Germinação de sementes de Ceiba speciosa
coletadas em Brejo de Altitude
Germination of Ceiba speciosa
seeds collected in Altitude Brejo
Germinación de semillas de Ceiba speciosa recolectadas en Brejo de
Altitude
João Henrique Constantino
Sales Silva1;
Gilvaneide Alves de Azeredo2;
Vitor Araujo Targino3;
1Mestrando em Ciências Agrárias (Agroecologia), Centro
de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, Universidade Federal da Paraíba,
Bananeiras, Paraíba, +558393754490, joaohenriqueconst@gmail.com; paulomarks90@hotmail.com. 2Doutora
em Agronomia (Produção Vegetal), docente vinculada ao Departamento de
Agricultura, Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, Universidade
Federal da Paraíba, Bananeiras, Paraíba, azeredogil@yahoo.com.br. 3Graduando em Licenciatura em Ciências
Agrárias, Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, Universidade Federal
da Paraíba, Bananeiras, Paraíba, vitoraraujo22@gmail.com.
Recebido:
27/03/2020; Aprovado: 26/12/2020
Resumo: Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna (Malvaceae) é uma espécie arbórea nativa em
florestas brasileiras, indicada na recomposição de áreas degradadas e na
indústria de estofados. Com este trabalho, objetivou-se verificar substratos e
temperaturas favoráveis à germinação de sementes de paineira coletadas em um
remanescente florestal de Brejo de Altitude na Paraíba. O delineamento
experimental utilizado foi o inteiramente casualizado,
num arranjo fatorial 2 × 4, constituídos pelas combinações de duas temperaturas
(25 e 30 °C) e quatro substratos (areia, vermiculita, terra e papel mata-borrão),
com quatro repetições de 25 sementes cada. Foram analisadas as seguintes
características: teor de água (%) das sementes, porcentagem de emergência, tempo
médio de emergência, porcentagem de plântulas normais e índice de velocidade de
emergência (IVE). Houve efeito significativo para a interação temperatura ×
substrato para todas as variáveis, exceto IVE. Os substratos vermiculita e
areia sob a temperatura constante de 25 °C são recomendados para a condução de
testes de germinação de sementes de Ceiba
speciosa. A temperatura de 30 °C pode ser
indicada quando associada ao substrato vermiculita. O substrato sobre papel
mata-borrão não é indicado para a germinação de sementes dessa espécie.
Sugere-se um estudo com sementes de diferentes populações dessa espécie para
confirmar a influência da procedência da semente no seu desempenho germinativo
quando submetidas a fatores ambientais associados, como temperaturas e
substratos.
Palavras-chave: Paineira; Sementes florestais; Substratos;
Temperaturas; Vigor.
Key
words: Paineira; Forest seeds; Substrates;
Temperatures; Vigor.
Resumen: Ceiba speciosa
(A. St.-Hil.) Ravenna (Malvaceae) es una especie arbórea originaria de los bosques
brasileños, indicada en la restauración de áreas degradadas y en la industria
de tapicería. El objetivo de este trabajo fue verificar sustratos y
temperaturas favorables a la germinación de semillas de paineira
recolectadas en un remanente forestal del Brejo de Altitude en el estado de Paraíba, Brasil. El diseño
experimental utilizado fue completamente aleatorio, en arreglo factorial de 2 ×
4, compuesto por combinaciones de dos temperaturas (25 y 30 °C) y cuatro
sustratos (arena, vermiculita, tierra y papel secante), con cuatro repeticiones
de 25 semillas cada uno. Las siguientes características fueron analizadas:
contenido de agua (%) de las semillas, porcentaje de emergencia, tiempo
promedio de emergencia, porcentaje de plántulas normales e índice de velocidad
de emergencia (IVE). Hubo un efecto significativo sobre la interacción
temperatura × sustrato para todas las variables, excepto IVE. Los sustratos de vermiculita y arena a una
temperatura constante de 25 °C están recomendados para realizar pruebas de
germinación de semillas de Ceiba speciosa. La
temperatura de 30 °C se puede indicar cuando se asocia con el sustrato de
vermiculita. El sustrato sobre papel secante no es adecuado para la germinación
de semillas de esta especie. Se sugiere un estudio con semillas de diferentes
poblaciones de esta especie para confirmar la influencia del origen de la
semilla en su comportamiento germinativo cuando están sometidas a factores
ambientales asociados, como temperaturas y sustratos.
