2004; JACKSON et al., 2007; JOSE, 2009), com grande potencial ainda de reduzir a dependência de petróleo na agricultura (SOUZA et al., 2012), dentro de uma percepção de agricultura de baixo carbono (SACHS, 2010).

As agroflorestas e sistemas agroflorestais (SAFs), baseados em princípios agroecológicos, são capazes de apresentar maior resiliência, principalmente quando comparado ao modelo convencional de produção agrícola (HARVEY et al., 2008). Apresentam externalidades positivas não só para os recursos naturais, mas também permitem benefícios econômicos, sociais e culturais (EWEL, 1999; ALAVALAPATI et al., 2004; JOSE, 2009; RAMOS et al., 2009; LUNELLI et al., 2013). Sua prática data de milhares de anos por povos tradicionais (ANDERSON; POSEY, 1987). No entanto, apenas a partir de 1977, com a criação do ICRAF (Centro Internacional para Pesquisa Agroflorestal) é que seus estudos ganharam destaque na ciência acadêmica.

Atualmente as agroflorestas já são apontadas por diversos pesquisadores como uma prática restaurativa, podendo contrapor os efeitos degradativos do modelo dominante de agricultura (AMADOR, 2008; PASTUR et al., 2012). Os olhares e percepções sobre as alterações ecológicas no ambiente, em função da prática da agricultura adotada, têm sido cada vez mais interdisciplinares e sistêmicos (WORSTER, 2003). Aspectos como funções ecológicas, soberania alimentar e qualidade de vida local passaram a direcionar muitos estudos na relação entre a terra e a sociedade (HAINES-YOUNG, 2009).

Em relação à diversidade, as agroflorestas biodiversas e sucessionais contêm geralmente mais de 100 espécies de plantas por agroecossistema, que são utilizadas para produção de alimentos, madeiras (construções e ferramentas), espécies medicinais e funcionais (adubação verde, quebra-vento, cerca-viva), entre outras (ALTIERI, 1999). Além desses benefícios diretos para os seres humanos, as árvores nestes sistemas minimizam a lixiviação e a erosão do solo, restaurando a ciclagem e reposição de importantes nutrientes do crescimento vegetal (DOLLINGER; JOSE, 2018), seja bombeando-os de camadas mais profundas e depositadas em superfície através das podas, seja pela fixação biológica realizada por microrganismos (ALTIERI, 1999). Deste modo, é otimizada a produção de biomassa vegetal para cobertura do solo, aumentando a diversidade de espécies utilizada no agroecossistema, já que várias delas são plantadas como espécies adubadeiras, reduzindo assim a entrada externa de insumos (SOUZA et al., 2012).

O estudo das relações entre o uso da terra e biodiversidade é bastante complexo, porque ambos os conceitos são multifacetados e de difícil definição em suas relações (HAINES-YOUNG, 2009). Assim, cientistas ecólogos e agrícolas, entre outros, deveriam interagir para estudar modelos de produção baseados no uso dos recursos locais, buscando uma compreensão mais clara de como os serviços ambientais do agroecossistema variam de acordo com as práticas utilizadas, contribuindo assim para desenvolver estratégias mais sustentáveis de manejo no uso da terra (WOOD et al., 2015). No meio rural, o desenvolvimento sustentável deve abordar dimensões distintas, como a conservação dos recursos naturais e dos serviços ambientais, a utilização de tecnologias apropriadas ao equilíbrio ambiental, e apresentar viabilidade econômica, social e cultural (FERRAZ, 2003).

