NOTA CIENTÍFICA
Trabalho
Premiado no II Encontro Regional de Estudos Agroambientais, realizado em Rio
Largo, Alagoas, Brasil
Desmatamento multitemporal no bioma Caatinga no município de Delmiro
Gouveia, Alagoas
Multitemporal
deforestation in the Caatinga biome in the municipality of Delmiro
Gouveia, Alagoas, Brazil
Deforestación multitemporal
en el bioma de Caatinga en el municipio
de Delmiro Gouveia, Alagoas, Brasil
Amparo
dos Santos Silva1,
Flávio Henrique dos Santos Silva2,
Gilvanete dos Santos3,
Maria José de Holanda Leite4
1Graduanda
do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Alagoas, Campus Delza Gitaí,
Rio Largo, Alagoas. Rodovia Br 104, sn, km 14,
57072-970, Brasil. (amparo.silva@ceca.ufal.br); 2Graduando do curso de Engenharia de
Agrimensura da Universidade Federal de Alagoas, Campus Delza Gitaí, Rio Largo, Alagoas. (flavio.santos@ceca.ufal.br); 3Graduanda do curso de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de Alagoas, Campus A.C. Simões, Av. Lourival Melo Mota, Tabuleiro do Martins,
Maceió, Alagoas, 57072-970, Brasil. (gilvanete.santos@icbs.ufal.br); 4Professora da Universidade Federal de
Alagoas, Campus Delza Gitaí, Rio Largo,
Alagoas. (maryholanda@gmail.com)
Recebido:
04/11/2019; Aprovado: 19/11/2019
Resumo: O bioma Caatinga predomina em grande parte da região
nordeste do País, compreendendo cerca de 48% do estado de Alagoas,
estendendo-se pelo município de Delmiro Gouveia. A Caatinga vem sofrendo um processo de supressão
em decorrência da expansão agrícola, dos incêndios ocorridos na área, do corte
de árvores para fins comerciais e de fenômenos naturais. Assim, o presente
trabalho teve como objetivo analisar de forma multitemporal
as mudanças na vegetação Caatinga no decorrer de 33 anos. Para realização desta
pesquisa, utilizou-se o software Qgis e dados da
coleção Mapbiomas 4, a fim de compreender a dinâmica
da Caatinga. A partir dos resultados, constatou-se que houve mudanças no
decorrer do tempo analisado, apontando um desmatamento de 71,52 Km², o que equivale
a 27% da área. No entanto, observamos um processo de regeneração após um longo
período de desmatamento e desertificação do bioma. Para que a área acelere o
processo de recuperação, são necessários mais estudos de sensoriamento remoto
junto com novas análises do satélite landsat, bem como mais
fiscalização dos órgãos responsáveis.
Palavras-chave: Caatinga; Qgis;
Mapbiomas.
Abstract: The
Caatinga biome predominates in much of the northeastern region of the country,
comprising about 48% of the state of Alagoas, extending through the
municipality of Delmiro Gouveia. Caatinga is
currently undergoing a process of suppression due to agricultural expansion,
fires in the area, logging for commercial purposes and natural phenomena. Thus,
the present work aimed to analyze in a multitemporal way the changes in the
Caatinga vegetation over 33 years. For this research, we used the Qgis software and data from the Mapbiomas
4 collection in order to understand Caatinga dynamics. From the results, it was
found that there were changes over the analyzed time, indicating a
deforestation of 71.52 km², which is equivalent to 27% of the area. However, we
observe a regeneration process after a long period of deforestation and
desertification of the biome. For the area to accelerate the recovery process,
further studies of remote sensing are necessary, together with new analyzes of
the landsat
satellite, as well as more inspection by the responsible agencies.
Key words: Caatinga;
Qgis; Mapbiomas.
Resumen: El bioma Caatinga predomina
en gran parte de la región noreste
del país, abarcando aproximadamente el 48% del estado de Alagoas, extendiéndose a través del municipio de Delmiro Gouveia. Caatinga se encuentra actualmente en un proceso
de supresión debido a la expansión agrícola, incendios en el
área, tala con fines comerciales
y fenómenos naturales. Así,
el presente trabajo tuvo como objetivo analizar de
forma multitemporal los cambios en la
vegetación de Caatinga a lo
largo de 33 años. Para esta investigación,
utilizamos el software Qgis
y los datos de la colección Mapbiomas
4 para comprender la dinámica de Caatinga. A partir de los
resultados, se encontró que
hubo cambios durante el tiempo analizado,
lo que indica una deforestación de 71.52 km², lo
que equivale al 27% del área. Sin embargo, observamos un
proceso de regeneración después de un largo período de deforestación y desertificación del bioma. Para que el área
acelere el proceso de recuperación, se necesitan más estudios de teledetección, junto con nuevos análisis
del satélite Landsat, así como más inspección por parte de las agencias responsables.
