ARTIGO CIENTÍFICO
Trabalho Premiado no II Congresso Paraibano
de Agroecologia, realizado em Lagoa Seca, Paraíba, Brasil
Female participation in
Agroecology: Sustainable development and the search for gender equality
Gabriella Henrique
Brandão1; Bruna dos Santos Souza2; Vitória Saskia Ferreira Barroso3; Luana Rêgo Silva4;
Deise Maria Farias Lima5
Bacharelado em
Agroecologia pela Universidade Estadual da Paraíba, 1Campina Grande,
Paraíba, +5583988584704; gabriellabrandao77@gmail.com; 2Remígio, Paraíba souza.brusbs@gmail.com; 3Campina Grande, Paraíba, vitoriasaskia17@gmail.com; 4Massaranduba,
Paraíba luanaregosilva@hotmail.com; 5Lagoa
Seca, Paraíba, deise_farias19@hotmail.com.
Recebido:
05/11/2019; Aprovado: 19/11/2019
Resumo: O
desenvolvimento sustentável e a luta pela igualdade entre os gêneros são temas
diretamente ligados, pois, as mulheres agricultoras são responsáveis pelo
fomento à conservação ambiental, utilizam práticas de controle natural de
invasores, produção de biofertilizantes, plantio de
hortaliças e das mais diversas plantas medicinais, contribuem para a
biodiversidade e diversidade, ajudam a manter viva a cultura das sementes crioulas,
assumindo nesse ínterim postura de preservação ambiental e de cultivares. Nesse
sentido, foi realizada uma pesquisa qualitativa no Sindicato de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Remígio, Paraíba, visando conhecer as percepções sobre
as relações de trabalho feminino na agricultura e valorizar o conhecimento das
agricultoras, relacionando-os com o desenvolvimento sustentável e a importância
da luta pela igualdade nas relações entre os gêneros. Diante dos resultados
obtidos, percebe-se que o desenvolvimento sustentável depende da autonomia que
pode ser alcançada através da equidade de oportunidades e relações entre homens
e mulheres.
Palavras-chave:
Agricultura familiar; Preservação ambiental; Sustentabilidade.
Abstract: The Development of
Sustainable and the fight for equality between genders are themes directly
linked, once the agricultural women are responsible for promoting hair
environmental conservation, utilization of natural invasive control practice
biofertilizer production, planting of various vegetables and various medical
plants, contributing to biodiversity diversity, help to keep alive the culture
of Creoles, assuming in this interim posture of environmental and cultivation
preservation. A qualitative investigation was carried out not a Trade Union of Remígio-PB Rural Workers, aiming to know the perceptions
about female labor relations in agriculture and to value the knowledge of
female farmers, relating them to sustainable development and the importance of
the struggle for equality in relations between genders. Given this can be
affirmed that the Sustainable Development depends on autonomy this can be
achieved through equal opportunities and relationships between men and women.
Key words: Family farming;
Environmental preservation; Sustainability.
Resumen:
El desarrollo sostenible
y la lucha por la igualdad de género son temas directamente vinculados, ya que las mujeres agricultoras son responsables de promover la conservación del medio ambiente, utilizando prácticas de control natural de los invasores, la producción de biofertilizantes, la siembra de vegetales
y las plantas más diversas medicinal, contribuye a la biodiversidad y la diversidad, ayuda a mantener vivo el cultivo de semillas criollas, asumiendo en esta postura
intermedia de preservación ambiental y cultivares. Se
realizó una investigación cualitativa en el Sindicato de Trabajadores Rurales de Remígio-PB, con el objetivo conocer las percepciones sobre las
relaciones laborales femeninas
en la agricultura y valorar
el conocimiento de las mujeres agricultoras, relacionándolas con el desarrollo sostenible
y la importancia de la lucha por la igualdad en las
relaciones entre géneros. Por lo tanto, se puede decir que el Desarrollo Sostenible
depende de la autonomía y esto se puede lograr a través de la igualdad de oportunidades y
relaciones entre hombres y mujeres.
Palabras
Clave: Agricultura
familiar; Preservación del medio ambiente; Sostenibilidad.
