Plantas medicinais de uso
agropecuário pelas famílias agricultoras do Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia no estado do Paraná
Medicinal
plants for agricultural use
by farming families in the Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida
de Agroecologia, Paraná, Brazil
Plantas medicinales para uso agrícola por las
familias campesinas del
Núcleo Luta Camponesa de la Rede Ecovida
de Agroecología, Paraná, Brasil
Ana Claudia Rauber1, Josimeire Aparecida Leandrini2, Gabriela Silva Moura3, Gilmar Franzener4
1Mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Laranjeiras do Sul, Paraná, acr_rauber@yahoo.com.br; 2Professora da Universidade Federal da
Fronteira Sul, Laranjeiras do Sul, Paraná, jaleandri@gmail.com;
3Pós-doutora em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável
pela Universidade Federal da Fronteira Sul, Laranjeiras do Sul, Paraná, bismoura@hotmail.com; 4Professor da Universidade Federal da Fronteira
Sul, Laranjeiras do Sul, Paraná, +554236358698, gilmar.franzener@uffs.edu.br
Recebido: 25/03/2020; Aprovado: 26/05/2020
Resumo: O conhecimento etnobotânico sobre
as plantas medicinais de uso agropecuário é fundamental para o desenvolvimento
de agroecossistemas mais sustentáveis e para a
autonomia das famílias agricultoras camponesas em relação aos insumos externos.
Esta pesquisa teve como objetivo verificar quais plantas medicinais os
agricultores pertencentes ao Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida
de Agroecologia conhecem e utilizam em suas atividades agropecuárias. Os dados
foram obtidos com 30 famílias, totalizando 53 participantes, por meio de
entrevista semiestruturada, caminhada etnobotânica e
observações. Foram citadas 72 etnoespécies para uso
agropecuário, sendo 50 para o tratamento de saúde dos animais, 24 descritas
como bioativas e 16 utilizadas como defensivos naturais. O maior número de
plantas citadas foi para uso pecuário, no tratamento da saúde dos animais,
sendo o alho (Allium sativum
L.) a planta mais indicada (16 citações), utilizada como antibiótico e para
prevenir e combater endo e ectoparasitas. Como defensivo natural nos cultivos,
as plantas mais citadas foram o cinamão (Melia azedarach L.)
e arruda (Ruta graveolens
L.), com três citações cada, utilizadas com função de inseticida. Quanto à bioatividade, as plantas mais indicadas foram as de ação
repelente com destaque para a arruda (Ruta graveolens L.), o cravo-de-defunto (Tagetes
patula L.) e a citronela (Cymbopogon
winterianus Jowitt),
com treze, nove e sete citações, respectivamente.
Portanto, as plantas medicinais de uso agropecuário auxiliam durante o processo
de transição agroecológica, atuando como componentes da biodiversidade, insumos
locais e contribuindo com a autonomia das famílias agricultoras.
Palavras-chave:
Etnobotânica; Insumos locais; Plantas
bioativas; Transição agroecológica
Abstract: Ethnobotanical knowledge about medicinal plants for
agricultural use is fundamental for the development of more sustainable
agroecosystems and for the autonomy of peasant farming families in relation to
external inputs. This research aimed to verify which medicinal plants farmers
belonging to the Núcleo Luta Camponesa
da Rede Ecovida de Agroecologia
know and use in their agricultural activities. Data were obtained through
semi-structured interviews, ethnobotanical walking and participant observation
with 30 families and 53 participants. 72 ethnospecies
were cited for agricultural use, 50 for the health treatment of animals, 24
described as bioactive and 16 used as natural pesticides. A greater number of
plants mentioned were for livestock use, in the treatment of animal health,
with garlic (Allium sativum L.) being the most suitable plant (16
citations), used as an antibiotic and to prevent and combat endo and
ectoparasites. As a natural defensive crop, the most cited plants were cinnamon
(Melia azedarach L.) and rue (Ruta graveolens L.), with three citations each, used as an
insecticide. As for bioactivity, the most suitable plants were those with
repellent action, with emphasis on rue (Ruta
graveolens L.), marigold (Tagetes
patula L.) and citronella (Cymbopogon winterianus Jowitt), with 13,
nine and seven citations, respectively. Therefore, medicinal plants for
agricultural use help during the agroecological transition process, acting as
components of biodiversity, local inputs and contributing to the autonomy of
farming families.
