ARTIGO CIENTÍFICO

Trabalho Premiado no II Encontro Regional de Estudos Agroambientais, realizado em Rio Largo, Alagoas, Brasil

 

Genótipos de alface folha lisa para a região Agreste de Sergipe

 

Loose-Leaf Lettuce genotypes for the Agreste region in Sergipe, Brazil

 

Genotipos de lechuga de hoja plana para la región Agreste de Sergipe, Brasil

 

Juliana Lopes Souza¹; Susi Alves da Silva²; Renata Silva-Mann²; Gláucia Barretto Gonçalves²; Luiz Antônio Augusto Gomes³; José Luiz Sandes de Carvalho Filho4

 

¹Programa de Pós-graduação em Agricultura e Biodiversidade, Universidade Federal de Sergipe, Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze, CEP 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brasil. E-mail: juliana_lopes_souza@live.com. ²Departamento de Engenharia Agronômica, Universidade Federal de Sergipe. E-mail: susi_agro@yahoo.com.br; renatamann@gmail.com;  glauciabarretto@yahoo.com.br. ³Departamento de Agricultura, Universidade Federal de Lavras, Campus Universitário, Aquenta Sol, Lavras, Minas Gerais, E-mail: laagomes@dag.ufla.br. 4Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, Pernambuco. E-mail: joseluiz.ufrpe@yahoo.com.br.

 

Recebido: 15/12/2019; Aprovado: 22/12/2019

 

Resumo: Dentre as hortaliças folhosas, a alface é uma hortaliça folhosa bastante consumida no Brasil, sendo recomendado o uso de cultivares adaptadas às diferentes condições climáticas. Com isso, este trabalho teve como objetivo selecionar genótipos de alface de folhas lisas e tolerantes ao florescimento precoce. O experimento foi implantado no município de Itabaiana, Estado de Sergipe em blocos casualizados com três repetições, sendo testados 12 genótipos, os quais foram avaliados quanto à massa fresca e seca da parte aérea, massa fresca e seca da raiz, massa de folhas comerciais e não comerciais, número de folhas comerciais e não comerciais, diâmetro da cabeça e comprimento do caule. O genótipo AFX005B-121-02, que possui folhas lisas e é tolerante ao florescimento precoce, apresentou melhor desempenho comercial e agronômico, sendo promissor para plantio nas condições do Agreste.

 

Palavras-chave: Lactuca sativa L.; Melhoramento vegetal; Pendoamento precoce.

 

Abstract: Among the leafy vegetables, lettuce is one of the most consumed in Brazil, being recommended the use of cultivars adapted to different climatic conditions. Therefore, this work had the objective to select lettuce genotypes of smooth leaves and tolerant to the early flowering. The experiment was carried out in the city of Itabaiana, State of Sergipe in experimental design of randomized blocks with three replications. Twelve genotypes were evaluated for fresh and dry weight of shoot, fresh and dry mass of root, mass and number of commercial and non-commercial leaves, head diameter and stem length. The genotype AFX005B-121-02, which has smooth leaves and is bolting tolerant, presented better agronomical and commercial performance, being promising for cultivation conditions in the Agreste region.

 

Keywords: Lactuca sativa L., Plant breeding, Bolting.

 

Resumen: Entre las verduras de hoja, la lechuga es una verdura ampliamente consumida en Brasil, y se recomienda el uso de cultivares adaptados a diferentes condiciones climáticas. Por lo tanto, este trabajo tuvo como objetivo seleccionar genotipos de lechuga con hojas lisas y tolerantes a la floración precoz. El experimento se implementó en el municipio de Itabaiana, estado de Sergipe, en bloques aleatorizados con tres repeticiones, probándose 12 genotipos, que se evaluaron para determinar la masa fresca y seca de la parte aérea, la masa fresca y seca de la raíz, la masa de hojas comerciales y no comercial, número de hojas comerciales y no comerciales, diámetro de la cabeza y longitud del tallo. El genotipo AFX005B-121-02, que tiene hojas lisas y es tolerante a la floración precoz, mostró un mejor rendimiento comercial y agronómico, siendo prometedor para cultivo en condiciones de Agreste.