A Agroecologia como ciência
multidisciplinar tem como um de seus princípios a valorização do saber popular,
conforme as relações entre ideais feministas e conceitos agroecológicos foram
se estreitando, houve a evidência de uma necessidade relacionada à busca por
uma diretriz que tivesse por objetivo a luta pela igualdade das relações entre
os gêneros na agricultura, de forma que seja respeitado e valorizado o trabalho
das mulheres, seja ele monetizado ou não (FERREIRA; MATTOS, 2017).
O desenvolvimento sustentável
está relacionado à educação ambiental, que tem em seus preceitos o propósito de
redefinir e transformar as relações entre homens, mulheres e a natureza. Para
cumprir tal objetivo, se faz necessário o reconhecimento do esforço, produção e
tamanho do conhecimento das agricultoras. O trabalho feminino nas propriedades
rurais é caracterizado pelo uso de técnicas que contribuem para a conservação
dos recursos naturais e para a economia em seus próprios lares (HILLENKAMP;
NOBRE, 2018).
As noções de plantio de
hortaliças, produção de biofertilizantes líquidos,
controle natural de invasores, cuidado com o solo, e cultivo de grande
variedade de plantas medicinais, são exemplos de como o conhecimento das
mulheres agricultoras têm a contribuir para com o desenvolvimento de técnicas e
ações sustentáveis, assim como, proteção à biodiversidade e diversidade locais
através da cultura das sementes crioulas, estabelecendo a conexão entre o
desenvolvimento rural sustentável e a necessidade da busca pela equidade entre
gêneros. Destaca-se, ainda, que a sustentabilidade está ligada aos ideais de
autonomia, a mesma pode ser obtida se houver igualdade de oportunidades entre
homens e mulheres, fortalecendo a expressão política das agricultoras
(HILLENKAMP; NOBRE, 2018).
Assim, objetivou-se com o
presente trabalho, conhecer as percepções sobre as relações de trabalho
feminino na agricultura e valorizar o conhecimento das agricultoras,
relacionando-os com o desenvolvimento sustentável e a importância da luta pela
igualdade nas relações entre os gêneros.
A pesquisa realizada é de
caráter qualitativo, ocorreu em parceria com o Sindicato de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais localizado no município de Remígio, Paraíba-PB, entre os
dias 10 e 12 de julho de 2019. O município de Remígio está inserido na região
do brejo paraibano e a história da cidade é caracterizada pelo destaque das
atividades agrícolas, com ênfase para a agricultura familiar, o Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Remígio vem representando um suporte e
incentivo ao manejo conservacionista e sustentável na agricultura familiar,
além de contribuir com a luta pela igualdade nas relações entre os gêneros na
agricultura.
Para analisar a participação
das mulheres na Agroecologia, optou-se por utilizar a entrevista por meio de um
questionário aplicado em forma de conversação, visando a maior naturalidade nas
respostas. Os questionamentos fazem alusão a oito tópicos referentes a relação
entre a atividade agrícola e a renda das mulheres, participação delas na
atividade agrícola, o que produzem, com quem aprenderam as técnicas conhecidas,
o que utilizam para combater pragas e doenças, informações delas sobre a
Agroecologia, qual a forma de produção utilizada e sobre o papel do Sindicato
no fortalecimento de ações com as mulheres agricultoras.
Foram entrevistadas 20
agricultoras de idades entre 15 e 65 anos, residentes em assentamentos,
comunidades e sítios. Os depoimentos das agricultoras foram gravados através de
celulares e os dados foram analisados seguindo a metodologia de Georgin et al. (2015), que baseia-se
na interpretação textual e discursiva para produzir e estimular novas
compreensões. Para representar cada mulher, foi utilizada a palavra
“Agricultora” seguida do número correspondente a cada uma delas.
Segundo Brito et al. (2017),
as mulheres contribuem para a preservação ambiental e são guardiãs da
biodiversidade e diversidade de cultivos e sementes, produzindo alimentos mais
nutritivos para suas famílias, comercializando o excedente e contribuindo para
o desenvolvimento sustentável e local. A Tabela 1 mostra
os resultados obtidos através do questionamento sobre as relações das mulheres
com a atividade agrícola e as interações desse trabalho com a renda familiar.