Key words: Ethnobotany;
Local inputs; Bioactive plants; Agroecological transition
Resumen: El conocimiento
etnobotánico sobre plantas medicinales
para uso agrícola es esencial para el desarrollo de agroecosistemas más sostenibles y
para la autonomía de las familias campesinas en relación con
los insumos externos. Esta investigación
tuvo como objetivo verificar qué
plantas medicinales conocen
y usan los agricultores que
pertenecen al Núcleo Luta Camponesa de la Rede Ecovida de Agroecología en sus actividades agrícolas. Los datos
se obtuvieron de 30 familias,
con un total de 53
participantes, a través de entrevistas semiestructuradas,
caminatas etnobotánicas y observaciones. Se mencionaron 72 etnoespecies para uso agrícola, 50 para el
tratamiento de la salud de los animales,
24 descritas como bioactivas y 16 utilizadas como
pesticidas naturales. El mayor
número de plantas mencionadas fue para uso ganadero, en el tratamiento
de la salud animal, siendo el ajo (Allium sativum L.) la planta más adecuada (16
citas), utilizada como antibiótico y para prevenir y combatir
endo y ectoparásitos. Como cultivo defensivo natural,
las plantas más citadas fueron
la paraíso (Melia
azedarach L.) y la ruda (Ruta graveolens L.), con tres citas cada una, utilizadas como insecticida.
En cuanto a la bioactividad, las plantas más recomendadas fueron
aquellas con acción repelente, con énfasis en ruda
(Ruta graveolens
L.), copetillo (Tagetes
patula L.) y citronela (Cymbopogon
winterianus Jowitt), con trece, nueve
y siete citas, respectivamente. Por lo tanto, las plantas medicinales para uso agrícola ayudan
durante el proceso de transición agroecológica, actuando
como componentes de la biodiversidad,
insumos locales y contribuyendo
a la autonomía de las familias de agricultores.
Palabras Clave: Etnobotánica; Entradas locales; Plantas bioactivas; Transición agroecológica.
INTRODUÇÃO
O conhecimento tradicional, local e popular sobre as plantas é
denominado conhecimento etnobotânico (ALBUQUERQUE, 2005). A etnobotânica
resgata e valoriza esses conhecimentos, quanto aos usos, manejos e interações
com o ambiente (FREITAS et al., 2012, DUARTE et al., 2020). Com o
desenvolvimento da Agroecologia, como uma ciência que promove o diálogo de
saberes, ocorre uma junção entre o conhecimento científico/acadêmico com os
conhecimentos locais (SEVILLA GUZMÁN; MONTIEL, 2010;
TOLEDO; BARRERA-BASSOLS, 2009).
Na agricultura, os conhecimentos etnobotânicos, principalmente
sobre as plantas medicinais, são fundamentais para a construção de
agroecossistemas mais sustentáveis. Em decorrência dos impactos negativos da
utilização de agrotóxicos na agricultura convencional, nos últimos anos tem-se
intensificado o interesse pelos defensivos naturais (CAMPOS et al., 2014). A
utilização de extratos vegetais rompe esse círculo vicioso de uso de
agrotóxicos, recuperando a estabilidade dos agroecossistemas e a independência
dos insumos externos (LOVATTO et al., 2012; NICHOLLS; ALTIERI, 2012). Além
disso, os saberes e a diversidade de plantas promovem a autonomia dos
agricultores familiares camponeses, pois reduzem os custos de produção e
contribuem com a manutenção do equilíbrio dinâmico do sistema (LOVATTO et al.
2012).
Existem plantas que sintetizam substâncias bioativas que podem
atuar como inseticidas ou repelentes, e que apresentam baixa ou nenhuma
toxicidade, e portanto, não são prejudiciais à saúde
humana nem contaminam o ambiente (CORRÊA; SALGADO, 2011). Esses princípios ativos são sintetizados pelas plantas através
do metabolismo secundário e são responsáveis por sua atuação como inseticidas,
fungicidas, bactericidas, repelentes de insetos fitófagos ou atraentes de
inimigos naturais e polinizadores (POSER; MENTZ, 2010).
Durante o período de transição agroecológica, onde o
agroecossistema geralmente está desequilibrado em decorrência das práticas
agrícolas convencionais supracitadas, as plantas medicinais possuem fundamental
importância. Nesse período, o primeiro nível, corresponde à intensificação das
práticas agrícolas; no segundo nível à substituição dos insumos externos por
insumos locais e naturais; e no terceiro nível de transição agroecológica, deve-se planejar como os elementos estarão dispostos no
sistema aumentando a biodiversidade funcional (GLIESSMAN, 2005).
Nesse contexto, as plantas medicinais podem atuar como defensivos
naturais para os cultivos, e para os animais controlando parasitas e prevenindo
doenças. Assim, para que os agroecossistemas
adquiram equilíbrio, sejam autossuficientes e mais sustentáveis, a
biodiversidade deve ser incrementada. A diversificação dos cultivos contribui
com o equilíbrio natural de controle em relação aos herbívoros, doenças e
plantas espontâneas, restaurando o controle natural ou biológico (ALTIERI,
2012). Portanto, as plantas medicinais podem ser utilizadas em todos níveis de
transição agroecológica, atuando como substitutos dos insumos e consorciando
com os cultivos através do redesenho do sistema produtivo através das
inter-relações positivas existentes (LOVATTO et al., 2012).