A diversidade biológica dos sistemas agroflorestais contribui para a restauração ecológica em virtude da função que cada espécie exerce dentro do sistema (JACKSON et al., 2007; AMADOR, 2008). Além de ampliar o valor estético da paisagem local (CLERGUE et al., 2005). Contribui também com o potencial econômico da sociobiodiversidade, diversificando as possibilidades de geração de renda e trabalho (RAMOS et al., 2009), com a consolidação de novas cadeias produtivas a partir da flora local (SEMEGHINI et al., 2012; OLIVEIRA JR et al., 2018). Consideramos ainda que o uso de espécies nativas contribui no aumento da resiliência dos agroecossistemas, pois elas são mais adaptadas às condições edáficas e climáticas locais, e consequentemente, com menor possibilidade de ataque de insetos e doenças (JACKSON et al., 2007; OLIVEIRA JR; CABREIRA, 2012).

Este trabalho teve por objetivos analisar a diversidade e a categorização de espécies utilizadas na construção de agroecossistemas na região do município de Bragança Paulista (SP), colaborando na construção de parâmetros para análise da sustentabilidade e prestação de serviços ambientais pelo agroecossistema.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

Os estudos foram desenvolvidos junto à Cooperativa Entre Serras e Águas, a qual é formada por agricultoras e agricultores familiares de Bragança Paulista, tendo cooperados também em municípios vizinhos como, Socorro, Joanópolis, Nazaré Paulista, Atibaia e Jarinu (São Paulo, Brasil). Desde 2010, parte dos integrantes adotou certificação de produção orgânica, em modelo participativo. A cooperativa atende, além de mercados tradicionais e vendas diretas, os mercados institucionais, por meio do Programa Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Foi contemplada com edital do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS) - Microbacias II, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, no qual 14 agricultores aderiram ao projeto. O PDRS teve por objetivos a implantação de sistemas agroflorestais levando-se em consideração a abertura de novos mercados a partir da utilização de espécies nativas.

De geografia e relevo bastante acidentado, a cidade de Bragança Paulista é considerada uma das estâncias climáticas do estado de São Paulo. A classificação do clima é oceânico temperado (Cfb), de acordo com a Köppen e Geiger; com temperatura média de 18,2°C; e pluviosidade média anual de 1.397 mm; a altitude média é de 850 m, com pico de 1.700 m. No passado, a cidade já foi grande produtora de café, tendo acolhido também grandes rebanhos de bovinos, equinos e principalmente suínos. Na região, a linguiça produzida no município é conhecida pela excelente qualidade.

A unidade básica para análise é o agroecossistema (FERRAZ, 2003). Os dados foram recolhidos a partir das listagens dos projetos de cada participante, e a seleção dos participantes foi de modo intencional não probabilístico, sendo inseridos todos os beneficiários do PDRS, num total de 14 agroecossistemas. As espécies utilizadas em cada agroecossistema foram listadas e categorizadas em alimentar, madeireira e adubação, podendo ser classificada em mais de uma categoria (OLIVEIRA JR; CABREIRA, 2011).

A nomenclatura das espécies e seu local de origem foram checados nos sites Flora do Brasil (2010) e The Plant List (2013). Para as espécies utilizadas, foram pesquisadas informações sobre: a) família botânica; b) uso econômico principal; c) origem, se exótica ou nativa; d) o estrato que ocupa, considerando que para os sistemas agroflorestais, o estrato refere-se à capacidade de adaptação à exposição ao sol e não especificamente à altura da planta, deste modo, as espécies de estrato emergente ou alto são plantas adaptadas a radiação solar mais intensa, enquanto as de estrato médio toleram algum sombreamento e as de estrato baixo toleram um sombreamento maior; e) ciclo de vida, sendo as espécies de ciclo curto com até 30-40 anos, as de ciclo médio de 40 a 100 anos, e as de ciclo longo mais de 100 anos; f) produção, início da produção e produtividade por pé; g) estágio de sucessão, pioneira e não pioneira; h) dispersão de sementes, sendo anemocórica, zoocórica e autocórica.

