Eficiência agronômica e
qualidade sanitária de biofertilizantes aplicados no solo em cultivo orgânico
da alface
Agronomic efficiency and
sanitary quality of biofertilizers applied to the soil in organic lettuce
cultivation
Eficiencia
agronómica y calidad sanitaria
de los biofertilizantes
aplicados al suelo en el cultivo de lechugas orgânicas
Álisson
Queiroz Moura1,
Elida Barbosa Correa2,
Josely Dantas Fernandes3,
Antonio Fernandes Monteiro Filho4,
Tricya Neroyldes Farias
Ferreira5,
Alexandre Costa Leão6
1Agroecólogo, Universidade Estadual da Paraíba, Lagoa
Seca, +5583993753448, alissonq8@gmail.com.
2Doutora em Proteção de Plantas, Professora, Universidade Estadual
da Paraíba, Lagoa Seca, elida.uepb@gmail.com.
3Doutor em Recursos Naturais, Técnico em Agropecuária, Universidade
Estadual da Paraíba, Lagoa Seca, joselysolo@yahoo.com.bre.
4Doutor em Engenharia Agrícola, Técnico em Agropecuária, Universidade
Estadual da Paraíba, Lagoa Seca, afernandesmf@gmail.com.
5Especialisa em Análise Clínica, Técnica de Laboratório, Universidade
Estadual da Paraíba, Lagoa Seca, tricyafarias@gmail.com.
6Mestre em Manejo de Solo e Água, Professor, Universidade Estadual
da Paraíba, Lagoa Seca, acostaleao@yahoo.com.br.
Recebido:
14/05/2020; Aprovado: 03/09/2020
Resumo: A adubação de hortaliças por meio de biofertilizantes é utilizada principalmente pela
agricultura orgânica. No entanto, são escassos os trabalhos publicados
avaliando a microbiota potencialmente patogênica a humanos nos biofertilizantes, assim como sua formulação conforme as necessidades nutricionais da
cultura. Desse modo, o objetivo com este estudo foi formular dois biofertilizantes
otimizados, avaliar suas características sanitárias (microbiológicas e
parasitológicas) e eficiência agronômica no cultivo orgânico da alface crespa.
O experimento foi conduzido em condições de campo em Lagoa Seca, Paraíba. O
arranjo experimental foi em blocos casualizados, em
esquema fatorial (2 x 6), com 3 repetições, sendo dois biofertilizantes
otimizados (BIO I e BIO II) e seis concentrações (0, 20, 40, 60, 80 e 100 mL). A alface crespa foi adubada com os dois biofertilizantes, formulados com materiais orgânicos, e
submetidos à fermentação aeróbica por 96 dias. O BIO II não teve contaminação
com micro-organismos patogênicos ao homem, enquanto o BIO I apresentou
contaminação com coliformes totais e fecais, Ascaris lumbricoides, Ancilostomideo spp., Entamoeba histolystica e Entamoeba coli. A
aplicação do BIO I e BIO II promoveu aumento no rendimento da produção total,
produção comercial, número de folhas, massa seca do caule e raiz. No entanto, a
massa seca das folhas não diferiu do tratamento controle, independente do biofertilizante. Maiores estudos devem ser realizados para
investigar o efeito residual dos biofertilizantes e,
outros métodos de aplicação como pulverização foliar para o BIO II.
Palavras-chave: Lactuca sativa L.; Adubação orgânica; Produção agroecológica; SOLVER.
Key words: Lactuca sativa L;
Organic fertilization; Agrocological production;
SOLVER.
Palabras Clave:
Lactuca sativa L.; Fertilización
orgánica; Producción
agroecológica; SOLVER.
INTRODUÇÃO
A alface (Lactuca
sativa L.) é uma hortaliça folhosa rica em nutrientes importantes para a
saúde humana, sendo a mais consumida no Brasil (ZIECH et al., 2014). Seu ciclo de cultivo é curto, o que
demanda intenso processo de fertilização com fontes prontamente assimiláveis de
fertilizantes minerais e sintéticos (PINHEIRO et al., 2019). Neste sentido, os efeitos nocivos da
aplicação demasiada de fertilizantes minerais e sintéticos para o meio ambiente
e saúde humana, tem sido amplamente discutido nas últimas décadas (LAPÔRTO et
al., 2012; PINHEIRO et al., 2019; PERAZZOLI et al., 2020). Desse modo, a
adubação orgânica utilizando biofertilizantes surge como alternativa para atender
as necessidades nutricionais das plantas (PERAZZOLI et al., 2020).