Tabela 1. Relatos
das agricultoras no município de Remígio, Paraíba sobre a participação na
agricultura, e as interações entre trabalho e obtenção de renda: |
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Agricultora 1 |
“Mais da metade da renda vem da agricultura, vem dos roçados, toda a
nossa família trabalha. Eu como jovem já tenho minha própria renda através da
feira, todos os produtos do roçado vão para a feira e para casa também.” |
Agricultora
2 |
“Eu moro com meus pais, então os meus pais são
agricultores, meu pai é feirante, então uma renda que vem é da agricultura
familiar, no qual ajuda bastante para manter a família.” |
Agricultora
3 |
“A agricultura na minha renda ela auxilia muito,
porque não só faço produtos beneficiados da agricultura, mas também planto
sementes, milho, fava, também planto hortaliça.” |
Agricultora
4 |
“Ajuda em muitas coisas, como por exemplo, a não
comprar feijão, milho, batata doce, jerimum, coentro, alface. Ajuda bastante na
renda.” |
Agricultora
5 |
“A agricultura é tudo na minha vida, não tem emprego
melhor que a agricultura. A gente vive uma vida saudável, uma vida que você
ver que vai embora todos os problemas e uma alimentação que você produz pra você e para a sua família e para o cliente.” |
De acordo com a pesquisa
realizada por Siliprandi (2011), as mulheres rurais
também contribuem para a construção de associações de produtores, participam de
cooperativas e experiências de produção e comercialização de produtos
agrícolas, cooperando com a rede de economia solidária e de produção agroecológica.
Com os resultados, foi observado que todas as mulheres afirmaram que a
agricultura ajuda na renda, tal auxílio pode ser caracterizado pelo consumo do
que é produzido e/ou comercialização deste.
Segundo Loli
et al. (2020), as mulheres agricultoras possuem uma íntima relação com a terra,
caracterizada como um espaço de vida e diversidade, assim a agricultura se
estabelece como fonte de renda para complementar e auxiliar na melhoria da
qualidade de vida das famílias, proporcionando também a produção de alimentos
agroecológicos e sua comercialização em feiras, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável e a autonomia das mulheres agricultoras.
De acordo com Loli et al. (2020), as mulheres assumem postura de
preservação ambiental e prática de ações sustentáveis, de modo que conhecer as
relações de trabalho e as práticas desempenhadas por elas, contribui para
propagar conceitos de sustentabilidade e valorizar o papel exercido pelas
mulheres na sociedade e na busca por um planeta mais saudável e sustentável. A
Tabela 2 traz resultados sobre o
questionamento sobre a participação das mulheres na Agroecologia.
Tabela 2.
Relatos das agricultoras no município de Remígio, Paraíba sobre a
participação na Agroecologia: |
|
Agricultora
6 |
“Minha ajuda é de tudo um pouco, quando é tempo na
colheita eu arranco, aqui acolá pego na enxada e saio xaxando
um pezinho de planta e assim vai.” |
Agricultora
7 |
“Planto. O que eu planto trago para vender na feira
agroecológica.” |
Agricultora
8 |
“Além de ser agricultora, sou diretora do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Remígio. Quando eu não estou no sindicato, estou
na roça. A minha ligação também é com os outros agricultores (as), além da
minha agricultura eu acho que quanto ao movimento, enquanto diretora
contribuo para fortalecer a agricultura no município.” |
Agricultora
9 |
“Eu planto, depois colho para ser consumido em
casa.” |
Agricultora
10 |
“Produzindo alimentos para o meu próprio consumo e
venda.” |
De acordo com as respostas
das 20 entrevistadas, foi possível perceber que a grande maioria delas
participam de forma ativa das atividades agrícolas no campo, outras são
representantes dos ideais das mulheres agricultoras em sindicatos. De acordo
com Brito et al. (2017) a valorização do trabalho feminino, assim como a
presença delas em organizações de suporte à agricultura familiar, caracteriza
possibilidades reais para uma sociedade menos excludente. Ao analisar a Tabela
2, pode-se perceber um exemplo de disparidade, a agricultora 6 utiliza o termo
“ajuda” para designar seu trabalho, enquanto a agricultora 8 assume a postura de
representante e ocupa uma posição de busca por direitos das mulheres na
agricultura.
