ARTIGO CIENTÍFICO
Características físicas de grãos de feijão-fava rajada (Phaseolus lunatus L.)
Physical characteristics of fava beans (Phaseolus lunatus L.)
Daniel
Casimiro da Silveira1, Ana Carolina Nóbrega Leite2,
Newton Carlos Santos3, Josivanda Palmeira Gomes4
1Mestre em Sistemas Agroindustriais,
Universidade Federal de Campina Grande, Pombal, Paraíba, +558399922-8451, danielcasimirodasilveira@yahoo.com.br; 2Mestre em
Engenharia Química, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, caarol.nobregaleite@gmail.com; 3Bacharel em
Química Industrial, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Paraíba, newtonquimicoindustrial@gmail.com; 4 Doutora em
Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande,
Paraíba, josivanda@gmail.com
Recebido:
25/07/2019; Aprovado: 19/09/2019
Resumo: O conhecimento das propriedades físicas dos produtos agrícolas
apresenta um relevante papel no estudo dos processos industriais de colheita e
pós-colheita, visando obter melhores condições de dimensionamento de
equipamentos e armazenamento. Assim, o presente trabalho tem como objetivo
avaliar os efeitos da secagem e de diferentes cultivares nas propriedades físicas dos grãos de feijão-fava rajada. Foram avaliados 4
tratamentos, nos quais as amostras de grãos in
natura produzidos no estado da Paraíba e Pernambuco foram submetidas ao
processo de secagem por 30 h a 45 °C e umidade relativa do ar de 62%. Os
tratamentos foram avaliados quanto aos parâmetros teor de água, atividade de
água, massa individual do grão, massa específica real e aparente, ângulo de
repouso dinâmico e dimensões do grão (a, b, c), além de terem sido obtidos os
dados de porosidade e volume do grão. Observou-se que o processo de secagem
influencia as propriedades físicas do material, proporcionando um aumento das
massas específicas aparente e real. Os valores de
atividade de água, massa individual, volume, porosidade, ângulo de repouso
dinâmico e dimensões mutuamente perpendiculares dos grãos decresceram após a
redução do teor de água. A esfericidade foi influenciada de forma distinta
entre os tratamentos devido ao encolhimento
desuniforme nas dimensões características durante o processo de secagem.
Palavras-chave: Massa específica; Porosidade; Dimensão do grão; Teor
de água; Pós-colheita
Abstract: The knowledge of the physical properties of
agricultural products play a relevant role in the study of industrial
harvesting and postharvest processes, aiming at better equipment sizing and
storage conditions. Thus, the present work aims to evaluate the effects of
drying and different cultivars on the physical properties of split bean beans.
Four treatments were evaluated, in which samples of fresh grain produced in the
state of Paraíba and Pernambuco
were submitted to the drying process for 30 h at 45 ° C and 62% relative
humidity. The treatments were evaluated for the parameters water content, water
activity, individual grain mass, actual and apparent specific mass, dynamic angle
of repose and grain dimensions (a, b, c). porosity and
grain volume. It was observed that the drying process influences the physical
properties of the material, providing an increase of apparent and actual
specific masses. The values of water activity, individual mass, volume,
porosity, dynamic resting angle and mutually perpendicular grain dimensions
decreased after the reduction of water content. The sphericity
was differently influenced between treatments due to uneven shrinkage in the
characteristic dimensions during the drying process.
Key words: Especific mass; Porosity; Grain dimension; Water content; Postharvest
INTRODUÇÃO
O feijão-fava (Phaseolus lunatus L.)
pertence à família Fabaceae
e é a segunda leguminosa de maior importância do gênero Phaseolus, por apresentar alto
valor nutritivo, contendo vitaminas, proteínas e sais minerais, que são
elementos essenciais na nutrição humana (GOMES et al.,
2016).