O biofertilizante é um adubo líquido oriundo de digestão
aeróbica ou anaeróbica, a partir da mistura de resíduos orgânicos, sendo acrescidos
ou não de fontes minerais diluídas em água (FERNANDES et al., 2011; BISERRA et
al., 2020). Resíduos orgânicos quando descartados incorretamente promovem
sérios riscos ao meio ambiente, e por consequência, a saúde humana (DUARTE et
al., 2012; BATISTA et al., 2019).
A utilização do biofertilizante ativa a microbiota do
solo, melhora a estrutura física do solo, aeração, retenção de água e aumenta a
fertilidade do solo, além disso, tem sido avaliado como defensivo
fitossanitário no controle de doenças de plantas (SOUSA et al, 2012; MUELLER et al., 2013; ZIECH et al., 2014; SANTOS et al.,
2019). No entanto, uma das principais dificuldades para a obtenção de biofertilizante
otimizado para cada cultura, corresponde ao cálculo para balancear cada
nutriente a partir de diferentes materiais orgânicos e da disponibilidade destes
materiais no agroecossistema. Dessa forma, Fernandes et al. (2011) propõem o
uso da ferramenta SOLVER para maximizar os produtos encontrados no agroecossistema
e formular biofertilizante com sua composição química pré-definida.
Diversos autores têm publicado
resultados satisfatórios no rendimento da alface cultivada com
biofertilizantes, tanto no solo, como em sistema hidropônico (PINHEIRO et al., 2019; MONTEIRO FILHO et al., 2017), porém a utilização deste
material sem a caracterização sanitária pode comprometer o seu uso e causar riscos
à saúde humana (SILVA et al., 2012). Ante
o exposto, o objetivo com este estudo foi formular dois biofertilizantes
otimizados e avaliar sua eficiência agronômica e características sanitárias (microbiológicas
e parasitológicas) no cultivo orgânico da alface crespa.
MATERIAL E
MÉTODOS
O experimento foi conduzido durante o
período de abril a junho de 2016, em campo no Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais (CCAA) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Lagoa Seca - PB (7° 9 ‘S, 35° 52’ W e altitude de 634 m). De acordo com a classificação de Köppen o
clima da região é AS com temperatura mínima de 19 °C e máxima de 28 °C, com
chuvas concentradas entre abril e agosto e precipitação pluvial anual acima de 700
mm (SANTOS et al., 2019). As especificações
químicas do solo utilizado no ensaio encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1. Análise química do solo utilizado no experimento
(0-20cm) |
|||||||||
pH |
Ca+2 |
Mg+2 |
Na+ |
K+ |
H+Al |
SB |
V% |
P |
MO |
1:2,5 |
cmolcdm-3 |
mg.dm-3 |
g.dm-3 |
||||||
6,73 |
4,55 |
1,10 |
0,63 |
159 |
0,68 |
0,81 |
9,62 |
243 |
16,24 |
SB:
Soma de base. V%: Saturação por bases. MO: Matéria Orgânica. |
Foram formulados dois biofertilizantes
otimizados com auxílio da ferramenta SOLVER do Microsoft Office Excel
(FERNANDES et al., 2011) para atender as necessidades nutricionais da alface
utilizando a recomendação quanto aos níveis da extração de nitrogênio, fósforo
e potássio (41,4-5,6-54,3) proposta por Faquin e
Andrade (2004). Os ingredientes utilizados (Tabela 2) foram homogeneizados uma
vez a cada sete dias em reservatórios com capacidade de 200 L e fermentados de
forma aeróbica. Os biofertilizantes se diferenciam em sua composição pela
quantidade dos ingredientes e pela presença da manipueira apenas no BIO II (Tabela
2). A composição química dos ingredientes
utilizados foi baseada nos níveis médios dos produtos.
O delineamento experimental adotado foi em blocos casualisados com o arranjo fatorial (2 x 6), sendo dois biofertilizantes (BIO I e BIO II) e 6 concentrações (0, 20,
40, 60, 80 e 100 mL), com três repetições,
totalizando 36 unidades experimentais. Os blocos foram dimensionados com 12 m
de comprimento e 1 m de largura. Cada bloco foi constituído por 12 unidades
experimentais com espaçamento de 0,25 m entre plantas e filas, a qual as duas
filas de plantas centrais correspondiam à área útil (4 plantas). A irrigação
foi realizada por gotejamento quando necessário.