Palabras
clave: Paineira; Semillas forestales; Sustratos;
Temperaturas; Vigor.
INTRODUÇÃO
Várias espécies de plantas no Brasil são denominadas popularmente como
paineiras, porém a mais conhecida é a Ceiba
speciosa (A.St.-Hill.)
Ravenna, nativa em florestas brasileiras (SENEME et al., 2018). Trata-se de uma
espécie arbórea tropical pertencente à família Malvaceae, que anteriormente
pertencia à família Bombacaceae com a denominação de Chorisia speciosa
(SILVA, 2017). A paineira possui grande importância na recuperação de
ecossistemas degradados, cuja madeira e paina são usadas em diversas atividades
econômicas (ROVERI NETO; PAULA, 2017).
Alguns estudos avaliaram a germinação de sementes de Ceiba speciosa,
como os descritos por Fanti e Perez (2004), Carvalho
et al. (2006),
Silva (2017), Lazarotto et al. (2010), Lazarotto et al. (2011), Lemes e Lopes
(2012), Cipriani et al. (2015), Roveri Neto e Paula,
(2017), Seneme et al. (2018), Melo et al. (2018), Santos
et al. (2018b) e Martins et al. (2019).
No entanto, pouco se conhece sobre a ecofisiologia do
comportamento germinativo de sementes de Ceiba
speciosa oriundas de remanescentes florestais de
Brejo de Altitude na região Nordeste.
O conhecimento sobre a germinação de sementes e os fatores que
influenciam esse processo são úteis para permitir a propagação mais eficiente
das espécies (ARAÚJO et al., 2016). A disponibilidade de água e a temperatura
estão entre os fatores essenciais no processo germinativo. Logo, o substrato
deve estar suficientemente úmido, a fim de suprir as sementes da quantidade de
água necessária para sua germinação. Por outro lado, a temperatura deve ser
adequada para desencadear todas as atividades metabólicas envolvidas no
processo (VARELA et al., 2005). A temperatura pode influenciar no processo de
germinação, afetando principalmente a absorção de água e em todas as reações
bioquímicas e processos fisiológicos relacionados à semente (OLIVEIRA et al.,
2014).
As temperaturas de 25 °C e 30 °C são as mais favoráveis para a
germinação de muitas espécies arbóreas tropicais, havendo relação entre a
temperatura ótima e o bioma de ocorrência da espécie (BRANCALION et al., 2010).
De acordo com esses autores, partindo do princípio de que a temperatura ótima
para a germinação é resultado da adaptação fisiológica das sementes às
condições ambientais dos locais de ocorrência ou de cultivo da espécie, pode
haver relação direta entre essa temperatura e o bioma onde as sementes foram
produzidas.
Em relação ao substrato, este é um dos fatores externos mais
importantes no desenvolvimento inicial das mudas em fase de viveiro,
influenciando tanto a germinação das sementes quanto o crescimento das mudas,
favorecendo sua produção em curto período de tempo e a
baixo custo (DUTRA et al., 2012). Segundo esses autores, as características
físicas do substrato são extremamente relevantes, sobretudo, por ele ser usado
em um estádio de desenvolvimento em que a planta é pouco tolerante ao déficit hídrico.
Na Mesorregião do Agreste da Paraíba foi constatada a ocorrência de
indivíduos de C. speciosa
em formações florestais típicas de Brejo de Altitude. De acordo com Barbosa et
al. (2004) os Brejos de Altitudes nordestinos são áreas que apresentam microclimas
dissociantes do contexto onde
estão inseridos (semiárido). A umidade característica está associada ao efeito
orográfico que aumenta os níveis de pluviosidade e diminuem as temperaturas, o
que forma “ilhas” de microclima diferenciado. Suas formações florestais são
disjunções de floresta atlântica, ilhadas pela vegetação da Caatinga, condição
que torna estes remanescentes em áreas de elevada biodiversidade.
