Transição agroecológica em cooperativa
de agricultores familiares de Itapuranga, Goiás
Agroecological
transition in a cooperative of family farmers in Itapuranga,
Goias, Brazil
Transición
agroecológica en una cooperativa de agricultores familiares en Itapuranga, Goiás, Brasil
Fernanda Pereira da Silva1; Guilherme Resende Oliveira
2; Cleyzer Adrian da Cunha
3; Alcido Elenor
Wander
4
1Mestre em Desenvolvimento Regional, Centro
Universitário Alves Faria (UNIALFA), Goiânia, Goiás, +556232725120, fesilvape@gmail.com. 2Doutor em
Economia, Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional,
Centro Universitário Alves Faria (UNIALFA), Goiânia, Goiás, guilherme.oliveira@unialfa.com.br. 3Doutor em
Economia Aplicada, Docente da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e
Ciências Econômicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, cleyzercunha@gmail.com. 4Doutor em
Ciências Agrárias (Concentração: Economia Agrícola), Docente do Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Centro Universitário Alves Faria
(UNIALFA), Goiânia, Goiás, alcido.wander@unialfa.com.br.
Recebido: 24/03/2020;
Aprovado: 20/06/2020
Resumo: O
presente trabalho buscou descrever os avanços, benefícios e dificuldades da transição agroecológica do sistema de produção
de frutas e hortaliças em cooperativa de agricultores
familiares de Itapuranga, Goiás, Brasil, bem como os custos de implantação do cultivo convencional e
agroecológico e a rentabilidade auferida
com a prática
agroecológica. Para a realização dessa
pesquisa, utilizou-se o delineamento de uma abordagem de pesquisa qualitativa exploratória. Como
instrumento de coleta de dados foram utilizados questionários estruturados e
entrevistas não estruturadas.
De acordo com os resultados
é perceptível a satisfação
dos que trabalham com as práticas agroecológicas, os que investiram
em mão de obra, bem como em
assistência técnica. Os agricultores que possuíam mais de 15 hectares de terras concordam que suas receitas aumentaram embora tivessem dificuldades para dar continuidade
aos projetos devido à ausência do apoio técnico após sua finalização. Durante a execução, a assistência técnica foi apontada como um problema devido à alta rotatividade de pessoal. Por fim, o sucesso dos agricultores
que fizeram a transição do
sistema de produção convencional vis-à-vis
agroecológico resultou, sobretudo,
em maiores ganhos econômicos, em parte, provenientes do
recebimento de insumos e assistência
técnica da cooperativa. Os produtores que possuíam mais recursos financeiros, mão de obra qualificada, consciência social e ambiental foram os que conseguiram maior agregação de valor ao produto final.
Palavras-chave: Agrossistemas sustentáveis;
Cooperativismo; Processos agroecológicos.
Abstract: This study aimed
to describe the advances, benefits, and difficulties of the agroecological transition of the
fruit and vegetable production
system in a cooperative of family farmers
in Itapuranga, Goias, Brazil, as well as the costs of
implementing conventional
and agroecological cultivation
and the profitability obtained. with agroecological practice. To carry out
this research, we used the
outline of a described approach that can be classified as exploratory qualitative research that used
the case study to carry out
the field research. As a data collection instrument, structured questionnaires and unstructured
interviews were used. According to the
results, the satisfaction of those who work
with agroecological practices, those who invested in labor, as well as in technical assistance, is noticeable. Farmers who owned more than 15 hectares of land, agree
that their revenues have increased
even though they have difficulties
to continue the projects due
to the lack
of technical support after its completion. During execution, technical assistance was identified as a problem due to the
high turnover of personnel. Finally,
the success of farmers who
transitioned from the conventional production system vis-à-vis agroecological resulted, mainly, in greater economic gains, partly from the
receipt of inputs and technical assistance from the cooperative.
Producers who had more financial resources, qualified labor,
social and environmental awareness
were those who achieved greater
added value to the final product.
Keywords: Sustainable farming systems; Cooperativism; Agroecological processes.
Resumen: Este
estudio buscó describir los avances, beneficios y dificultades de la transición
agroecológica del sistema de producción de frutas y verduras en una cooperativa
de agricultores familiares en Itapuranga, Goiás,
Brasil, así como los costos de implementación del cultivo convencional y
agroecológico y la rentabilidad obtenida. con práctica agroecológica. Para
llevar a cabo esta investigación, utilizamos el esquema de un enfoque descrito
que se puede clasificar como una investigación cualitativa exploratoria que
utilizó el estudio de caso para llevar a cabo la investigación de campo. Como
instrumento de recolección de datos, se utilizaron cuestionarios estructurados
y entrevistas no estructuradas. Según los resultados, la satisfacción de
quienes trabajan con prácticas agroecológicas, quienes invirtieron en mano de
obra, así como en asistencia técnica, es notable. Los agricultores que poseían
más de 15 hectáreas de tierra están de acuerdo en que sus ingresos han
aumentado a pesar de que tienen dificultades para continuar los proyectos
debido a la falta de soporte técnico después de su finalización. Durante la
ejecución, la asistencia técnica se identificó como un problema debido a la
alta rotación del personal. Finalmente, el éxito de los agricultores que
hicieron la transición del sistema de producción convencional vis-à-vis agroecológico
resultó, sobre todo, en mayores ganancias económicas, en parte por la recepción
de insumos y asistencia técnica de la cooperativa. Los productores que tenían
más recursos económicos, mano de obra calificada, conciencia social y ambiental
fueron los que lograron mayor valor agregado al producto final.
Palabras Clave: Agrosistemas sostenibles; Cooperativismo; Procedimientos
agroecológicos.
A agricultura brasileira a partir de meados da década de 1970 passou por
processos de transformação da base tecnológica com a modernização do
agronegócio e o crescimento do setor agrícola. Em virtude desse processo
ocorreram algumas transformações sociais no ambiente rural tais como, a concentração
da renda rural e o aumento das desigualdades e da exclusão no campo. Essa
transformação social e econômica possibilitou aos agricultores um papel de
destaque no ambiente rural brasileiro, visto que esse crescente fomento na
produção agropecuária geram empregos rurais e urbanos (MATOS; PESSÔA, 2011).