Em cada agroecossistema foi calculado a diversidade alfa (S), o número de indivíduos (I), o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H), e o índice de dominância (D), os dados foram calculados e analisados com auxilio do programa PAST 3.19 (HAMMER et al., 2001).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

O projeto desenvolvido pela cooperativa Entre Serras e Águas, dentro do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS), resultou na implantação de 14 áreas com sistemas agroflorestais (SAFs). Nos desenhos dos SAFs foi utilizado um total de 65 espécies arbóreas, sendo 50 nativas, de origem no território brasileiro, representando 32 famílias botânicas (Tabela 1). As famílias que tiveram maior número de espécies na composição dos SAFs são apresentadas na Figura 1.

 

Tabela 1. Espécies utilizadas na composição de sistemas agroflorestais em unidades da agricultura familiar na região do município de Bragança Paulista, São Paulo.

Nome Científico

Nome Popular

Uso

Origem

Estrato

Ciclo de Vida

Produção

Sucessão

Dispersão

ANACARDIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Schinus terebinthifolia Raddi

aroeira-pimenteira

al-ad

N

M-A

M

 

P

Z

Schinus molle L.

aroeira-salsa

ad

NNR

M-A

M

 

P

Z

Mangifera indica L.

manga

al

EC

M-A

C

a partir de 4 anos - 60 kg por planta

 

 

ANNONACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Annona crassiflora Mart.

araticum

al

N

M-A

M

a partir de 6 anos - 40 kg por pé

P

Z

APOCYNACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Aspidosperma parvifolium A.DC.

guatambu

m

N

A

L

 

NP

A

Aspidosperma cylindrocarpon Müll.Arg.

peroba

m

N

A

L

 

NP

A

ARAUCARIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze

araucária

al-m

N

E

L

após 12 anos

NP

Z

ARECACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman

jerivá

al

N

E

M

 

NP

Z

Euterpe edulis Mart.

jussara

al

N

M-A

M

a partir de 6 anos para frutos e 7 para palmito

NP

Z

Bactris gasipaes Kunth

pupunha

al

NNR

A

M

a partir de 2 anos - 2 palmitos por planta

 

 

BIGNONIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Tabebuia sp.

ipê

m

N

A

M

 

NP

A

Jacaranda sp.

jacarandá

m

N

A

L

 

NP

A

BIXACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Bixa orellana L.

urucum

ad

N

M-A

C

 

P

Z

BORAGINACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Cordia americana (L.) Gottschling & J.S.Mill.

guaiuvira

m

N

A

L

 

NP

A

CALOPHYLLA-CEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Calophyllum brasiliense Cambess.

guanandi

m

N

A

L

 

NP

 

CARICACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC.

jaracatiá

al

N

E

C

 

NP

Z

CLUSIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi

bacupari

al

N

A

M

80 kg por pé

NP

Z

EBENACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Diospyros kaki L.f.

caqui

al

EC

A

M

a partir de 4 anos - 80 kg por pé

 

 

EUPHORBIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg.

pau-jangada

ad

N

A

C

 

P

Z

FABACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Holocalyx balansae Micheli

alecrim-de-campinas

ad-m

N

A

M

 

NP

AU

Senna multijuga (Rich.) H.S.Irwin & Barneby

aleluia

ad

N

A

M

 

P

Z

Pterogyne nitens Tul.

amendoim -bravo

ad

N

A

 

 

 

A

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan

angico-branco

ad-m

N

A

C

 

NP

AU

Centrolobium tomentosum Guillem. ex Benth

arariba

m

N

E

L

 

NP

A

Copaifera langsdorffii Desf.

copaíba

m

N

A

L

 

NP

Z

Lonchocarpus cultratus (Vell.) A.M.G.Azevedo & H.C.Lima

embira-de-sapo

ad-m

N

A

M

 

NP

AU

Schizolobium parahyba (Vell.) Blake

guapuruvu

m

N

E

M

 

P

AU

Inga sp.

ingá

ad

N

A-M

M

 

NP

Z

Hymenaea courbaril L.

jatobá

m

N

A

L

 

NP

Z

Erythrina verna Vell.

mulungu

ad

N

A-M

M

 

NP

AU

Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis

pau-brasil

m

NNR

M-A

L

 

