NOTA CIENTÍFICA
Sustentabilidade
em sistemas produtivos no município de Serraria, Paraíba
Productive systems
Sustainable in the Serraria County, Paraiba, Brazil
Sostenibilidad en los sistemas de producción en el
municipio de Serraria, Paraíba, Brasil
Juliana Ferreira de Lima1, Jair Batista de
Souza1, Alex da Silva Barbosa2
1Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias
(Agroecologia), Universidade Federal da Paraíba, Campus de Bananeiras, julianacavnufpb@hotmail.com, jair.tec.agropecuaria@gmail.com; 2Professor do
Departamento de Agricultura. Universidade Federal da
Paraíba, Campus de Bananeiras, aldasibarbosa@gmail.com
Recebido:
20/08/2019; Aprovado: 09/12/2019
Resumo: A adoção de práticas agroecológicas como
consórcio e sistemas agroflorestais mostram-se eficazes na melhoria e
manutenção da qualidade dos solos, sendo imprescindível a delimitação de fatores
que possam estar relacionados a preservação da fertilidade dos solos. Os
indicadores de sustentabilidade de solos participativos caracterizam-se pela
sua facilidade na aplicação, podendo serem utilizados pelos próprios
agricultores e contribuindo com melhorias nos sistemas de produção da
agricultura familiar. Objetivou-se quantificar os níveis de resiliência e
diversidade nos diferentes agroecossistemas
localizados no município de Serraria, Paraíba. Os agroecossistemas
estudados possuíam três consórcios, três monocultivos
e três áreas em transição para um sistema agroflorestal. Para o estudo foi
utilizado o Diagnóstico Rural Participativo como ferramenta combinada com o
método de atribuição de notas aplicados para os indicadores sociais, econômicos
e sustentáveis. Em todos os sistemas não são utilizados fertilizantes químicos
solúveis industrializados e agrotóxicos em seu manejo, sendo o modelo de
produção familiar. A partir das análises pode-se concluir que em áreas pequenas
de monocultivo é possível garantir um certo nível de
resiliência do agroecossistema, quando trabalhado de
maneira em atinência aos princípios do manejo e conservação.
Palavras-chave: Agricultura
familiar; Agroecologia; Sistemas Agroflorestais.
Abstract: The adoption of agroecological practices such as consortium and
agroforestry systems are effective in improving and maintaining soil quality,
with the delimitation of factors that may be related to the preservation of
soil fertility being essential. The indicators of sustainability of
participative soils are characterized by their ease of application, which can
be used by farmers themselves and contributing to improvements in family
farming production systems. The objective was to quantify the levels of resilience
and diversity in the different agroecosystems located in the Serraria, PB County. The studied agroecosystems had three contortium, three monocultures and three areas in
transition to an agroforestry system. For the study, the Participative Rural Diagnosis
was used as a tool combined with the method of attributing scores applied to
social, economic and sustainable indicators. In not all systems, soluble
chemical fertilizers and pesticides are used in their management, being the
model of family production. From the analysis, it can be concluded that in
small monoculture areas it is possible to guarantee a certain level of
resilience of the agroecosystem when worked in a manner in keeping with the
principles of management and conservation.
Keywords: Family
farming; Agroecology; Agroforestry Systems
Resumen: La adopción
de prácticas agroecológicas como el consorcio y los sistemas agroforestales son
efectivos para mejorar y mantener la calidad del suelo, y es esencial delimitar
los factores que pueden estar relacionados con la preservación de la fertilidad
del suelo. Los indicadores de sostenibilidad de los suelos participativos se
caracterizan por su facilidad de aplicación, que puede ser utilizada por los
propios agricultores y que contribuye a mejorar los sistemas de producción de
la agricultura familiar. El objetivo fue cuantificar los niveles de resiliencia
y diversidad en los diferentes agroecosistemas ubicados en el municipio de Serraria, Paraíba. Los agroecosistemas estudiados tenían
tres consorcios, tres monocultivos y tres áreas en transición a un sistema
agroforestal. Para el estudio, se utilizó el Diagnóstico rural participativo
como una herramienta combinada con el método de atribuir calificaciones
aplicadas a indicadores sociales, económicos y sostenibles. En todos los
sistemas, los fertilizantes químicos solubles y los pesticidas no se utilizan
en su manejo, siendo el modelo de producción familiar. Del análisis se puede
concluir que en pequeñas áreas de monocultivo es posible garantizar un cierto
nivel de resiliencia del agroecosistema, cuando se trabaja de acuerdo con los
principios de gestión y conservación.