Neste contexto, uma parte dos pequenos agricultores saiu prejudicada, haja vista que parcela da
produção não alcançava preços justos ou alguns agricultores eram obrigados a
entregar a safra para terceiros, a fim de pagar dívidas contraídas para fazer
seu plantio. Desse modo, o pequeno agricultor não tinha meios econômicos para
se desenvolver, ficando à mercê de políticas públicas que valorizassem o homem
do campo e de incentivos para fomentar a pequena propriedade (BOLFE, 2018).
Assim sendo, tardiamente, a mudança de paradigma se
deu somente em meados da década de 1990, com a expressão “agricultura
familiar”, que emergiu dos movimentos sociais do campo e da criação do PRONAF
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) em 1996. Não
obstante, a agricultura familiar ganhou legitimidade social, política e
acadêmica nos espaços de debate da agricultura e do mundo rural (Schneider, 2003).
Atualmente, nova visão cooperativista do século XX adentra ao espaço
rural e as famílias começam um novo ciclo, passaram a unir-se nesse sistema
associativo no qual pessoas livres se unem, somando suas forças de produção,
sua capacidade de consumo e suas economias, no intuito de evoluírem econômica e
socialmente, elevando seu padrão de vida e, igualmente, beneficiando a
sociedade por meio do aumento e barateamento da produção, do consumo e do
crédito (OLIVEIRA et al., 2020).
Ao buscarem soluções em conjunto, evoluem para decisões mais
definitivas, aperfeiçoando a parceria, inicialmente informal, para uma forma de
união organizada e associativa, onde teriam maiores chances de sucesso. Essa
parceria fortaleceu o pequeno produtor e gerou discussões sobre os problemas
vivenciados, como: pouca área de terras, baixa disponibilidade de recursos
financeiros, assistência técnica insuficiente, compra de maquinário, mercado,
entre outras dificuldades que os agricultores familiares enfrentam para produzir
e escoar sua produção.
É notório que a agricultura familiar necessita de
uma política de crédito especial, como já vinham reivindicando suas entidades
representativas. O governo criou políticas de incentivo para minimizar e
restaurar esta lacuna existente com programas de incentivos para a
agroindústria, e linhas específicas visando atender esta demanda. O crédito
rural, mal utilizado, pode aumentar a dependência dos agricultores,
endividando-os, e a consequência é que alguns acabam perdendo o pouco de terras
que ainda possuem. Por outro lado, estudos desta natureza permitem orientar a
seleção de políticas públicas (extensão rural, crédito rural, pesquisa, ensino)
compatíveis com as necessidades locais.
Como alternativa para esse cenário, alguns agricultores
do Município de Itapuranga, começaram a fazer parte de alguns projetos de
transição agroecológica. Os agricultores procuraram associar-se em
cooperativas, onde se uniram para melhorar suas necessidades socioeconômicas e
procurar formas de superar as dificuldades encontradas.
Segundo Costabeber
(1998) a transição agroecológica pode ser evidenciada com a maior
racionalização econômico-produtiva baseado nas características biofísicas de
cada agroecossistema, mas também pela mudança nas atitudes e nos valores dos
atores sociais, relacionados ao manejo, a conservação dos recursos naturais, e
ao progresso técnico e avanço científico. É fundamental
avaliar os resultados socioeconômicos e ambientais dessas iniciativas, inclusive,
por conta das escassas evidências na literatura, especialmente a nível regional,
além de investigar os efeitos do cooperativismo na forma de o agricultor
desenvolver suas atividades coletivamente. A hipótese norteadora da pesquisa
foi que o sucesso das práticas agroecológicas está relacionado às dimensões
econômicas e sociais dos agricultores, isto é, sua consciência socioambiental
permite entender os processos de maneira mais ampla, identificando os fatores
que levam ao próprio desenvolvimento. Este trabalho buscou descrever os
avanços, benefícios e dificuldades da transição agroecológica do sistema de
produção de frutas e hortaliças em cooperativa de agricultores familiares de
Itapuranga, Goiás, bem como os custos de implantação do cultivo convencional e
agroecológico e a rentabilidade auferida com a prática agroecológica.
MATERIAL E
MÉTODOS
Itapuranga é um município goiano situado a 653 metros de altitude, com
as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 15° 32' 18'' Sul, Longitude:
49° 56' 5'' Oeste. Localizado a 170 quilômetros de Goiânia, na mesorregião
Centro Goiano e microrregião de Ceres, Estado de Goiás.
Possui uma população de 26.125 habitantes no
último Censo (IBGE, 2010), sendo que 19.090
(76,9%) vivem no meio urbano e 5.742 (23,1%) no meio rural. O município,
situado a cerca de 170 km da capital do Estado de Goiás, ocupa uma área de 1.276,479 km²
e tem uma representação significativa. De
acordo com os dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006) cerca de 94% dos
estabelecimentos rurais de Itapuranga podem ser categorizados como pertencentes
a agricultores familiares.
Para a realização dessa pesquisa, utilizou-se o delineamento de uma
abordagem classificada como uma pesquisa qualitativa exploratória com uso do
estudo de caso para a realização da pesquisa de campo. Como instrumentos de
coleta de dados foram utilizados questionários estruturados e entrevistas não
estruturadas, realizadas no último trimestre de 2017 e primeiro de 2018. Foram
realizados encontros com os agricultores na feira do produtor rural e visitas a
cooperativa, sendo a amostragem feita por conveniência. A entrevista foi
parcialmente transcrita e analisada pelos autores. Os questionários foram baseados na versão utilizada em
Vieira (2009), com as devidas adaptações para fins de adequação da realidade
local e do objetivo do trabalho.
A Cooperativa dos Produtores Familiares de Itapuranga (COOPERAFI) foi
fundada em 1998 e possuía 122 sócios, sendo 89 homens e 33 mulheres. Foi
fundada com o objetivo de minimizar as disparidades existentes entre produtor e
consumidor, já que auxilia na comercialização da produção dos agricultores e na
compra de insumos em quantidades maiores, obtendo um maior poder de negociação.
Em 2006, em parceria com a
Universidade Federal de Goiás (UFG) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), teve início o programa “Criação e
Estabelecimento de Processos Agroecológicos no Município de Itapuranga”. Nesse
mesmo período, também foi aprovado o projeto de “Fruticultura Sustentável no
Cerrado Goiano”, por meio do programa
Desenvolvimento e Cidadania da Petrobrás. Com esse projeto, em 2013, recebe a
premiação da 12ª edição do Prêmio (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
de Goiás (CREA – GO)). Em 2017 a COOPERAFI
contava com 216 cooperados ativos e atua na comercialização do leite,
fruticultura e hortaliças; assistência técnica; assim como na compra de insumos
a preços mais acessíveis.