Dessa forma, destaca-se que apesar da relevância do conhecimento
sobre as plantas medicinais na agricultura, as pesquisas etnobotânicas
estão focadas em sua maioria na utilização das plantas na saúde humana. Assim,
este estudo teve como objetivo realizar um levantamento
etnobotânico das plantas medicinais
que as famílias agricultoras camponesas pertencentes ao Núcleo Regional Luta
Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia conhecem e utilizam nas atividades
agropecuárias, bem como identificar as plantas citadas e verificar as
finalidades de uso.
MATERIAL E MÉTODOS
A
pesquisa do tipo levantamento foi realizada com 30 famílias agricultoras que
pertencem ao Núcleo Regional de Agroecologia Luta Camponesa residentes nos
municípios de Porto Barreiro, Rio Bonito do Iguaçu, Nova Laranjeiras e
Laranjeiras do Sul, Território da Cantuquiriguaçu -
PR. Também inclui os municípios de Palmital e Laranjal, do Território
Paraná-Centro (Figura 1). A pesquisa foi realizada no período de julho a
dezembro de 2015.
Figura 1. Localização da área de estudo para levantamento de plantas
medicinais de uso agropecuário pelas famílias agricultoras camponesas
pertencentes ao Núcleo Regional Luta Camponesa da Rede Ecovida
no estado do Paraná, Brasil
Fonte: Adaptação de Favaro, Gómez
(2011).
O
mapeamento das famílias para a pesquisa foi através de diálogo com
informantes-chave (equipe técnica Centro de Capacitação em Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentável), os feirantes do município de Laranjeiras do
Sul - PR e os coordenadores dos grupos do Núcleo Regional Luta Camponesa que
indicaram as famílias pertencentes à Rede Ecovida nos
respectivos municípios, as quais foram selecionadas para pesquisa.
Antes
da realização da pesquisa, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi
apresentado aos entrevistados e assinado. Os dados foram obtidos por meio de
entrevista semiestruturada, realizada de forma dialogada que permite a
fluência, a criatividade e a reciprocidade entre os participantes; caminhada etnobotânica, que correspondeu ao deslocamento pela UPVF
(unidade de produção e vida familiar), com pelo menos um membro da família, com
o objetivo de reconhecer os recursos vegetais existentes; observação
participante que consistiu em participar diretamente de algumas atividades
desenvolvidas pela família agricultora; registro fotográfico; gravação de áudio
e coleta de materiais botânicos (ALBUQUERQUE, 2005; GEILFUS, 2002). Para manter
o anonimato as UPVFs foram numeradas de 1 a 30 e os
nomes das agricultoras e agricultores foram substituídos por nomes comuns de
plantas.
Foi
utilizado o critério de saturação de dados com respostas em aberto, quando não
há registro de informações novas até atingir o ponto de saturação
(THIRY-CHERQUES, 2009). Portanto, quando as plantas e os usos começaram a se repetir,
não acrescentando novas informações, sessou-se o trabalho a campo. Os
resultados obtidos foram transcritos em planilhas de dados e analisados com
auxílio do programa Excel 2017.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram
citadas 72 etnoespécies de plantas medicinais para
uso agropecuário, distribuídas em 38 famílias botânicas, 64 gêneros e 71
espécies identificadas. Destas, 50 etnoespécies foram
descritas para uso medicinal para os animais (Tabela 1); 24 etnoespécies
indicadas como bioativas e 16 etnoespécies citadas
como defensivos utilizados nos cultivos.
Tabela
1. Plantas medicinais de uso pecuário conhecidas pelas famílias
agricultoras camponesas pertencentes ao Núcleo Regional Luta Camponesa da
Rede Ecovida, de acordo com a divisão, família, espécie, etnoespécie,
finalidade, parte da planta utilizada, forma de preparo e número de citações. |
|||||
Família/ Espécie |
Etnoespécie |
Finalidade |
Parte da planta* |
Forma de preparo** |
N° de citações |
Araucariaceae |
|||||
Araucaria
angustifolia (Bertol.) Kuntze |
Pinheiro-do-Paraná |
Controle de carrapato, berne |
Fo |
M, U, Ch |
5 |
Adoxaceae |
|||||
Sambucus australis
Cham. & Schltdl |
Sabugueiro |
Vermífugo de cachorro, vaca se limpar depois
da cria, peste de sangue dos cachorros |
Fo |
Al, Ch |
4 |
Amaryllidaceae |
|||||
Allium cepa L. |
Cebola-roxa |
Derrubar verrugas das vacas |
B |
In |
1 |
Allium porrum
L. |
Alho-poró |
Vermes, carrapaticida, mosca do chifre |
B; Fo |
Ag; Sm |
6 |
Allium sativum L. |
Alho |
Vermes, bicheira, previne a bouba, carrapato,
berne, antibiótico, mosca do chifre |
B |
Ag; Sm |
15 |
Amaranthaceae |
|||||
Alternanthera
brasiliana (L.) Kuntze |
Terramicina |
Antibiótico paras as aves |
Fo |
M |
1 |
Dysphania ambrosioides (L.)