Diante de tal
exemplificação, torna-se evidente a necessidade de promover a valorização do
trabalho das agricultoras, de modo que este seja reconhecido como uma importante
ação para o desenvolvimento sustentável e a busca pela igualdade nas relações
entre os gêneros. Ao analisar o exemplo que caracterizou a ambiguidade em
relação ao que foi supracitado, observa-se a fala da agricultora 8 que assume
uma posição de liderança e objetivos relacionados ao apoio e representação da
causa feminina, o que revela a proximidade dos ideais de autonomia feministas
com a agricultura e o desenvolvimento sustentável.
Entender a importância da
participação feminina na Agroecologia, assim como valorizar a grandeza de seus
conhecimentos é essencial para a construção de uma realidade que tenha como
garantia a não expropriação destes atributos pelos homens em sistemas
econômicos patriarcais (FERREIRA; MATTOS, 2017). Segundo Silva et al. (2019), o
conceito de sustentabilidade possui amplos aspectos e vertentes, de modo que um
sistema agroalimentar para ser considerado sustentável precisa seguir de acordo
com os aspectos sociais, ambientais, nutricionais e éticos. As mulheres assumem
a postura de guardiãs da biodiversidade, segurança e soberania alimentar, fato
que é expresso na produção de alimentos saudáveis e diversificados, a Tabela 3
faz referência para a produção agrícola das mulheres agricultoras.
Tabela 3. Relatos sobre produção agrícola das agricultoras no
município de Remígio, Paraíba: |
|
Agricultora
11 |
“Coentro,
alface, batata doce, feijão (todos os tipos – no inverno), milho.” |
Agricultora
12 |
“Batata doce, batatinha, variedades de feijão (macassa, gordo, carioca, mulatinho) milho, fava, jerimum,
maxixe, quiabo; Na parte de hortaliça – alface,
coentro, cebola, cebolinha, pimentão, repolho, tomate. Plantas medicinais. O
que não planto para a feira, fica para o consumo de casa. Frutas – acerola,
umbu, seriguela, cajá, pinha.” |
Agricultora
13 |
“Feijão, milho, fava, jerimum, batata,
etc.” |
Agricultora
14 |
“Produtos beneficiados como o bolo de macaxeira, de
mandioca, beiju, o pé-de-moleque, biscoitinho de polvilho da mandioca.
Sementes, milho, fava, hortaliça.” |
Agricultora
15 |
“Quando eu
contribuo no sítio a gente produz laranja, jerimum, batata, macaxeira, além
de produzir voltado para o Programa Nacional de Alimentação Escolar- PNAE
(tapioca e o bolo).” |
A mulher tem um grande papel
na garantia da segurança alimentar da família. Ela cultiva ao redor de casa
para o consumo familiar e comercialização. Além de participar ativamente das
atividades das hortas e desempenham várias atividades relacionadas a conservação
da biodiversidade e ao manejo dos recursos naturais, como a produção, troca de
sementes e mudas com suas vizinhas (FERREIRA, 2016).
De acordo com a Tabela 3, as
mulheres disseram produzir hortaliças, legumes, outras cultivam plantas
medicinais e trabalham com frutíferas. Segundo Zanchi
e Souza (2019), a diversificação da produção de alimentos pode gerar aumento e
redistribuição de renda, contribuindo assim para a preservação do meio ambiente
e para a sustentabilidade.
Segundo Brito et al. (2017),
a Agroecologia como ciência multidisciplinar, busca valorizar os conhecimentos
e cultura dos agricultores, de modo que os resultados expostos na Tabela 4 tem
por objetivo valorizar a troca de conhecimento entre as gerações e relacioná-la
com a preservação da biodiversidade.
Tabela 4.
