ARTIGO CIENTÍFICO
Trabalho Premiado no II
Encontro Regional de Estudos Agroambientais, realizado em Rio Largo, Alagoas,
Brasil
Adubação nitrogenada para a
cana-de-açúcar colhida crua, em rotação com leguminosas, cultivada em solo de
tabuleiro costeiro
Sugarcane response to nitrogen
application in a no burn harvesting system, in rotation with legumes, for a
coastal tableland soil
Fertilización con nitrógeno
para la caña de azúcar cosechada cruda, en rotación
con leguminosas, cultivada en
suelo de meseta costera
Paulo de Albuquerque Silva1; Walane Maria Pereira de Mello
Ivo2; Antonio Dias Santiago3
Recebido: 15/12/2019; Aprovado: 20/12/2019
Resumo: A incorporação de material de elevada relação Carbono/Nitrogênio
originário da colheita sem despalha a fogo e os novos cultivares de
cana-de-açúcar podem determinar recomendações mais elevadas de adubação
nitrogenada para a cultura. Como a adubação nitrogenada tem importante papel
nas emissões de gases de efeito estufa, uma forma de diminuir essas emissões
pode ser a substituição parcial dos fertilizantes por leguminosas, em rotação
com a cana. O objetivo deste trabalho é estabelecer a recomendação de adubação
nitrogenada para a cana-de-açúcar colhida crua e cultivada em rotação com
leguminosas. Os tratamentos avaliados são: variedades de cana (RB 92579 e RB
867515), rotação com Crotalaria spectabilis,
e doses de N (0 e 60 kg ha-1 para cana
planta e, nas duas socarias, 0, 60, 120 e 180 kg de N ha-1).
A resposta da cana planta à rotação com crotalaria e
à aplicação de 60 kg de N ha-1 é
expressiva, com a indicação de que a cana só responde ao N fertilizante na
ausência da leguminosa. O nitrogênio da fertilização nitrogenada resulta em
resposta quadrática na produtividade de colmos da socaria da cana,
estabelecendo recomendação de doses de 124 a 146 kg ha-1
de N, para materiais de alto rendimento.
Palavras-chave: Crotalaria spectabilis. Nitrogênio. Saccharum
officinarum.
Key
words: Crotalaria spectabilis. Nitrogen. Saccharum officinarum.
Palabras Clave: Crotalaria spectabilis. Nitrógeno. Saccharum officinarum.
INTRODUÇÃO
A colheita de cana sem despalha a fogo tem se intensificado no Brasil,
em função de legislações e da possibilidade de uso industrial da palhada da
cana. Neste sistema de produção, com a permanência dos resíduos na superfície
do solo, poderá ocorrer, no curto e médio prazos,
imobilização temporária do nitrogênio, como conseqüência da incorporação de
material de elevada relação Carbono/Nitrogênio (C:N = 80 a 100) (SILVA, 2013).
Tal fato pode fazer com que a cana planta responda ao N, ainda mais em colheita
crua e sem revolvimento. Além disto, os cultivares de cana recomendados nos
últimos anos tem se mostrado mais produtivos e, desta forma, necessitam de
reposição de maiores quantidades de nutrientes no sistema de produção da cultura. Os estudos de acúmulo
de nutrientes pela cana-de-açúcar mostram que, para uma produtividade de 100 t
de colmos, a planta absorve N do solo, do fertilizante, da atmosfera, em torno
de 200 a 300 kg ha-1 de N; e que, do N extraído pela cana, 50% é
exportado pelos colmos, levando a uma quantidade de N acumulado de 1,4 kg de N
por tonelada de colmo. Isso mostra que as quantidades exportadas chegam a ser
maiores que as doses aplicadas. Por outro lado, no longo prazo (30 a 40 anos),
existe a previsão de redução da dose de fertilizantes nitrogenados a serem
recomendados para a cana-de-açúcar colhida crua (GAVA et al., 2003).