Mosyakin & Clemants |
Erva-de-santa-maria |
Vermes |
Fo; S |
Al |
5 |
Apiaceae |
|||||
Petroselinum
crispum (Mill.) Nym |
Salsa |
Ferida nos tetos das vacas |
Fo |
P |
1 |
Foeniculum
vulgare Mill. |
Erva-doce |
Úbere empedrada |
Fo |
Ch |
1 |
Aquifoliaceae |
|||||
Ilex paraguariensis A. St.-Hil. |
Erva-mate |
Controle de carrapato, vaca estufada
(empanzinada) |
Fo |
Sm; P |
2 |
Araceae |
|||||
Philodendron bipinnatifidum Schott ex Endl. |
Banana-de-mico, banana-guaimbé,
cipó-guaimbé, banana-imbê,cipó-imbê |
Controle de pulga e piolho, bouba nas
galinhas, úbere empedrada |
Fo |
In, A, De |
12 |
Aristolochiaceae |
|||||
Aristolochia
triangularis Cham. |
Mil-homem |
Úbere empedrada |
Ca |
P , Ch |
1 |
Asphodelaceae |
|||||
Aloe vera (L.) Burm. f. |
Babosa |
Feridas na úbere e
mastite nas vacas |
Fo |
In |
3 |
Asteraceae |
|||||
Baccharis
articulata (Lam.) Pers. |
Carqueja |
Antisséptico - desinfetar o
tetos das vacas, desverminante para o gado,
infecção no umbigo dos terneiros |
Fo |
P |
4 |
Calendula
officinalis L. |
Calêndula |
Ferida nos tetos das vacas |
Fl |
P |
2 |
Senesio brasiliensis (Spreng.) Less. |
Cátium, maria-mole |
Berne, carrapato, úbere empedrada, mastite |
Fo |
P, |
3 |
Solidago chilensis
Meyen |
Arnica |
Ferida nos tetos das vacas |
Fo |
P |
1 |
Tanacetum
vulgare L. |
Catinga-de-mulata |
Úbere empedrada |
Fo |
P |
1 |
Vernonanthura polyanthes (Spreng) Vega &M.Dematteis |
Assa-peixe |
Picada de cobra no cachorro |
Ra |
Ch |
1 |
Xanthium strumarium L. |
Carrapicho-de-carneiro |
Feridas, mastite |
Fo |
De |
1 |
Caricaceae |
|||||
Carica papaya
L. |
Mamão |
Vermífugo para os terneiros |
Frv |
Al |
1 |
Crassulaceae |
|||||
Sedum dendroideum
Moc & Sessé ex DC. |
Bálsamo |
Rachadura no teto das vacas |
Fo |
P |
1 |
Cucurbitaceae |
|||||
Cayaponia
tayuya (Vell.) Cogn. |
Tajujá |
Desverminante de cavalo |
Ra |
Al |
1 |
Euphorbiaceae |
|||||
Ricinus communis L. |
Mamona |
Vermífugo |
S |
Al |
1 |
Fabaceae |
|||||
Ateleia glazioveana
Baill. |
Timbó |
Controle de piolho, sarna |
Fo |
In |
1 |
Phaseolus
vulgaris L. |
Feijão |
Amarelão |
S |
P |
1 |
Lamiaceae |
|||||
Mentha
sp. |
Hortelã |
Desverminante |
Fo |
M |
1 |
Ocimum selloi (Spreng.) Link & Otto ex Benth. |
Alfavaca |
Ajuda a vaca se limpar depois da cria,
desinchar a úbere |
Fo |
P, De |
2 |
Lauraceae |
|||||
Cinnamomum
verum J.Presl |
Canela |
Carrapato e berne |
C |
Sm |
1 |
Linaceae |
|||||
Linum usitatissimum L. |
Linhaça |
Mastite das vacas, problemas intestinais do
gado |
S |
De |
2 |
Malvaceae |
|||||
Sida rhombifolia L. |
Guanxuma |
Vitamina para as galinhas |
Fo; Fl |
Al |
1 |
Meliaceae |
|||||
Cedrela fissilis
Vell. |
Cedro |
Pestes das galinhas |
C |
Ag |
2 |
Melia azedarach
L. |
Cinamão |
Desverminante, matar piolhos, controle da mosca do chifre,
mata bicheira, combate vermes das galinhas, controle de berne e carrapato |
S; Fo |
Al,In, M |
7 |
Musaceae |
|||||
Musa paradisiaca L. |
Banana |
Vermes de porcos e terneiros, inseticida,
controla as pestes das galinhas |
Fo; Ca |
Al; Ag; In |
14 |
Myrtaceae |
|||||
Psidium guajava
L. |
Goiaba |
Diarreia nos terneiros |
Fo |
Ch |
3 |
Nyctaginaceae |
|||||
Mirabilis
jalapa L. |
Batata-maravilha |
Controla as pestes das galinhas |
Fo |
Ag |
1 |