Palabras Clave: Caatinga;
Qgis; Mapbiomas.
INTRODUÇÃO
O bioma Caatinga é considerado o único
tipicamente brasileiro, ocupando cerca de 11% do território, com ampla
diversidade de flora e fauna o que o coloca nesta posição dentre os nove biomas
existentes que predomina no país (SENAR, 2016). Além disso, é considerada a
maior e mais diversificada Floresta Tropical Sazonalmente Seca do Brasil (SILVA,
et al., 2017), predominantemente sua
área corresponde a 969.589 km² de acordo com a delimitação (INPE 2015). Vale
destacar que, esta área é concomitante com a região do semiárido brasileiro,
sua vegetação é classificada como savana estépica e heterogênea com grande
variedade de espécies vegetais xerofítica e caducifoliar,
as quais são adaptadas para suportar longos períodos de déficit hídrico
mantendo suas folhas verdes mesmo com a estação seca, devido a presença do
metabolismo de plantas Can (plantas adaptadas para
não fazer fotorrespiração durante o dia, evitando a perda de água pelo
fechamento dos estômatos) (MMA, 2010).
A formação geológica do bioma encontra-se
em base cristalina, geralmente com solos rasos de pouca infiltração e alto
escoamento ocorrendo em 70% do semiárido e com presença de bacias sedimentares
(MMA, 2010). Ainda segundo o mesmo autor, esta possui hidrografia com cursos
d'água perenes que estão entre os rios São Francisco (que apresenta cerca de
50% dentro do bioma) e Parnaíba.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente
(MMA), o desmatamento do bioma supracitado, é provocado pela grande expansão da
agricultura, agropecuária e queima da madeira para obtenção do carvão vegetal,
sendo utilizadas para a geração de renda, por grande parte dos habitantes que
vivem em vulnerabilidade socioeconômica e baixos índices de desenvolvimento
humano. Pode-se dizer que, essas medidas causam grande pressão sobre os
recursos naturais da região, ocasionando a desertificação, degradação e superutilização dos recursos disponíveis no bioma. Além
disso, a retirada insustentável dos recursos naturais da Caatinga brasileira,
afetam diretamente o clima e diversidade Biológica do bioma (MMA, 2010).
Em Alagoas, o bioma Caatinga estende-se
por 48% do território, ocupando quase metade do estado (MMA, 2010). O estado
possui pouco mais de 1% do bioma protegido (IMA, 2015). De acordo com o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2015), Alagoas está entre as
áreas mais desmatadas da Caatinga, com os principais focos de desmatamento do
estado localizados na microrregião do sertão do São Francisco. Esta
microrregião composta por Delmiro Gouveia, juntamente com os municípios Olho
d’Água do Casado e Piranhas, representa cerca de 20,92% de área de fragmentos
de vegetação remanescentes (IMA, 2015).
O mapeamento de cobertura vegetal é
essencial para verificar a disposição panorâmica no tempo e no espaço
(BITENCURTIL et al., 2017). Uma das ferramentas para mapeamento e análise anual
de cobertura e uso do solo, é o projeto
Mapbiomas. Esta iniciativa de monitoramento,
originou-se em 2015 através de uma conferência realizada na cidade de São
Paulo, com diversos especialistas em Sensoriamento Remoto (SR) e mapeamento da
vegetação, e assim foi desenvolvido um algoritmo de classificação de imagens de
satélite, que funciona na plataforma Google Earth Engine (ambiente para processamento e análise
em escala planetária de dados de monitoramento da superfície terrestre). O
projeto Mapbiomas utiliza-se das imagens das missões Landsat de observação
da terra com satélite, sendo processadas em pixels que são as unidades de
trabalho da ferramenta, disponíveis gratuitamente na plataforma Google Earth Engine. Os dados
apresentados pela plataforma de monitoramento ajudam a compreender a evolução da
ocupação do território e os impactos sobre os biomas no Brasil (PROJETO
MAPBIOMAS, 2019).