 

Palabras-clave: Lactuca sativa L.; Fitomejoramiento; Pesaje temprano.

 

INTRODUÇÃO

 

A alface (Lactuca sativa L.) é um dos vegetais mais consumidos em todo o mundo, sendo uma boa fonte de fibra, ferro e vitamina C e de vários outros compostos bioativos benéficos para a saúde, com atividades anti-inflamatórias, de redução do colesterol e antibióticas. No entanto, a composição nutricional e os compostos bioativos variam entre os tipos e cultivares de alface (KIM et al., 2016).

A alface caracteriza-se pela considerável variação morfológica e genética e são compostas por sete grupos principais de cultivares que divergem fenotipicamente. O melhoramento de alface é focado em várias características morfológicas e de resistência contra doenças e pragas. Estes descritores são muito eficientes para o estudo da variabilidade morfológica entre as espécies (KŘÍSTKOVÁ et al., 2008).

As cultivares de alface são hospedeiras de diversos patógenos vegetais, causadores de doenças como podridão parda, mancha bacterina, míldio, vírus do mosaico da alface entre outras, resultando na perda de milhões de dólares por ano (KRISNKI; PELISSARI, 2012; SHIM et al., 2014), sendo necessária a avaliação de variações fenotípicas de variedades e cultivares resistentes à diferentes doenças (DEN BOER et al., 2014; SIMKO et al., 2015) e pragas (WALLEY et al., 2017), por meio de programas de melhoramento vegetal desta espécie.

A alface é a hortaliça folhosa de maior relevância econômica no Brasil, tendo seu consumo e sua produção aumentada nos últimos anos. Em Sergipe, o município de Itabaiana, também conhecido como cinturão verde do estado, aparece como o principal produtor desta hortaliça, sendo que sua localização geográfica central e a grande frota de caminhões, facilitam a distribuição da produção para cidades e até para estados vizinhos.

Porém, a temperatura elevada em Itabaiana favorece a emissão do pendão floral na cultura da alface, resultando, muitas vezes, em produto com sabor amargo indesejável para comercialização. Para o município, não existem relatos de seleção de genótipos de alface tolerantes ao pendoamento precoce e que possuam características comerciais de acordo com as exigências do mercado. Na cultura da alface, após atingir o ponto máximo da fase vegetativa, inicia-se a fase reprodutiva, assim como a produção de látex, que proporciona sabor amargo às folhas, característica indesejável para o mercado in natura, tornando a hortaliça imprópria para o consumo (MICHALSKA et al., 2009).

Assim, visando contribuir para a produção de alface de melhor qualidade e que possa se valer de qualidades que corroborem para a redução na utilização de defensivos, este trabalho objetivou selecionar genótipos F4 de alface, oriundos do cruzamento entre as cultivares Regina 71 e Salinas 88, que sejam de folhas lisas e tolerantes ao florescimento precoce, resistentes ao LMV e ao Meloidogyne incognita, sob as condições edafoclimáticas de Itabaiana, Sergipe. Desta forma, a avaliação de cultivares de alface em produzidas na região do agreste sergipano representa uma ferramenta extremamente importante na obtenção de informações para futuros programas de melhoramento genético desta espécie. Objetivou-se, por meio deste trabalho, selecionar genótipos F4 de alface, oriundos do cruzamento entre as cultivares Regina 71 e Salinas 88, que sejam de folhas lisas, resistentes aos nematoides e tolerantes ao pendoamento precoce, sob as condições edafoclimáticas de Itabaiana, Sergipe.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

A avaliação do desempenho agronômico foi realizada na área experimental do projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, no município de Itabaiana-SE, cujo solo foi classificado como Podzólico Vermelho-Amarelo, de textura arenosa, sendo 80% areia, 13% silte e 7% argila (NUNES et al., 2002; SILVA et al., 2013). A cidade situa-se na meso região do agreste sergipano, com pluviosidade média anual de 861,9 mm e temperatura média anual de 24,7°C. Localiza-se a uma latitude 10° 41’ e longitude 37° 25’ e altitude média de 186 m (EMBRAPA, 2011). A área do experimento está localizada na Região Hidrográfica Atlântico Norte, bacia hidrográfica do Rio Sergipe. Encontra-se em área sócio-econômica da agropecuária denominada como cinturão agrícola (Souza et al., 2009). E tem um histórico de infestação por nematóides das galhas. Devido às temperaturas elevadas, a alface produzida nessa região apresenta sabor amargo ocasionado pela emissão precoce do pendão floral.