Phytolaccaceae |
|||||
Phytolacca
dioica L. |
Umbu, umbuzeiro, imbu |
Verminoses do gado, desinfetante dos tetos das
vacas, sarna dos porcos |
Fo |
Al; P, De |
3 |
Piperaceae |
|||||
Piper nigrum L. |
Pimenta-do-reino |
Previne a bouba |
Fr; S |
Al |
1 |
Plantaginaceae |
|||||
Plantago australis Lam. |
Tansagem |
Rachadura no teto das vacas |
Fo |
P |
1 |
Poaceae |
|||||
Cymbopogon winterianus Jowitt
ex Bor |
Citronela |
Carrapaticida, bernicida |
Fo |
M |
3 |
Polygonaceae |
|||||
Rumex obtusifolius
L. |
Língua-de-vaca |
Úbere empedrada |
Fo |
P, Ch |
1 |
Rosaceae |
|||||
Prunus persica
(L.) Batsch |
Pêssego, pessegueiro |
Controle de piolho, controlar diarreia nos
terneiros |
Fo |
In, P |
2 |
Rutaceae |
|||||
Citrus x limon (L.) Osbeck |
Limão |
Vermífugo |
Fr |
Ag |
1 |
Ruta graveolens
L. |
Arruda |
Gado estufado, ajuda a vaca a se limpar |
Fo |
Ag; P |
3 |
Salicaceae |
|||||
Casearia sylvestris Sw. |
Chá-de-bugre |
Antisséptico - desinfetar os tetos das vacas, desverminante para as vacas |
Fo |
Ch |
2 |
Sapindaceae |
|||||
Allophylus edulis (A.St.-Hil.,
Cambess. & A. Juss.) Radlk. |
Vacum |
Desintoxicação do gado |
Fo |
Ch |
1 |
Solanaceae |
|||||
Nicotiana
tabacum L. |
Fumo |
Controlar piolhos |
Fo |
A |
1 |
Urticaceae |
|||||
Urera baccifera
(L.) Gaudich. ex Wedd. |
Urtigão |
Piolho de porco |
Ca |
M |
1 |
Verbenaceae |
|||||
Verbena sp. |
Gervão |
Amarelão, intoxicação |
Fo |
Ch |
2 |
Indeterminada |
Pau-amargo |
Intoxicação da vaca com silagem estragada |
C |
De |
1 |
*Parte da planta: Fo: folha; S:
semente; C: casca; Ca: caule; Ra: raiz; Fr: fruto; Frv: fruto verde; Fl: flor; B:
bulbo. **Forma de preparo: Ch: chá; P: pomada; Al:
alimentação; De: decocção; Sm: plantas misturadas
ao sal mineral; A: alcoolatura; Ag: plantas
misturadas à água para os animais beber; M: macerado de uso externo; In: in
natura; U: unguento. |
Para
o uso no tratamento da saúde dos animais, as famílias botânicas com maior
número de espécies foram a Asteraceae e Amaryllidaceae,
com sete e três plantas, respectivamente. As espécies de plantas medicinais
mais indicadas foram o alho (Allium sativum) com 16 citações, conforme as famílias agricultoras é
utilizado para o tratamento de verminoses, bicheira (miíase),
prevenir doenças em aves, carrapato, berne, antibiótico, repelir
mosca-do-chifre. A banana (Musa paradisiaca) com
14 indicações usada para controlar e prevenir verminoses em suínos, bovinos e
aves e como inseticida. E a banana-de-mico (Philodendron bipinnatifidum) com 12 citações,
utilizada para controle de pulga e piolho, doenças em aves, úbere ‘empedrada’
das vacas.
O potencial uso do alho já foi também relatado por outros autores.
Segundo Parra et al. (2014), o extrato de alho teve ação parcial sobre
nematódeos gastrintestinais de bovinos. De acordo com Oliveira et al. (2015) o
alho também controla carrapatos, mastite e mosca-do-chifre no gado, já para as
aves atua como bactericida e melhora a atividade imunológica dos animais,
reduzindo o aparecimento da doença de Newcastle. Conforme o relato de uma das
agricultoras: “[...] maceta uma cabeça de alho e põe na água prás galinhas ou espreme limão na
água e pronto, pros porcos também jogamos alho” (Entrevistada CAMÉLIA).