Todos estes fatores podem levar a recomendações de doses de N, e de
outros nutrientes, diferentes daquelas recomendadas anteriormente, quando no sistema
de produção da cultura utilizava-se o fogo, antes da colheita. Desta forma, é
preciso ajustar as doses de N a serem recomendadas nas adubações por
fertilizantes e, também, pelo uso de adubos verdes. Com relação a estes
últimos, como na região Nordeste a cana-de-açúcar é plantada principalmente nos
Tabuleiros Costeiros, em solos com limitações química e física, uma das
alternativas utilizadas para aumentar a profundidade efetiva dos solos dos
Tabuleiros Costeiros com horizontes coesos vem sendo o uso de práticas
mecânicas (subsolagem), práticas biológicas (leguminosas e/ou adubação
orgânica) ou a associação das duas práticas.
A cultura da cana-de-açúcar tem uma importante representatividade no
cenário da agricultura da região, além de apresentar balanço de emissões de
gases de efeito estufa promissor, principalmente por emissões evitadas. Estas
são as emissões que ocorreriam se, na ausência do etanol e do bagaço excedente,
a demanda de combustíveis fosse satisfeita por gasolina e óleo combustível.
Porém, esses valores podem ainda ser melhorados se o sistema de produção da
cana-de-açúcar for trabalhado no sentido de reduzir as emissões reais. Devem
ser reduzidas as emissões relacionadas às fontes de emissão agrícola como
àquelas provenientes de uso de fertilizantes nitrogenados, uso de diesel em
operações de máquinas, queima da cana, resíduos (vinhaça, torta de filtro) e
calagem.
Como a produção de N2O pela nitrificação ou desnitrificação
depende do N disponível no solo, a aplicação de fertilizante e resíduos é um
controlador importante das emissões deste gás. Porém, de acordo com Bayer et
al. (2011), uma forma de reduzir emissões de N2O para a atmosfera
pode ser a substituição parcial da adubação nitrogenada pela utilização de
leguminosas, uma vez que a liberação mais lenta do N contido no resíduo
vegetal, comparativamente com o N inorgânico, provavelmente permite que o N
mineral seja gradativamente absorvido pelas plantas em desenvolvimento,
reduzindo, assim, o potencial de emissão de N2O. O que poderá ocorrer
em áreas de cana com rotação com leguminosas.
O objetivo deste trabalho é estabelecer a recomendação de adubação
nitrogenada para a cana-de-açúcar colhida crua e cultivada em solo de
tabuleiro, em rotação com leguminosas.
MATERIAL E
MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em área da Usina Coruripe, no município de
Coruripe, Alagoas (10°08’S; 36°18’O). O solo da área foi classificado como um
Argissolo Amarelo. A precipitação anual média é de 1500 mm, concentrada no
período de maio a setembro, e temperatura do ar em torno de 28 °C. A Crotalaria spectabilis
foi estabelecida em área de cana-de-açúcar, a ser colhida sem despalha a fogo, em
final de maio e, em início de agosto, a área foi sulcada para o plantio da
cana.
O delineamento experimental foi em blocos arranjados em faixas, com 4
repetições. Nas parcelas principais ficaram as duas variedades de cana, RB
92579 e RB 867515, nas sub-parcelas os tratamentos com e sem leguminosas, e nas
sub-sub parcelas as diferentes doses de N (0 e 60 kg ha-1 no
primeiro ano). Para a cana planta, cada uma destas sub-sub parcelas foi
composta por 40 linhas de 10 m e, na socaria, estas sub-sub parcelas foram
formadas por 9 linhas de 10 m, nas quais foram aplicadas as doses de 0, 60, 120
e 180 kg de N ha-1, nas duas socarias seguintes. A massa seca da
leguminosa - crotalária espectábilis - foi determinada antes do plantio da
cana, coletando-se 8 repetições de 1 m2, por tratamento. O material
coletado foi limpo e, em seguida, seco em estufa à temperatura de 65 °C, até
peso constante, pesado e enviado para análise química para determinação dos
teores de N, P, K, Ca, Mg, S e carbono (SILVA, 1999).