 

 

Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr.

pau-jacaré

ad

N

A

M

 

P

AU

Clitoria fairchildiana R.A.Howard

sombreiro

ad

N

A

M

 

 

 

Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke

tarumã

m

N

A

L

 

 

 

FAGACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Castanea sativa Mill.

castanha- portuguesa

al

EC

A

L

60 kg por pé

 

 

JUGLANDACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Carya illinoinensis (Wangenh.) K.Koch

noz-pecã

al

E

A

M

a partir de 8 anos - 30 kg por planta

 

 

LAURACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Persea americana Mill.

abacate

al

EC

A

M

a partir de 5 anos - 300 kg por pé

 

 

LECYTHIDACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze

jequitibá

m

N

E

L

 

NP

A

MALPIGHIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Malpighia glabra L.

acerola

al

EC

A

C

a parti de 3 anos - 70 kg por pé

 

 

MALVACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna

paineira

ad

N

A

M

 

NP

A

MELASTOMATA-CEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Pleroma granulosum (Desr.) D. Don.

quaresmeira

ad

N

A

C

 

P

A

MELIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Cedrela fissilis Vell.

cedro

m

N

E

L

 

NP

A

Swietenia sp.

mogno

m

NNR

A

L

 

 

 

MORACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficus guaranitica Chodat

figueira-branca

m

N

A

L

 

NP

Z

MUSACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Musa sp

banana nanica

al

EC

A

M

a partir de 1,5 ano

 

 

Musa sp

banana prata

al

EC

M-A

M

a partir de 1,5 ano

 

 

MYRTACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Psidium cattleianum Sabine

araçá

al

N

M-B

 

a partir de 3 anos - 4 kg por pé

NP

Z

Myrciaria glazioviana (Kiaersk.) G.M.Barroso ex Sobral

cabeludinha

al

N

M-B

M

 

NP

Z

Eugenia involucrata DC.

cerejeira-do-rio-grande

al

N

M-A

L

 

NP

Z

Eucalyptus spp.

eucalipto

ad

EC

E

L

 

 

 

Psidium guajava L.

goiaba

al

NNR

M-A

M

a partir de 3 anos - 90 kg por pé

 

Z

Eugenia brasiliensis Lam.

grumixama

al

N

M-A

L

 

NP

Z

Plinia cauliflora (Mart.) Kausel

jaboticaba

al

N

A-M

M

a partir de 10 anos - 70 kg por pé

pioneira

Z

Eugenia uniflora L.

pitanga

al

N

A-M

M

a partir de 6 anos - 40 kg por planta

NP

Z

Eugenia pyriformis Cambess.

uvaia

al

N

M-A

M

 

NP

Z

PHYTOLACACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms

pau-d'alho

ad

N

A

M

 

NP

A

PROTEACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Macadamia integrifolia Maiden & Betche

macadamia

al

EC

A

L

a partir de 7 anos - 30 kg por planta

 

 

ROSACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Malus pumila Mill.

maça-eva

al

EC

A

M

a partir de 5 anos - 40 kg por planta

 

 

Pyrus sp.

pera-d'agua

al

EC

M-A

M

 

 

 

RUBIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Coffea sp.

café

al

EC

M

M

a partir de 3 anos - 10 kg por pé

 

 

Genipa americana L

jenipapo

al

N

A

L

 

NP

Z

RUTACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Citrus sp.

laranja

al

EC

M-A

C

a partir de 3 anos - 30 kg por pé

 

 

Citrus sp.

limão

al

EC

M-A

C

a partir de 3 anos - 30 kg por pé

 

 

URTICACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Cecropia spp.

embaúba

f

N

E

C

 

P

Z

VOCHYSIACEAE

 

 

 

 

 

 

 

 

Qualea multiflora Mart.

pau-de-tucano

ad

N

A

M

 

NP

A

Categorias de uso: al – alimentar; ad – adubação; m – madeira. Origem: N – nativa; NNR – nativa não regional; E – exótica; EC exótica cultivada. Estrato: E – emergente; A – alto; M – médio; B – baixo. Ciclo de Vida: C – curto (até 30 anos); M – médio (entre 30 e 100 anos); L – longo (mais de 100 anos). Estágio sucessão: P – pioneira; NP – não pioneira. Dispersão: Z – zoocórica; A – anemocórica; AU – autocórica.