Analisou-se como os agricultores familiares geram seus empreendimentos,
ou seja, que mecanismos criam para se inserir com o sistema mercadológico
convencional, trabalhando com a autogestão, a agroecologia e a ajuda mútua.
Portanto, além das variáveis socioeconômicas referentes aos agricultores, foram
analisadas informações financeiras e verificadas práticas agrícolas. Foi
analisada a organização dentro da cooperativa e como a transição agroecológica
os ajudou a conseguir uma melhor qualidade de vida e maior competividade no
mercado consumidor.
A amostragem foi composta por oito produtores que participaram da
transição agroecológica. Desse grupo, se encontram quatro produtores que continuam
empenhados na transição agroecológica e
quatro desistentes. Do mesmo modo o gestor da cooperativa foi
entrevistado, foram conversas informais ocasionadas após a realização dos
questionários.
O grupo foi entrevistado individualmente contando com a colaboração dos
chefes das famílias e suas esposas. A amostragem foi realizada por
conveniência, e Os critérios de escolha foram
sugeridos pelos entrevistados e realizados por indicação do líder da
cooperativa e dos próprios cooperados entrevistados, que sugeriram outras
pessoas a serem ouvidas. A maior parte das entrevistas foram gravadas, conforme
autorização dos agricultores, que assinaram termo de consentimento.
Considerando que registros da Cooperativa mostravam que 76% dos agricultores
inicialmente envolvidos com o projeto de agroecologia não deram prosseguimento,
era necessário caracterizar a trajetória dessa agricultura familiar que, de
alguma forma, não se adaptou às práticas agroecológicas repassadas aos
agricultores. Para tanto, os custos (já existentes no projeto) de lavouras
agroecológicas e convencionais foram confrontados para compreender se esse
fator foi determinante no processo.
A pesquisa foi dividida em etapas. Em um primeiro momento, verificou-se
a caracterização dos agricultores familiares, faixa etária dos agricultores
familiares, composição da unidade familiar, escolaridade e se possuíam algum
tipo de financiamento do governo federal. Também foi caracterizada a unidade
rural, como as benfeitorias existentes na propriedade, se o produtor trabalha
com a produção leiteira e as principais atividades produtivas. Foram abordadas
as atividades agroecológicas, se as famílias trabalham com os projetos de
reestruturação, quais são as técnicas mais utilizadas, tipos de cultivo, níveis
de renda antes e após a adoção dos preceitos agroecológicos e participação
dessa produção na renda total, as dificuldades encontradas ao sair do cultivo
tradicional, participação em cursos e se possuem um público específico para a
comercialização. Concluída essa etapa, prosseguem para a parte da cooperativa e
sua gestão, para tentarmos compreender por que a mudança de gestor supostamente
ocasionou o estancamento das práticas agroecológicas e se a cooperativa possui
uma gestão participativa junto aos agricultores familiares. A maior parte
dessas perguntas foram traduzidas em variáveis quantitativas, apresentadas e
analisadas ao longo da próxima seção.
Os resultados quantitativos foram analisados por estatística descritiva.
Ademais, houve comparação entre os diferentes grupos, da maneira a identificar
as diferenças entre os agricultores de sistemas agroecológicos e os
agricultores com sistema tradicional de plantio e cultivo. As ideias
apresentadas e discussões provenientes das entrevistas foram analisadas
permitindo maior aprofundamento dos resultados quantitativos.
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Os agricultores que participaram da transição agroecológica no município
de Itapuranga frisam a importância da cooperativa pela conquista da liberação
dos recursos, de acordo com a transcrição de uma das entrevistas, “a
cooperativa com seu antigo gestor foi quem se organizou e se mobilizou
socialmente em prol dos pequenos produtores e com essa mobilização em 2009 foi
viabilizado para os produtores de Itapuranga a maior liberação de crédito rural
e foi através dessa organização e esforço do antigo gestor senhor que fomos
contemplados com os projetos de transição agroecológica (UFG) e de produção
frutícola sustentável (Petrobrás)”. Com o crédito rural os produtores
melhoraram suas lavouras e construíram algumas benfeitorias, como galpão para
colocarem suas colheitas, poço para irrigarem as suas lavouras, adquiriram
alguns animais para melhorarem sua renda mensal e automóvel para transportar
sua mercadoria. Segundo Knorek (2011 p. 50), “o
crédito é o motor da economia e o agronegócio vem se beneficiando com linhas
específicas, a taxas de juros controladas, e com medidas emergenciais de
suporte para os efeitos da crise financeira mundial”. Com essa abertura do
crédito rural para o município a cooperativa começou a desenvolver os projetos
de transição agroecológica.
De acordo com Marin e Matos (2009 p. 199), “o sistema de produção
desenvolvido pelos agricultores familiares que se estabeleceram em Itapuranga
esteve orientado para a diversificação produtiva, visando atender as
necessidades alimentares do grupo familiar e a comercialização de excedentes”. Em
concordância Schneider (2003), afirma que os agricultores familiares têm como características mão de obra basicamente familiar,
contratando mão de obra complementar nos períodos de muito trabalho;
organização do processo produtivo é realizada pela família; produção
diversificada, com objetivo de ocupar melhor a área, a mão de obra familiar e
aumentar a renda; cuidados com a conservação dos recursos naturais, pois
dependem totalmente destes para a reprodução da família.
Inicialmente, notou-se que dos oito entrevistados cinco são cooperados
de longa data da COOPERAFI e os outros três foram cooperados, porém deixaram a
cooperativa após a mudança de gestão. Com relação às atividades adotadas nas
propriedades, há uma relativa diversidade de cultivos (Tabela 1).