Diante da importância da paineira e das limitações de informações sobre
o comportamento germinativo das sementes provenientes de um remanescente
florestal de Brejo de Altitude na Paraíba, são de grande importância estudos
que visem contribuir com o conhecimento básico sobre a fisiologia da germinação
e propagação dessa espécie. Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo
avaliar o efeito de substratos e temperaturas na germinação de sementes de Ceiba speciosa.
MATERIAL E
MÉTODOS
Os frutos de Ceiba speciosa foram coletados no chão sob a copa de nove árvores
matrizes no remanescente de Floresta Ombrófila Aberta, pertencente a Reserva
Florestal do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias da Universidade
Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras, Paraíba. O remanescente de aproximadamente
35,5 ha é considerado um importante fragmento florestal ecotonal
de Brejo de Altitude, abrigando importantes espécimes autóctones representantes
da tipologia vegetal de grande relevância fitogenética,
ecológica e para o resguardo da fauna e flora local (OLIVEIRA et al., 2017). O município de Bananeiras
está localizado na Mesorregião do Agreste, mais especificamente na Microrregião
do Brejo do Estado da Paraíba, com as coordenadas de Latitude: 06º45'00"S
Longitude: 35º37'00"W, inserido na unidade geoambiental do Planalto da
Borborema, a uma altitude de aproximadamente de 526 metros. O clima da região é
classificado como As', (tropical chuvoso) quente e úmido (Classificação de
Köppen) e se caracteriza por apresentar temperaturas de 18 a 27 °C e
precipitação média de 1.200 a 1.500 mm, com chuvas de outono a inverno
(concentradas nos meses de maio a agosto).
O solo da reserva é do tipo Latossolo amarelo distrófico, textura franco
arenosa a franco argilosa, fase floresta tropical subperenifólia.
Geomorfologicamente caracteriza-se pelo relevo suave
ondulado (EMBRAPA, 1999).
Foram coletados 69 frutos maduros, com aspecto seco e abertura parcial
dos lóculos, que foram transportados em sacolas plásticas até o Laboratório de
Tecnologia de Sementes do CCHSA/UFPB, onde ocorreu o beneficiamento e a
condução do experimento. O beneficiamento dos frutos ocorreu imediatamente após
coleta destes e consistiu na separação manual das sementes das “plumas”, sendo descartadas
aquelas que apresentavam sinais de injúrias. O teor de água das sementes foi
determinado com quatro repetições de 25 sementes cada, sendo estas pesadas em
balança de precisão de 0,0001g e secas pelo método de estufa a 105 ± 3 °C por
24 horas (BRASIL, 2009).
As sementes utilizadas para o teste de germinação foram submetidas a
uma assepsia com hipoclorito de sódio comercial diluído em água destilada na
proporção de 1:1, por cinco minutos, sendo em seguida lavadas em água corrente
e postas para secar sobre papel, durante 48 horas na bancada do laboratório.
Para o teste de germinação, foram utilizadas câmaras de germinação tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.) reguladas nas temperaturas constantes
de 25 e 30 °C com fotoperíodo de 12h. As avaliações foram efetuadas segundo os
critérios estabelecidos pelas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
Foram utilizadas quatro repetições de 25 sementes por tratamento,
distribuídas em caixas de plástico transparentes tipo “gerbox”
com dimensões 11 × 11 × 3,5 cm, utilizando os seguintes substratos: areia, vermiculita,
terra do local de coleta dos frutos e papel mata-borrão. Previamente, os
substratos foram autoclavados e em seguida foi calculada a capacidade de campo
(60%) para umedecer os substratos areia, vermiculita e terra. No substrato
papel, as sementes foram distribuídas sobre duas folhas, sendo que o mesmo foi umedecido com água destilada, equivalente a 3,0
vezes o peso do substrato. Os substratos foram umedecidos uma única vez, no
momento da semeadura.