Os grãos verdes e secos, as vagens verdes e as folhas do feijão-fava,
podem ser consumidas pelo homem; trata-se de uma das
principais leguminosas cultivadas na região tropical, que apresenta potencial
para o fornecimento de proteína vegetal à população e diminuição de
dependência, quase exclusiva, do feijão-comum do grupo carioca (GUIMARÃES et al.,
2007).
No Brasil, a fava é cultivada em quase todo território nacional,
apresentando relativa importância econômica em alguns estados, principalmente
nos da região Nordeste (MEDEIROS et al., 2015). O
Nordeste é responsável por 92% da produção de feijão-fava no
Brasil, com montante anual de 9.330 toneladas, com destaque aos Estados do
Ceará e Paraíba, responsáveis por 79% da produção total da região,
seguidos de Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte (IBGE, 2017).
Similarmente ao que acontece com outras culturas, os grãos de feijão
devem ser pré processados para que viabilizem uma armazenagem segura
mantendo seus atributos físicos e químicos. Dos processos comumente utilizados
destaca-se a secagem como sendo um dos principais, pois garante a redução do
teor de água dos produtos agrícolas (ARAÚJO et al.,
2018). A redução da água livre eleva a pressão osmótica de seu meio e
consequentemente, a proliferação de microrganismos é contida; também nessa
situação, enzimas que provocam alterações perdem sua atividade (EVANGELISTA,
2005).
A redução do teor de água dos grãos influencia diretamente na alteração
das suas propriedades físicas durante a secagem. As propriedades físicas dos
produtos agrícolas têm seu uso irrestrito, podendo ser utilizado em estudos de
aerodinâmica, na otimização
dos processos industriais, projeto e dimensionamento de equipamentos empregados
nas operações de colheita e pós-colheita (RESENDE et. al., 2008). Corrêa et al. (2002) ressaltam que o conhecimento das
características físicas em produtos granulares tem grande importância em
estudos de transferência de calor e massa e movimentação de ar, o que reflete
diretamente no armazenamento dos grãos.
Nesse contexto, considerando a importância do assunto e variabilidade
existente nas propriedades físicas dos produtos agrícolas de diferentes
espécies e variedades, o presente trabalho teve como objetivo determinar as
propriedades físicas de grãos de feijão-fava rajada (Phaseolus lunatus L.)
antes e após o processo de secagem.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido nos meses de junho e julho de 2019 no
Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) da
Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola, da Universidade Federal de Campina
Grande – PB e no Laboratório de Termodinâmica do Centro de Tecnologia da
Universidade Federal da Paraíba – Campus João Pessoa.
Posteriormente, amostras foram submetidas à
secagem em uma estufa com circulação forçada de ar, e mantidas nas condições de
temperatura controlada do ar de secagem de 45 °C, umidade relativa do ar de 62%
e tempo de secagem de 30 h. Em seguida, todos os grãos secos foram
acondicionados em sacos herméticos de polietileno.
Foram realizados 4
tratamentos: T1 = grãos in natura produzidos na Paraíba (PB); T2 = grãos
in natura produzidos em Pernambuco (PE); T3 = grãos produzidos na Paraíba
(PB) secos em estufa de circulação forçada de ar por 30 h à 45 °C e T4 = grãos
produzidos em Pernambuco (PE) secos em estufa de circulação forçada de ar por
30 h à 45 °C.
Teor de água
Os teores de água dos grãos de feijão-fava
rajada in natura e secos foram
determinados pelo método gravimétrico, utilizando-se uma estufa a uma
temperatura de 105 ± 1 °C, durante 24 h e em triplicata (BRASIL, 2009).
Utilizou-se a equação 1
para determinação do teor de água em base úmida (Xbu) dos grãos in
natura.
(Eq.1)
Para a
determinação do teor de água em base seca (Xbs) foi utilizada a equação 2.
(Eq.