Os tratamentos foram estabelecidos de acordo com o biofertilizante e suas concentrações, sendo a testemunha
estabelecida com aplicação apenas de água. Os tratamentos foram aplicados de
forma manual no colo da planta, sempre após a irrigação e com intervalo de
cinco dias após o transplante das mudas até atingir o padrão comercial, totalizando
nove aplicações.
Após 96 dias de fermentação foram coletadas amostras
dos biofertilizantes para avaliação das
características sanitárias (microbiológicas e
parasitológicas). As amostras foram encaminhadas para análise no Laboratório de
Microbiologia do CCAA da UEPB, Lagoa Seca - PB. Posteriormente foram
submetidas ao método oficial da Association of Official Analytical
Chemistis (AOAC, 1995), para coliformes totais 35 °C,
termotolerantes 45 °C e Escherichia coli,
respectivamente, utilizando a técnica de tubos múltiplos com diluição seriada a
10-8.
Tabela 2. Composição química e quantitativa dos ingredientes
utilizados no preparo dos biofertilizantes (BIO I e BIO II). |
||||||
|
Composição química dos ingredientes
|
|||||
|
Sangue de aves |
Vinhaça |
C.B |
C.M |
Manipueira |
Água |
Nutrientes |
-------------------------------------------------%------------------------------------------------------- |
|||||
N |
2,55 |
0,012 |
0,190 |
0,000 |
0,043 |
0,001 |
P |
0,05 |
0,005 |
0,190 |
3,700 |
0,026 |
0,000 |
K |
0,19 |
0,040 |
0,020 |
7,001 |
0,180 |
0,022 |
|
Ingredientes utilizados no
preparo de 200 L dos biofertilizantes (Kg) |
|||||
BIO I |
1,012 |
125,00 |
1,000 |
0,010 |
0,000 |
72,978 |
BIO II |
0,673 |
50,000 |
2,500 |
0,100 |
7,208 |
139,519 |
C.B:
coração de bananeira. C.M: cinza de madeira. BIO I: Biofertilizante I. BIO
II: Biofertilizante II. |
Para as análises parasitológicas utilizou-se a técnica
de sedimentação (TAKAYANAGUI et al., 2001). Para tanto, 100 mL de cada
biofertilizante e 250 mL de água destilada e autoclavada
foram homogeneizadas manualmente durante 30 segundos. Posteriormente, esta
suspensão foi filtrada com gaze esterilizada em recipientes previamente
esterilizados, permanecendo em repouso por 24 horas em temperatura ambiente.
Após este período o sobrenadante foi desprezado e o sedimento analisado em
triplicata, por meio de exame em microscópio ótico, utilizando as objetivas de
10 e 40 X para ovos ou larvas de helmintos.
As mudas de alface crespa (Elba Topseed®)
foram produzidas em bandejas de polietileno, utilizando três partes de solo e
uma de esterco como substrato. O transplante ocorreu quando as mudas
apresentaram entre quatro a cinco folhas.
A colheita foi realizada aos 45 dias após o transplante.
Em seguida foram avaliados os seguintes parâmetros: produção total (PT);
produção comercial (PC); número de folhas (NF); massa seca das folhas (MSF);
massa seca do caule (MSC) e massa seca da raiz (MSR). As massas secas foram obtidas
após secagem a 50 °C em estufa de circulação de ar até atingir peso constante.
As variáveis analisadas foram submetidas ao teste de
normalidade de Shapiro e Wilk, e homogeneidade de variâncias de Bartlett.
Posteriormente, foram submetidas à análise de variância (ANOVA) pelo teste F e no
caso de significância, realizou-se análise de regressão polinomial para
desdobramento dos efeitos das concentrações dos biofertilizantes. O teste de
Tukey (p ≤ 0,05) foi utilizado para comparar as médias dos tipos de
biofertilizantes. Para estas análises utilizou-se o software estatístico SISVAR (FERREIRA, 2011).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Após 96 dias da preparação, o BIO I apresentou
contaminação com coliformes e parasitas relacionados à saúde humana como Ascaris lumbricoides, Ancilostomideo spp., Entamoeba histolystica e Entamoeba
coli (Tabela 3 e 4).
Observa-se que o BIO II não apresentou contaminação
(Tabela 3 e 4) mesmo utilizando em sua formulação a mesma água do BIO I. Este
resultado pode estar relacionado à formulação (ingredientes) dos
biofertilizantes, uma vez que apenas o BIO II teve manipueira em sua formulação
(Tabela 2).