 

Figura 1. Famílias botânicas mais representadas nos desenhos de sistemas agroflorestais de agricultores familiares da Cooperativa Entre Serras e Águas, sediada no município de Bragança Paulista, São Paulo.

 

A família Leguminosae (Fabaceae) é a mais representada, com a utilização de 15 espécies. Parte destas espécies possui a função de adubação verde, pois apresenta a capacidade de fixação biológica de nitrogênio, como S. multijuga (aleluia), P. nitens (amendoim-bravo), A. colubrina (angico), L. cultratus (embira-de-sapo), Inga sp. (ingá), E. verna (mulungu), P. gonoacantha (pau-jacaré), C. fairchildiana (sombreiro), sendo tolerantes a podas e com grande produção de massa verde, com materiais lenhosos e lignificados; e parte foi inserida para produção madeireira,  como C. tomentosum (araribá), S. parahyba (guapuruvu), H. courbaril (jatobá), P. echinata (pau-brasil), V. megapotamica (tarumã), utilizadas para construções, artefatos e artesanatos, e também C. langsdorffii (copaíba), a qual também é produtora de valioso óleo medicinal vegetal.

A família Myrtaceae, com nove espécies utilizadas, tem grande importância no desenho e construção de SAFs, já que a família é bastante rica em espécies frutíferas (LAMARCA et al., 2013), como por exemplo, P. cattleianum (araçá), M. glazioviana (cabeludinha), E. involucrata (cereja-do-rio-grande), P. guajava (goiaba), E. brasiliensis (grumixama), P. cauliflora (jabuticaba), E. uniflora (pitanga), E. pyriformis (uvaia). As espécies de Eucalyptus foram utilizadas aqui como adubação verde, pois apresenta crescimento rápido e é bastante tolerante a podas drásticas, podendo ainda ser utilizada na produção de madeira para uso na propriedade, não sendo este uso, porém, financeiramente interessante devido ao pequeno volume produzido.

Estas duas famílias, Fabaceae e Myrtaceae, também estão entre as mais utilizadas por agricultores familiares agroflorestais, no Vale do Ribeira, São Paulo, Brasil (LUNELLI et al., 2016). Para Fernandes et al. (2014), Leguminosae tem sido bastante utilizada por agricultores agroflorestais por sua capacidade de fixação biológica do nitrogênio, pela associação com micorrizas e pela produção de material vegetal para poda, além de importante fonte de recursos para alimentação e fornecimento de madeira. Estes autores registraram o uso de 39 espécies de Leguminosae em sistemas agroflorestais em Minas Gerais, muitas delas nativas do Brasil.

As famílias Anacardiaceae e Arecaceae apresentaram três representantes cada. Sendo que a família Arecaceae é também uma das mais utilizadas por agricultores agroflorestais no Pará (VIEIRA et al., 2007). As espécies de Arecaceae utilizadas são fornecedoras de palmito e podem também ter seus frutos consumidos, como S. romanzoffiana (jerivá), B. gasipaes (pupunha) e E. edulis (palmito-jussara). O palmito-jussara é de grande importância, já que a espécie consta de listas de ameaçadas de extinção e sua introdução em sistemas produtivos pode ser o passo definitivo para sua preservação (FANELLI et al., 2012). Já entre as espécies de Anacardiaceae temos apenas uma com função de produção de alimentos, M. indica (manga), as demais foram inseridas no agroecossistema como espécies adubadeiras, S. molle (aroeira-salsa) e S. terebinthifolia (aroeira-pimenteira), embora esta última possa também ser utilizada na produção da pimenta-rosa, condimento de alto valor no mercado, principalmente o europeu. 

