Caracterização da
base alimentar de caprinos e ovinos no Cariri paraibano
Characterization of the food base for goats and sheep
in Cariri in Paraíba,
Brazil
Caracterización de la base alimenticia de cabras y ovejas en Cariri en Paraíba, Brasil
João
Paulo de Farias Ramos¹, Iara Tamires Rodrigues Cavalcante², Wandrick
Hauss de Sousa3, Mauricio Luiz de Mello
Vieira Leite4
1Doutor em
Zootecnia, Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização
Fundiária, João Pessoa, Paraíba, Brasil; e-mail: jpemepapb@yahoo.com.br; 2Doutoranda
em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias,
Areia, Paraíba, e-mail: iararodrigues16@hotmail.com; 3Doutor
em Zootecnia, Pesquisador III- Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e
Regularização Fundiária; João Pessoa, e-mail: wandrick@gmail.com; 4Doutor em Zootecnia, Professor Associado I-Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Unidade Acadêmica, Serra Talhada, Pernambuco, Brasil; e-mail:
mauricio.leite@ufrpe.br
Recebido: 01/04/2020; Aprovado: 20/08/2020
Resumo: Objetivou-se
caracterizar a base alimentar para caprinos e ovinos no Cariri paraibano. A
pesquisa foi realizada nas microrregiões do Cariri Ocidental e Oriental do
Estado da Paraíba, abrangendo nove municípios. A amostra obtida foi de 125
produtores, que representa 5% da população. O método de amostragem aplicado foi
o probabilístico, especificamente a aleatória simples. Os dados foram tabulados
em planilha eletrônica e foram efetuadas análises das variáveis qualitativas
por distribuição de frequência e teste qui-quadrado.
A exploração de animais para corte e comercialização do leite caprino são os
principais produtos oriundos da pecuária praticada pelos produtores do Cariri
paraibano. Há predominância da atividade da caprinocultura (81,6%) nas unidades
de produção pecuária. 81,6% dos produtores fazem a suplementação volumosa dos
rebanhos e 56,8% não utilizam práticas de conservação de forragem. As cactáceas
nativas
como mandacaru (Cereus jamaracu),
xique-xique (Pilosocereus gounellei),
facheiro (Pilosocereus pachycladus), além da palma
forrageira (Opuntia sp. e Nopalea sp.) e capim-buffel
(Cenchrus ciliaris)
são largamente utilizados pelos produtores e para conservação de forragens, o
sorgo foi o mais utilizado. Destaca-se acentuado percentual de uso de água
salobra e poços artesianos. Os produtores mostraram-se dependentes da compra de
insumos externos, principalmente farelo de soja, torta de algodão e farelo de
trigo, requerendo assistência técnica a fim de promover a autossuficiência
alimentar para seus rebanhos, consolidar opções de
segurança forrageira, reduzir o uso de insumos externos, e dessa forma,
contribuir com o aumento da sustentabilidade dos sistemas de produção animal na
região Semiárida.
Palavras-chave: Diagnóstico; Pequenos
ruminantes; Sistema alimentar
Abstract: The objective was to characterize the food base for goats and sheep in Cariri in Paraíba. The survey was
conducted in the microregions of Western and Eastern Cariri
in the State of Paraíba, covering nine
municipalities. The sample obtained was 125 producers, representing 5% of the
population. The sampling method applied was the probabilistic, specifically the
simple random. The data were tabulated in an electronic spreadsheet and
analyzes of qualitative variables by frequency distribution and chi-square test
were performed. The exploitation of animals for cutting and marketing goat milk
are the main products from livestock practiced by the producers of Cariri in Paraíba. There is a
predominance of goat farming (81.6%) in livestock production units. The majority of the producers supplement the herds on a
massive scale (89.6%) and do not use forage conservation practices (56.8%).
Native cacti such as mandacaru (Cereus jamaracu), xique-xique (Pilosocereus gounellei),
facheiro (Pilosocereus
pachycladus), in addition to forage palm (Opuntia
sp. and Nopalea sp.) and buffel
grass (Cenchrus ciliaris)
are widely used by sorghum was the most widely used and for conserving fodder,
with an accentuated percentage of use of brackish water and artesian wells.