Tabela 3. Número mais provável (NMP 100 mL-1) de
coliformes totais, coliformes termotolerantes e presença de Escherichia coli e Salmonela spp., após 96 dias de
digestão aeróbica dos biofertilizantes (BIO I e BIO II). |
||||||||
|
Coliformes totais-1 (35 °C) |
Coliformes termotolerante-1
(45 °C) |
Intervalo de confiança
(95%) |
Escherichia coli |
Salmonela spp. |
|||
|
CT |
NMP 100 mL-1 |
CT |
NMP 100 mL-1 |
Mínimo |
Máximo |
|
|
BIO
I |
5-2-0 |
50 |
5-2-0 |
50 |
20 |
170 |
- |
- |
BIO
II |
0-0-0 |
<2 |
0-0-0 |
<2 |
- |
- |
- |
- |
CT: combinação de tubos.
NMP: número mais provável. |
A manipueira é um subproduto
do beneficiamento da mandioca para obtenção de farinha ou fécula, tendo em sua
composição açúcares, amidos, proteínas, sais e o ácido cianídrico (HCN) (DUARTE
et al., 2012). Como a manipueira foi introduzida
apenas na formulação do BIO II (Tabela 2), provavelmente houve uma redução na
disponibilidade de oxigênio dissolvido naquele meio, causando a morte de
organismos aeróbicos (DUARTE et al., 2012), justificando a ausência dos micro-organismos
patogênicos no BIO II e presença no BIO I. Outra hipótese é a concentração de
HCN na manipueira, que ao entrar na célula do organismo
consegue interromper o sistema respiratório através do bloqueio da enzima citrocromo oxidase promovendo anoxia
celular (LINHARES et al., 2019). Ressalta-se ainda que, para a formulação de
BIO II utilizou-se a manipueira fresca, sendo esta
condição responsável pelos maiores níveis de HCN.
Tabela 4. Parasitas encontrados nos biofertilizantes (BIO I e
BIO II) após 96 dias de digestão
aeróbica. |
|
Biofertilizantes |
Parasitas encontrados |
BIO I |
Ovos
de Ascaris lumbricoides Ovo
e larva de Ancilostomideo
spp. Entamoeba histolystica Entamoeba coli |
BIO II |
- |
Para este estudo, os biofertilizantes foram aplicados
no solo, porém, como o BIO II não apresentou nenhum tipo de contaminação, novos
estudos poderiam ser realizados utilizando este biofertilizante como fertilizante
foliar. Ressaltando que são resultados de suma importância, uma vez que a
alface é uma hortaliça folhosa e seu consumo é principalmente in natura.
Com base na análise de variância (Tabela 5), observa-se
que para o efeito isolado do biofertilizante, houve interação
significativa (p < 0,01) apenas para a massa
seca da raiz (MSR). No entanto, o fator concentração (C) influenciou
isoladamente as variáveis de produção total (PT), produção comercial
(PC), número de folhas (NF), massa seca das folhas (MSF), massa seca do caule
(MSC) e não teve efeito sobre a massa seca da raiz (MSR). Houve interação significativa entre os
biofertilizantes versus as concentrações (B x C) para PT, PC, NF, MSC e MSR,
mas não houve interação significativa para a MSF (Tabela 5).
Tabela 5.