Nas parcelas com rotação, a leguminosa não foi incorporada ao solo,
fazendo-se apenas os sulcos de plantio da cana sobre a massa verde da crotalária.
Nesta ocasião foram aplicados 144 kg K ha-1 e 100 kg P2O5
ha-1, 30 kg ha-1 de fórmula de micronutrientes utilizada
pela usina e 400 g ha-1 de molibidato de sódio. A adubação
nitrogenada com ureia (0 kg de N ha-1 e 60 kg de N ha-1)
ocorreu aos 46 dias após o plantio da cana planta, com aplicação de irrigação
logo em seguida. Dois meses após esta adubação, foi realizada a coleta de
folhas para determinação de nutrientes, sendo coletadas dez folhas por parcela.
A folha coletada foi a primeira folha com a aurícula totalmente aberta (folha
+1). Nestas, foram determinados os seguintes nutrientes: N, P, K, Ca, Mg, S e,
também o carbono, de acordo com Silva (1999). A colheita ocorreu no mês de
outubro, sendo colhidas quatro linhas de cada parcela. O material colhido foi
pesado, para determinação da produtividade, e em seguida enviado para análises
tecnológicas.
Para o ciclo das socarias também foi utilizada a ureia como fonte de N,
sendo a mesma aplicada sobre a palhada da cana planta, 50 dias após a colheita
da cana, seguida imediatamente de irrigação. Para a primeira socaria também
foram realizadas análises de teores de nutrientes na folha. Dois meses após a
adubação de cobertura, foi realizada a coleta da primeira folha com a aurícula
totalmente aberta (folha +1), sendo coletadas dez folhas por parcela. Nestas, também
foram determinados os seguintes nutrientes: N, P, K, Ca, Mg, S e, também o
carbono, de acordo com Silva (1999). As colheitas destes ciclos ocorreram na
primeira quinzena de dezembro, sendo colhidas e pesadas as quatro fileiras
centrais das parcelas, onde amostras de colmos foram encaminhadas para a
execução de análises tecnológicas.
Para a cana planta os dados de nutrientes na folha e de produtividade
foram analisados por meio de análises de variância e pela comparação de médias
realizada pelo teste-t de Tukey a 5% de probabilidade. Análises de regressão polinomial foram
realizadas para os dados da primeira e segunda socaria, e, em seguida, foram
determinadas as doses de máxima eficiência econômica para a adubação
nitrogenada da cana-de-açúcar.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
a) Cana Planta
A produção de massa seca da parte aérea da C. spectabilis, por ocasião do florescimento, foi de 3,7 Mg ha-1.
Além da parte aérea, mais 0,9 Mg ha-1 de material orgânico foram
incorporados ao solo, via sistema radicular. A produtividade da massa seca da C. spectabilis foi inferior àquela
encontrada por Barreto & Fernandes (2001), na classificação de várias
espécies de leguminosas quanto à sua capacidade de formação de biomassa da
parte aérea, na região dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste. A mesma foi
classificada no grupo de produtividade intermediária (6,4 Mg ha-1 a
6,1 Mg ha-1); muito embora Barreto et al. (2014) descrevam valores
de produtividade de até 9,9 ± 1,9 Mg ha-1 para C. spectabilis na mesma região do presente estudo, em áreas da
Usina Coruripe, com semeadura a lanço. Vale salientar que altas produções de
biomassa por algumas leguminosas na região só são obtidas quando seu plantio é
feito na época correta, no final de abril ou começo de maio, pois quando as mesmas são plantadas tardiamente, estas podem sofrer
influência do fotoperíodo, reduzindo fortemente a produção de matéria seca da
parte aérea.
Neste sentido, Silva et al (2016) estabeleceram como período mais
adequado ao plantio de várias leguminosas na região dos tabuleiros costeiros a
primeira e segunda quinzenas de maio. Após esta data as espécies estudadas
apresentaram forte redução na produção de matéria seca. Mesmo com menor
produção de biomassa, as quantidades de nutrientes adicionada e reciclada no
sistema de produção da cana ainda foram consideráveis, com destaque para o
nitrogênio (106 kg ha-1) e potássio (67 kg ha-1). Este
último é o elemento mais utilizado pela cana e, também, o exportado em maior
quantidade, o que reforça a importância desta rotação com as leguminosas.