Producers were dependent on the purchase of external inputs, mainly soybean
meal, cotton cake and wheat bran, then needing technical assistance in order to
promote food self-sufficiency for their herds, consolidate forage security
options, reduce the use of external inputs, and thereby contribute to
increasing the sustainability of animal production systems in semiarid region.
Keywords: Diagnosis; Small ruminants; Food system
Resumen: El objetivo fue caracterizar la base alimenticia de cabras y ovejas en Cariri, Paraíba. La investigación
se llevó a cabo en las micro regiones occidentales y orientales de Cariri, en el
estado de Paraíba. El método de muestreo aplicado fue el probabilístico aleatorio simple y la muestra obtenida
fue de 125 productores. Los
datos se tabularon y las variables cualitativas
se analizaron mediante distribución
de frecuencia y prueba de
chi-cuadrado. La explotación
de animales para cortar y vender leche
de cabra son los principales productos ganaderos practicados por los productores de Cariri en Paraíba.
Las cabras predominan
(81,6%) en las unidades de producción pecuaria. La mayoría de los productores complementan el ganado (89.6%) y no utilizan prácticas de conservación de forraje (56.8%).
Los cactus nativos como mandacaru (Cereus jamaracu),
xique-xique (Pilosocereus gounellei), facheiro (Pilosocereus
pachycladus), palma forrajera
(Opuntia sp. y Nopalea
sp.) y pasto buffel (Cenchrus
ciliaris) son ampliamente utilizados por productores
y para la conservación del forraje, el
sorgo fue el más utilizado.
Existe un marcado porcentaje
de uso de agua salobre y pozos
artesianos. Los productores confiaron
en la compra de insumos
externos, principalmente salvado de soya, torta de algodón y salvado de trigo. Se necesita
asistencia técnica para promover la
autosuficiencia de los
alimentos en sus rebaños,
consolidar las opciones de seguridad del forraje,
reducir el uso de insumos
externos y, por lo tanto, contribuir a aumentar la sostenibilidad de los sistemas de producción animal
en la región Semiárida.
Palabras clave: Diagnóstico; Pequeños rumiantes; Sistema alimentario
INTRODUÇÃO
A pecuária de pequenos ruminantes
representa uma das mais importantes opções para o setor primário do Semiárido
brasileiro, sendo um dos principais fatores para a garantia da segurança
alimentar das famílias rurais e geração de emprego e renda na região. Essa
atividade permite diversificar os recursos, atenuar a pobreza e dar maior
estabilidade às unidades de base familiar localizadas nessa região (SANTOS et
al., 2010).
Tendo em vista que grande parte dos
sistemas de criação animal da região Semiárida é fortemente influenciado pelas
condições climáticas locais e condicionada à produção e conservação de
forragens, há uma preocupação com o efeito que a dependência forrageira pode
trazer ao desenvolvimento da atividade e da própria vegetação, uma vez que as variações
climáticas intra e interanuais definem uma oscilação
na oferta de forragem, o que acarreta déficit nos índices produtivos dos
rebanhos em função das carências nutricionais a que os animais estão submetidos
(SANTOS et al., 2017; GOIS et al., 2017). A baixa produtividade do rebanho ainda
está associada à variação na qualidade das forragens ao longo do ano, em função
da baixa capacidade de suporte forrageiro das caatingas, do manejo e
aproveitamento inadequado das pastagens, além do reduzido uso de tecnologias de
convivência com as secas (LEITE et al., 2014).
Assim, a intensificação dos sistemas de
produção animal com introdução de tecnologias que oferecem condições de
alimentação, de manejo e de sanidade mais adequadas, buscando a melhoria da
produtividade animal sobre bases econômicas, tem contribuído para o desempenho
positivo de toda cadeia produtiva da pecuária do Nordeste brasileiro,
constituindo em estratégia de competitividade para os produtores envolvidos
nessas atividades.