Tabela 1. Principais cultivos agroecológicos da agricultura
familiar cooperada em Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
|||||
Atividades
dos agricultores que utilizam a agroecologia |
Atividades
dos agricultores desistentes |
||||
Tipo
de cultivo |
Nº de
agricultores |
% |
Tipo
de cultivo |
Nº de
agricultores |
% |
Banana |
3 |
30 |
Banana |
2 |
29 |
Mamão |
3 |
30 |
Mamão |
1 |
13 |
Maracujá |
1 |
10 |
Maracujá |
2 |
29 |
Hortaliças |
3 |
30 |
Hortaliças |
2 |
29 |
Dos agricultores que utilizam a agroecologia nenhum
desempenha menos do que três atividades em sistema de manejo agroecológico. Nesse
grupo nota-se forte tendência de aceitação do cultivo do mamão, banana e das
hortaliças.
O maracujá já requer mais mão de obra e
com isso se torna mais dispendioso. No entanto, somente aqueles que investiram
em tecnologia e orientação técnica conseguiram sobreviver frente à
suscetibilidade desta cultura às doenças e pragas, por utilizar insumos de alto
valor aquisitivo e de ser necessário atender à exigência de qualidade dos
mercados a que se destina (MELETTI, 2011). Enquanto no primeiro caso as
atividades de manejo agroecológico não eram inferiores a três em nenhum dos
pesquisados, em se tratando dos desistentes a implantação de cultivo
agroecológico à época da participação nos projetos não ultrapassava duas
modalidades. Quanto às técnicas agroecológicas mais
utilizadas pelos agricultores que permaneceram no sistema, podemos observar na Tabela
2, uma maior utilização dos defensivos naturais, adubação verde e biofertilizante líquido.
Tabela 2. Principais técnicas agroecológicas dos agricultores familiares cooperados em Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
|||||
Técnicas dos agricultores que utilizam a
agroecologia |
Técnicas dos agricultores desistentes |
||||
Técnicas agroecológicas |
Nº de agricultores |
% |
Técnicas agroecológicas |
Nº de agricultores |
% |
Adubação Verde |
4 |
20 |
Adubação
Verde |
4 |
37 |
Adubação Orgânica |
3 |
15 |
Adubação
Orgânica |
3 |
27 |
Defensivos Naturais |
4 |
20 |
Defensivos
Naturais |
2 |
18 |
Compostagem Sólida |
2 |
10 |
Sistema
Agroflorestal |
2 |
18 |
Biofertilizante Líquido |
4 |
20 |
|
||
Sistema Agroflorestal |
3 |
15 |
|
|
|
Práticas de adubação verde e de sistemas
agroflorestais que, para além da agroecologia, configuram-se como garantia de
maior estabilidade ao agroecossistema e às atividades
produtivas nele desenvolvidas (MARIN, 2009). Além das tecnologias citadas acima
para a conservação da biodiversidade, estão o uso do solo de acordo com a
capacidade de uso, adubação verde, plantas recuperadoras, consorciação, rotação
de culturas, uso de quebra ventos, pastoreio racional, plantio direto sem
dessecação, sistemas agroflorestais, alelopatia,
controle biológico e uso de planta protetoras.
A manutenção da biodiversidade e o conhecimento sobre
sucessões naturais e plantas indicadoras estão no contexto das tecnologias de
base ecológica (PAULUS; SCHLINDWEIN, 2001).
Os produtores acreditam que utilizando práticas
agrícolas não agressivas, gerando alimentos saudáveis, livres de resíduos
tóxicos e com qualidade ecológica, a agroecologia é capaz de recuperar o agroecossistema tão degradado nos últimos anos com práticas
de cultivos tradicionais e com a utilização de agrotóxicos. Ribeiro e Freitas
(2012), afirma que a agroecologia “[...] É produzir alimentos sob outro
paradigma, holístico, com práticas agrícolas não agressivas à vida no seu
conjunto, gerando alimentos saudáveis, livres de resíduos tóxicos e com
qualidade ecológica”.
Os agricultores desistentes utilizaram menos técnicas agroecológicas e
ressaltaram as dificuldades relacionadas ao manejo, o controle de pragas
aparece como uma dificuldade importante, sendo que para três pesquisados este
ponto é determinante para o insucesso da experiência agroecológica. Para os
demais o controle de praga só é mais um dos problemas e dificuldades
encontradas, foi citado também à dificuldade em obter adubo orgânico (1
agricultor); os problemas de suprimento de adubo orgânico à pouca
disponibilidade de mudas e/ou sementes adequados ao cultivo agroecológico (2
agricultores).
Contudo, quando questionados se trabalham com a produção de leite ou
apenas agricultura, verifica-se na Tabela 3, que a pecuária leiteira desempenha
papel de destaque em áreas pequenas em consórcio com fruticultura e
horticultura. A produção de leite é um acréscimo na renda das famílias, o leite
é comercializado na feira do produtor através do produto in natura ou na obtenção de doces, requeijão, queijo e alguns
produtores que entregam para laticínios. Os
principais produtos hortícolas cultivados foram: tomate, pimentão, pimenta,
abóbora, pepino, melancia, repolho e folhosas. Assim, os agricultores
familiares de Itapuranga adequaram seus sistemas de produção ao desenvolvimento
conjugado da fruticultura, horticultura e bovinocultura de leite (MARIN; MATOS,
2009).
A COOPERAFI, através de recursos obtidos com os projetos adquiriu
tanques resfriadores para coletar o leite de cooperados e não cooperados para
ser revendido posteriormente a grandes cadeias de laticínios a preços mais
elevados devido ao maior volume comercializado (Tabela 3).
Tabela 3. Principais atividades produtivas da agricultura
familiar cooperada em Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
|||
Área
da propriedade (ha) |
Atividade
principal – fator renda |
Nº agricultores (não desistentes) |
Nº agricultores (desistentes) |
Até 5 ha |
pecuária/hortaliças |
- |
1 |
Até 5 ha |
pecuária/fruticultura |
- |
1 |
Até 5 ha |
fruticultura/horticultura |
- |
1 |
Até 15 ha |
pecuária/hortaliças |
1 |
1 |
Até 15 ha |
pecuária/fruticultura |
1 |
- |
Até 15 ha |
fruticultura/horticultura |
2 |
- |
Podemos observar que das três propriedades com área de até 15 hectares,
em apenas um caso a pecuária leiteira não é citada como importante componente
da renda. Dentre as restantes, a pecuária leiteira é predominante em uma
propriedade, associada com a horticultura em outra e com a fruticultura. Os
sistemas de cultivo caracterizavam se pela produção diversificada a estratégia
produtiva desses agricultores se baseia em uma multiplicidade de atividades que
visam garantir a reprodução da unidade familiar (CAUME, 2005, p. 28).