2)
Atividade de água (aw)
A aw
foi obtida a partir de leitura direta no equipamento Novasina,
modelo LabMaster®,
devidamente calibrado à temperatura de 25 ºC com
soluções padrões, com uma precisão de ± 0,003. A análise foi realizada em
triplicata.
Massa individual do grão (mgrão)
O valor da massa individual dos grãos de
feijão-fava rajada foi obtido através da pesagem em balança analítica de
precisão 0,001g, em 30 (trinta) grãos tomados ao acaso.
A determinação do volume individual foi realizada
através do método de deslocamento de água por pesagens. Inicialmente, foram
pesados individualmente os grãos em balança analítica. Depois de pesados os
grãos, pesou-se um béquer contendo água, numa quantidade suficiente para
cobrir totalmente o grão. A última pesagem foi a do béquer com água + grão submerso, e para isso
utilizou-se uma seringa fixada no material, acoplada a um
suporte, que permitia o movimento até a completa imersão do grão, centralizado
e sem que este
tocasse as paredes e o fundo do béquer, causando um deslocamento de massa
de fluido igual ao seu volume (ALMEIDA et al., 2006). O
volume foi determinado pela equação 3.
(Eq. 3)
Massa específica real (∂real) e massa específica aparente (∂ap)
O cálculo das massas específicas foi
realizado conforme metodologia descrita por Almeida et
al. (2006). A massa específica real foi definida de acordo com a relação entre
a massa de uma unidade do grão e seu volume, determinada através da equação 4.
(Eq.
4)
A massa específica aparente foi calculada através da
relação entre a massa dos grãos e um determinado volume ocupado por eles
(volume do recipiente) (Equação 5).
(Eq. 5)
Porosidade (ε)
A porosidade
foi definida como sendo a percentagem de espaços vazios existentes na massa dos
grãos e sua determinação foi realizada conforme Gustafson e Hall (1972) através da equação 6.
(Eq.
6)
Ângulo de repouso dinâmico (qrd)
O ângulo de repouso dinâmico é a inclinação da superfície plana, em que se encontram empilhados
os grãos, necessária para iniciar o movimento de derramamento (escoamento) destes.
O ângulo de repouso dinâmico dos grãos foi determinado usando-se uma estrutura
de madeira montada sobre uma plataforma plana, porém móvel, a qual foi
inclinada suavemente por um mecanismo, como mostra a Figura 1. A plataforma foi
inclinada até se conseguir o início do movimento dos grãos. Naquele instante
mediu-se o ângulo correspondente ao início do movimento, com o auxílio de um
transferidor, obtendo-se o ângulo de repouso dinâmico (ALMEIDA et al., 2006). As determinações das amostras foram
realizadas em triplicata.
Figura 1. Dispositivo para determinação do ângulo de repouso dinâmico de grãos.
Fonte: ALMEIDA et al. (2006).
Dimensões
Os grãos de feijão-fava possuem
uma forma semelhante a um elipsóide tri-axial, como a
maioria dos grãos, e três medidas são necessárias: o comprimento “a”,
representado pelo maior diâmetro, a largura “b”, representada pelo diâmetro
intermediário e a espessura “c”, representada pelo menor
diâmetro para obtenção de tais dados, como mostra a Figura 2.
Figura 2. Figura geométrica e medidas que devem ser feitas para definir o seu
tamanho.
Fonte: ALMEIDA et al. (2006).
A determinação das dimensões mutuamente perpendiculares dos grãos foi realizada conforme metodologia de Mohsenin (1986), através do método do paquímetro digital,
calibrado a 25 °C e com precisão de 0,01, em 30 (trinta) sementes tomadas ao
acaso.
Esfericidade (φ)
A forma dos grãos de feijão-fava rajada, considerados
semelhantes a elipsóides, foram analisados pela esfericidade a partir das medidas das
dimensões características, obtidas por paquímetro digital e considerando a
equação 7 (GUPTA; DAS, 1997).