O estudo da caracterização da alimentação
dos caprinos e ovinos pode apresentar relevante contribuição na compreensão das
estratégias alimentares utilizadas pelos produtores rurais do Semiárido
brasileiro. A partir deste conhecimento, os pontos de estrangulamento
tecnológico são detectados e pode-se delinear estratégias e demandas de
pesquisas a serem executadas, políticas de difusão de tecnologias, programas e
projetos de desenvolvimento agrícola, visando alcançar, de forma economicamente
viável e ecologicamente sustentável, todo o potencial de produção da atividade.
Desta forma, objetivou-se caracterizar à base alimentar para caprinos e ovinos
no Cariri paraibano.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi
realizada por meio de entrevistas com 125 proprietários rurais que praticam
atividade pecuária no Cariri Ocidental: Monteiro (7° 53' 20" S 37° 07' 12" O) (8), Parari (7° 19' 15" S 36° 39' 21" O) (15), Serra Branca (7° 28' 58"
S 36° 39' 54" O) (20), Taperoá (7° 12' 28'' S 36° 49' 34'' O) (16) e Oriental na Paraíba: Alcantil (7° 44' 38"
S 36° 03' 21" O) (9), Cabaceiras
(7°
29' 20" S 36° 17' 13" O) (12), Caturité (7° 25' 12"
S 36° 01' 37") O (13), Gurjão (7° 14' 49" S 36° 29' 20" O) (16) e São João do Cariri (7° 23'
27" S 36° 31' 58" O) (16).
Os dados foram obtidos por meio de
entrevistas, usando um questionário semi-estruturado,
com perguntas objetivas e subjetivas, o qual foi aplicado individualmente em
cada uma das propriedades selecionadas. As entrevistas foram conduzidas por
profissionais da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A.
(EMEPA), nos nove municípios visitados, sendo 66 formulários no Cariri Oriental
(53,0%) e 59 no Cariri Ocidental (47,0%).
Foi
aplicado o método de amostragem probabilística (aleatória simples) onde cada
unidade amostral da população possui a mesma chance de ser incluída na amostra
(SMAILES; MCGRANE, 2002). Foi mantido um padrão fixo de perguntas com ordem e
redação invariáveis para todos os entrevistados. O número de formulários aplicados foi baseado na
metodologia de amostragem de Rocha (1997).
Durante a realização das entrevistas, os
produtores, previamente avisados, foram visitados in loco. Não houve
interferência nas respostas dadas pelos produtores. As questões e a sequência
de perguntas foram idênticas para todos os entrevistados a fim de assegurar que
as variações entre as respostas fossem devidas a diferenças individuais e não
aos entrevistadores. Todas as entrevistas foram submetidas à crítica para
verificação da correção do preenchimento do questionário.
As variáveis estudadas para caracterização
do sistema de alimentação para caprinos e ovinos foram: principal produto
oriundo da pecuária; número de animais por produtor; uso de suplementação
volumosa; realização de conservação de forragem; plantas utilizadas na
suplementação volumosa; utilização de concentrado; fornecimento de concentrado
por categorial animal; tipos de concentrado utilizados na suplementação dos
rebanhos; uso da ureia; mineralização dos rebanhos; alimentação dos rebanhos
durante o período seco; qualidade da água oferecida aos animais e fonte da água
destinada a dessedentação animal.
Os resultados obtidos das variáveis qualitativas
foram expressos em frequência absolutas e relativa, utilizando planilha
eletrônica (Microsoft Excel®, versão 2010). Os dados referentes ao uso de
suplementos volumosos, concentrados e fontes de água foram submetidos ao teste
de qui-quadrado (χ²) para verificação
de diferença entre frequências utilizando o software SAS (2001) (PROC FREQ, SAS Institute, Cary,
NC, USA),
adotando o nível de significância p = 0,05. A análise das variáveis quantitativas foi efetuada com
técnicas de estatística univariada descritiva (PROC
UNIVARIATE, SAS Institute, Cary, NC, USA).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Os resultados mostram que a produção de
leite caprino no Cariri Ocidental e Oriental da Paraíba é uma atividade
pecuária que tem sua participação no cenário agropecuário brasileiro aumentada
significativamente, superando o constante desafio de conquistar e manter novos
mercados para o leite de cabra e seus derivados. Na Tabela 1 observa-se que a
criação de animais para comercialização (venda para abate) e a venda do leite
caprino são os principais produtos oriundos da pecuária praticada pelos
produtores do Cariri paraibanos.