Análise de variância das variáveis:
produção total (PT), produção comercial (PC), número de folhas (NF), massa
seca das folhas (MSF), massa seca do caule (MSC) e massa seca da raiz (MSR)
em função dos tipos e concentrações de biofertilizantes. |
|||||||
|
|
Quadrado Médio |
|||||
Fonte de Variação |
GL |
PT |
PC |
NF |
MSF |
MSC |
MSR |
Biofertilizante (B) |
1 |
843,12ns |
619,83ns |
0,02ns |
0,91ns |
0,01ns |
0,19** |
Concentração (C) |
5 |
815,86* |
1112,32** |
12,80** |
1,80* |
0,07** |
0,02ns |
Interação: B x C |
5 |
1310,53** |
581,80* |
10,16** |
0,99ns |
0,05** |
0,24** |
C dentro B1 |
|
|
|
|
|
|
|
Linear |
1 |
1796,81** |
900,93* |
35,61** |
- |
0,23** |
0,52** |
Quadrático |
1 |
9,30ns |
790,67* |
3,63ns |
- |
1,1e-4ns |
0,02ns |
Desvio |
3 |
32,52ns |
190,64ns |
0,82ns |
- |
0,03** |
0,03ns |
C dentro B2 |
|
|
|
|
|
|
|
Linear |
1 |
752,22ns |
448,10ns |
2,81ns |
- |
4,8e-5ns |
0,21** |
Quadrático |
1 |
4236,56** |
3715,43** |
56,62** |
- |
0,13** |
0,11* |
Desvio |
3 |
1246,43** |
681,21* |
4,51ns |
- |
0,05** |
0,12** |
Blocos |
2 |
959,43* |
505,34 |
10,32* |
0,10ns |
2,0e-4ns |
0,11** |
Resíduo |
22 |
212,42 |
148,83 |
2,01 |
0,50 |
0,04 |
0,01 |
CV (%) |
|
13,82 |
12,74 |
9,76 |
16,54 |
15,15 |
13,40 |
Média geral |
|
105,40 |
95,79 |
9,00 |
16,55 |
0,44 |
0,95 |
GL:
Grau de Liberdade; **, *, ns
significativo a (p < 0,01), (p
< 0,05) e não significativo, respectivamente. |
A aplicação do BIO I promoveu aumento
linear da produção total, número de folhas, massa seca do caule e da raiz a uma
taxa de 0,2925 g; 0,0414 und; 0,0033 g e 0,005 g a cada
1 mL de biofertilizante aplicado, respectivamente. Para a produção comercial,
os dados se ajustaram melhor ao modelo de regressão quadrático, uma vez que a aplicação
do BIO I promoveu a maior média na concentração de 40 mL com 107,40 g. Com uso
do BIO II, os dados das variáveis analisadas ajustaram-se ao modelo de
regressão quadrática, apresentando como maiores médias: 128,71 g (43,77 mL de
biofertilizante); 127,74 g (60 mL de biofertilizante); 19 g (46,42 mL de
biofertilizante); 0,528 g (47,77 mL de biofertilizante) e 1,002 g (30 mL de biofertilizante) para produção total (Figura 1A),
produção comercial (Figura 1B), número de folhas (Figura 1C), massa seca do
caule (Figura 1D) e massa seca de raiz (Figura 1E), respectivamente.
Estudando o cultivo de alface fertirrigada com vinhaça, Darli
et al. (2014) observaram incrementos na produção total, produção comercial e
número de folhas. Dessa forma, ao observar a formulação dos biofertilizantes
(Tabela 2), verifica-se que ambos receberam vinhaça em sua composição, no
entanto, o BIO I recebeu 75 L a mais do que o BIO II. Ao analisar a interação
do BIO I, observa-se que os resultados deste estudo corroboram com o observado
por Darli et al. (2014) para a produção total (Figura
1A), produção comercial (Figura 1B) e número
de folhas (Figura 1C).
Para o presente ensaio a vinhaça foi um
ingrediente do biofertilizante e não aplicado de
forma isolada, ou seja, as interações químicas dos ingredientes podem ser
responsáveis pelos resultados obtidos. Observa-se ainda que o sangue apresenta
maior concentração de nitrogênio, e o BIO I também recebeu a maior quantidade deste
ingrediente (Tabela 2). O nitrogênio é responsável pela máxima expansão celular
na planta e consequentemente, promove maior aporte de matéria fresca (TURAZI et
al., 2006), no entanto, este aporte não foi observado quando se utilizou o BIO
I em relação ao BIO II, enfatizando que estas interações podem justificar os resultados
de massa fresca.
Figura 1. Produção total (A), produção comercial (B), número de
folhas (C), massa seca do caule (D) e massa seca da raiz (E) da alface em
função da interação entre tipos e concentrações de biofertilizante. Médias
seguidas de mesma letra minúscula para os biofertilizantes não diferem entre si
dentro da mesma concentração.
A utilização de biofertilizante
promove a fertilidade dos agroecossistemas, não somente pelo nível específico
de determinado nutriente, mas por meio de sua diversidade, composição mineral e
capacidade de armazená-los para o desenvolvimento das plantas (MUELLER et al.,
2013; ZIECH et al., 2014). Além
disso, os biofertilizantes possuem ácidos húmicos que tem
sido relacionado com o desenvolvimento de aspectos agronômicos importante das
culturas, como o desenvolvimento radicular (MONTEIRO FILHO et al., 2017).