A estrutura das plantas mais comum para fazer os preparados foi a
folha com 34 indicações. E a principal de preparo é a pomada 16 indicações,
seguido de chá, alcoolatura e misturadas na
alimentação, com 10 citações cada. Os problemas de saúde dos animais mais
comuns de serem tratados com as plantas medicinais foram: os parasitas externos
(berne, carrapato, bicheira e mosca-do-chifre, piolho e pulga) com 22 indicações;
a produção leiteira (úbere empedrada, tetos rachados, limpeza de placenta) com
20 citações e os parasitas internos (verminoses) com 13 citações.
Para
de desinfetar os tetos das vacas, e combater a
infecção no umbigo dos ‘terneiros’ foi citada a carqueja (Bacharis articulata)
como antisséptico. Não foi encontrado na literatura
estudo com esta espécie de carqueja para uso animal, no entanto em estudo
realizado por Avancini et al. (2000) com outra espécie de carqueja (Baccharis trimera) verificaram sua ação
antisséptica. Lorenzi e Matos (2008) indicam que ambas apresentam
características e propriedades medicinais semelhantes.
O
pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia)
é utilizado pelas famílias estudadas para controlar berne e carrapato do gado,
fazendo macerado, chá e unguento. Castro et al. (2009) testaram extrato
etanólico de pinheiro, e concluíram que extrato na concentração de 30% obteve
eficácia no controle de carrapato (Rhipicephalus microplus) de 50%. O estudo de Batista et al. (2017) indicou
que o mamão (Carica papaya) é
descrito como anti-helmíntico, e a calêndula (Calendula officinalis) e a babosa (Aloe vera) são recomendadas para
problema de pele, e o alho (Allium sativum) como repelente de insetos que atacam os
animais.
Para
realizar preparados úteis aos cultivos agrícolas foram citadas 16 etnoespécies, distribuídas em 13 famílias botânicas, 15
gêneros e 16 espécies (Tabela 2). As plantas medicinais possuem as funções de biofertilizante, fungicida, sendo que o principal uso é como inseticida, e
que o inseto mais citado foi o pulgão. A forma de preparo mais citada é o
macerado, e a estrutura mais utilizada é a folha.
Tabela
2. Plantas medicinais, de uso nos cultivos agrícolas, conhecidas pelas
famílias agricultoras camponesas pertencentes ao Núcleo Regional Luta
Camponesa da Rede Ecovida, de acordo com a família,
espécie, etnoespécie, finalidade, parte da planta utilizada, forma de preparo
e número de citações. |
|||||
Família / Espécie |
Etnoespécie |
Finalidade |
Parte da planta* |
Forma de preparo** |
N° de citações |
Equisetaceae |
|||||
Equisetum
hyemale L. |
Cavalinha |
Controlar os fungos do solo |
Ca |
Ch |
1 |
Dennstaedtiaceae |
|||||
Pteridium
aquilinum (L.) Kuhn |
Samambaia |
Inseticida (lagarta e traça do
brócolis) |
Fo |
M |
1 |
Amaryllidaceae |
|||||
Allium sativum
L. |
Alho |
Inseticida – pulgão |
B |
Al |
1 |
Allium fistulosum
L. |
Cebolinha |
Pulgão |
Fo |
Ch |
1 |
Asteraceae |
|||||
Tagetes erecta
L. |
Cravinho-de-defunto, cravo-de-defunto, flor-de-defunto |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
Euphorbiaceae |
|||||
Ricinus
communis L. |
Mamona |
Biofertilizante |
Fo |
M |
1 |
Fabaceae |
|||||
Ateleia glazioveana
Baill. |
Timbó |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
Parapiptadenia
rigida (Benth.) Brenan |
Angico |
Inseticida – pulgão |
Fo |
M |
1 |
Meliaceae |
|||||
Melia
azedarach L. |
Cinamão |
Inseticida (pulgão, lagarta, caramujo) |
S |
M |
3 |
Phytolaccaceae |
|||||
Petiveria
alliacea L. |
Guiné |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
Piperaceae |
|||||
Piper nigrum L. |
Pimenta-do-reino |
Inseticida – pulgão |
Fr |
Al |
1 |
Poaceae |
|||||
Cymbopogon winterianus Jowitt |
Citronela |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
Rutaceae |
|||||
Ruta graveolens
L. |
Arruda |
Inseticida |
Fo |
M |
3 |
Urticaceae |
|||||
Urera baccifera
(L.) Gaudich.
ex Wedd. |
Urtigão |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
Urtica dioica L. |
Urtiguinha |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
Indeterminada |
Pau-amargo |
Inseticida |
Fo |
M |
1 |
*Parte do vegetal utilizada: Fo:
folha; Fr: fruto; S: semente; Ca: caule; B: bulbo.
**Forma de preparo: Al: alcoolatura; Ch: chá; M: macerado, In: in natura. |
As
plantas mais conhecidas foram o cinamão (Melia azedarach) e arruda (Ruta graveolens),
com três citações cada, com função de
inseticida, a forma de extração dos princípios ativos é através de maceração.