(Eq. 7)
Análise Estatística
Os dados de massa individual, volume, massa
específica real e aparente, porosidade, dimensões e esfericidade foram
submetidos à análise de variância e as médias ao teste de Tukey,
ao nível de 1% e 5% de probabilidade, utilizando o software ASSISTAT. A análise
estatística avaliou os dados das propriedades físicas dos tratamentos T1 e T2 (in
natura) em função do teor de água em base úmida (BRASIL, 2009) e dos
tratamentos T3 e T4 (secos) em função do teor de água em base seca (BRASIL,
2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os grãos de feijão-fava rajada produzidos na Paraíba e Pernambuco foram submetidos
a secagem nas condições apresentadas com massas iniciais
de 194,58g e 142,10g, resultando em massas finais de 79,07g e 142,10g,
respectivamente. A Tabela 1 apresenta os valores dos teores de água e atividade
de água determinados nos grãos de feijão-fava rajada in natura e seca produzidos na Paraíba e em
Pernambuco.
Tabela 1. Teores de água e
atividade de água dos grãos de feijão-fava rajada (média ± desvio padrão). |
|||
Amostras |
Teor de Água |
Atividade água |
|
Xbu (%) |
Xbs (%) |
(aw) |
|
T1 |
50,49 ± 0,77 |
- |
0,995 ±
0,000943 |
T2 |
64,95 ± 0,42 |
- |
0,996 ±
0,001247 |
T3 |
7,34 ± 0,38 |
7,78 ± 0,45 |
0,301 ±
0,020434 |
T4 |
6,92 ± 0,46 |
7,18 ± 0,53 |
0,299 ±
0,026247 |
Médias de três repetições (± desvio padrão). T1 =
grãos in natura produzidos na Paraíba;
T2 = grãos in natura produzidos em
Pernambuco; T3 = grãos produzidos na Paraíba secos em estufa de circulação
forçada de ar por 30 h à 45 °C e T4 = grãos
produzidos em Pernambuco secos em estufa de circulação forçada de ar por 30 h
à 45 °C. |
Entre as amostras in natura, o feijão-fava produzido em Pernambuco (T2) apresentou um maior teor de água em base
úmida (64,95 ± 0,42), sendo confirmado por também apresentar uma maior atividade
de água (0,996). Nas amostras submetidas a secagem, o feijão-fava produzido em
PE (T4) apresentou um menor teor de água em base seca (7,18), também
apresentando uma menor atividade de água (0,299), sugerindo uma melhor
conservação do material.
Os grãos que passaram pelo processo de secagem perderam água com a
evaporação que estava em contato direto com a estrutura celular que é conhecida
como “água livre”. Sendo que está “água livre” está diretamente relacionada com
a deterioração e vigor dos grãos e consequentemente com a sua conservação (OLIVEIRA
et al., 2014). De acordo com Oliveira et al. (2006) os grãos são materiais higroscópicos e têm a
capacidade de absorver, ceder ou reter água e, dessa forma sua umidade é
influenciada principalmente pela umidade relativa e temperatura do ar quer as
rodeiam; sementes com 11 a 13% de teor de água respiram relativamente pouco, assim
a baixa umidade do grão propicia uma diminuição na taxa de respiração que por
sua vez reduz a deterioração.
Na Tabela 2 estão apresentados os valores médios de massa do grão e
volume das amostras avaliadas de acordo com os respectivos tratamentos em
função do teor de água. A partir da análise de variância observou-se que houve
influência significativa (p<0,05) das propriedades físicas entre as amostras
de grãos das duas localidades, in natura e secos. De acordo com Pimentel-Gomes (2009), para experimentos de culturas
agrícolas, os valores de coeficientes de variação (CV) obtidos foram considerados
baixos (<10%), indicando homogeneidade das condições experimentais.