Tabela 1. Produtos oriundos da pecuária nas microrregiões do
Cariri Ocidental e Oriental, Paraíba |
||
Principal produto |
Cariri
Ocidental |
Cariri
Oriental |
% |
% |
|
Leite
bovino |
35,7 |
64,3 |
Leite
caprino |
48,8 |
51,2 |
Venda
de animais |
48,5 |
51,5 |
A maior participação da caprinocultura
leiteira no presente estudo justifica-se devido o setor ter recebido incentivos
através da compra da produção de leite pelo governo estadual “Programa do leite
Paraíba” e ações do “Pacto Novo Cariri”, além da participação ativa de órgãos
de pesquisa no estado que, aliado a atividades como melhoramento genético,
promoveu melhoria dos sistemas de produção, industrialização e comercialização
de leite, tornando-se a principal atividade agropecuária e econômica da região
do Cariri Paraibano, conforme relatado por Rodrigues e Quintans
(2015) e Feitosa et al. (2020).
Além disso, a intensificação dos sistemas
de produção animal através da introdução de tecnologias que melhoram as
condições alimentares, manejo e sanidade contribuem para o desempenho positivo
da cadeia produtiva da pecuária nordestina, proporcionando competitividade para
os produtores envolvidos nessas atividades (RAMOS et al., 2013).
Tabela 2. Frequência de
quantidade e espécies animais criadas por produtores do Cariri paraibano |
|||
Quantidade de
animais |
Bovinos |
Caprinos |
Ovinos |
% |
% |
% |
|
Não possui |
27,2 |
18,4 |
40,0 |
de 1 a 5 animais |
17,6 |
6,4 |
2,4 |
de 6 a 10 animais |
18,4 |
8,0 |
3,2 |
de 11 a 20 animais |
16,0 |
28,8 |
4,8 |
de 21 a 50 animais |
16,0 |
32,0 |
34,4 |
de 51 a 100 animais |
2,4 |
6,4 |
8,8 |
Mais de 100 animais |
2,4 |
- |
6,4 |
A observação de
rebanhos formados por baixo número de animais (entre 11 e 50 animais) pode
estar relacionada com o tamanho da área das propriedades, que além de limitar o
espaço para criação dos animais restringe o espaço para produção de forragem.
Conforme citado por Silva et al. (2013) a distribuição das terras no Semiárido nordestino se
caracteriza pela predominância de pequenas propriedades, onde cerca de 71%
possuem até 20 hectares, enquanto 97% são representadas por áreas menores que
100 hectares e que 48% dos produtores da mesma região possuem
apenas rebanhos caprinos leiteiros com rebanhos de 16 a 35 cabeças. Essa
justificativa é reforçada pelos dados verificados por Ramos et al. (2013) que
também relataram que no Cariri paraibano os estabelecimentos rurais oscilaram
de 1,3 a 7 hectares.
Na Figura 1, obteve-se que a maioria dos
produtores não utilizam práticas de conservação de forragem (56,8%), tendo a
silagem (20,8%) uma grande predominância em relação à fenação (10,4%).
Figura 1. Uso de conservação
de forragens e tipos de conservação praticadas por produtores no Cariri da Paraíba
Evidencia-se, que
a prática da conservação de forragem na forma silagem tem sido a técnica mais
utilizada para produção de ruminantes, pois apresenta menor dependência das
condições climáticas, requer menos espaço de armazenagem, por unidade de
matéria seca e conserva água, recurso importante para ambiente Semiárido.
Assim, adoção dessa técnica pelas unidades de produção de pequenos ruminantes
tem ocasionado melhorias dos índices zootécnicos e rentabilidade econômica da
atividade.