Estas foram umas das espécies de plantas testadas por Marcomini
et al. (2009) sobre Alphitobius diaperinus
(uma espécie de coleóptero), sendo que as duas tiveram resultados mais
eficientes no controle do inseto.
A
samambaia (Pteridium aquilinum)
e o timbó (Ateleia glazioveana) foram citadas como plantas inseticidas. Gerhardt et al. (2011) realizaram testes com extratos
aquosos dessas plantas que sobre Myzus persicae (afídeos) e Ascia monuste orseis (lagarta), e os
resultados demostraram que os extratos de P.
aquilinum apresentaram maior potencial
inseticida. Conforme os estudos de Corrêa e Salgado (2011) P. aquilinum e Allium sativum apresentam potencial inseticida
comprovado.
Tanto na produção animal quanto vegetal, as famílias agricultoras
conhecem e utilizam determinadas plantas medicinais para solucionar alguns
problemas pontuais que ocorrem durante o processo produtivo, cujos preparados
são permitidos pela legislação de produção de orgânicos. Aliado a estas
práticas, verificou-se que as famílias também realizam o redesenho do
agroecossistema, em diferentes graus, às vezes intuitivamente, outras sob
orientação técnica.
Este redesenho é adquirido com a disposição nos sistemas
produtivos de determinadas plantas que apresentam algum tipo de bioatividade. Com estas características foram mencionadas 24 etnoespécies utilizadas como plantas bioativas,
distribuídas em 12 famílias, 21 gêneros, e 23 espécies (Tabela 3). Com destaque
para as famílias botânicas Asteraceae com oito menções e Lamiaceae com quatro
espécies.
Tabela
3. Plantas bioativas conhecidas pelas famílias agricultoras camponesas
pertencentes ao Núcleo Regional Luta Camponesa da Rede Ecovida,
de acordo com a família, espécie, etnoespécie, finalidade e número de
citações. |
|||
Família / Espécie |
Etnoespécie |
Bioatividade |
N° de citações |
Amaryllidaceae |
|||
Allium
sativum L. |
Alho |
Repelente |
2 |
Amaranthaceae |
|||
Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin
& Clemants. |
Erva-de-santa-maria |
Repelente |
1 |
Apiaceae |
|||
Coriandrum
sativum L. |
Coentro |
Repelente |
3 |
Asteraceae |
|||
Bidens sulphurea
(Cav.) Sch.Bip. |
Estrela |
Atraente - inimigos naturais |
1 |
Dahlia pinnata
Cav. |
Dália |
Atraente – inimigo natural |
1 |
Helianthus
annuus L. |
Girassol |
Atraente – vaquinha e inimigo natural |
2 |
Sonchus oleraceus
(L.) L. |
Serralha |
Atraente - pulgão |
1 |
Tagetes patula
L. |
Cravinho-de-defunto, cravo-de-defunto,
flor-de-defunto |
Repelente - vaquinha e pulgão |
9 |
Tanacetum partthenium
(L.) Schulz-Bip |
Artemísia |
Repelente |
1 |
Tanacetum
vulgare L. |
Catinga-de-mulata, erva-mulata |
Repelente |
3 |
Tithonia diversifolia
(Hemsl.)
A. Gray |
Margaridão |
Atraente - inimigos naturais |
1 |
Brassicaceae |
|||
Brassica rapa L. |
Couve-chinesa |
Atraente - vaquinha e grilo |
2 |
Brassica juncea
(L.) Czern. |
Mostarda |
Atraente - vaquinhas |
3 |
Cucurbitaceae |
|||
Cayaponia
tayuya (Vell.) Cogn. |
Tajujá |
Atraente - vaquinhas |
4 |
Euphorbiaceae |
|||
Ricinus communis L. |
Mamona |
Repelente |
1 |
Lamiaceae |
|||
Leonurus sibiricus
L. |
Rubim |
Repelente |
1 |
Mentha ssp. |
Hortelã |
Repelente |
2 |
Ocimum basilicum
L. |
Manjericão |
Repelente |
2 |
Rosmarinus
officinalis L. |
Alecrim |
Repelente |
2 |
Phytolaccaceae |
|||
Petiveria
alliacea L. |
Guiné |
Repelente |
1 |
Poaceae Cymbopogon citratrus (DC.) Stapf |
Cidreira |
Repelente |
2 |
Cymbopogon winterianus Jowitt
|
Citronela |
Repelente - vaquinha e pulgão |
7 |
Rubiaceae |
|||
Gardenia jasminoides
J.Elis |
Jasmim |
Atraente - inimigos naturais e abelhas |
1 |
Rutaceae |
|||
Ruta graveolens
L. |
Arruda |
Repelente |
13 |
Quanto à bioatividade dessas espécies,
15 foram referidas como repelentes, a
arruda (Ruta graveolens), o cravo-de-defunto (Tagetes patula) e a citronela (Cymbopogon winterianus),
com 13, nove e sete citações, respectivamente. Como atraentes de insetos foram
citadas nove etnoespécies, sendo que quatro que servem de alimento para insetos
fitófagos, e quatro como atraentes de inimigos naturais. O girassol foi
relatado com duas funções, uma de atrair vaquinhas, e a outra de atrair os
inimigos naturais, predadores de outros insetos.