As contagens do número de sementes germinadas foram realizadas
diariamente, a partir do 4º ao 21º dia após a semeadura, sendo o surgimento do
hipocótilo o critério estabelecido para a contagem de germinação. As variáveis
analisadas foram: teor de água (%) das sementes, porcentagem de emergência, tempo
médio de emergência (TME) – calculado utilizando-se a fórmula proposta por Labouriau (1983), porcentagem de plântulas normais e índice
de velocidade de emergência (IVE) – conforme equação proposta por Maguire
(1962).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado
(DIC), com duas temperaturas (25 e 30 °C) e quatro substratos (areia,
vermiculita, terra e papel), seguindo um esquema fatorial de 2 × 4
(temperaturas × substratos). Depois de constatada a normalidade dos dados e a
homogeneidade das variâncias, o banco de dados foi submetido à análise de
variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey
(P > 0,05%) a posteriori. Toda a análise estatística foi processada no software ESTAT/Jaboticabal®
(1994).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Houve efeito significativo (P>0,01%) da interação temperatura ×
substrato para as variáveis emergência (%), tempo médio de emergência e
plântulas normais (%). Quanto ao fator temperatura, só houve efeito
significativo (P>0,05%) para a variável emergência. Para o fator substrato,
houve significância (P>0,01%) para todas as variáveis.
O teor de água das sementes, por ocasião do ensaio experimental, estava
em torno de 13,2%. O valor encontrado está dentro dos padrões citados para
outras espécies pertencentes à família Malvaceae. Fanti
e Perez (2004), Carvalho et al. (2006) e Silva (2017) encontraram teor de água
11%, 18,8% e 14%, respectivamente, para sementes de Ceiba speciosa. Oliveira et al. (2014)
encontraram teor de água de 15,9% para sementes de paineira-do-campo (Eriotheca gracilipes
(K. Schum.) A. Robyns -
Malvaceae). Carvalho et al. (2006) classificam as sementes de C. speciosa
quanto ao tipo de comportamento no armazenamento como ortodoxas.
Em relação a variável emergência (Tabela 1), constataram-se elevados
percentuais (≥73%) na temperatura de 25 °C, não havendo diferença estatística
entre os substratos nessa temperatura. A 30 °C, os maiores percentuais foram
observados nos substratos vermiculita e terra, com 84 e 79%, respectivamente,
os quais não diferiram do substrato papel (68%). O menor percentual de
emergência foi constatado no substrato areia (54%), que também não diferiu do
papel. Deve-se destacar que as sementes postas para germinar no substrato areia
sob a temperatura de 25 °C apresentaram taxa de germinação de 81%, mas quando
foram colocadas para germinar sob a temperatura de 30 °C, este percentual
reduziu para 54%, ou seja, houve influência das temperaturas na emergência de
plântulas neste substrato.
Para o TME (Tabela 1), os menores
tempos médios de emergência foram observados para os tratamentos areia e
vermiculita na temperatura de 30 °C, visto que as sementes levaram em torno de
cinco dias para emergir. Valores satisfatórios também foram obtidos nesses
mesmos substratos na temperatura de 25 °C, em que as sementes levaram em torno
de sete dias para emergir. Nos substratos terra e papel, independente da
temperatura, a germinação foi um pouco mais lenta e irregular, fazendo com que
as sementes levassem em torno de oito a nove dias para germinar. Ainda
observando o TME, é importante destacar que os tratamentos com terra e papel,
associados às temperaturas de 25 e 30 °C foram estatisticamente iguais.
Quanto ao percentual de plântulas normais (Tabela 1) não houve
diferença estatística entre os substratos quando se utilizou a temperatura de
25 °C, com percentuais que variaram de 73 a 81%. Contudo, na temperatura de 30
°C, os menores percentuais de plântulas normais foram observados nos substratos
areia e papel, com 54 e 67%, respectivamente. E os maiores percentuais de
plântulas normais foram encontrados nos substratos vermiculita e terra, com 84
e 79%, respectivamente.