A produção de forragens no período chuvoso
e sua conservação na forma de feno e, ou, silagem, para o período de estiagem,
tem sido utilizada como estratégia alimentar, destacando-se como técnica capaz
de possibilitar a exploração da elevada produtividade das forrageiras nas regiões
(CARVALHO et al., 2013). Assim, pode constituir uma condição estratégica para o
fortalecimento do sistema de produção pecuária em regiões Semiáridas.
Nas unidades agrárias do Cariri paraibano,
os produtores mostraram-se cientes que o sistema de produção de caprinos e
ovinos praticado na região são dependentes da suplementação volumosa
objetivando aumentos na produtividade animal nas condições do Semiárido. Porém
para a implantação das técnicas de conservação de forragem encontram limitações
financeiras, dificuldades na confecção dos silos e na confecção e armazenagem
do feno, além de muitos produtores terem a interpretação equivocada de que o
feno é forragem seca de baixo valor nutricional (RIET-CORREA et al., 2013).
Ademais, fatores culturais, uso de plantas forrageiras não adaptadas,
mão-de-obra e o custo dessas tecnologias contribuem com a redução na adoção da
ensilagem e fenação como técnicas de conservação de forragens (LEITE et al.,
2014).
Os
resultados referentes às espécies vegetais utilizadas na suplementação volumosa
dos rebanhos são apresentados na Tabela 3. Observa-se que não houve diferença
entre as microrregiões do Cariri (P>0,05) em relação ao uso de cactos nativos, como mandacaru (Cereus jamacaru), xique-xique (Pilosocereus gounellei) e facheiro
(Pilosocereus pachycladus), além do milho (Zea mays), palma
forrageira (Nopalea cochenillifera)
e capim-buffel (Cenchrus ciliaris).
Tabela 3. Plantas utilizadas na suplementação
volumosa dos rebanhos de ruminantes na microrregião do Cariri Ocidental e Oriental,
Paraíba |
|||
Volumoso |
Cariri
Ocidental % |
Cariri
Oriental % |
P (χ²) |
Sorgo |
15,38b |
84,62a |
0,0152 |
Capim elefante |
74,19a |
25,81b |
0,0005 |
Cactos nativos |
47,37 |
52,63 |
0,9801 |
Milho |
50,00 |
50,00 |
- |
Palma forrageira |
36,36 |
63,64 |
0,4352 |
Capim buffel |
50,00 |
50,00 |
- |
Valores
seguidos por letras diferentes na linha diferem, pelo teste do χ², ao nível
de 5% de probabilidade |
A
utilização de plantas forrageiras adaptadas às condições edafoclimáticas da
região Semiárida brasileira é uma alternativa para solucionar os problemas de
redução da escassez de forragem (ALMEIDA et al., 2019). Assim, a quantidade e a qualidade da forragem disponível, além do
consumo de matéria seca são fatores fundamentais para a produção do rebanho.
Salienta-se
os baixos valores registrados no presente estudo (36,36% no Cariri Ocidental)
de utilização da palma forrageira para alimentação dos rebanhos. A redução pode
ser justificada principalmente, pelo decréscimo da área plantada da cultura,
pois a presença da cochonilha do carmim (Dactylopius opuntiae) dizimou grande área da cultura no Cariri
paraibano nos últimos 10 anos.
Foi evidenciada diferença (P<0,05) entre microrregiões do Cariri em função do
cultivo do sorgo (Sorghum
bicolor) e
capim elefante (Pennisetum purpureum). O
sorgo foi mais utilizado para alimentação dos animais (81%) no Cariri Oriental
em relação ao Cariri Ocidental. Para o capim elefante houve comportamento
inverso para o Cariri, sendo mais utilizados pelos produtores do Cariri Ocidental
(Tabela 3). O comportamento da presente pesquisa, possivelmente para sorgo
justifica-se por aspectos culturais destes produtores em produzir forragem para
conservar e fornecer aos animais no período de escassez, proporcionando
melhores condições de convivência com o período de estiagem e com os períodos
de escassez de forragem. Em relação a maior utilização pelos produtores do Cariri
Ocidental do capim elefante, possivelmente é em função das características do
solo aluvial, que captam mais água da chuva e possui mais quantidade de matéria
orgânica carreada pelas enxurradas no período chuvoso.