Outrora o cultivo de frutas foi responsável pelo principal gerador de
renda da economia local, iniciou-se com o maracujá, O crescimento do mercado
fez com que uma grande quantidade de agricultores aderisse a esse cultivo.
Após, passou a dividir espaço com a banana na produção comercial e que hoje
caminha para uma maior diversificação, onde merece destaque a cultura do mamão.
Buscando uma melhor compreensão ao observar os custos e as receitas para
averiguar se houve relação com o estancamento das práticas agroecológicas, e se
a produção com as novas técnicas aumentou as receitas e diminuíram os custos de
produção, observem os dois sistemas de cultivo, tanto o tradicional como o
agroecológico. Os dados dos custos são anotações e relatórios feitos pelos
agricultores e técnicos responsáveis pelos projetos. Inicialmente como podem
observar na Tabela 4, foram escolhidas as frutas de maiores cultivos a
bananicultura e mamonicultura, o ciclo produtivo é
considerado de médio prazo, no máximo um ano, porém foram considerados seis
meses, pois é o período que as plantas necessitam de maiores cuidados.
Tabela 4. Custo de
implantação de um hectare de mamão em cultivo convencional da agricultura familiar cooperada em Itapuranga,
Goiás, 2017/2018. |
||||
Especificação |
Quantidade |
Unidade |
Custo unitário (R$) |
Valor total (R$) |
Aração,
gradagem e Aplicação
de calcário
|
12 |
Hora/Máquina |
80,00 |
960,00 |
Calcário |
3 |
Tonelada |
60,00 |
180,00 |
Mudas |
5.000 |
Um |
0,30 |
1.500,00 |
Adubo
mineral |
25 |
Saco de 40 kg |
40,00 |
1.000,00 |
Adubo Orgânico |
35 |
m3 |
40,00 |
1.400,00 |
Adubo Mineral- Cloreto de
Potássio |
5 |
Saco de 50 kg |
50,00 |
250,00 |
Adubo Mineral -Sulfato de Amônio |
15 |
Saco de 50 kg |
35,00 |
525,00 |
Adubo
Mineral – Bórax |
2 |
kg |
5,00 |
10,00 |
Cova,
adubação básica e cobertura, capina manual, irrigação e desbaste de plantas |
150 |
Homem/dia |
35,00 |
5.250,00 |
Total |
11.075,00 |
Das lavouras frutícolas analisadas, o mamão é a que
apresentou os menores custos de implantação e possuía atratividade por ter uma
boa saída para o mercado. Tornou-se também atrativo, porque requer uma
manutenção mais simples facilitando o manejo.
Observa-se na Tabela 5, os custos para implantação do
cultivo agroecológico, assim podem traçar uma comparação aos dois sistemas em
relação ao custo.
Tabela 5. Custo de
implantação de um hectare de mamão em cultivo agroecológico da agricultura
familiar cooperada em Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
||||
Especificação |
Quantidade |
Unidade |
Custo unitário (R$) |
Valor total (R$) |
Aração,
gradagem e Aplicação
de calcário |
12 |
Hora/Máquina |
80,00 |
960,00 |
Calcário |
3 |
Tonelada |
60,00 |
180,00 |
Mudas |
5.000 |
Um |
0,30 |
1.500,00 |
Adubo
– Cama de Frango |
0,5 |
Tonelada |
160,00 |
80,00 |
Cova,
adubação básica e cobertura, capina manual, irrigação e desbaste de plantas |
210 |
Homem/dia |
35,00 |
7.350,00 |
Total |
10.070,00 |
Conforme notamos nas Tabelas 4 e 5, os custos de
implantação das culturas são bastante próximos, a ponto de não justificarem,
por si só, a adoção de um ou outro modo de produção, ou até mesmo, o abandono
das práticas agroecológicas em relação aos custos. No cultivo convencional, a
inversão de capital (insumos e maquinário) na implantação da lavoura
representou 64% do custo total. Trata-se de um sistema produtivo poupador de
mão de obra, mas que exigiu um maior desembolso inicial, tendo em vista que o
emprego de mão de obra é menos intensivo no período de implantação do que os
insumos e a tecnologia. No cultivo do mamoeiro agroecológico, as despesas
homem/dia alcançaram 73% do custo total de implantação, levando ao alto custo
da mão de obra. Esse sistema requer maiores cuidados com ervas invasoras, a
colocação gradual do adubo empregado e a incorporação de matéria orgânica
revirando-se a terra da plantação, atividades que são totalmente manuais. Portanto,
importar máquinas de países que tem agricultura familiar pode ser uma saída. Na
comparação dos sistemas, a implantação da mamonicultura
agroecológica foi 11% mais barata do que sua similar em cultivo convencional.
Em um depoimento reconhece uma forte adesão a mamonicultura
agroecológica devido a menor propensão às doenças, como cita: “uma vez que se
controlam as pragas elas não voltam”. Em outros tempos pragas locais recaíam,
sobretudo, na cultura do maracujá e, também, devido a maior perenidade dos
mamoeiros em relação a outras frutas plantadas na região.
Dessa forma, os produtores foram deixando os
maracujazeiros e aderindo a mamonicultura e
bananicultura, pois essas culturas superaram o maracujá devido aos problemas
que envolvem a proliferação de pragas. Veremos na Tabela 6, o cultivo da banana
que também se tornou uma cultura forte para os agricultores familiares do
município.
Tabela 6. Custo de implantação de um hectare de banana em
cultivo convencional na agricultura familiar cooperada de Itapuranga, Goiás,
2017/2018. |
||||
Especificação |
Quantidade |
Unidade |
Custo unitário (R$) |
Valor total (R$) |
Aração,
gradagem e Aplicação
de calcário |
12 |
Hora/Máquina |
80,00 |
960,00 |
Calcário |
3 |
Tonelada |
60,00 |
180,00 |
Mudas |
1.666 |
Um |
2,50 |
4.165,00 |
Adubo
mineral |
30 |
Saco de 40 kg |
40,00 |
1.200,00 |
Adubo Orgânico |
40 |
m3 |
40,00 |
2.280,00 |
Adubo Mineral- Cloreto de Potássio |
12 |
Saco de 50 kg |
50,00 |
600,00 |
Adubo Mineral -Sulfato de Amônio |
37 |
Saco de 50 kg |
35,00 |
1.295,00 |
Cova,
adubação básica e cobertura, capina manual, irrigação e desbaste de plantas |
150 |
Homem/dia |
35,00 |
5.250,00 |
Total |
16.450,00 |
O cultivo da banana se diverge do cultivo do mamão em
questão de quantidade, pois requer um número maior de mudas, porém, uma
quantidade maior de adubo orgânico. A bananeira exige um espaçamento bem maior
entre uma planta e outra, dada sua composição em forma de moita, onde vários
caules produzem cachos distintos e que, após a colheita requerem corte para o
desenvolvimento de nova leva de caules produtivos. Por esse motivo a bananeira
requer mais matéria orgânica e a renovação constante desta em cada cova.