Teores elevados de Ca no tecido da crotalária foram observados no presente
estudo, estando em torno de 10 g kg-1, levando a reciclagem em
superfície de 37 kg ha-1 de Ca. Esta característica mostra-se muito
interessante na rotação com a cana, quando uma variedade como a RB 92579 é
plantada, pois esta se caracteriza como material de alto rendimento, sendo
exigente em cálcio (OLIVEIRA et al, 2010).
Em resposta a esta rotação com a leguminosa e à aplicação do N
fertilizante, houve aumento do teor de alguns nutrientes no tecido da cana-de-açúcar,
cultivada em rotação. O teor de N respondeu tanto a incorporação da crotalária,
como ao N fertilizante. Os outros nutrientes, como só estavam presentes na
fonte orgânica (leguminosa), só responderam a esta. O que pode ser um
indicativo de que o aumento no teor de N na planta, pela aplicação do
fertilizante, não determinou aumento na absorção dos outros nutrientes. Franco
et al. (2008), em estudo do acúmulo de N, P e K, relacionados à adubação
nitrogenada de plantio, não encontraram interferência da adubação nitrogenada
nos teores de N, P e K, em todo o ciclo da cultura.
Tais diferenças relatadas para nutrientes nas folhas parecem ter influenciado
a produtividade da cana-de-açúcar (Figura 1). Para esta variável, houve
diferença entre as variedades de cana, com a RB 92579 apresentando-se mais
produtiva que a RB 867515, com os valores de produtividade de 167 Mg ha-1
e 125 Mg ha-1 de cana, respectivamente. Também ocorreu diferença
significativa com relação ao uso da leguminosa, onde a presença desta promoveu
aumento de produtividade da cana. A produtividade média das cultivares na área
com crotalária foi de 163 Mg ha-1 de cana e, na área sem rotação com
a leguminosa, foi de 132 Mg ha-1 de cana. Da mesma forma, para as
doses de N, a aplicação de 60 kg ha-1 deste nutriente levou a uma
produtividade mais elevada (156 Mg ha-1), em relação às áreas sem
aplicação do fertilizante (141 Mg ha-1). Além disso, houve interação
entre o uso da leguminosa e o do N fertilizante, indicando que, a cana só
responde ao N fertilizante na ausência da leguminosa (Figura 1). Desta forma, a
redução na emissão de gases de efeito estufa pode ser alcançada no sistema de
produção da cana-de-açúcar pela substituição da aplicação de fertilizantes
nitrogenados por meio do uso de leguminosas em rotação com a cultura. Como
exposto anteriormente, a liberação mais lenta do N contido no resíduo vegetal,
comparativamente com o N inorgânico, provavelmente permite que o N mineral seja
gradativamente absorvido pelas plantas em desenvolvimento, reduzindo, assim, o
potencial de emissão de N2O (Bayer et al., 2011).
Figura 1. Produtividade da cana-de-açúcar (Mg ha-1),
variedades (A) RB 92579 e (B) RB 867515, em resposta a aplicação de
fertilizante nitrogenado (0 e 60 kg ha-1 de N) e rotação com a leguminosa
Crotalaria spectabilis. Coruripe,
Alagoas (*Tukey a 5% de probabilidade).