Relatos das agricultoras no município de Remígio, Paraíba sobre aprendizagem
de técnicas de produção: |
|
Agricultora
16 |
“Depois do
processo que a gente começou a trabalhar no sindicato. A gente vai para
várias capacitações, isso é um grande aprendizado. Na agricultura
convencional aprendi com meu pai, mas foi minha avó que me ensinou a cuidar
da terra, a começar a produzir.” |
Agricultora
17 |
“Com a família, mas com o decorrer a gente vai vendo
novas formas. Aprendi novas formas de produção através das redes de jovens.” |
Agricultora
18 |
“A gente vem absorvendo experiência dos agricultores
mais antigos, quando a gente não sabia plantar o inhame, por exemplo, a gente
procurou os agricultores que já plantam, que já tem experiência e a gente vai
absorvendo.” |
Agricultora
19 |
“Com os meus pais.” |
Agricultora
20 |
“Com a
família.” |
Diante das respostas que
representam o questionamento acerca de com quem as agricultoras aprenderam as
mais variadas técnicas de cultivo, de acordo com a Tabela 4, a grande maioria
delas disse ter aprendido as técnicas e conhecimentos agrícolas com pais e afirmaram
ter aprimorado tais habilidades com a ajuda do Sindicato.
As organizações presentes na
Agroecologia, possuem estratégias centrais que incorporam o apoio para o
acréscimo crescente de mulheres agricultoras. De acordo com Silva et al.
(2019), a universalização do conhecimento, valorização do saber popular e
aperfeiçoamento de técnicas já utilizadas pelas agricultoras são de imensa
importância para a melhoria da qualidade de vida no meio rural e para a
sustentabilidade. Dessa forma, as organizações feministas, principalmente
aquelas que atuam no meio rural, vêm incluindo na perspectiva agroecológica
como uma prioridade para o seu desempenho (FERREIRA, 2016).
Para analisar a vasta
contribuição feminina na Agroecologia e no desenvolvimento sustentável, se faz
necessário ressaltar a valorização do conhecimento popular transmitido por
gerações através da exposição das técnicas conhecidas e utilizadas pelas
agricultoras para combater pragas e doenças de forma agroecológica, visando
enaltecer o conhecimento e trabalho das mulheres, a Tabela 5 traz relatos sobre
as técnicas e produtos utilizados pelas agricultoras para combater pragas e
doenças de forma agroecológica.
Tabela 5.
Relatos de técnicas e produtos para combater pragas e doenças utilizados por
agricultoras no município de Remígio, Paraíba: |
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Agricultora
1 |
“Recursos naturais, biofertilizantes,
calda de Nim e a calda bordalesa.” |
Agricultora
2 |
“Colocamos as culturas diferentes juntas, já usamos
uma vez o biofertilizante e o extrato de Nim.” |
Agricultora
3 |
“Extrato do Nim, alho com
a pimenta do reino, biofertilizante.” |
Agricultora
4 |
“Calda, biofertilizante e
a diversidade que controla a praga.” |
Agricultora
5 |
“Planta as plantas com cheiro, como o próprio
arruda, essas plantas que tem cheiro afasta mais
esses insetos, utiliza a manipueira, o Nim, a carrapateira, pimenta malagueta.” |
Em relação a Tabela 5, foram
obtidas percepções nas quais mostram que grande parte das agricultoras conhecem
e utilizam o biofertilizante, outras conhecem e
utilizam o Nim, também citaram a calda bordalesa,
conceitos de alelopatia e o uso da manipueira.
Diante dos resultados
obtidos e segundo Gonçalves et al. (2019), a presença da mulher no campo
constitui um sinônimo de diversidade, conservação e sustentabilidade, uma vez
que estas possuem amplo conhecimento acerca de técnicas e formas de controle
biológico de pragas e doenças, o que representa grande importância para a luta
pela igualdade nas relações entre os gêneros e a sustentabilidade.
As mulheres enfrentam
dificuldades para terem o seu devido reconhecimento da profissão enquanto
agricultoras e por direitos decorrentes desse valor. Articularam-se para ter
acesso à terra; para que constassem que eram trabalhadoras rurais ou
agricultoras; para exercer direitos sociais, sindicais e previdenciários
(SILIPRANDI, 2011).