Entre as espécies mais utilizadas na composição dos SAFs, com relação ao número total de indivíduos (Figura 2), encontramos o eucalipto, utilizada aqui como espécie adubadeira, ou seja, para poda e geração de massa e madeira para depositar sobre o solo, resguardando ainda a possibilidade de produção de alguma madeira para uso na propriedade.

 

Figura 2. Número total de indivíduos por espécie em sistemas agroflorestais na agricultura familiar, Cooperativa Entre Serras e Águas, município de Bragança Paulista, São Paulo.

A bananeira foi também bastante utilizada na composição dos SAFs, é uma das espécies com maior tradição no uso em agroflorestas no Brasil, pois além de ser grande produtora de alimento, também produz boa quantidade de biomassa para formação do mulch ou serapilheira, podendo ainda produzir fibras vegetais, utilizadas em diversas formas de artesanato. O café foi a terceira espécie mais utilizada, fato que resgata a tradição da região com cafezais, porém agora com novos vieses como a produção de café sombreado, de alto valor agregado a exemplo do café colombiano. Destacamos também a presença da palmeira-jussara entre as mais utilizadas, espécie de grande potencial para produção de polpa, bastante semelhante ao açaí da amazônia, além da possibilidade da produção sustentável do palmito.

As espécies utilizadas na composição dos SAFs foram categorizadas em alimentar, madeireira e adubação (poda para cobertura do solo). A Figura 3 apresenta a porcentagem de indivíduos utilizados em cada categoria. Observa-se que mais da metade dos indivíduos plantados são de espécies utilizadas para fins alimentares, em sua grande maioria para produção de frutos. Os indivíduos de espécies para adubação ficaram ao redor de 30% no desenho das áreas, o que pode ser considerado baixo para a sustentabilidade do agroecossistema, pois pode ocasionar uma cobertura de solo aquém do desejado, considerando ainda a autonomia e a minimização de insumos externos.

 

Figura 3. Categoria de uso das espécies utilizadas no desenho de sistemas agroflorestais por agricultores familiares da Cooperativa Entre Serras e Águas, município de Bragança Paulista, São Paulo.

 

Este fato pode ser devido ao observado por Furtado (2016), que a gestão promovida pela cooperativa focou na produção e venda da produção, não aprofundando quanto aos fundamentos básicos da agroecologia e da transição agroecológica, incluindo a compreensão sobre a prestação de serviços ambientais pelo agroecossistema. Pacífico e Soglio (2010) debatem o processo de transição agroecológica, e apontam que ele requer profunda participação local para internalização dos conceitos e fundamentos da agroecologia. A prioridade de espécies que pudessem produzir alimentos e gerar renda foi também observada por Vieira et al. (2007) em SAFs em Igarapé-Açú (PA).

Dentre os modelos existentes (NAIR, 1985), o biodiverso sucessional é o que mais mimetiza as florestas naturais. Uma das características fundamentais do manejo deste modelo é o cuidado com o solo, com grande deposição de biomassa vegetal para sua cobertura, que por meio de podas e capinas seletiva, promove a criação de um denso mulch vegetal, proporcionando o aumento da diversidade de vida de organismos edáficos, colaborando então para que o solo que permaneça estruturado e fértil, de modo que também possibilite um ciclo d’água saudável com ganhos para o armazenamento no lençol freático e aumento de vazão nos rios (OLIVEIRA JR et al., 2014; DOLLINGER; JOSE, 2018; PRIMAVESI; PRIMAVESI, 2018).

Este modelo permite a construção de uma paisagem agrícola mais resiliente às adversidades climáticas e aos processos de erosão, minimizando o assoreamento e carreamento de insumos químicos (LUNELLI et al., 2013), nossos entendimentos reforçam a ideia da necessidade de uma porcentagem maior de espécies adubadeiras. Podemos considerar ainda que determinadas espécies nativas utilizadas como adubadeiras são fundamentais para o ciclo de vida de várias espécies do reino animal, como aves e insetos polinizadores (HARVEY; VILLALOBOS, 2007).