Tabela 2. Valores de massa
do grão, massa específica real, massa específica aparente, volume e
porosidade dos grãos de feijão-fava rajada produzidas na Paraíba e no
Pernambuco. |
||||||
Amostras |
Massa do grão* |
Massa Específica Realns |
Massa Específica Aparente** |
Volume** |
Porosidadens |
|
(g) |
(g/cm3) |
(g/cm³) |
(cm³) |
(%) |
||
T1 |
1,329 b |
0,885 a |
0,439 b |
1,426 b |
50,39 a |
|
T2 |
1,857 a |
0,880 a |
0,492 a |
1,776 a |
54,05 a |
|
CV (%) |
9,95 |
4,11 |
1,78 |
5,59 |
3,56 |
|
T3 |
1,014 a |
0,959 b |
0,546 b |
1,061 a |
43,07 a |
|
T4 |
0,629 b |
1,071 a |
0,580 a |
0,725 b |
34,11 b |
|
CV* (%) |
8,25 |
2,68 |
1,9 |
10,96 |
5,12 |
|
CV= Coeficiente de variação, ns
= não significativo, *Significativo a 5% de probabilidade, **Significativo a
1% de probabilidade. T1 = grãos in
natura produzidos na Paraíba; T2 = grãos in natura produzidos em Pernambuco; T3 = grãos produzidos na Paraíba
secos em estufa de circulação forçada de ar por 30 h à
45 °C e T4 = grãos produzidos em Pernambuco secos em estufa de circulação
forçada de ar por 30 h à 45 °C. |
Observa-se, a partir da Tabela 2, que a diminuição nos
valores da massa unitária e volume dos grãos de feijão-fava rajada está relacionada à redução do teor de água das amostras
submetidas à secagem, provavelmente devido ao efeito combinado entre a
deformação do grão e a presença de espaços vazios no seu interior, ao mesmo
tempo em que ocorre redução da massa, provocando uma contração ou diminuição do
volume do material.
Analisando as massas específicas real e aparente dos
grãos de feijão-fava rajada nos diferentes tratamentos, ambas relacionadas a massa do produto e o volume que ela ocupa, verificou-se
que os grãos in natura apresentaram menores massas específicas que os
grãos submetidos ao tratamento térmico. Os valores experimentais da massa
específica aparente e real para o material estudado variaram entre
entre 0,49 a 0,58 g.cm-3 e 0,88 a
1,07 g.cm-3, respectivamente, para o teor de água do produto
variando de 64,95 a 6,92% (b.u.). Estes resultados
são coerentes com alguns dos produtos agrícolas pesquisados como: feijão de
cultivares Valente e Pontal (Jesus
et al., 2013), feijão fradinho (Lanaro
et al., 2011), grãos de girassol (Rodrigues et al, 2018), grão de bico (Konak et. al, 2002) e lentilha (Amin et al., 2004).
A secagem dos grãos de feijão-fava rajada proporcionou
uma diminuição na porosidade dos mesmos, apresentando valores entre 34,11 a
43,07%, para a faixa de teor de água de 7,18 a 7,78% (b.s.).
Logo, evidencia-se que a redução do teor de água no produto tem influência
direta sobre a sua porosidade intergranular. Segundo
Rodrigues et al. (2018), a formação de espaços vazios é
favorecida quando o grão apresenta elevado teor de água, podendo ter
contribuição para essa tendência de redução da porosidade após a secagem.
Diversos pesquisadores observaram comportamentos
semelhantes ao do feijão-fava rajada neste presente estudo, entre eles: Ribeiro
et al. (2005), estudando grãos de soja durante o
processo de secagem, observaram que a redução do teor de água provoca a
diminuição linear da porosidade, variando de 41,1 a 44,7% para uma faixa de
teor de água entre 15 a 31% (b.s.), além de um
aumento das massas específicas aparente e real; Resende et al. (2008), que estudaram
a influência da redução do teor de água sobre as propriedades físicas dos grãos
de feijão da cultivar Vermelho Coimbra, observaram uma diminuição da porosidade
e o aumento das massas específicas aparente e da massa específica unitária;
Sousa et al. (2016), estudando grãos de arroz vermelho, observaram um aumento
proporcional da porosidade, variando de 46,77 a 51,74%, para uma faixa de teor
de água entre 9,52 a 28,07 (b.u.), com o aumento do
teor de água.