As mulheres agricultoras são
responsáveis pela produção de alimentos diversificados e nutritivos, pela
proteção da diversidade de sementes e biodiversidade dos ecossistemas,
contribuindo também para a diversidade e manutenção da vida no solo, Ana Maria Primavesi representa um ícone na prática conservacionista
do solo e Agroecologia, seus conceitos expressam a premissa de que um solo
saudável gera uma planta saudável, o que contribui para o equilíbrio dos
ecossistemas e as relações presentes neles (SILIPRANDI, 2011). A Tabela 6
contém informações das agricultoras entrevistadas no município de Remígio-PB
sobre a Agroecologia.
Tabela 6. Relatos
sobre a Agroecologia das agricultoras no município de Remígio, Paraíba: |
|
Agricultora
6 |
“Desde 2002, na campanha da infância e ciranda da
Borborema, eles tinham o intuito de ensinar o seu real valor da agricultura e
aí eu participei. Fui tomar a maior noção mesmo foi em 2014 quando eu estava
começando a entrar nos movimentos. A gente sabe que a Agroecologia ela é
muito mais do que um modo de viver, mas também é um modo da gente de se
relacionar, hoje no campo existem pessoas muito machistas e a gente pode
evitar o machismo em meio ao campo. O curso de Agroecologia vem
proporcionando isso junto com os movimentos sociais.” |
Agricultora
7 |
“Comecei a ter noção o que seria Agroecologia com a
feira agroecológica, faz uns 10 anos. Muda muito a nossa forma de pensar,
pois a gente sabe de onde está vindo os nossos alimentos.” |
Agricultora
8 |
“Já tem um
bom tempo, só que eu não tinha muito ideia da Agroecologia, só que a gente já
fazia isso, quando eu morava com os meus pais já era agroecológico. Sempre
produziu agroecológico. Além de produzir um alimento mais saudável, a gente
não agride a natureza. Produzir agroecologicamente
beneficia a minha vida, pois você tira para o seu consumo, você tira para dar
a uma pessoa e traz também para vender na feira.” |
Agricultora
9 |
“Comecei a conhecer Agroecologia a partir do momento
que eu entrei no assentamento, que a gente ocupou a terra. Faz 20 anos que
estou na Agroecologia. Mudou muito a minha vida, a gente que trabalha com a
Agroecologia temos uma qualidade de vida, a nossa qualidade de vida é
diferenciada da agricultura convencional, porque começa a produzir
agroecológico, você começa a ter mais cuidados com os seus animais, ter mais
cuidado com a terra, amar mais a natureza, não ter o trabalho de desmatar e a
Agroecologia inclui também a família. Posso dizer que tenho uma qualidade de
vida muito boa, mudou muito como mulher. A mulher se sente mais valorizada, a
mulher agroecológica que tá produzindo, que está
vendendo seu produto agroecológico é outra mulher, tem uma visão completamente
diferente” |
Agricultora
10 |
“Há uns 2
anos. A forma de ver as coisas, saber que dentro da Agroecologia você tem uma
visão diferente, é uma alimentação mais saudável, o modo de cultivar. Se
tornou mais independente, procurou sua independência através da Agroecologia.
Trabalhar com Agroecologia é outra coisa, saber que você pode fazer de outra
forma.” |
De acordo com a Tabela 6,
foi possível notar que todas as agricultoras entrevistadas conhecem a
Agroecologia, expressando mudanças positivas em relação à prática de tal
ciência. O diálogo entre as percepções agroecológicas e feministas
transforma-se em um importante caminho para o confronto político e científico
de alguns dos obstáculos vivenciados pelas mulheres no campo, principalmente
para as que estão envolvidas nos movimentos agroecológicos e feministas
(FERREIRA, 2016).
Segundo Paula et al. (2017),
a agroecologia como ciência multidisciplinar, preza pela valorização da
cultura, do saber popular em união aos princípios acadêmicos, visando
contribuir para a valorização do trabalho feminino seja ele monetizado ou não,
objetivando com isso, agregar avanços ao desenvolvimento sustentável, que está
diretamente ligado à prática da igualdade nas relações entre os gêneros. A
autonomia que a Agricultora 10 se refere demonstra que a prática de uma
agricultura de base ecológica constitui uma ação que contribui para a
preservação do meio ambiente e da diversidade das espécies, promovendo
conceitos de igualdade entre gêneros.