Palabras clave: Agricultura familiar; Agroecología; Sistemas agroforestales.
INTRODUÇÃO
A agroecologia não se restringe ao manejo dos recursos naturais em
bases ecológicas, mas se constitui também de uma importante estratégia para a
análise dos impactos socioambientais e para a implementação de programas de
desenvolvimento rural em bases sustentáveis (MOREIRA; CARMO, 2004). A
sustentabilidade, por sua vez, é definida por Nicholls et al. (2004), como um
conjunto de requisitos agroecológicos que devem ser satisfeitos por qualquer
unidade de produção independente do modelo de gestão, do nível econômico e do
nível tecnológico. Entretanto, o processo de construção de uma agricultura
sustentável deve passar, necessariamente, pelo fortalecimento da agricultura de
base familiar, por profundas modificações na estrutura fundiária do País e por
políticas públicas consistentes e coerentes com a emancipação de milhões de
agricultores brasileiros (MOREIRA; CARMO, 2004).
Assim sendo a produção em sistemas sustentáveis mostra-se promissora,
pois promove a ciclagem de nutrientes não necessitando de insumos externos.
Esse sistema de produção também é capaz de melhorar as características físicas
químicas e biológicas do solo (VIEIRA et al., 2015). Nesse sentido, para
monitorar o sistema de produção, os estudos sobre os indicadores de
sustentabilidade são fundamentais para que se estabeleça, com base na qualidade
do solo e acumulo de fitomassa,
os subsídios necessários ao planejamento dos sistemas de produção
agroecológicos (SIMÕES et al., 2018).
Na análise de agroecossistemas no que diz
respeito ao solo pode-se citar a densidade do solo o teor de carbono orgânico,
o índice de estabilidade estrutural, a condutividade hidráulica saturada, a macroporosidade, a capacidade de aeração, a capacidade de
água disponível para a planta e a capacidade de campo relativa como os
principais indicadores de qualidade do solo (REYNOLDS et al., 2009). Todavia,
existem outros indicadores que podem ser mensurados pelo próprio agricultor,
sem o uso de equipamentos sofisticados, facilitando a classificação e
acompanhamento do sistema. Nesse sentido, deve-se priorizar os indicadores que
sejam sensíveis as alterações de manejo, pois esses são capazes de revelar as
vantagens e desvantagens dos diferentes modelos de usos da terra (SIMÕES et
al., 2018).
A adoção de manejos mais sustentáveis, tais como, consórcio, adubação
orgânica e sistemas agroflorestais, são estratégias que podem contribuir para a
melhoria das qualidades físicas, químicas e biológicas dos solos sendo,
portanto, práticas que podem garantir a produção a longo prazo em condições
mais equilibradas e dinâmicas com o meio em que estão inseridas.
Para trabalhar com a sustentabilidade de agroecossistemas,
é necessário conhecer o ambiente no qual estar inserido, bem como os recursos
disponíveis, a mão de obra e as vocações de cada região. Neste trabalho,
abordou-se a realidade de alguns agroecossistemas
familiares do município de Serraria-PB, os quais vêm passando por um processo
de transição agroecológica, ou onde os agricultores têm o interesse de iniciar
essa transição.