Do ponto de vista da sustentabilidade, a presença de espécies para adubação verde, além de promover benefícios diretos ao solo e ao agroecossistema, pelo acúmulo de farta camada de material vegetal, pode alavancar políticas de pagamentos por serviços ambientais e créditos de carbono (ALAVALAPATI et al., 2004), pois contribuem para o sequestro de carbono e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas (MONTAGNINI; NAIR, 2004; NAIR, 2012).

A origem das espécies é apresentada na Figura 4. Observa-se um equilíbrio entre espécies exóticas e nativas quanto ao total de indivíduos, mas considerando que foram 50 espécies nativas e apenas 15 exóticas, temos que em média, cada espécie nativa teve 330 indivíduos e cada exótica 920. Isto mostra que os maiores investimentos foram realizados em espécies com mercado consolidado. Muitas das cadeias produtivas das espécies nativas são ainda pouco estruturadas, não incentivando o agricultor a investir nestas espécies (OLIVEIRA JR et al. 2018). Este fato também reduz a qualidade do serviço ecossistêmico prestado, pela menor inserção e preservação de espécies nativas (ALTIERI, 1999). Porém, para que ocorra o avanço no uso da sociobiodiversidade é necessário que exista demanda e mercado para as espécies nativas. Consequentemente, isto implica em maiores esforços para a criação de políticas públicas que possam incentivar a pesquisa e a produção a partir da sociobiodiversidade.

O processo de transformação de ecossistemas naturais em agroecossistemas invariavelmente resulta na redução da diversidade de organismos, e como consequência afeta a autorregularão presente, criando uma demanda por interferência externa, quer seja pelo aporte de insumos químicos ou orgânicos para fertilidade do solo, ou para equilíbrio populacional de alguma espécie oportunista, que possa causar danos a produção (SKORUPA et al., 2003).

 

Figura 4. Origem das espécies utilizadas no desenho de sistemas agroflorestais por agricultores familiares da Cooperativa Entre Serras e Águas, município de Bragança Paulista, São Paulo.

Os índices de diversidade analisados são apresentados na Figura 5. O índice de diversidade alfa (S) (Figura 5A) mostra que os agroecossistemas analisados foram heterogêneos, indicando que cada unidade familiar pôde compor sua agrofloresta de acordo com suas necessidades e interesses, além da orientação da cooperativa.

Na análise dos indicadores índice H (diversidade, Shannon) e índice D (Dominância), Figuras 5C e 5D respectivamente, podemos observar dois agrupamentos, os agroecossistemas 1, 6, 9 e 10, que apresentaram menor diversidade e maior dominância, e os demais, que apresentaram maior diversidade, com menor dominância. Embora estes índices tenham sido criados para analisar a diversidade em áreas naturais, sendo a maioria dos padrões comparativos relacionados a estas áreas, estes resultados mostram que sua utilização em ambientes construídos, ou seja, em agroecossistemas, podem auxiliar no planejamento da unidade produtiva, além de serem úteis na gestão do território, na perspectiva de prestação e valoração de serviços ambientais.

 

Figura 5. Índice de diversidade nos agroecossistemas de unidades familiares da Cooperativa Entre Serras e Águas, São Paulo, Brasil. 5A - diversidade alfa (S); 5B - número total de indivíduos (I); 5C - índice Shannon-Wiener (H) e 5D - índice de dominância (D).