De acordo com Loli et al. (2020), as mulheres agricultoras além de serem
donas de casa, exercem um papel fundamental na produção sustentável no campo. O
município de Remígio- PB é caracterizado pelas atividades agrícolas e a
agricultura familiar é destaque na região, de acordo com os resultados
apresentados anteriormente as agricultoras entrevistadas são responsáveis
diretas pelo destaque mencionado. A Tabela 7 contém informações sobre a forma
de produção das agricultoras entrevistadas, fator importante para compreender a
valiosa e produtiva participação delas no que se refere ao desenvolvimento
sustentável.
Tabela 7.
Relatos sobre forma de produção das agricultoras no município de Remígio,
Paraíba: |
|
Agricultora
11 |
“Trabalho
em família. Temos nossos combatentes naturais que traz do próprio roçado. É
importante você ter seu próprio recurso para combater pragas e doenças, uma
parte vai para a família e outra para a renda.” |
Agricultora
12 |
“Antes de conhecermos de fato da Agroecologia se
tinha o uso de veneno, hoje não. Hoje não produzimos mais com veneno.” |
Agricultora
13 |
“Produção 100% agroecológica. Minha
família consome produtos agroecológicos.” |
Agricultora
14 |
“Estamos usando a compostagem do
próprio mato, a gente roça e deixa o mato lá. Adubo com esterco de gado.” |
Agricultora
15 |
“A gente
produz tudo junto, pois já faz parte da Agroecologia um ajuda o outro no
manejo, quando o milho não dá, o feijão dá. A gente sempre tem alguma coisa pra comer, então a gente produz tudo misturado. A gente
faz em curva de nível, usamos geralmente o estrume para ajudar na
fertilização do solo.” |
Os movimentos de mulheres
rurais têm empregado o conceito de soberania alimentar para garantir o direito
dos agricultores e das agricultoras, definindo como plantar e utilizar as
próprias sementes e garantir a preservação dos bens ambientais. Têm conduzido
muitas atividades de produção em pequena escala, sem uso de agrotóxicos, que
tem fundamentos nos princípios da Agroecologia e nos circuitos locais de
comercialização (SILIPRANDI, 2011).
Em relação a Tabela 7, todas
as agricultoras disseram que a forma de produção delas baseia-se nos métodos e
práticas agroecológicas, além disso, pode-se perceber que a agricultura
familiar é de suma importância não só para as famílias produtoras, mas também
para os consumidores e para a região na qual estão inseridos, pois além de
proporcionar alimentos de qualidade, ressalta a necessidade da segurança
alimentar, valoriza a cultura e o saber popular, prioriza a preservação e
conservação de sementes típicas do local ou região, agindo em benefício do
desenvolvimento sustentável.
As mulheres agricultoras
possuem um imenso conhecimento no que se refere a técnicas e formas ecológicas
de produzir alimentos, logo são representantes fidedignas da sustentabilidade
(LOLI et al., 2020).
Segundo Siliprandi
(2011), instituições ou órgãos que visam o apoio e incentivo a participação das
mulheres na atividade agrícola são de imensa importância no avanço do
desenvolvimento sustentável, de modo que se faz necessário que a agricultora se
sinta representada e tenha acesso a formas de capacitação e aprimoramento de
suas habilidades, visando valorizar o trabalho feminino e possibilitar formas
de geração de renda para sua família e região, contribuindo para a produção de
alimentos saudáveis e sustentáveis. A Tabela 8 traz informações das
agricultoras sobre a relação delas com o Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Remígio-PB.
Tabela 8. Relatos sobre o Papel do sindicato no
fortalecimento de ações das agricultoras no município de Remígio, Paraíba: |
|
Agricultora
16 |
“O
sindicato sempre nos apoia em questão da Agroecologia. Foi no sindicato que
eu aprendi sobre a semente crioula. Quando temos alguma dúvida a gente chega
e pergunta, eles sempre estão dispostos a explicar.” |
Agricultora
17 |
“Eu achava que o sindicato era só se inscrever e se
aposentar, isso era a idéia passada dos pais pra
gente, só que depois que comecei a frequentar e trabalhar com eles com o
grupo de mulheres eu vi que é muito além do que eu pensava. Hoje o sindicato
daqui de Remígio é bem organizado com as mulheres, sempre quando dá eu estou
sempre participando, debatendo sobre a agricultura e sobre sementes crioulas.