Bolonhezi et al. (2014) relatam aumentos de produtividade da cana, em
função da rotação com leguminosas, em quantidades que variam de 10,9 Mg ha-1
a 42 Mg ha-1. No presente estudo, nas áreas sem aplicação de N
fertilizante, esta diferença chegou a 44 Mg ha-1, representando um
aumento de 27% na produtividade da cana, o que, segundos percentuais descritos
pelos autores, não seria incomum em áreas que envolvem a prática da rotação com
leguminosa.
b) Primeira socaria
As análises estatísticas indicaram que não houve efeito residual da
leguminosa e do fertilizante, aplicados para a cana planta, sobre os teores de
nutrientes no tecido da cana e na produtividade da primeira soca. Desta forma,
as discussões se relacionam apenas a resposta da cana às diferentes doses de N
(0, 60, 120 e 180 kg de N ha-1). Analisando-se a influência da
fertilização nitrogenada nos teores de nutrientes no tecido da cana-de-açúcar,
foi observado que o teor de nitrogênio na folha da cana aumentou com a elevação
das doses de N aplicadas. Esses valores variaram de 13,1 a 19,5 g kg -1
para a RB 92579, e de 12,2 e 17,6 g kg -1, para a RB 867515, nas
doses de 0 e 180 kg de N ha-1, respectivamente (Tabela 1). Este
aumento dos teores foliares não se reflete para os outros nutrientes, ocorrendo
apenas a tendência de aumento do teor de P e Mg, até a dose de 120 kg de N ha-1,
para a variedade RB 92579. Também para esta variedade, houve uma redução clara
do teor de potássio com o aumento da dose de N aplicada à cana-de-açúcar.
Tabela 1. Concentração de nutrientes na folha +1 (primeira
folha com aurícula totalmente aberta) da primeira socaria de cana-de-açúcar,
RB 92579 e RB 86 7515, cultivada em Argissolo Amarelo. Município de Coruripe,
Alagoas. |
||||||
|
N |
P |
K |
Ca |
Mg |
S |
RB
92 579 |
g kg-1 |
|||||
Doses
de N (kg.ha-1) |
|
|
|
|
|
|
0 |
13,08 |
1,78 |
7,21 |
2,33 |
0,65 |
0,79 |
60 |
15,79 |
1,84 |
6,93 |
2,63 |
0,86 |
0,83 |
120 |
18,37 |
2,12 |
6,54 |
2,79 |
1,03 |
0,95 |
180 |
19,47 |
2,08 |
5,34 |
2,51 |
1,00 |
0,95 |
RB
86 7515 |
|
|
|
|
|
|
Doses de N (kg.ha-1) |
|
|
|
|
|
|
0 |
12,16 |
1,71 |
6,7 |
1,81 |
1,45 |
0,99 |
60 |
14,81 |
1,98 |
7,2 |
2,26 |
1,43 |
1,16 |
120 |
16,41 |
1,93 |
5,4 |
2,15 |
1,40 |
1,07 |
180 |
17,61 |
1,93 |
6,9 |
2,06 |
1,74 |
1,15 |
Os teores de nutrientes nas
folhas da cana-de-açúcar encontraram-se abaixo dos limites determinados para
esta cultura, quando cultivada em vários países do mundo (KORNDÖRFER et al.,
2005), para o N e Mg, sob a dose de 0 kg de N ha-1; e, para o K, nas
maiores doses de N (120 e 180 kg N ha-1). Quando estes valores (Tabela 1) são
comparados com os teores adequados, estabelecidos para os nutrientes no Estado
de São Paulo (RAIJ et al., 1996; KORNDÖRFER et al., 2005), estes se apresentam
abaixo dos limites inferiores em todas as doses, excetuando-se o N, para 180 kg
de N ha-1 (19,0 a 21,0 g kg-1), para a RB 92579; e, para
o P, nas doses de 120 e 180 Kg de N ha-1 (2,0
a 2,4 g kg-1). Este fato parece não ser determinante para a região
dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste, uma vez que, apesar disto, as produtividades
da cana foram altas (Figura 2). Neste sentido, Moura Filho et al. (2014)
constataram valores ótimos para a cana-de-açúcar entre 12,5-20,8; 1,0-2,1;
8,9-14,7;1,7-4,0; 0,1-1,4; 0,7-1,8 g kg-1; para N, P, K, Ca, Mg e S,
respectivamente, na região de Alagoas. Tais valores, considerados ótimos para a
cultura, apresentam limites inferiores das faixas de variação mais baixos que
os considerados para outras regiões do Brasil.