De acordo com Lima (2019), no município de Serraria-PB, a agricultura
familiar predomina em áreas pequenas, que normalmente variam de 0,5- 5,0 ha,
onde são produzidos alimentos de maneira diversificada para subsistência
familiar, e, o excedente é comercializado nas feiras livres, em feiras da
agricultura familiar, para atravessadores, de porta em porta (na cidade), ou
mesmo na propriedade. Também há a comercialização em feiras livres das cidades
vizinhas, destacando-se o milho, feijão, macaxeira, mandioca, fava, banana,
urucum, caju e inhame.
Assim, objetivou-se
quantificar os níveis de resiliência e diversidade nos diferentes agroecossistemas localizados no município de Serraria, Paraíba.
MATERIAL
E MÉTODOS
A sistematização foi realizada no período
de 20 de abril a 30 de maio de 2017, em diferentes unidades produtivas no
município de Serraria, Brejo paraibano. Serraria é um município paraibano,
localizado na mesorregião do agreste e microrregião do brejo, no Território da
Borborema, conforme classificação do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), com uma área de 65.299 km², com uma população estimada em 2018 de 6.131
habitantes (BRASIL, 2018).
Como objeto de pesquisa deste trabalho,
foram analisados os seguintes agroecossistemas: três
em transição para Sistemas Agroflorestais (SAFs),
sendo estes um quintal agroflorestal, um SAF de coco e laranjeiras com inhame e
batata doce, e um SAF com pitombeiras, jabuticabeiras, mangueiras e outras
frutíferas; três consórcios de culturas de subsistência (feijão, milho,
mandioca e fava); três monocultivos sem a utilização
fertilizantes químicos solúveis industrializados e agrotóxicos, sendo
respectivamente um bananal de aproximadamente 1,0 ha, área de produção de urucum
de aproximadamente 2,0 ha, e área de produção de inhame de 1,0 ha.
A metodologia adotada foi a participativa
com o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) como uma ferramenta metodológica a
partir da qual foi possível analisar questões ambientais, sociais, econômicas,
políticas e culturais de comunidades rurais, visando o desenvolvimento local,
através de um processo de intercâmbio de aprendizagem entre os agentes externos
(técnicos) e os membros da comunidade na qual se realiza (PAREYN et al., 2006).
Foi realizado um reconhecimento prévio das
respectivas propriedades através de uma caminhada transversal com os
proprietários, além da caminhada transversal e da aplicação das entrevistas,
também realizou-se um diálogo participativo, onde os agricultores (as) entrevistados
puderam abordar um pouco da história de cada propriedade, de quando às
adquiriram, como era a vegetação anterior do local, se reflorestaram ou não,
quais as principais culturas e também criações animais da propriedade.
Alguns indicadores foram avaliados a
partir de observações diretas no momento da caminhada transversal com os
agricultores, tais como diversidade vegetal da propriedade, presença de plantas
nativas, dentre outros. Foram aplicados os indicadores de acordo com a
metodologia de Nicholls et al., (2004), onde para cada resposta do agricultor atribuiu
um valor de 1, 5 e 10. Cada agricultor foi entrevistado por 2 avaliadores que
atribuíram os referidos valores e posteriormente, submetido aos cálculos de
índice de sustentabilidade.
De posse dos dados coletados realizou-se a
tabulação no software Excel (Microsoft Office, 2010). Os indicadores de
sustentabilidade utilizados para avaliação dos parâmetros socioeconômicos e
ambientais dos agroecossistemas foram feitos de
acordo com a metodologia de Nicholls et al. (2004), com adaptações conforme
tabelas 01, 02 e 03.