Para a produção das mudas foram utilizadas as cultivares de alface parentais Salinas 88 (americana de folhas crespas, resistente ao nematóide das galhas e suscetível ao pendoamento precoce) e Regina 71 (folhas lisas, suscetível ao nematóide das galhas e resistentes ao pendoamento precoce) e oito genótipos da geração F4: AFX005B–273-02, AFX005B-121-02, AFX005B-124-06, AFX005B-72-02, AFX005B-114-01, AFX005B-16-03, AFX005B-183-01, AFX005B-43-02 classificados quanto à suscetibilidade aos nematóides das galhas M. incognita raça 1, às características comerciais e à tolerância ao pendoamento precoce (CARVALHO FILHO et al., 2007; CARVALHO FILHO et al., 2009). Além destas, foi utilizada como testemunha a cultivar Saia Véia, muito cultivada na região (Tabela 1).

A semeadura foi realizada em julho de 2010, em bandejas de plástico com 162 células utilizando o substrato comercial Plantmax®, sendo semeada uma semente por célula. As plântulas foram mantidas em casa de vegetação, irrigadas com turno de rega de uma hora por dois minutos diariamente, de acordo com a necessidade.

 

Tabela 1. Classificação dos genótipos de alface utilizados em experimento quanto à resistência aos nematóides das galhas, à tolerância ao pendoamento precoce e quanto aos tipos de folhas.

Genótipos

Classificação quanto à

Tipos de folhas

Resistência*

Tolerância**

Limbo

Borda

AFX005B–273-02

R

T

I

L

AFX005B-121-02

R

T

L

L

AFX005B-124-06

R

AT

L

E

AFX005B-72-02

R

AT

L

E

AFX005B-114-01

R

NT

I

L

AFX005B-16-03

S

NT

L

E

AFX005B-183-01

S

NT

I

E

AFX005B-43-02

S

T

I

L

*Resistência a nematóides das galha (CARVALHO FILHO et al., 2007); **Tolerância pendoamento precoce (CARVALHO FILHO et al., 2009), R= Resistente, S = Suscetível, T= Tolerante, AT = Altamente Tolerante, NT = Não Tolerante, I= Intermediário, L = Liso(a), E = Enrugada

 

O transplantio foi realizado em agosto de 2010, após o surgimento da quinta folha definitiva. O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados, com 12 tratamentos e três repetições, em parcelas com dimensões de 6 x 1 m, totalizando 72 x 1 m por bloco, com espaçamento de 0,3 x 0,3 m entre plantas. A parcela útil de cada tratamento foi constituída de oito plantas, as demais plantas, na porção mais externa dos canteiros foi utilizada como bordadura.

Na área onde foi implantado o experimento, foi realizada uma adubação de fundação de acordo com a análise do solo da área (Tabela 2). A adubação foi constituída de esterco bovino, superfosfato simples e cloreto de potássio (Tabela 3).

 

Tabela 2. Análise de solo na área experimental do projeto “Pequeno Produtor, Grande Empreendedor”, no município de Itabaiana, Sergipe

Ensaio

Resultado

Unidade

Matéria orgânica

7,62

g dm-3

Cálcio + Magnésio

4,75

cmolc dm-3

Potássio

45,2

ppm

Fósforo

148

ppm

Índice de saturação de bases (V)

100

%

 

Tabela 3. Recomendação de adubação para a cultura de alface. Fonte: Nunes, 2007.