A resposta da cana soca a adubação nitrogenada foi observada no
presente estudo. Polinômios de segundo grau foram ajustados para descrever as
respostas da cana ao N (p> 0,000) (Figura 2). Verificou-se que, como
esperado, ao serem adicionadas quantidades crescentes de nitrogênio, o maior
incremento na produção ocorreu com a primeira dose aplicada; e que, com
aplicações sucessivas de quantidades iguais do nutriente (60 kg de N ha-1),
os incrementos de produção foram cada vez menores, como descrito por Raij (1981).
A resposta da primeira soca à aplicação de N pode ser explicada pelo
maior teor foliar deste nutriente (Tabela 1). Observa-se que a maior
produtividade de colmos esteve associada com o teor de N igual a 19,4 g kg-1,
para a RB 92579, e igual a 17,6 g kg-1, para a RB 867515. No
entanto, os maiores ganhos da produtividade relacionaram-se com teores que
variaram de 15,8 a 18,4 g kg-1 (RB 92 579: 26 e 7 Mg de colmos ha-1) e 14,8 e 16,4 g kg-1 (RB86
7515: 8 e 7 Mg de colmos ha-1). Desta
forma, verifica-se uma maior eficiência da RB 92579, em relação à RB 867515, em
resposta ao N aplicado, uma vez que o ganho inicial no peso de colmos foi bem
maior para esta variedade.
Assim como para a cana planta, na socaria, a variedade
RB 92579 apresentou maiores produtividades que a RB 867515 e, dentro de cada
variedade, 0 ou 60 kg de N ha-1 aplicados na cana planta não influenciou a
resposta da socaria ao nutriente. Diferentemente, Vitti el
al. (2007) encontraram um aumento linear na produtividade da segunda socaria da
cana, em resposta a aplicação de doses crescentes de N até 175 kg ha-1, com este efeito se estendendo à terceira
socaria. Estes autores determinaram que em torno de 40% do amônio da fonte
nitrato de amônio permanece no sistema solo-planta-palha como efeito residual
para a safra seguinte, independente da dose de N aplicada; e que os estoques de
N e S do sistema radicular no final da segunda safra se correlacionaram
positivamente com a produtividade de colmos da cana na terceira soca. Desta
forma, este nitrogênio residual da adubação na cana planta ou de socarias
anteriores pode ter influência na produtividade do ciclo agrícola subsequente.
Figura 2. Curva de resposta de cana-de-açúcar a aplicações de
nitrogênio, para primeira socaria das variedades (A) RB 92579 e (B) RB 867515, cultivadas
em Argissolo Amarelo, sem (0 N) e com (60 kg de N ha-1N) aplicação
de nitrogênio na cana planta. Município de Coruripe, Alagoas.
De acordo com Mello Ivo et al. (2008), a quantidade de N aplicada na
adubação da cana, no Brasil, em comparação aos outros países, é uma das mais
baixas, sendo de 42 kg de N ha-1, para a cana planta, e de 80 kg ha-1
para a socaria, e foi obtida para sistemas de produção que envolvem colheita de
cana com o uso do fogo. Para a região Sudeste do Brasil, a recomendação de
adubação fica em torno de 30 kg de N ha-1, para a cana planta; e
varia de 60 a 120 kg de N ha-1, para socarias, a depender da produtividade
esperada (RAIJ, 1996). No Nordeste, predomina o uso da dose de 60 kg de N ha-1,
com algumas usinas adicionando 80 kg de N ha-1, para a socaria. Na
recomendação de adubação elaborada para o Estado de Alagoas (MARINHO et al.,1980),
já se destacava a necessidade de ampliação das doses de N em 30 kg de N ha-1,
no caso do cultivo de cana em solos muito arenosos. Isto em função dos baixos
teores de matéria orgânica e, consequentemente, de nitrogênio do solo. De
acordo com Vitti et al. (2008), respostas da cana-planta ao nitrogênio podem
ser altas em solos de textura leve, sendo este o cenário para a maioria dos
solos dos tabuleiros cultivados com cana. No presente estudo, para um Argissolo
Amarelo localizado na feição geográfica dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste,
as doses de máxima eficiência econômica encontradas ficaram acima das
recomendadas, variando de 126 a 124 kg de N ha-1, para a socaria
cultivada em sucessão a cana planta com 60 kg de N.ha-1, para a RB
867515 e RB 92579, respectivamente.