Diante de sua importância e por todos
aspectos citados, buscou-se através deste trabalho compreender a dinâmica do
desmatamento do Bioma Caatinga, no município de Delmiro Gouveia, Alagoas.
MATERIAL
E MÉTODOS
A região de estudo corresponde a uma área
de Caatinga, que ocorre no município de Delmiro Gouveia em Alagoas, geolocalizada pelas coordenadas: Latitude: 9°23'11'' Sul,
Longitude: 37°59'48'' Oeste e que se estende por uma área de 626,690 km²
(Figura 1). O município apresenta índice populacional de 48.096 pessoas de
acordo com os dados do último censo realizado em 2010 e densidade demográfica
de 79,13 hab/km² (IBGE, 2017).
Figura 1. Mapa de localização área de estudo
Delmiro Gouveia, Alagoas
Fonte: Autores (2019).
O clima é do tipo Tropical Semiárido,
quente e seco, com chuvas de verão. O período chuvoso se inicia em novembro com
término em abril, além disso a precipitação média anual é de 431,8 mm, com
temperatura máxima de 38°C e mínima de 18°C (IBGE, 2017).
Para o desenvolvimento deste trabalho foi
utilizado dados da coleção Mapbiomas 4, que são
provenientes da classificação pixel a pixel de imagens obtidas pelos satélites Landsat do programa de monitoramento da Terra do governo Americano. O download desses dados foi feito utilizando Kit
de ferramentas do usuário Mapbiomas, que é basicamente
um script, que funciona na plataforma de processamento de dados geoespacial Google
Earth Engine. Desta forma, foram baixadas 4
imagens da área de estudo, considerando um intervalo de 11 anos entre elas
(1985, 1996, 2007 e 2018), como a finalidade de realizar a análise multitemporal.
Em seguida, foi utilizado o software livre
QGIS (Versão 3.10, A Coruña), para realizar o processamento e análise dos
dados. Inicialmente os dados classificados pelo Mapbiomas
referente a cada ano de interesse foram reprojetados para o Sistema de
Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS 2000), já que é padrão desde de
2015 para produção cartográfica no Brasil, em sequência foram vetorizados, com
a finalidade de separar as formações savânicas (que
segundo a legenda Mapbioma e a classe 4) contida nas
imagens, é basicamente a Caatinga Brasileira.
Além disso, também foi calculado a área da
classe de interesse para cada ano de análise, e feito os mapas, também
utilizando o software Qgis, com o propósito de melhor
representar os resultados quantitativos e qualitativos.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Considerando o período total de 33 anos, e
coleta das amostras de forma multitemporal, com
intervalo de 11 anos,
podemos observar que houveram mudanças consideráveis na região de
Delmiro Gouveia com relação ao desmatamento do Bioma (Figura 2). No ano de 1985
a área classificada como vegetação Caatinga possuía aproximadamente 269,33 km²,
comparando esses dados com o ano de análise seguinte 1996, que apresenta cerca
de 167,37 km² verifica-se uma redução considerável na vegetação de cerca de
101,96 km² quando comparado ao ano inicial. Vale lembrar que, em 2007 a área se
apresentava com 151,56 km².
Comparando os anos de 1996 e 2007,
observa-se também que ocorreu uma diminuição em torno de 15,81 km². Entretanto,
no último ano analisado (2018), de acordo com os dados obtidos foi possível
observar que houve uma regeneração de 46,25 km² da área de floresta savânica do Bioma, neste ano a área total correspondia a
197,81 Km², como demonstrado nas figuras 2 e 3.
Figura 2. Análise do desmatamento na Caatinga em
Delmiro Gouveia, Alagoas a partir dos dados do Mapbiomas.
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Fonte: Autores (2019).
Figura 3. Cobertura do Bioma por ano em relação a
área total do Município de Delmiro Gouveia, Alagoas
Fonte: Autores (2019).
A alta taxa de desmatamento no período
intermediário observadas no estudo, deve-se a falta de fiscalização e proteção
da área de caatinga, situação ainda persistente nos dias
atuais com as dificuldades enfrentadas na implantação de unidades de
conservação neste bioma (MMA, 2019).
Esse aumento da área de Caatinga no último
ano de análise, pode ter ocorrido por influência da época climatológica em que
os dados foram coletados pelo satélite landsat. Nesta época, pode ter ocorrido maior volume de
chuvas na região e a Caatinga pode ter entrado em seu “tempo verde”. Estudos
realizados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com o Mapbiomas sobre o desmatamento da área da Caatinga
constataram que a área em questão estava passando por um processo de desertificação,
a partir desses dados, o MMA traçou estratégias para conter não só a
desertificação, mas também, reduzir a vulnerabilidade climática do semiárido
Brasileiro (BRASIL, 2018). Esse pode ter sido outro fator que contribuiu para a
regeneração do bioma constatada no último ano analisado.