Alguns estudos apontam que a temperatura ótima para a germinação de
sementes de paineira está entre 25 e 30 °C, a exemplo do reportado por Lemes e
Lopes (2012) e Melo et al. (2018). Mas, de acordo com esses autores, as
sementes de C. speciosa podem germinar em uma ampla faixa de
temperatura, demonstrando grande capacidade de adaptação a diferentes regiões,
o que permite sua colonização em uma maior diversidade de habitats, facilitando
sua dispersão. Guedes e Alves (2011) verificaram que a temperatura constante de
25 °C foi responsável pelos maiores percentuais de germinação de sementes de Chorisia glaziovii (O.
Kuntze), independente do substrato avaliado; mas que
a interação entre a temperatura constante de 25 °C e o substrato areia
proporcionou o máximo desempenho germinativo das sementes dessa espécie (86%),
semelhante aos resultados encontrados no presente estudo com as sementes de C. speciosa,
cujo percentual de emergência foi de 81% nestas condições.
A temperatura de 25 °C
proporcionou elevados percentuais (≥73%)
de emergência e plântulas normais de paineira, independente dos substratos
avaliados (Tabela 1). Esse desempenho germinativo verificado nas sementes a 25 °C pode estar
associado aos fatores climáticos da área de procedência dessas sementes, uma
vez que a temperatura média na região pode variar de 18 a 27 °C, dependendo da
época do ano. De acordo com Carvalho e Nakagawa (2012), a origem das sementes é um fator que pode
exercer influência sobre o desempenho germinativo da semente e da planta
resultante, visto que o local onde a semente é produzida pode provocar grande
modificação na composição química da semente e tem efeito direto com as condições
edafoclimáticas a que as plantas matrizes foram submetidas na fase de produção.
Tabela 1. Efeito da interação temperatura × substrato sobre a
porcentagem de emergência, tempo médio de emergência (TME) e porcentagem de
plântulas normais de Ceiba speciosa (A. St.-Hil.)
Ravenna. |
|||||||
Emergência (%) |
|||||||
Temperatura (°C) |
Substrato |
||||||
Areia |
Vermiculita |
Terra |
Papel |
||||
25 |
81 Aa |
76 Aa |
81 Aa |
73 Aa |
|||
30 |
54 Bb |
84 Aa |
79 Aa |
68 ABa |
|||
CV = 11,13% |
|
|
|
|
|||
Tempo médio de emergência (dias) |
|||||||
Temperatura (°C) |
Substrato |
||||||
Areia |
Vermiculita |
Terra |
Papel |
||||
25 |
6,77 Ba |
6,72 Ba |
8,35 Aa |
8,52 Aa |
|||
30 |
5,10 Bb |
5,47 Bb |
8,37 Aa |
9,50 Aa |
|||
CV = 9,74% |
|
|
|
|
|||
Plântulas normais (%) |
|||||||
Temperatura (°C) |
Substrato |
||||||
Areia |
Vermiculita |
Terra |
Papel |
||||
25 |
74 Aa |
74 Aa |
81 Aa |
73 Aa |
|||
30 |
54 Cb |
84 Aa |
79 ABa |
67 BCa |
|||
CV = 9,76% |
|
|
|
|
|||
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e
minúscula na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. CV: coeficiente de variação
(%). |
|||||||
O conhecimento acerca da procedência das sementes é um fator de grande
importância para saber quais as condições mais adequadas para a germinação e o estabelecimento
de plântulas, visto que populações de uma mesma espécie podem apresentar
diferentes características e adaptações fenotípicas quando ocorrem em
diferentes áreas (HOPPE et al., 2004). Essas adaptações também refletem no
desempenho germinativo das sementes e podem estar relacionadas às
características edafoclimáticas do ambiente em que se encontram as plantas matrizes,
pois, as sementes trazem consigo informações acerca das características
ambientais do local de origem, herdadas da planta–mãe através de um fenômeno
denominado de “memória vegetal” (GALVIZ et al., 2020).
Na Tabela 2 são apresentados os valores médios para o índice de
velocidade de emergência em relação aos substratos, visto que não houve efeito
significativo da interação temperatura × substrato para esta variável. Verificou-se
que o maior valor para o IVE foi observado no substrato vermiculita, com valor médio
de 3,00 que não diferiu do substrato areia. Para os demais substratos, os
valores de IVE ficaram abaixo de 2,5, tendo o papel como aquele que apresentou
desempenho inferior (1,87).