Quanto ao peso percentual representado pelos insumos e
itens de tecnologia necessários à produção, a bananicultura convencional
constou de 59% dos investimentos de implantação nesses quesitos. A área
plantada com banana requer menos cuidados no que tange à roçagem, já que essas
possuem folhas largas que fazem sombra e barram a proliferação de ervas
invasora. Em compensação, as bananeiras são bastante exigentes quanto ao
desbaste, porque a não remoção de caules que já produziram facilita o
aparecimento de fungos e impede os caules jovens de aparecerem. Na Tabela 7
podemos observar a bananicultura em cultivo agroecológico e analisar seus
custos comparados ao convencional.
Tabela 7. Custo de implantação de um hectare de banana em
cultivo agroecológico na agricultura familiar cooperada de Itapuranga, Goiás,
2017/2018. |
||||
Especificação |
Quantidade |
Unidade |
Custo unitário (R$) |
Valor total (R$) |
Aração,
gradagem e Aplicação
de calcário |
12 |
Hora/Máquina |
80,00 |
960,00 |
Calcário |
3 |
Tonelada |
60,00 |
180,00 |
Mudas |
1.666 |
Um |
2,50 |
4.165,00 |
Adubo
– Cama de Frango |
0,5 |
Tonelada |
160,00 |
80,00 |
Adubo
Orgânico |
70 |
m3 |
40,00 |
2.800,00 |
Cova,
adubação básica e cobertura, capina manual, irrigação e desbaste de plantas |
210 |
Homem/dia |
35,00 |
7.350,00 |
Total |
15.535,00 |
A lavoura de banana agroecológica teve 48% de seu
custo de implantação baseado na despesa com mão de obra. Esse peso percentual
menor em comparação com a mamonicultura agroecológica
se explica o fato de que muitos agricultores afugentam o cultivo da banana
comercialmente, mesmo se tratando do cultivo convencional as bananeiras
necessitam de mão de obra intensiva. Ainda assim, o cultivo da banana cresceu,
pois é um produto muito comercializado na feira do produtor rural e, também, é
matéria-prima de grande quantidade de doces e compotas que agregam valor à
produção e tem uma ótima saída no mercado local.
Grande parte dos agricultores familiares que aderiram
aos projetos de transição agroecológica possuía experiência no cultivo de
frutas. Muitos com o maracujá como o carro chefe da propriedade. Dessa forma,
manter o sistema convencional ou tentar a transição agroecológica não acarretou
altos custos aos produtores, pois o retorno econômico era praticamente o mesmo,
mas, as práticas agroecológicas destacavam como um diferencial a mais na
comercialização. Para Nunes da Silva et al. (2009, p. 3022), “os processos de
transição agroecológica constituem-se em desafios para a sustentabilidade das
regiões rurais”.
No caso da horticultura, a experiência não foi tão
significativa quanto à fruticultura. Os produtores já possuíam suas hortas para
o consumo pessoal. Quando iniciaram o trato dessas lavouras para o comércio
exigiu-se uma mão de obra intensa e contínua.
Para estudo desse sistema produtivo, a experiência foi
em uma área menor de 1 ha (fruticultura) para 0,5 ha. Outro diferencial foi o
tempo, para a horticultura, o ciclo produtivo foi bem menor, como nos casos da
alface e da couve que serão aqui abordados. Diante desse retrato as hortaliças
caracterizadas como plantas de curta duração, no máximo de três meses. A seguir
na Tabela 8, os custos ocorridos nas lavouras de hortaliças (alface e couve).
Tabela 8. Custo de implantação de 0,5 hectares de horticultura
(alface e couve) em cultivo convencional na agricultura familiar cooperada de
Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
||||
Especificação |
Quantidade |
Unidade |
Custo unitário (R$) |
Valor total (R$) |
Aração,
gradagem e Aplicação
de calcário |
5 |
Hora/Máquina |
80,00 |
400,00 |
Calcário |
1 |
Tonelada |
60,00 |
60,00 |
Sementes |
20 |
Lata 100 g |
250,00 |
5.000,00 |
Adubo
mineral |
2 |
Saco de 25 kg |
30,00 |
60,00 |
Adubo Orgânico |
20 |
m3 |
40,00 |
800,00 |
Construção
de canteiros, adubação básica e cobertura, capina manual, irrigação e
desbaste das plantas |
200 |
Homem/dia |
35,00 |
7.000,00 |
Total |
13.320,00 |
A mão de obra da horticultura é muito intensa por isso se torna mais
dispendiosa no caso analisado, 53% de todo a despesa de implantação da horta se
deve a esse fator. Necessita de todo um cuidado com as folhagens na hora da
irrigação para não estragar os canteiros e as próprias folhas. O controle de
plantas invasoras é praticamente diário e feito sem o auxílio de nenhuma
ferramenta, é realizado manualmente. Há ainda o trabalho com a preparação do
viveiro de mudas e a posterior mudança destas para o canteiro. No caso da
alface, as folhas mais próximas ao chão geralmente apodrecem e necessitam de
remoção, tanto sendo retiradas da horta quanto incorporadas ao solo como cobertura
e adubo orgânico. Na Tabela 9, a seguir os dados referentes ao cultivo
agroecológico.