Época

Recomendação

Plantio

3 kg m-2 de esterco bovino

27,78 g m-2 de superfosfato simples

8,62 g m-2 de cloreto de potássio

15 DAT*

20 g m-2 de sulfato de amônio

30 DAT

20 g m-2 de sulfato de amônio

*Dias após plantio

 

Após 21 dias do transplantio foi feita adubação de acordo com a análise do solo. Foram realizadas capinas manuais durante o período de condução do experimento e as plantas foram irrigadas diariamente, de acordo com a necessidade da cultura e as condições de precipitação local, sendo observados o Kc para a cultura e a evapotranspiração diária.

Ao atingir o ponto de colheita para a testemunha, de acordo com as características exigidas pelo mercado, isto é, quando atingiu o máximo de desenvolvimento, com folhas ainda tenras e sem sinal de pendoamento, foi realizada a colheita aos 35 dias após o transplantio, e a seguir realizada avaliação das características: massa fresca da parte aérea (MFPA) (g), massa fresca da raiz (MFR) (g), massa seca da parte aérea (MSPA) (g), massa seca da raiz (MSR) (g), massa de folhas não comerciais (MFNC) (g), massa de folhas comerciais (MFC) (g), número de folhas não comerciais (NFNC), número de folhas comerciais (NFC), diâmetro da cabeça (DC) (cm) e comprimento do caule (CC) (cm).

A avaliação das variáveis MFPA, MFR, MFNC, MFC foi realizada por pesagem em balança digital de precisão 0,005 g. As variáveis DC e CC foram estimadas com uma régua graduada (cm). O NFNC e NFC foram determinados pela contagem de folhas maiores de 3 cm de comprimento, aproximadamente. Para as variáveis MSPA e MSR, foi coletada uma planta de cada tratamento por parcela sendo o material coletado acondicionado em sacos de papel e colocado em estufa de circulação de ar, a 65 ºC, até atingir massa em equilíbrio (OLIVEIRA et al., 2004).

Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F a 5% de probabilidade e o agrupamento de médias realizado pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade, com o auxílio do software estatístico SISVAR® (FERREIRA, 2014).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Por meio da análise para a MFPA, observou-se que os genótipos de alface, AFX005B-183-01, AFX005B-72-02 e Salinas 88, apresentaram as maiores médias, sendo superiores à testemunha Saia Véia, o que corrobora para o melhor desempenho dos genótipos melhorados da geração F4 em relação à testemunha (Tabela 4).

 

Tabela 4. Valores médios para massa fresca da parte aérea (MFPA), massa de folhas não comerciais (MFNC), massa de folhas comerciais (MFC), massa fresca da raiz (MFR) e comprimento do caule (CC) para os diferentes genótipos de alface (Lactuca sativa L.) produzidos no município de Itabaiana, Sergipe

Genótipos

MFPA (g)

MFNC (g)

MFC (g)

MFR (g)

CC (cm)

Salinas 88

0,40 a*

0,03 b

0,33 a

0,02 b

5,67c

Regina 71

0,15 b

0,02 b

0,12 b

0,02 b

4,04 c

AFX005B–273-02

0,17 b

0,01 b

0,14 b

0,01 b

3,75 c

AFX005B-121-02

0,31 b

0,03 b

0,25 a

0,01 b

5,88 c

AFX005B-124-06

0,27 b

0,04 b

0,21 b

0,01 b

4,82 c

AFX005B-72-02

0,41 a

0,07 a

0,30 a

0,02 b

7,60 b

AFX005B-114-01

0,29 b

0,03 b

0,23 b

0,02 b

6,02 c

AFX005B-16-03

0,24 b

0,02 b

0,18 b

0,02 b

7,82 b

AFX005B-183-01

0,45 a

0,07 a

0,30 a

0,05 a

10,42 a

AFX005B-43-02

0,22 b

0,02 b

0,17 b

0,02 b

4,48 c

Saia Véia

0,30 b

0,05 a

0,21 b

0,03 b

5,10 c

CV (%)

28,43

35,66

28,22

34,65

10,11

    *Médias seguidas por letras iguais não diferem a 5% de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

 

Para as variáveis de importância econômica dos genótipos AFX005B-183-01, AFX005B-72-02, da geração F4, ocorreram as maiores perdas de MFNC (0,071 e 0,065 g). O genótipo AFX005B-121-02 (0,029 g) apresentou pequena perda de matéria fresca para a comercialização. Para a variável MFC, observou-se que os genótipos AFX005B-483-01, AFX005B-72-02 e AFX005B-121-02 apresentaram as maiores médias (40,303; 0,297; 0,251 e 0,326 g, respectivamente).