Ressalta-se ainda que a relação entre a fonte
nutricional (biofertilizante) e a fertilidade do solo no momento da aplicação é
um dos principais fatores que influenciam os resultados obtidos para o rendimento
da cultura (PINHEIRO et al., 2019). Assim, como a transformação dos nutrientes do solo pelos
micro-organismos, que também podem atuar de forma antagônica ou sinérgica na
disponibilidade nutricional para a cultura (SILVA et al., 2019a; 2019b).
Ziech et al. (2014)
investigando diferentes fontes de adubação, constataram que não houve diferença
significativa entre o composto orgânico, fertilizante mineral e o tratamento controle
(sem adubação) no primeiro cultivo da alface. Os autores justificaram estes
resultados a partir da fertilidade natural da área experimental que supriu as
exigências nutricionais da cultura. No presente estudo também pode se observar
uma boa fertilidade da área (Tabela 1) e avaliação dos biofertilizantes apenas
no primeiro ciclo de cultivo da alface, o que pode justificar os resultados
obtidos para a massa seca das folhas (Figura
2).
As hortaliças folhosas
respondem bem a adubação orgânica e consequentemente, apresentam maior aporte
em suas características agronômicas (OLIVEIRA et al., 2010). No entanto, é
preciso considerar o cultivo sucessivo, que promove maior resultado em
consequência da mineralização promovida pelos micro-organismos que habitam o
solo (ZIECH et al., 2014; PINHEIRO et al., 2019).
Figura 2. Massa seca das folhas (B) da alface em função do
efeito isolado das concentrações do biofertilizante.
A resposta da produtividade da cultura com resíduos
orgânicos está estritamente ligada à concentração da fonte nutricional e a
composição dessas fontes. Podendo ocorrer desde aumento significativo na
produtividade, até queda na qualidade da cultura. Segundo Biserra
et al. (2020) a aplicação de 4 L de biofertilizante (formulado apenas com água e esterco
bovino) por 15 dm-3 de solo promoveu maior acúmulo de massa seca de
forragem de raiz do capim-piatã (Brachiaria brizantha cv.
BRS Piatã),
no entanto, quando se aplicou o biofertilizante houve menores concentrações de
fibra, influenciando negativamente na qualidade da planta. Silva et al.
(2019b) relataram que a utilização de biofertilizante promoveu o rendimento da
alface, no entanto, sua concentração e ingredientes que compõe a formulação
precisam ser consideradas, pois podem afetar negativamente o desempenho da
cultura.
Os resultados encontrados nesse estudo mostram que o
uso de resíduos orgânicos gerados no meio rural se justifica não apenas pelo
aumento no rendimento das culturas, mas também por uma possível diminuição dos
custos com a adubação e maximização da reciclagem de nutrientes no próprio
agroecossistema. Segundo Batista et al. (2019), o uso de biofertilizantes líquidos via
aplicação no solo tem demostrado viabilidade econômica e sustentabilidade em relação
ao uso de fertilizantes minerais, tornando-se assim uma importante
ferramenta para sustentabilidade agrícola.
Esta autonomia é essencial para a agricultura
familiar, uma vez que o cultivo da alface tem expressiva importância econômica,
por ser de fácil manejo, ciclo curto, apresentar alta produtividade e rápido
retorno financeiro, além de promover a segurança e soberania alimentar da
família.
CONCLUSÕES
O BIO II não teve
contaminação bacteriana e parasitológica, enquanto o BIO I apresentou
contaminação com coliformes totais e fecais, Ascaris lumbricoides, Ancilostomideo spp., Entamoeba histolystica e Entamoeba coli.
A aplicação do BIO I
promoveu aumento linear na produção total, número de folhas, massa seca do
caule, massa seca da raiz; e para a produção comercial o maior rendimento foi obtido
na concentração de 40 mL. A aplicação do BIO II promoveu os maiores rendimentos
nas concentrações de 40 mL e 60 mL para as variáveis analisadas.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação
Científica (PIBIC) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
REFERÊNCIAS
AOAC, Association of Official
Analytical Chemistry. Offcial methods of analysis of
AOAC international. v.2, 16 ed., Arlington, 1995.
BISERRA, T. T.; PAIVA,
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e valor nutritivo de Capim-Piatã submetido à adubação orgânica e química. Nativa, v.
8, n. 1, p. 1-7, 2020. 10.31413/nativa.v8i1.7450.
BATISTA, G. S.; SILVA,
J. L.; ROCHA, D. N. S.; SOUZA, A. R. E.; ARAUJO, J. F.; MESQUITA, A. C.
Crescimento inicial do meloeiro em função da aplicação de biofertilizantes
no cultivo orgânico. Revista
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