O sindicato tem uma participação bem ativa com as mulheres.” |
Agricultora
18 |
“O
sindicato tem um papel muito importante, trouxe a visibilidade da sociedade
reconhecer de fato o que é a agricultura, porque se nós não planta, a cidade
não janta. Se não fosse nós agricultores como é que existiria alimento? O
sindicato tem o papel de articular as famílias agricultoras, ou seja, tirar
elas do isolamento e fazer trocas de conhecimento, de fortalecer o movimento.
Temos movimentos de mulheres muito fortes, tanto que a marcha pela a vida das
mulheres e pela Agroecologia foi a partir do sindicato. O papel do sindicato
é de está nas comunidades articulando e
mobilizando, encontrando os caminhos junto com os agricultores e superar os
desafios.” |
Agricultora
19 |
“O
sindicato vem ajudando em muitas coisas, trabalhamos em um grupo de mulheres,
a gente sempre sai para ir a uma reunião fora. Só tenho que agradecer ao
sindicato pelas informações que passam para nós mulheres.” |
Agricultora 20 |
“O sindicato foi o que abriu as portas para eu tá participando das atividades hoje, ele abriu a porta pra eu participar da campanha 2002, abriu porta para que hoje eu estivesse na comissão executiva de jovens do polo da Borborema. Foi um leque de abertura, proporcionou um espaço de conhecimento muito gratificante.” |
Por meio de seus programas
de formação as organizações atribuem a importância das associações e
cooperativas, as mulheres recebem orientações sobre seu funcionamento, como
acessá-las, adquirir a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de
fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP). Além disso, as organizações
trabalham questões relacionadas às feiras agroecológicas de grupos de jovens,
incentivando a participação em espaços públicos, como o Sindicato dos
Trabalhadores (SILVA, 2019).
Segundo os resultados Tabela
8, todas as trabalhadoras rurais responderam que o papel do Sindicato no
fortalecimento de ações com elas foi benéfico, também disseram ter aprendido
novas técnicas de produção e que foi possível aperfeiçoar os conhecimentos que
já possuíam.
De acordo com Silva (2019),
as representações sociais que são direcionadas ao feminino atualmente ainda são
marcadas por aspectos que podem inferiorizar e diminuir as possibilidades
femininas, em contrapartida o Sindicato vem exercendo postura contrária, onde
os resultados mostram que a universalização do conhecimento vem se consolidando
entre as mulheres agricultoras através do suporte de organizações como essas.
Pode-se perceber que a
participação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Remígio
-PB exerce um importante e fundamental papel no que diz respeito à valorização
do trabalho das mulheres agricultoras, na luta pelos seus direitos, na própria
representação delas, no apoio e auxílio através de cursos informativos, gerando
a integração entre o popular e acadêmico, contribuindo para a obtenção dos
benefícios objetivados com a extensão rural, que são o desenvolvimento rural
sustentável e a luta pela igualdade das relações entre os gêneros como
exemplos.
CONCLUSÕES
A valorização do trabalho feminino constitui uma forma
de apoiar e defender a igualdade nas relações entre os gêneros e o
desenvolvimento sustentável. As mulheres agricultoras do município de Remígio,
Paraíba participam de forma ativa na agricultura da região, possuem vastos
conhecimentos acerca de práticas agroecológicas de produção de alimentos,
produzem alimentação diversificada, contribuem para a geração de renda em suas
famílias e para o desenvolvimento local, preservam cultivares e transmitem suas
experiências para as próximas gerações.
Além disso, a participação
do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Remígio-PB mostrou-se
benéfica e muito importante no que se refere a apoiar e valorizar o trabalho
das agricultoras e todo o contexto no qual estão inseridas, o que reflete no
destaque da cidade da agricultura familiar na região.
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