Como foi visto no decorrer do trabalho, o
entendimento e a mensuração da área de Caatinga é
indispensável para o Estado de Alagoas, uma vez que através das análises do
bioma é possível conhecer o tamanho da área degradada, traçar estratégias para
reduzir o desmatamento e até mesmo acompanhar sua recuperação. De acordo com os
dados analisados a partir dos mapas, pode-se inferir que o bioma Caatinga no
município de Delmiro Gouveia, encontra-se em processo de regeneração, após
grande período de desmatamento e processo de desertificação.
Além disso, a metodologia utilizada
mostrou-se adequada para a análise de áreas degradadas susceptíveis à
desertificação no semiárido brasileiro, pode se ter um levantamento das regiões
mais afetadas por essas condições, com o uso das ferramentas de mapeamento de
terras como o projeto Mapbiomas associado ao software
Qgis. Porém, seria interessante uma nova análise dos
dados do Satélite Landsat utilizando outra
metodologia de classificação de imagens de Sensoriamento Remoto, e realizar a
análise de uso e cobertura do solo da região.
CONCLUSÕES
A área de estudo tem grande mudanças no
período de 33 anos, com desmatamento total de 71,52 Km², aproximadamente 27% da
área classificada inicialmente como Caatinga. Porém, o bioma Caatinga no
município de Delmiro Gouveia, está em processo de regeneração, mesmo após
grande período de desmatamento e desertificação.
REFERÊNCIAS
BITENCURTIL,
D. P.; MELO, F. P.; GOIS, D. V.; RUIZ-ESPARZA, J.; RIBEIRO, A. S.; FERRARI, S.
F.; SOUZA, R. M. Análise Multitemporal do
Desmatamento nos Municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, SE. Geosul, v. 32, n. 63, p 117-137, 2017. 10.5007/2177-5230.2017v32n63p117
GARIGLIO, M.
A.; SAMPAIO. E. V. S. B.; CESTARO, L. A.; KAGEYAMA, P. Y. (Org.). Uso
sustentável e conservação dos recursos florestais da caatinga. Brasília: Serviço
Florestal Brasileiro, 2010. 368p.
IBGE. Delmiro
Gouveia. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/delmiro-gouveia/panorama>. Acesso em 16 nov.
2019.
IMA, Instituto do Meio Ambiente
do estado de Alagoas, Dia da Caatinga é momento de comemorar o bioma
exclusivamente brasileiro. Disponível em: <https://www.ima.al.gov.br/dia-da-caatinga-e-momento-de-comemorar-o-bioma-exclusivamente-brasileiro/>. Acesso em 18 nov.
2019.
INPE. Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais Nordeste mapeia desmatamento da Caatinga.
Disponível em: <http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=3895>. Acesso em 19 nov.
2019.
MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE. Estratégia fortalece conhecimento sobre os biomas. Disponível
em: <https://www.mma.gov.br/informma/item/15037-noticia-acom-2018-08-3113.html>. Acesso em 19 nov.
2019.
MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE. Iniciativas de Conservação, novembro 2019.
Disponível em: <https://www.mma.gov.br/biomas/caatinga/iniciativas-de-conserva%C3%A7%C3%A3o.html>. Acesso em 27 nov.
2019.
MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE. Núcleo do Bioma Caatinga, Monitoramento por
Satélite do Desmatamento no Bioma Caatinga. Disponível: <https://www.mma.gov.br/estruturas/203/_arquivos/cartilha_monitoramento_caatinga_203.pdf>. Acesso em 17 nov.
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AMBIENTE. Subsídios para a Elaboração do Plano de
Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Caatinga. Brasília,
dezembro de 2010. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/estruturas/168/_arquivos/diagnostico_do_desmatamento_na_caatinga_168.pdf>. Acesso em 16 nov.
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SENAR. Bioma
exclusivamente brasileiro, a Caatinga tem valor econômico e biológico para o
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2019.
SILVA, J. M. C.; LEAL, I. R.; TABARELLI, M. Caatinga:
The Largest Tropical Dry Forest Region in South America. 1. ed. Springer International
Publishing: Springer Nature,
v. 1. 2017. 487 p.