Além
das plantas citadas pelas famílias agricultoras, foi observado durante a
caminhada etnobotânica espécies que apresentam bioatividade
de atrair inimigos naturais, como o endro (Anethum graveolens), a
erva-doce (Foeniculum vulgare), o
trigo mourisco (Fagopyrum sp.). Foi encontrado diversidade de plantas, próximos às
residências, em muitos casos os jardins se fundem e se misturam com os pomares,
as hortas, e as demais áreas de cultivos, caracterizando a diversificação dos
quintais produtivos, espaços geralmente manejados pelas mulheres (Figura 3).
Altieri
et al. (2007) destacam que é importante aumentar a diversidade de plantas para atrair também maior diversidade de inimigos naturais. O
trigo mourisco (Fagopyrum sp.) encontrava-se consorciado com as hortaliças. De acordo
com Altieri et al. (2007), essa espécie propicia o aumento dos inimigos naturais reduzindo a abundância da
cigarrinha e do tripes, além de beneficiar outros
predadores dominantes como aranhas, percevejos, joaninhas e o bixo-lixeiro.
Figura 3. Diversificação do sistema de produção no Núcleo Regional Luta Camponesa da Rede Ecovida no estado do Paraná
Os cultivos associados favorecem organismos benéficos e atuam como
barreira para dificultar a chegada de organismos ao seu hospedeiro (LOVATTO et
al., 2012). O tamanho e a forma
das flores determinam quais insetos são atraídos, já que somente aqueles
capazes de ter acesso ao pólen e ao néctar das flores farão uso da fonte de
alimentos disponível, vespas parasitoides, preferem as flores pequenas e
relativamente abertas (ALTIERI et al., 2007). Também foi
verificado o consórcio de coentro (Coriandrum sativum) com escarola (Chicorium sp.), as folhas do
coentro apresentam ação repelente e suas flores atraem os inimigos naturais. É
importante considerar que muitas dessas plantas relatadas também são
consideradas medicinais, inclusive citadas em outros levantamentos
etnobotânicos, no entanto com a finalidade para uso na saúde humana (BAPTISTEL
et al., 2014; JUÁREZ-VÁZQUEZ et al., 2013).
Essas plantas representam importantes componentes para
biodiversidade funcional e controle biológico. A importância também é percebida
por agricultores e agricultores, a seguir são apresentadas algumas falas: “[...] agora,
pelos menos nos últimos tempos não uso quase nada, porque a horta já tá bem
equilibrada” (Entrevistada CALÊNDULA); “[...] por exemplo, a lagarta na couve esse ano
deu um poquinho, mas os passarinhos deram conta, um
dia eu vi que tinha bastantinho, amanhã vou ter que
fazer alguma coisa, no outro dia ia de novo, já não tinha mais nada. Isso que é
o equilíbrio mesmo” (Entrevistada CALÊNDULA); “[...] quando a gente fala do equilíbrio não
depende mais de tanta coisa, só dentro da horta fui contar um dia são mais de
70 plantas” (Entrevistado IPÊ).
A
diversificação é fundamental para manter o equilíbrio dinâmico do
agroecossistema. Esta relação fica evidente nos relatos das famílias que estão
há mais tempo no manejo de base ecológica, ao afirmarem que no início havia
maior necessidade de aplicação de alguma calda natural nas plantações, pois
atualmente o próprio ambiente é capaz de realizar o controle biológico.
CONCLUSÕES
As famílias agricultoras pertencentes ao Núcleo Regional Luta
Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia conhecem e utilizam as plantas
medicinais para uso agropecuário. Tendo como principal finalidade o uso no tratamento
da saúde dos animais, principalmente para os bovinos de leite, visto que esta é
uma das atividades econômicas predominante nos municípios. Plantas com
propriedades medicinais também são utilizadas para fazer preparados que atuam
como defensivos naturais, que auxiliam na produção agrícola, principalmente no
controle dos insetos. Existem plantas com funcionalidade bioativa, o que
demonstra que há um processo de redesenho do agroecossistema, permitindo o
equilíbrio do sistema. Portanto, as plantas medicinais auxiliam durante o
processo de transição agroecológica, atuando como insumos locais, contribuindo
com a autonomia das famílias agricultoras.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq pela concessão de bolsa através da Chamada MCTI/MAPA/MDA/MEC/MPA/CNPq
Nº 81/2013, bem como aos agricultores e agricultoras que participaram da
pesquisa.
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