Tabela 01. Indicadores de sustentabilidade na dimensão
econômica. |
|
Indicadores |
Características |
1.Baixa |
|
5.Média |
|
10.Alta |
|
1.Não participa de feiras nem de programa do
governo |
|
5.Participa
de feiras ou de programa do governo |
|
10.Participa
de feiras e de programa do governo |
|
Diversificação do sistema
produtivo |
1.Monocultivo sem criação de animais |
5.Monocultivo
com criação de animais |
|
10.Policultivo
com criação de animais |
|
Mão de obra |
1.Trabalha sozinho |
5.Trabalha
e contrata mão de obra |
|
10.Mão
de obra familiar |
|
1.Produz apenas para o consumo |
|
5.Vende
para o atravessador |
|
10.Vende
diretamente ao consumidor |
|
Agregação de valor |
1.Vende sem nenhum beneficiamento |
5.Vende
com algum tipo de embalagem |
|
10.Beneficia
e agrega valor |
|
Gastos com fertilizantes,
agrotóxicos, etc. |
1.Toda
produção é feita com agrotóxicos |
5.Utiliza
agrotóxicos e defensivos naturais |
|
10.Não
utiliza agrotóxicos |
|
Crédito rural |
1.Nunca fez uso |
5.Obtém
com dificuldade |
|
10.Sempre
obtém |
|
1.Sucateados |
|
5.Em
bom estado de conservação |
|
10.Novos |
|
1.Até 4 meses |
|
5.De
4 a 8 meses |
|
10.Durante
todo ano |
|
Adaptado de Nicholls et al. (2004) |
Tabela
02.
Indicadores de sustentabilidades na dimensão social. |
|
Indicadores |
Características |
1.Não possui
banheiro |
|
5. Possui
banheiro |
|
10. Possui
banheiro e agente de saúde |
|
1.Não participa
de atividades culturais |
|
5.Às vezes
participa de atividades culturais |
|
10. Sempre
participa de atividades culturais |
|
1.Não estudou |
|
5. Ensino
fundamental |
|
10.Ensino médio,
técnico ou superior |
|
1.Não dedica
tempo ao lazer |
|
5.Faz atividade
de lazer raramente |
|
10.Sempre que
possível |
|
|
1.Não participa
de atividades da comunidade |
5.Participa de
sindicato, associação e da igreja (pouco) |
|
10.Participa
de sindicato, associação e da igreja, etc. (muito) |
|
Relações com a
agricultura |
1.Atividade
secundária |
5.Atividade
principal |
|
10.Atividade
principal + artesanato |
|
1.Não participa |
|
5.Participa
pouco 10.Sempre
participa |
|
1.Não participam |
|
5.Participam
pouco |
|
10.Sempre
participam |
|
1.Não tem
assessoria técnica |
|
5.Recebe
assessoria tec. da EMATER |
|
10.Recebe orientações
técnicas (EMATER, sindicato, UFPB, dentre outros). |
|
Posse da terra |
1.Arrendada |
5.Assentamento
da Reforma Agrária |
|
10.Própria |
|
Adaptado de Nicholls et al. (2004) |
Tabela
03.
Indicadores de sustentabilidade na dimensão ambiental. |
|
Indicadores |
Características |
1.Solo “nu” (sem
Matéria orgânica) |
|
2.Solo com pouca
MO |
|
10.Solo com
bastante MO |
|
1.Monocultura
sem árvores (sombreamento) |
|
5.Monocultura
com poucas árvores |
|
10.Policultivo
com sombreamento |
|
1.Uma só
variedade dominante. |
|
5.Duas
variedades dominantes. |
|
10.Mais de duas
variedades dominantes. |
|
1.Monocultura
convencional com agrotóxicos |
|
5.Em transição
para produção orgânica |
|
10.Produção
orgânica |
|
1.Não possui
cisternas nem plantas ou animais adaptados a região |
|
5.Possui
cisterna |
|
10.Possui
cisternas, plantas e animais adaptados |
|
Profundidade
do solo |
1.Subsolo
exposto |
5.Solo superficial fino (menos de 10 cm) |
|
10.Solo
superficial mais profundo (+ de 10 cm) |
|
Processos
erosivos |
1.Erosão severa |
5.Erosão
evidente (pouca) |
|
10.Sem sinais de
erosão |
|
Atividade
biológica no solo |
1.Sem sinais de
atividade biológica |
5.Presença de
alguns invertebrados e insetos |
|
10.Presença de
muita atividade biológica |
|
Origem das
sementes |
1.Compra em
feiras/mercados e recebe de órgãos governamentais |