Quanto a comparação dos grãos produzidos nos estados da
Paraíba e Pernambuco, Oliveira et. al (2014) evidenciam
que o tamanho e a formas dos grãos são características genéticas, porém podem
ser influenciadas pelas condições ambientais durante e posteriormente a
formação dos mesmos. O conhecimento do tamanho e a formas dos grãos para cada
espécie é importante para construção de equipamentos de beneficiamento de
sementes, assim como a porosidade possui influência direta no dimensionamento
de ventiladores do sistema de secagem de grãos. Na Tabela 3,
podemos observar os valores médios dos ângulos de repouso das amostras em
estudo.
Tabela 3. Ângulos de
repouso dinâmicos dos grãos de feijão-fava rajada. |
|
Amostra |
Ângulo de repouso dinâmico |
ϴrd |
|
T1 |
32,33 ± 0,47 |
T2 |
40,67 ± 1,89 |
T3 |
28,33 ± 1,25 |
T4 |
27,67 ± 0,47 |
Médias de três repetições (± desvio padrão). T1 =
grãos in natura produzidos na Paraíba;
T2 = grãos in natura produzidos em
Pernambuco; T3 = grãos produzidos na Paraíba secos em estufa de circulação
forçada de ar por 30 h à 45 °C e T4 = grãos
produzidos em Pernambuco secos em estufa de circulação forçada de ar por 30 h
à 45 °C. |
Na Tabela 3, podemos observar os valores médios dos ângulos de repouso
das amostras em estudo. O ângulo de repouso dos grãos de o feijão-fava rajada variou
entre 27,67 e 40,67° de acordo com as amostras avaliadas, sendo que as amostras
in natura obtiveram maiores ângulos (32, e 40,67) de repouso e os grãos secos os menores ângulos de repouso (27,67 e 28,33),
confirmando estudos realizados com outros grãos que têm revelado
um maior ângulo de repouso dinâmico para um maior teor de água do material (COSTA
et al., 2010) e que os menores ângulos de inclinação ocorrem em grãos
esféricos, grandes, lisos, sadios, íntegros, limpos e secos (ELIAS, 2008).
Na Tabela 4 estão apresentados os valores das dimensões mutuamente perpendiculares dos grãos avaliado
em comprimento (a), largura (b) e espessura (c), correspondendo às medidas em
milímetros, e a esfericidade. A partir da análise de variância
observou-se que houve influência significativa (p<0,05) das dimensões (a, b
e c) apenas para as amostras de grãos secos, enquanto a esfericidade não foi
significativa para nenhum dos tratamentos. Verificou-se ainda que os valores de coeficientes de variação obtidos foram muito baixos (< 5%), indicando homogeneidade dos
dados.