Analisando a Tabela 9, observamos que os insumos
necessários para as duas produções são os mesmos, portanto o que diferencia é a
mão de obra e o que se tornou as hortaliças agroecológicas com os custos de
implantação mais alto do que as similares convencionais (7%). Justificam essa
diferença quando se leva em conta que a ausência de agrotóxicos torna o
controle de pragas dificultado na produção agroecológica, além do que, o não
uso de adubo retarda o desenvolvimento da planta e requerem cuidados por mais
tempo e, portanto, maior uso de mão de obra. Quando questionados se utilizam
toda a terra com as práticas agroecológicas, concluem que até em 15 ha, que foi
a proporção das terras que aderiram ao experimento, de 20% a 40% da área é
dedicada a agroecologia (Tabela 10).
Tabela
9. Custo de implantação de 0,5
hectares de horticultura (alface e couve) em cultivo agroecológico na
agricultura familiar cooperada de Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
||||
Especificação |
Quantidade |
Unidade |
Custo unitário (R$) |
Valor total (R$) |
Aração,
gradagem e Aplicação
de calcário |
5 |
Hora/Máquina |
80,00 |
400,00 |
Calcário |
1 |
Tonelada |
60,00 |
60,00 |
Sementes |
20 |
Lata 100 g |
250,00 |
5.000,00 |
Adubo
Orgânico |
20 |
m3 |
40,00 |
800,00 |
Construção
de canteiros, adubação básica e cobertura, capina manual, irrigação e
desbaste das plantas |
230 |
Homem/dia |
35,00 |
8.050,00 |
Total |
14.310,00 |
Tabela 10. Participação da agroecologia na composição da renda de agricultores
familiares cooperados em Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
|||
Área da propriedade (ha) |
Participação da agroecologia na renda total (%) |
Nº de agricultores (não desistentes) |
Nº agricultores (desistentes) |
Até 5 ha |
Até 20 |
- |
- |
Até
15 ha |
Até 20 |
1 |
- |
Até
15 ha |
20 a 40 |
2 |
1 |
Até
15 ha |
40 a 60 |
1 |
- |
A maior parte dos agricultores não desistentes das
práticas agroecológicas concorda que suas receitas aumentaram com a transição
agroecológica. “Os custos não foram tão altos e conseguimos um bom
rendimento” (Agricultor 1). Dentre os entrevistados desistentes, apenas uma
ocorrência de aumento na receita. Segundo esse agricultor, as atividades
agroecológicas lhe proporcionaram um aumento na renda da ordem de 30%. Os
demais não tiveram acréscimo na receita, os projetos agroecológicos se tornam
de fato viáveis pelo custo mais baixo de preparação e cultivo, porém, requerem
um número muito grande de mão de obra, principalmente para a horticultura.
Contudo, observaram que os agricultores desistentes e que não tiveram acréscimo
em suas rendas possuem até 5 ha de terras e o único desistente que ainda obteve
os 30% oriundo da agroecologia possui 15 ha de terra. Consideram uma variável
importante, pois acreditam que se tivessem terras maiores haveria mais
diversificação (Tabela 11).
Tabela 11. Faixa de renda (salários mínimos) de agricultores familiares cooperados de
Itapuranga, Goiás, 2017/2018. |
|||
Tamanho
da propriedade (ha) |
Faixa de renda atual (salários) |
Nº de agricultores (não desistentes) |
Nº agricultores (desistentes) |
Até 5 ha |
Entre 1 e 2 salários |
- |
2 |
Até
15 ha |
Entre 1 e 2 salários |
1 |
2 |
Até
15 ha |
Entre 2 e 3 salários |
3 |
- |
De acordo com os agricultores, apesar de não perguntada explicitamente,
é notória a satisfação dos que trabalham com a agroecologia, pois proporcionam
uma maior renda para os produtores e, principalmente, expressam o contentamento
nos discursos das entrevistas. Em contrapartida, os agricultores desistentes
afirmam que as práticas requerem mais mão de obra e os salários que recebem não
são suficientes para atenderem a demanda.
Outro ponto importante é a comercialização, pois os agricultores que
participaram do projeto tiveram seus produtos designados para o PNAE e seus
excedentes comercializados na Feira do Produtor Rural, os agricultores que
trabalham com a fruticultura sua colheita era designada para o projeto PRAFICAR
e seus excedentes vendidos na feira do produtor. Segundo argumentam, “os consumidores têm
preferência pelos alimentos de melhor aparência externa, como, tamanho, cor,
ausência de fissuras e no caso dos agroecológicos, são produtos menores e mais
feios”. O sistema agroecológico dispensa o uso de agrotóxicos e fertilizantes
químicos sintéticos, agressivos à saúde e ao meio ambiente. “Procura uma
interação entre o agricultor e consumidor, de forma que atenda às necessidades
das partes envolvidas e fomente a corresponsabilidade” (PENTEADO, 2007, p. 43).
E mesmo com essas características, a produção agroecológica na feira é a
primeira a acabar, pois existe uma demanda grande, apesar dos consumidores
quererem pagar o mesmo preço aos demais produtos advindos do cultivo
convencional. Os agricultores desistentes afirmam que o aspecto externo dos
alimentos agroecológicos é um ponto desfavorável a comercialização, visto que
os consumidores preferem os alimentos de aparência melhor e que são de mesmo
valor (preço). Alegam que a maior dificuldade de comercialização ocorreu após a
troca de gestor da cooperativa, pois assim deixaram de entregar os alimentos
para o programa PNAE.
Na ocasião que foram questionados sobre as dificuldades encontradas
observaram que no início da transição a maior dificuldade foi o controle de
pragas. Sair de um modelo convencional sem o uso do agrotóxico gera algumas
dificuldades, mas, a pior delas, o controle das pragas, na ausência de
agrotóxicos, recai altamente no manejo (preparação e aplicação de caldas,
remoção manual de plantas invasoras). Sintetiza Altieri
(1989 p. 18-19), que “a produção sustentável em um agroecossistema
deriva do equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e
outros organismos coexistentes”.
Em relação às dificuldades encontradas para dar continuidade ao sistema
após os encerramentos dos projetos, todos afirmam que foi o apoio técnico.
Notaram que enquanto os projetos estavam vigentes os
agricultores familiares tiveram todo apoio técnico necessário, porém com o
encerramento dos projetos, se quisessem o apoio técnico os agricultores
pagariam pelas visitas técnicas e muitos deles não se julgavam com condições
para manter as visitas. Outro fato importante quanto ao apoio técnico segundo
consta, havia alta rotatividade de pessoal e com isso, mudava-se de assistente,
sendo que cada um era de um jeito e os tratavam de maneiras diferentes.