Ao se avaliar o pendoamento em genótipos de alface, verificou-se que em 13 progênies F7, dos genitores Verdinha, Regina e Tinto, e nas cultivares Luisa e Babá de Verão, houve correlação positiva entre características agronômicas comerciais e o índice de pendoamento (SOUZA et al., 2008).

Por ser uma cultura típica de climas amenos, o pendoamento precoce é um problema que tem afetado a cultura da alface e dificultado o cultivo em regiões com temperaturas elevadas, como as encontradas no nordeste do Brasil. O desenvolvimento de cultivares tolerantes ao pendoamento precoce tem grande importância, principalmente em regiões tropicais, como o Brasil, especialmente no Nordeste.

As cultivares com caules mais longos é um indicativo do início do pendoamento, e, portanto, da suscetibilidade ao calor, sendo, portanto, o comprimento do caule um fator a ser avaliado na seleção da tolerância ao pendoamento precoce (OLIVEIRA et al., 2004). Com isso, os genótipos AFX005B-114-01, AFX005B-121-02, AFX005B-124-06, AFX005B-43-02 e AFX005B-273-02 (6,03; 5,88; 4,83; 4,48 e 3,75 cm, respectivamente), com menor comprimento de caule, são de interesse neste estudo.

Observou-se que para os genótipos F4 obteve-se um desempenho superior à cultivar comercial utilizada na região, Saia Véia, sendo que esta possui uma MFC inferior aos genótipos F4: AFX005B-183-01, AFX005B-72-02 e AFX005B-121-02; e apresentou média elevada para MFNC, assim como os genótipos F4 AFX005B-183-01 e AFX005B-72-02, o que demonstra a elevada perda de folhas na ocasião da colheita. Além disso, a cultivar em questão não é resistente aos nematóides das galhas e é suscetível ao pendoamento precoce. Para as variáveis DC, NFNC, NFC, MSPA e MSR não houve diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade.

No estudo realizado com 22 progênies F4 de alface, dentre as quais inclui-se as utilizadas no presente estudo, verificou-se que as progênies AFX005B-043-02, AFX005B-121-01 e AFX005B-121-02 foram promissoras para dar continuidade a programas de melhoramento (CARVALHO FILHO et al., 2009).

As restrições sobre a capacidade de fenotipagem de cultivares no campo de produção limitam a capacidade de obtenção das características genéticas quantitativas, particularmente aquelas relacionadas com a tolerância ao estresse (potencial de produção, restrição hídrica, calor e absorção de nutrientes) (ARAUS E CAIRNS, 2014).

Os cruzamentos devem preferencialmente ser efetuados entre genótipos do mesmo tipo varietal, pois como não se conhece com exatidão a herança e o número de genes para as diferentes características morfológicas, a recuperação do tipo recorrente pode ser dificultada (AZEVEDO et al., 2013).

Para a variável MFR e CC, o genótipo AFX005B-183-01 diferiu significativamente dos demais genótipos, apresentando a maior média (0,048 g e 10,425 cm), sendo este classificado como suscetível aos nematóides por Carvalho Filho et al (2007) e de folhas crespas (CARVALHO FILHO et al., 2009), com menor similaridade por meio de marcadores moleculares com os demais genótipos (SILVA et al., 2010), e, portanto, não sendo de interesse para a seleção neste estudo. Ainda para a variável CC, os genótipos AFX005B-16-03 e AFX005B-72-02 não diferiram entre si e diferiram dos demais genótipos, com valores intermediários (7,82 e 7,60 cm).