Tabela 4. Dimensões dos
eixos perpendiculares e esfericidade dos grãos de feijão-fava rajada. |
||||
Amostra |
Dimensões (mm) |
Esfericidade (%)ns |
||
ans |
bns |
cns |
||
T1 |
25,21 a |
17,33 a |
5,17 a |
51,85 a |
T2 |
26,62 a |
18,31 a |
6,10 a |
54,10 a |
CV (%) |
3,91 |
2,28 |
2,67 |
2,2 |
T3 |
24,32 a |
16,42 a |
5,40 a |
52,99 a |
T4 |
21,38 b |
14,59 b |
4,52 b |
52,16 a |
CV* (%) |
2,59 |
3,1 |
5,02 |
1,63 |
CV=
Coeficiente de variação, ns = não significativo,
*Significativo a 5% de probabilidade, **Significativo a 1% de probabilidade. T1 = grãos in natura produzidos na Paraíba; T2 =
grãos in natura produzidos em Pernambuco;
T3 = grãos produzidos na Paraíba secos em estufa de circulação forçada de ar
por 30 h à 45 °C e T4 = grãos produzidos em Pernambuco
secos em estufa de circulação forçada de ar por 30 h à 45 °C. |
Observa-se que os grãos de feijão-fava in natura produzidos em Pernambuco (T2) apresentaram maiores dimensões
em relação aos da Paraíba (T1), mas após passarem pelo processo de secagem
sofreram uma maior redução no tamanho, comprovando os valores de umidade e
atividade de água anteriormente analisados. Como pode ser observado,
a secagem interferiu nos valores das dimensões dos eixos perpendiculares
dos grãos de feijão-fava rajada produzidos nos diferentes tratamentos, com contrações
máximas de 5,24mm e 3,74mm, no maior eixo e no eixo central, respectivamente,
da amostra in natura proveniente de PE (T2) após ser submetida à secagem
(T4).
Como a maioria dos produtos agrícolas (ARAÚJO et al., 2014), os grãos apresentaram um encolhimento
ligeiramente desuniforme em suas dimensões características durante o processo
de secagem, apresentando maior e mais significativa diferença
nas dimensões mutuamente perpendiculares entre os grãos após a redução do teor
de água. Logo, evidencia-se que, assim
como entre os tratamentos in natura e secos, há variação entre os grãos
de diferentes cultivares e, portanto, os equipamentos
de beneficiamento e armazenagem devem ser dimensionados de maneira distinta.
Também é possível verificar que a característica de esfericidade foi
influenciada pelo teor de água de forma divergente entre as amostras estudadas.
Enquanto a esfericidade dos grãos de feijão-fava produzidos na PB (T1)
aumentaram após a secagem (T3), aqueles produzidos em PE (T2) apresentaram uma
diminuição da esfericidade após o tratamento térmico (T4). Tal observação pode
ser explicada pelo fato de que a redução no teor de água da amostra proveniente
de PE provocou um aumento na espessura, devido a uma grande contração de
comprimento e largura do material, alterando assim o seu formato. Segundo
Araújo et al. (2014), valores de esfericidade abaixo
de 80% evidenciam a incapacidade de classificação do material como esféricos
independente do teor de água que apresentam.
De acordo com Saath et al. (2014), que estudaram a variação das características
biométricas dos grãos de milho de diferentes cultivares, embora o fator
genético tenha maior impacto, vários outros fatores podem interferir nas
dimensões e no peso específico dos grãos, entre eles: época de plantio,
incidência de luz solar ou sombreamento excessivo na época de floração,
temperatura, espaçamento entre plantas, déficit hídrico, deficiência mineral do
solo e época de colheita. Os fatores transporte, secagem e armazenagem também
têm efeito nos valores da massa específica, principalmente se conduzidos de
forma inadequada.
CONCLUSÕES
A redução do teor de água apresenta influência sobre as propriedades físicas dos grãos de feijão-fava rajada, proporcionando o aumento
da massa específica aparente e da massa específica real e a diminuição da massa
individual, volume, porosidade, ângulo de repouso dinâmico e dimensões
mutuamente perpendiculares dos grãos. A esfericidade é influenciada pelo teor
de água de forma distinta entre cultivares devido ao encolhimento desuniforme
nas dimensões características durante o processo de secagem.
REFERÊNCIAS
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F. de A. C.; DUARTE, M. E. M.; CAVALCANTI-MATA, M. E.
R. M. Tecnologia de Armazenagem em Sementes. 1. ed. Campina Grande:
Marconi, 2006. v. 1. 382p.
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ARAÚJO, W. D.; GONELI, A. L. D.; SOUZA, C. M. A.; GONÇALVEZ, A. A.; VILHASANTI,
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