A COOPERAFI na gestão anterior desenvolveu um papel social junto aos
agricultores familiares, desde 2010 comercializa seus produtos (frutas,
verduras e polpas de frutas) com o PNAE em vários municípios entre eles Goiânia
com a Prefeitura Municipal desde 2012. O foco foi voltado ao agricultor
familiar, em busca de melhorar sua renda, inseri-lo na sociedade e no mercado.
Acolheu os produtores de leite, foi em busca de beneficiamentos, cursos,
financiamentos e melhores preços para o pequeno pecuarista. Em janeiro de 2016
inicia a nova gestão da COOPERAFI, a cooperativa como muitos afirmaram nas
entrevistas e questionários tornou-se uma gestão voltada ao leite. Os
agricultores familiares que trabalham com agroecologia se viram excluídos e
ressaltaram a troca de gestor como sendo um fator negativo para que
continuassem utilizando a agroecologia.
Os agricultores desistentes ressaltaram da mesma forma outro fator
negativo, que foi a gerência dos projetos. Disseram que o tempo exigido para os
resultados dos dois projetos agroecológicos era de quatro anos. Consideramos o
tempo um elemento importante, se fossem a longo prazo, isto é, de cinco a seis
anos, teríamos o maior número de resultados positivos, pois a teoria é uma
coisa e a prática e os resultados, bem mais complexos.
Quando questionados se a cooperativa possui uma gestão eficiente
voltada para os agricultores familiares, podemos observar na tabela 12, que os
agricultores e pecuaristas afirmam que sim, no entanto somente entre os que trabalham
com agricultura (sem pecuária) não concordam.
Tabela 12. Gestão cooperativista participativa e eficiente |
|||
Tabela Likert |
Atividade principal – Produção |
Nºde agricultores (não desistentes) |
Nº agricultores desistentes |
Concordo
totalmente |
Pecuária/Hortaliças/Fruticultura |
- |
- |
Concordo
em parte |
Pecuária/Hortaliças/Fruticultura |
2 |
3 |
Discordo
em parte |
Pecuária/Hortaliças/Fruticultura |
0 |
- |
Indiferente |
Pecuária/Hortaliças/Fruticultura |
- |
- |
Discordo
totalmente |
Fruticultura/horticultura |
2 |
1 |
Observa-se na tabela 12, que mesmo os produtores que
trabalham com a pecuária tanto quanto agricultura, concordam que a atual gestão
da cooperativa é falha no quesito agricultura e principalmente no que diz
respeito à agroecologia. “A cooperativa ainda não abandonou os agricultores
porque têm as polpas de frutas e precisam da nossa colheita para a
agroindústria de processamento” (Produtor 1). Os que concordam em parte exercem
os dois segmentos e mesmo assim exigem mais atenção voltada aos seus cultivos.
Os agricultores que discordaram totalmente já não fazem parte da cooperativa,
por falta de apoio a agroecologia acabaram saindo e afirmam que é uma gestão
voltada a pecuária leiteira. A carência de planejamento a curto e médio prazo,
associado a uma fraca capacidade de investimento de capital, cada vez mais, as
cooperativas, independentemente de onde estejam localizadas, terão que se
capacitar e reformular suas práticas democráticas no processo de autogestão (ABREU
et al., 2008).
O agricultor que trabalha com o sistema agroecológico
se sente encorajado a continuar nesse caminho e aperfeiçoam seus processos
mesmo sem o apoio da cooperativa. Do outro lado, os agricultores desistentes
das práticas não dão continuidade aos projetos, embora ainda utilizem técnicas que
aprenderam a exemplo do uso de biofertilizante e o
manejo ecológico de pragas em caráter adicional às práticas convencionais.
Através desses fatos reintegra o porquê desse grupo de quatro agricultores que
desistiram dos projetos, apontam o manejo e quantidade de mão de obra exigida
como fator determinante não possuem recursos financeiros suficientes, sem boas
perspectivas de renda, comercialização, em vista disso, modificar e manter uma
prática muito diferente do convencional em médio prazo é desafiador. Mesmo com as dificuldades e resistência de deixarem um sistema
tradicional, para inserir uma nova prática, as famílias que continuam
utilizando agroecologia em suas terras afirmam que o projeto proporcionou
avanços. Apesar disso, ainda com as
desistências observa-se que os agricultores ficaram mais conscientes sobre as
questões ambientais e mesmo que não utilizem completamente os manejos algum
aprendizado ficou e está sendo empregado em suas terras.
CONCLUSÕES
A mão de obra foi o fator limitante apontado pelos os agricultores
cooperados de Itapuranga, isto é, tanto os que adotaram a agroecologia, quanto os desistentes. Assim,
escassez de mão de obra e sua utilização intensiva são fatores limitantes para
a produção agroecológica. Apesar das limitações, a transição
desenvolvida em Itapuranga representa uma
oportunidade de desenvolvimento de novas práticas sustentáveis na agricultura
familiar, como redução no uso de insumos químicos e
agrotóxicos, melhores práticas de manejo dos processos agroecológicos.
Os avanços, benefícios e dificuldades da transição agroecológica do
sistema de produção de frutas e hortaliças em cooperativa de agricultores familiares de
Itapuranga estão relacionados com as dimensões
econômicas, sociais e ambientais, com processos mais amplos que levem ao
desenvolvimento socioambiental. Assim, o sucesso não se deu apenas pela
mensuração dos custos de implantação do cultivo
convencional e agroecológico e pela rentabilidade auferida com a prática
agroecológica.
O sucesso dos agricultores que fizeram a transição do
sistema de produção convencional vis-à-vis
agroecológico resultou, sobretudo, em maiores ganhos econômicos. Em parte,
provenientes do recebimento de insumos e assistência técnica da cooperativa. Os
produtores que possuíam mais recursos financeiros, mão de obra qualificada,
consciência social e ambiental foram os que conseguiram maior agregação de
valor ao produto final.
O sucesso dos agricultores que fazem a transição do
sistema de produção convencional vis-à-vis
agroecológico foi além do recebimento de insumos e assistência técnica da
cooperativa. Os produtores que possuíam recursos financeiros, mão de obra qualificada,
consciência social e ambiental foram os que conseguiram agregação de valor ao produto final.
REFERÊNCIAS
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