Como pode ser observado na Tabela 2, o substrato papel propiciou baixos
valores de IVE quando comparado aos demais substratos. Esses resultados
corroboram com os encontrados por Guedes e Alves (2011) e Seneme
et al. (2018), ao testarem temperaturas e substratos na germinação de sementes C.
glaziovii e
C. speciosa, respectivamente. De acordo com esses
autores, o substrato sobre papel mata-borrão proporciona menor superfície de
contato com a semente, quando comparado aos demais, dificultando a embebição de água. No presente trabalho, essa
característica observada por esses autores em relação ao substrato papel fez
com que a velocidade de emergência fosse mais lenta e irregular.
Tabela 2. Efeito do substrato sobre o índice de velocidade de emergência
(IVE) de sementes de Ceiba speciosa (A. St.-Hil.)
Ravenna. |
|
Substratos |
Médias |
Areia |
2,82 ab |
Vermiculita |
3,00 a |
Terra |
2,27 bc |
Papel |
1,87 c |
CV = 20,84% DMS (Tukey) = 0,38 |
|
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna
não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey
a 5% de probabilidade. CV: coeficiente de variação (%). |
Possivelmente, a areia e, sobretudo, a vermiculita possibilitaram
melhor distribuição e manutenção da umidade nos meios germinativos, por
proporcionarem um bom desenvolvimento das plântulas. Tais observações
corroboram com os resultados encontrados por Seneme
et al. (2018), ao avaliarem a germinação dessa mesma espécie. A vermiculita é
um material de origem mineral, de estrutura laminar, praticamente inerte e
livre de microorganismos patogênicos; apresenta baixa
densidade, grande aeração e elevada capacidade de retenção de água (WENDLING;
GATTO, 2002). Todas essas características inerentes a esse substrato
contribuíram positivamente em elevar os percentuais de emergência e reduzir o
tempo médio de emergência de plântulas.
Deve-se destacar o surgimento de fungos no substrato de papel, apesar
de o mesmo ter sido esterilizado e de ter sido
realizada a desinfecção das sementes. Lazarotto et al. (2010), Guedes e
Alves (2011) e Seneme et al. (2018) também relatam o desenvolvimento de
microrganismos patogênicos nesse substrato ao avaliarem a germinação de
sementes de espécies pertencentes à família Malvaceae. Guedes e Alves (2011) apontam
o papel como substrato inadequado pelo fato de comprometer a capacidade de
germinação das sementes, em razão do desenvolvimento de fungos em grande
quantidade.
Os resultados aqui encontrados são de especial importância para a
produção de mudas dessa espécie. Pois, sob condições de viveiro, podem ser
utilizados diferentes substratos na emergência de plântulas de espécies
florestais nativas e o produtor pode optar pelo preparo do próprio substrato,
utilizando materiais disponíveis e de baixo custo como aqueles à base de casca
de árvores, bagaço de cana, casca de arroz, areia, esterco, húmus, dentre
outros (SANTOS et al., 2018a). Considerando todas as variáveis estudadas constatou-se
que os melhores resultados para os substratos foram obtidos na seguinte ordem:
vermiculita > areia > terra > papel. As temperaturas de 25 e 30 °C
apresentam similaridade quanto ao comportamento germinativo das sementes, mas
podem diferir em função do substrato. Importante destacar também que nem todas
as plântulas que emergiram se estabeleceram como plântulas normais.
Sugere-se um estudo com sementes de diferentes populações dessa espécie
para confirmar a influência da procedência da semente no seu desempenho
germinativo quando submetidas a fatores ambientais associados, como
temperaturas e substratos.
CONCLUSÕES
Os substratos vermiculita e areia sob a temperatura constante de 25 °C são
recomendados para a condução de testes de germinação de sementes de Ceiba speciosa.
A temperatura de 30 °C pode ser indicada quando associada ao substrato
vermiculita.
O substrato “sobre” papel mata-borrão não é indicado para a germinação
de sementes dessa espécie.
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