c) Segunda socaria
Como já descrito acima para a primeira socaria, dado que não houve
efeito residual da leguminosa e do fertilizante sobre a produtividade da
primeira soca, as análises na segunda socaria também se relacionaram apenas com
a resposta da cana às diferentes doses de N (0, 60, 120 e 180 kg de N ha-1).
Polinômios de segundo grau foram ajustados para descrever as respostas da cana
ao N (p< 0,0003) (Figura 2). Assim como para a cana planta e primeira
socaria, a variedade RB 92579 apresentou maiores produtividades que a RB 867515.
Figura 3. Curva de resposta de cana-de-açúcar a aplicações de
nitrogênio, para segunda socaria das variedades RB 92579 e RB 867515,
cultivadas em Argissolo Amarelo. Município de Coruripe, Alagoas.
No presente estudo, para um Argissolo Amarelo, as doses de máxima
eficiência econômica encontradas para a segunda socaria da cana ficaram acima
das recomendadas, variando de 144 a 146 kg de N ha-1, para a RB
867515 e RB 92579, respectivamente. Mostrando que, para estes materiais de alto
rendimento, quando todos os fatores de produção estão corrigidos, doses de N
maiores que aquelas das tabelas de recomendação existentes podem ser aplicadas.
Em estudo realizado por Prado e Pancelli (2008), a resposta das duas primeiras
soqueiras de cana-de-açúcar à aplicação de nitrogênio, em sistema de colheita
sem queima, ocorreu apenas no segundo corte. A dose de 200 kg ha-1
de N promoveu aumento no desenvolvimento da cultura, na nutrição da planta e na
produtividade de colmos da soqueira da cana-de-açúcar. De acordo com Vitti et
al. (2008), em muitos experimentos respostas lineares são relatadas até 120 kg
ha-1, ou as doses calculadas para as máxima
produção física ultrapassam 150 kg; porém, os aumentos obtidos a partir
de 100 kg ha-1 são relativamente pequenos. Esta tendência de menor
resposta pode ser percebida para estas doses de 144 a 146 kg ha-1,
uma vez que, entre as doses de 120 e 180 kg de N ha-1 a
produtividade só aumentou 2 a 3 t/ha. No entanto, até a dose de 120 kg de N ha-1
os ganhos foram expressivos para as duas variedades, sendo este de 10 e 12 t de
colmos ha-1. Tal padrão de resposta justifica a elevação da
recomendação de N para a socaria da cana, para os Argissolos dos tabuleiros
costeiros, com teores de N variando de 0,52 g kg-1 em superfície
(0-20 cm), chegando a 0,41 g kg-1 aos 90 cm no perfil.
CONCLUSÕES
A resposta da cana planta à rotação com crotalária e à aplicação de 60
kg de N ha-1 é expressiva, com ganhos de produtividade de colmos de
35 Mg ha-1 e 15 Mg ha-1, respectivamente; com a indicação
de que a cana só responde ao N fertilizante na ausência da leguminosa.
O nitrogênio da fertilização nitrogenada em doses crescentes até 180 kg
ha-1 de N resulta em resposta quadrática na produtividade de colmos
da socaria da cana, estabelecendo doses de máxima eficiência econômica variando
de 124 kg ha-1 a 146 kg ha-1 de N, para materiais de alto
rendimento, como as variedades RB 92579 e RB 867515, cultivados em Argissolo
Amarelo dos Tabuleiros Costeiros do Nordeste.
AGRADECIMENTO(S)
À Usina Coruripe, pela estrutura física e o apoio na
condução dos experimentos.
REFERÊNCIAS
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