5.Armazena um
pouco e compra ou recebe de órgãos governamentais |
|
10.Armazena para
a safra seguinte |
|
Diversidade
natural circundante |
1.Rodeado por
outros cultivos, sem vegetação natural |
5.Uma das
laterais predomina a vegetação natural |
|
10. 50% da
vegetação circundante é natural |
|
Adaptado de Nicholls et al. (2004) |
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
De
maneira geral, os agroecossistemas avaliados têm como
caraterística comum o não uso de fertilizantes químicos solúveis
industrializados em seu manejo produtivo, possuem uma boa diversidade vegetal,
mesmo naqueles agroecossistemas que apresentam áreas
de monocultivos. Essas características contribuíram
para que os resultados obtidos fossem semelhantes em alguns parâmetros, se
aproximando, portanto, das diretrizes praticadas na Agroecologia, que para
Costa (2016), é uma alternativa viável para reverter o atual quadro de
devastação socioambiental provocado pela agricultura convencional. Contudo,
salienta-se que o não uso de fertilizantes químicos industrializados não
garante que a propriedade esteja de acordo com os princípios e práticas
agroecológicas para isso seria necessário o atendimento de outros indicadores
como a diversidade produtiva, a participação familiar na produção, dentre
outras estratégias.
Na
dimensão econômica, podemos observar que em nenhum dos ecossistemas há o uso de
agrotóxicos, conforme figura 01, o que contribui para sustentabilidade ambiental
e econômica dos agroecossistemas e se contrapõe com o
manejo praticado na agricultura convencional brasileira sendo uma das que mais
utilizada agrotóxicos no mundo (COSTA, 2016).
Figura 1. Níveis de resiliência na dimensão
econômica dos agroecossistemas no município de
Serraria, Paraíba.
O
não uso de agrotóxicos contribui também com o bem-estar dos produtores e de
suas famílias uma vez que para Melo e Araújo (2016), o uso de produtos químicos
pode provocar problemas de saúde nos agricultores e animais além de poluir o
meio ambiente. Outro fator que contribui para a sustentabilidade econômica do agroecossistema é a mão de obra caracterizada por ser de
origem familiar, o que além de reduzir os gastos com as atividades produtivas,
fortalece os vínculos familiares e possibilita a apropriação dos jovens (quando
envolvidos nas atividades produtivas) pela profissão dos pais e valorização da
agricultura familiar.
O
sistema de monocultivo apresenta menor diversificação
de sua forma de produção, entretanto por ser praticado em pequenas áreas, sem o
uso de fertilizantes químicos industrializados e preservação de algumas árvores
nativas nas proximidades das áreas de produção não causou grande impacto em
alguns indicadores de sustentabilidade avaliados.
Como
podemos observar na figura 01, quanto à produtividade e a rentabilidade, os agroecossistemas com SAF em processo de transição se
destacam. Esse melhor índice se dá devido à diversificação da produção ao longo
do ano, assegurando que ao fim da safra de determinado produto outra já se
inicie, como por exemplo as safras das frutíferas, permitindo a resiliência e
autonomia da propriedade.
Segundo
Oliveira et al. (2013), o modelo agroecológico mesmo quando em transição pode
ser uma estratégia para o desenvolvimento rural e justiça social em nosso país.
Os SAF’s são uma importante estratégia para a
transição agroecológica uma vez que neles a necessidade de insumos é menor
quando comparado aos monocultivos, pois a maior
biodiversidade gera mais interações ecológicas entre os componentes do sistema
(LIMA et al. 2013).