Em estudo sobre populações segregantes de alface, envolvendo 11 linhagens avançadas [('Regina 71' x 'Grand Rapids') x 'Elisa'] com as testemunhas resistente ('Grand Rapids') e suscetível ('Regina 71') observou-se a resistência à Meloidogine javanica, sendo que seis linhagens foram consideradas homozigotas resistentes, podendo ser utilizadas como novas fontes de resistência em programas de melhoramento de alface (FERREIRA et al., 2011).

O genótipo AFX005B-121-02 apresentou média de MFC dentre as superiores, sendo que este genótipo é considerado resistente aos nematóides M. incognita, com limbo e borda lisas (CARVALHO FILHO et al., 2009). Este resultado confirmado pela análise de similaridade por marcadores moleculares, onde este genótipo foi um dos que apresentou maior similaridade com a cultivar Salinas 88, resistente aos nematóides das galhas (SILVA et al., 2010). Este mesmo genótipo, AFX005B-121-02, apresentou média de CC significativamente inferior.

O melhoramento genético de plantas têm sido um objetivo básico e essencial. Estresses abióticos como um todo são considerados como os fatores cruciais que restringem o desenvolvimento, o potencial genético e a produtividade das espécies de plantas (GILL et al., 2014). Na sua forma convencional, o melhoramento vegetal se baseia na seleção fenotípica de plantas superiores dentro de populações segregantes oriundas de cruzamentos. Nesta prática, existem inúmeras dificuldades, especialmente em relação às interações genótipo x ambiente (SCHUSTER, 2011).

A domesticação de variedades selvagens de alface levou à perda de espinhos nas folhas e hastes, redução de látex e amargor nos tecidos vegetais, baixo pendoamento e incremento do aumentado da semente. A seleção antrópica e os esforços posteriores de reprodução também resultaram em mudanças no tamanho, forma, cor, textura e sabor de folhas e plantas, hábitos de rumo, resistência a doenças e insetos, rendimento e adaptação a diferentes áreas geográficas e ambientes (MOU, 2011).

Para que os alelos das culturas se estabeleçam permanentemente na população selvagem após os eventos de hibridação única, os genótipos híbridos devem conferir uma vantagem seletiva em um determinado ambiente. A introgressão de genes de culturas em uma população começa com híbridos F1, com contribuições iguais de genomas entre variedades cultivadas e silvestres, heterozigosidade genômica e forte desequilíbrio de ligação. Nas gerações subsequentes, uma série de novos genótipos será formada como resultado da recombinação e segregação na meiose e a criação de novos indivíduos por cruzamento (HARTMAN et al., 2013).

A identificação de variedades e cultivares é um dos aspectos mais importantes nos sistemas agrícolas. Tradicionalmente, são utilizados descritores morfológicos básicos adequados para grupos de plantas com parâmetros morfológicos distintos (KORIR et al., 2012). Porém, a identificação e caracterização com base nas características morfológicas de um grande número de variedades cultivadas ou locais tornou-se difícil devido a sua não estabilidade e influências das condições ambientais e climáticas, e consequentemente a plasticidade fenotípica (MARCHI et al., 2015; LAFTA et al., 2017).

Desta forma, as características relacionadas às folhas de alface são muito importantes para a avaliação do desempenho de cultivares no campo, pois estão relacionadas à adaptação do material genético ao ambiente e à qualidade para a comercialização (DIAMANTE et al., 2013).

 

CONCLUSÕES

 

A cultivar Saia Véia, utilizada na região Agreste de Sergipe, apresenta um desempenho comercial e agronômico inferior aos genótipos em estudo, o que indica a necessidade premente de sua substituição.

O genótipo AFX005B-121-02 previamente caracterizado como resistente ao M. incognita raça 1 e ao florescimento precoce, com folhas lisas tanto na borda quanto no limbo é promissor para continuidade aos programas de melhoramento.

 

AGRADECIMENTOS

 

Os autores agradecem à CAPES pela concessão da bolsa de pós-graduação, à Universidade Federal de Lavras pela cessão do material genético e ao Instituto GBarbosa - Projeto Pequeno Produtor, Jovem Empreendedor pelo apoio financeiro

 

REFERÊNCIAS

 

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