Em estudos sobre a
escolha das forrageiras a serem utilizados no sistema de produção Costa et al.,
(2011) afirmaram que o valor bioeconômico das
forrageiras depende de fatores como o nível de produção dos animais, valor
nutritivo, aptidão e produtividade agrícola da região, clima, custos de
produção, disponibilidade de recursos financeiros, disponibilidade e preços dos
alimentos concentrados, capacidade de gerenciamento de riscos e nível cultural
dos produtores. Portanto, cabe ao produtor avaliar a melhor estratégia de
utilização de diferentes volumosos para melhor sustentabilidade do sistema de
produção de leite de cabra.
Conforme consta na Tabela 4, não houve
diferença (P>0,05) quanto ao fornecimento de concentrado entre microrregiões do Cariri como forma de amenizar a escassez de volumoso e aumentar a
produção. No período seco, com a redução na disponibilidade de forragem, é
comum entre os produtores de leite o aumento na aquisição de alimento
concentrado, o que eleva os custos de produção (RIET-CORREA et al., 2013). A
alta dependência de insumos externos, principalmente no período seco, quando os
produtores têm que comprar ração para manter o rebanho é um dos maiores
gargalos verificados no sistema de produção pecuário no Semiárido.
Tabela 4. Uso de concentrado comercial para
complementação alimentar de rebanhos de ruminantes no Cariri Ocidental e Oriental,
Paraíba |
||
Microrregião |
Concentrado |
|
n |
% |
|
Cariri Ocidental |
57 |
48,7 |
Cariri Oriental |
60 |
51,3 |
Total |
117 |
100,0 |
Oliveira et al. (2018) ao estudar os
sistemas de produção de leite caprino no Cariri Ocidental paraibano observaram
que 21% dos custos para as propriedades
são provenientes de aquisição de concentrado, que muitas vezes, por não serem
formulados corretamente, não atendem as exigências nutricionais dos animais
além de aumentar o custo de produção.
Em relação aos tipos de concentrado não houve
efeito significativo (P>0,05) entre o Cariri (Tabela 5). Os produtores
mostraram-se dependentes da compra de insumos externos, principalmente farelo
de soja, farelo de trigo, farelo de milho, e torta de algodão, sendo geralmente
cada ingrediente fornecido isoladamente, sem maiores preocupações com o
atendimento das exigências nutricionais por categoria.
Tabela 5.
Tipos de concentrado utilizados na suplementação dos rebanhos de ruminantes nas
microrregiões do Cariri Ocidental e Oriental, Paraíba |
||||
Concentrado |
Cariri
Ocidental % |
Cariri
Oriental % |
P (χ²) |
|
Milho (inteiro ou moído) |
45,4 |
54,6 |
0,5878 |
|
Farelo de soja |
53,9 |
46,1 |
1,0047 |
|
Torta de algodão |
52,2 |
47,8 |
1,5289 |
|
Sorgo |
100,0 |
0,0 |
- |
|
Farelo de trigo |
50,0 |
50,0 |
0,1242 |
|
Algaroba |
66,67 |
33,33 |
- |
|
Observou-se também ausência de
conhecimento dos produtores em relação ao manejo nutricional dos animais,
especificamente em relação ao balanceamento das dietas, apesar da expressiva
adoção no uso de concentrados. Assim, pode ocorrer deficiência de energia e
excesso de proteína nas rações fornecidas aos animais, de modo que é
imprescindível uma atuação mais sistemática da pesquisa e extensão junto aos
produtores rurais, com o intuito de proporcionar maior eficiência econômica da
pecuária do Semiárido paraibano.
Figura 2. Uso do suplemento mineral, sal branco ureia pelos
produtores de caprinos e ovinos das microrregiões do Cariri Ocidental e Cariri
Oriental, Paraíba
Os minerais estão envolvidos em quase
todas as vias metabólicas do organismo animal, com funções importantes na
performance reprodutiva, manutenção do crescimento, metabolismo energético,
função imune entre outras tantas funções fisiológicas, não só para a manutenção
da vida, como também para o aumento da produtividade animal (MENDONÇA JUNIOR et
al., 2011). Acredita-se que toda deficiência mineral capaz de produzir
alterações na saúde e no metabolismo do animal tende a interferir também no
desempenho produtivo e reprodutivo.