 

A diversidade do agroecossistema também é vista como fator de resiliência, e por isso é bastante interessante que os sistemas sejam bem diversos (JAKSON et al., 2007; ANGLAAERE et al., 2011). Bardhan et al. (2012) encontraram em quintais agroflorestais alta diversidade e sugeriram que esta contribui para conservação biológica local. Basicamente, quanto maior for a diversidade de um agroecossistema, maior será sua estabilidade, ou seja, maior a sua capacidade em responder a eventuais distúrbios (ALTIERI, 1999; SKORUPA et al., 2003; JACKSON et al., 2007). Isto cria condições para a prestação de serviços ambientais mais regulares e constantes, como: geração de nichos ecológicos para inimigos naturais, proteção e controle de pragas no solo, ciclagem de nutrientes e sequestro de carbono, entre outros (ALTIERI, 1999; SKORUPA et al., 2003).

De modo geral, os agricultores neste estudo estavam pouco habituados ao manejo agroflorestal, a maior parte se envolveu com os SAFs somente a partir deste projeto. Isso mostra a necessidade de aprofundar e incorporar fundamentos de agricultura ecológica em projetos de extensão rural agroecológica, podendo deste modo, explorar melhor as condições de adequação ambiental da propriedade e o uso de espécies nativas. Os produtos da sociobiodiversidade oriundos em SAFs da agricultura familiar podem ainda receber selos de origem, com possibilidade de se atingir mercados diferenciados e aumentar a renda pela agregação de valor.

Os sistemas agroflorestais são vistos por muitos agricultores como uma forma de se produzir alimentos e ao mesmo tempo conservar a natureza, sendo inclusive estratégia de produção passível de ser utilizada em áreas protegidas, como áreas de preservação permanente (APPs) ou reservas legais (RLs) (HESPANHOL, 2008; CALDEIRA; CHAVES, 2011). A RL tem a função de auxiliar na conservação da biodiversidade e ao mesmo tempo assegurar o uso econômico dos recursos naturais (MARTINS; RANIERI, 2014). Para Hespanhol (2008) e Altieri e Nicholls (2011), os sistemas agroflorestais aumentam a multifuncionalidade da agricultura, contribuindo para soberania alimentar, geração de renda e economia comunitária, além da proteção da biodiversidade.

A extensão rural de caráter agroecológico pode ser considerada como um diálogo entre o extensionista e o agricultor (FREIRE, 1975), buscando novos conhecimentos e soluções para os problemas reais na vida rural, a partir do ponto de vista do agricultor e das comunidades locais, fundamentada numa abordagem sistêmica (SCHMITZ, 2010).  A sustentabilidade nas áreas rurais, além da visão sistêmica, deve considerar também o agricultor local como gestor dos recursos naturais, alicerçados em políticas de assistência técnica rural de caráter educativo (FREIRE, 1975). Os caráteres participativo e educativo na avaliação de agroecossistemas tem se mostrado excelente ferramenta na construção da sustentabilidade local (GOMES et al., 2017).

Os fluxos internos de biomassa, como poda, cobertura do solo e decomposição da matéria orgânica têm muito a ver com a manutenção dos serviços ambientais básicos (TELLO; CASTILLO, 2013). Na Europa já estão sendo construídas políticas públicas para incentivar as agroflorestas, incluindo pagamentos por serviços ambientais, em que agricultores chegam a receber 30% do total de seu rendimento financeiro (MOSQUERA-LOSADA et al., 2018).

 

CONCLUSÕES

 

Em agroecossistemas no município de Bragança Paulista é registrado o uso de 65 espécies arbóreas em sistemas agroflorestais, sendo 50 nativas e 15 exóticas. Em que a maioria dos indivíduos plantados é para fins alimentares, em preterimento das espécies “adubadeiras”.

Existe um equilíbrio entre espécies exóticas e nativas quanto ao total de indivíduos, porém com maior investimento naquelas com cadeia produtiva já estruturada, caso das exóticas cultivadas.

 

AGRADECIMENTOS

 

Agradecemos a Cooperativa Entre Serras e Águas pelo convite a participar do PDRS, que possibilitou a coleta de dados deste trabalho, e em especial a todas as agricultoras e agricultores pelas prosas e trocas de conhecimento.

 

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