Nos
SAF’s também podemos identificar um maior equilíbrio
econômico. O equilíbrio econômico advém da não necessidade de compra de
insumos, que são bastante caros. Nesse sistema uma planta ajuda outra a
adquirir macro e micronutrientes necessários, procurando imitar a natureza
propiciando uma independência de produtos industrializados e uma maior
autonomia dos agricultores em relação aos insumos. Nos sistemas de monocultivos há uma forte presença do atravessador, os
agricultores justificam a presença do intermediário em virtude das dificuldades
para comercializar toda a produção de forma independentemente.
Na
figura 02 observa-se que os monocultivos encontram-se
em áreas que o agricultor não tem a posse da terra, já os SAF’s
em transição e mesmo os consórcios localizam-se em áreas onde os agricultores
são proprietários. A propriedade da terra é muito importante para a autonomia
dos agricultores já que sem sua posse irão sempre depender de outras pessoas
para conseguirem trabalhar e retirar da terra o seu próprio sustento.
Figura 2. Níveis de resiliência na dimensão social
dos agroecossistemas no município de Serraria,
Paraíba.
Em
todas as áreas foi detectado um índice de falta de assessoramento técnico
continuado para a produção. O que corrobora com Noce e
Ferreira Neto (2016), ao afirmarem que faltam políticas públicas voltadas para
a agricultura familiar. Essa falta de assistência técnica impede que os
agricultores tenham acesso a novas tecnologias que poderiam incrementar a
produção sem necessariamente causar danos ao meio ambiente. Os agricultores
asseguram que as experiências desenvolvidas na produção foram passadas de pais
para filhos e em cursos e oficinas que participaram ao longo da vida, assim
como a maioria das sementes utilizadas nas propriedades são oriundas da própria
localidade.
Em
todas as propriedades as mulheres participam ativamente das atividades
desenvolvidas na propriedade, bem como em atividades externas de construção e
socialização de conhecimentos. Essa participação é de extrema importância. Essa
atitude contribui com o seu empoderamento e confirma seu importante papel para
a persistência da família na localidade (REFATI et al. (2017). A participação
social em oficinas, reunião de associação, palestras, dentre outras, também é
bem difundida em todos os sistemas, o que fortalece os vínculos entre a
comunidade e a percepção de novas experiências produtivas a serem implementadas
pela família.
No
tocante aos índices de sustentabilidade na dimensão ambiental, nos sistemas em
transição para SAF’s, verificou-se uma maior
diversidade genética, vegetal e com melhores valores de aparência dos solos.
Quanto à atividade biológica visível a olho nu, os valores foram inferiores aos
outros sistemas de produção.
Nos
consórcios, alguns indicadores foram diferentes aos do SAF’s
apresentando variações principalmente nos aspectos de diversidade genética e vegetal,
sistema de manejo e profundidade do solo. Quando comparado aos monocultivos, os consórcios apresentaram melhores índices
também de diversidade genética, vegetal e profundidade do solo, além de sistema
de manejo, consolidando com Valani et al. (2016), onde
relatam melhores características de solo nos consórcios quando comparado aos monocultivos.
Os
sistemas de monocultivos apresentam baixa diversidade
genética e vegetal, predominando apenas uma espécie por área (Figura 03). Os monocultivos obtiveram índices de sustentabilidade próximos
aos do consórcio, isso provavelmente porque os cultivos são em pequena escala o
que não provocam grandes diferenças entre esses agroecossistemas.
Figura 3. Níveis de resiliência na dimensão
ambiental dos agroecossistemas no município de
Serraria, Paraíba.
Outros
fatores que conservaram a estrutura e aparência do solo para as áreas de SAF’s e consórcios foram a não utilização de produtos
químicos e a permanência das plantas rasteiras garantem a cobertura dos solos
nesses agroecossistemas. Assim como, a permanência de
árvores nativas nas áreas de produção e a presença da diversidade natural
circundante em está presente em todas as áreas.
CONCLUSÕES
Os agroecossistemas de transição para sistema agroflorestal
proporcionam melhor condição de ocupação da terra, diversidade e produção de
culturas anuais e frutíferas, ao longo do ano, otimização de utilização da mão
de obra e reduzem seus custos iniciais de implantação.
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