A ureia tem sido utilizado em escala
irrelevante na dieta dos animais, porém se seu uso fosse disseminado com a
finalidade principal de substituir o nitrogênio da proteína verdadeira ou
elevar o teor de nitrogênio dos volumosos de baixa qualidade, aumentaria o aproveitamento
de alimentos volumosos de baixa qualidade pelos ruminantes (PARIS et al., 2013).
Quanto a qualidade da água das
fontes utilizadas para dessedentação animal, verifica-se que não houve
diferença entre as microrregiões do Cariri (P>0,05) para água salobra e doce
(Tabela 6). Destaca-se acentuado percentuais para o uso de água salobra, cuja
quantidade de sal dissolvido pode influenciar no consumo animal e no
aproveitamento de nutrientes como proteínas e carboidratos (ARAÚJO et al.,
2015).
Tabela 6. Qualidade e fonte da água utilizada para
dessedentação animal no Cariri Ocidental e Oriental, Paraíba |
|||
Qualidade da água |
Cariri Ocidental % |
Cariri Oriental % |
P (χ²) |
Salobra |
47,06 |
52,94 |
0,9725 |
Boa |
47,37 |
52,63 |
|
Fonte de água |
|
|
|
Açude |
23,5b |
76,5a |
0,0354 |
Poço artesiano |
52,3 |
47,7 |
0,2900 |
Cisterna |
0,0b |
100,0a |
0,0176 |
Valores seguidos por letras
diferentes na linha diferem, pelo teste do χ², ao nível de 5% de
probabilidade |
Entretanto, houve
diferenças (P<0,5) para fontes de água (Tabela 6), a participação de açudes
(69%) e cisternas (100%) foi superior no Cariri Oriental em reação a do Cariri Ocidental.
Ressalta-se ainda a relevância do uso da água via poço
artesiano pelos produtores na área desta pesquisa, visto que esta é a uma
ferramenta de convivência com o Semiárido, tornado a água do subsolo disponível
para o consumo humano e animal.
Desta forma, a
adoção de técnicas alimentares que incluam alimentos suculentos como a palma forrageira
ou alimentos ensilados pode constituir importante fonte de água aos caprinos quando
a disponibilidade de água na região Semiárida para consumo direto for reduzida.
O sistema de produção associativo de
caprinos e ovinos, as irregularidades no manejo alimentar, a intensa
variabilidade na produção e utilização de forragens, a alta dependência de
insumos extrínsecos e o uso de águas subterrâneas ou de captação pluvial para o
manejo caracterizaram o modelo de produção de pequenos ruminantes no Cariri paraibano.
CONCLUSÃO
Os produtores de
caprinos e
ovinos do Cariri Ocidental e Oriental paraibano apresentam dependência do uso
de suplementação volumosa e concentrado comercial, embora saibam a importância
das práticas de conservação de forragens.
Apesar
dos esforços dos órgãos competentes, os produtores precisam de assistência
técnica rural pontual para que possam implantar métodos que promovam
autossuficiência alimentar dos rebanhos, consolidem
opções de segurança forrageira, reduzam o uso de insumos externos, e dessa
forma, contribuam com o aumento da sustentabilidade dos sistemas de produção
animal na região Semiárida.
REFERÊNCIAS
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B.; SOUZA, J. T. A.; BATISTA, M. C. Melhoramento
genético de plantas forrageiras xerófilas: Revisão. PUBVET, v.13, n.8, p.1-11,
2019. 10.31533/pubvet.v13n7a382.1-11
ARAÚJO, G. G. L. Os
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em regiões Semiáridas. Revista
Brasileira de Geografia Física, v.8, n.4, p.598-609, 2015.
CARVALHO,
R. S.; SANTOS FILHO, J. S. D.; SANTANA, L. O. G.
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