Compostos orgânicos voláteis induzidos por herbivoria simulada em plantas de cana-de-açúcar
Volatile organic
compounds induced by simulated herbivory in sugarcane plants
Demetrios José de Albuquerque Oliveira1*,
Thyago Fernado Lisboa
Ribeiro2, Karlos Antônio Lisboa Ribeiro
Junior3, João Gomes da Costa4, Jaim
Simões de Oliveira5, Henrique Fonseca Goulart6*
1Doutorando em Química e Biotecnologia, Universidade Federal de Alagoas,
Maceió, +55 82 999210821, demetriusufal@gmail.com 2Doutor
em Química e Biotecnologia, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, +55
991879131, tflribeiro@gmail.com, 3Professor
Visitante, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, +55 82 998292222, kalrj@qui.ufal.br, 4Pesquisador,
Embrapa Alimentos e Territórios, Maceió, +55 82 91260682, joao-gomes.costa@embrapa.br, 5Professor
Adjunto, Universidade Tiradentes, Maceió, +55 996557334, jaimsimoes@hotmail.com, 6Professor
Adjunto, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, +55 82 99828097, fonsecagoulart@gmail.com
Recebido: 04/02/2020; Aprovado: 08/06/2020
Resumo:
A cana-de-açúcar é uma cultura de grande
importância para a agricultura e economia brasileira. Essa cultura pode sofrer
ataques de diversas pragas que causam danos econômicos severos no tocante a
produtividade.
No presente trabalho
investigamos os Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
liberados por plantas de cana-de-açúcar submetidas a dois tratamentos de herbivoria simulada. Na Herbivoria
Simulada Única (HSU), a planta é danificada mecanicamente uma única vez,
entretanto na Herbivoria Simulada Dupla (HSD), a
planta é danificada mecanicamente por duas vezes. Os experimentos foram avaliados em
três tempos diferentes (24, 48 e 72 horas). As plantas apresentaram diferentes
perfis de COVs quando submetidas aos tratamentos. A (Z)-jasmona e a sulcatona foram emitidos em maior quantidade pelas plantas
do tratamento HSD após 24 e 48 horas de indução sendo que 48 horas após a
indução que esse composto apresentou diferença significativa em relação
quantidade emitida pelas plantas do tratamento HSU. Esses achados fornecem uma
indicação de que as plantas são capazes de implementar defesas contra o ataque
de herbívoro, pela emissão de compostos que repelem insetos e atraem parasitóides e ou predadores.
Palavras-chave: Saccharum officinarum;
Diatrea saccharalis;
(Z)-jasmona; Defesa indireta de plantas
Abstract: Sugarcane is a crop
of great importance for agriculture and the Brazilian economy. This crop can be
attacked by several pests that cause severe economic damage in terms of
productivity. This work aimed to investigate the volatile compounds released by
sugarcane plants submitted to two treatments of simulated herbivory. In the
Single Simulated Herbivory (SSH), the plant is mechanically damaged only once,
however in the Double Simulated Herbivory (DSH), the plants are mechanically
damaged twice. The experiments were evaluated at three different times (24, 48,
and 72 hours). The plants presented different profiles of VOCs when submitted
to the treatments. The (Z)-jasmone and sulcatone were
emitted in greater quantity by the plants of the HSD treatment after 24 and 48
hours of induction, and 48 hours after the induction this compound showed a
significant difference to the quantity emitted by the plants of the HSU
treatment. These findings indicate that plants can implement defenses against
herbivore attacks, by emitting compounds that repel insects and attract
parasitoids and or predators.
Key
words: Saccharum officinarum; Diatrea saccharalis;
(Z)-jasmone; Indirect plant
defense
INTRODUÇÃO
A cana-de-açúcar é uma monocotiledônea pertencente à
família Poaceae. Seus atuais cultivares são híbridos interespecíficos, sendo
que nas constituições genéticas participam as espécies Saccharum
officinarum, Saccharum spontaneum, Saccharum sinense, Saccharum barberi, Saccharum robustum e Saccharum
edule (JADOSKI et al.., 2010). Desde
a sua introdução no Brasil a cana-de-açúcar tornou-se uma cultura de extrema importância para a agricultura e economia brasileira,
sendo que na safra 2018/2019 uma produção de 620,44 milhões de toneladas e sendo
estimado para a safra 2019/2020 uma produção de 622,27 milhões de toneladas. A
exploração dessa cultura transformou o Brasil em um dos maiores produtores de
açúcar e etanol do mundo (CONAB, 2020), porém
essa cultura pode sofre ataque de diversas pragas,
fato que diminui seu potencial produtivo (FERREIRA et al., 2018). Dentre as pragas que
atacam essa cultura destacam-se como as principais; a Broca
da cana-de-açúcar (Diatrea saccharalis) (Fabricius 1794, Lepidoptera: Crambridae) e a Broca-gigante Telchin licus (Drury, 1773) (Lepidoptera: Castniidae)
que causam perdas econômicas significativas (CRISTOFOLETTI
et al., 2018; SILVA JUNIOR et al., 2008).
As plantas, ao sofrerem algum tipo de estresse
biótico, são capazes de combater esse estresse por meio de mecanismos
defensivos distintos (WAR
et al., 2012) divididos em duas categorias, denominadas em diretos (CHEN, 2008), quando
incidem diretamente sobre o
inseto inimigo e indiretos (ALJBORY; CHEN, 2018), quando atua na atração
inimigos naturais dos insetos ou permita que a planta se defenda de modo mais
eficaz. Essas duas categorias são ainda divididas em mecanismo constitutivos (SHAO et al., 2019) e
induzidos (ATAIDE et al., 2016). No
mecanismo denominado constitutivo, as plantas usam as defesas já existentes
como, fitoanticipinas (TIKU,
2020), tricomas e ceras cuticulares presentes no tecido foliar, esse
tipo de defesa é independente do tipo de estresse. O mecanismo induzido depende
de um estímulo externo (PAUDEL et al., 2019) como fitoalexina (RASHID et al., 2017)
e compostos orgânicos voláteis (YANG et al., 2020) e não voláteis (KORTBEEK et al., 2019). Os voláteis emitidos por plantas quando
sofrem herbivoria de insetos são denominados
compostos orgânicos voláteis (COVs) induzidos por
herbívoros, esses podem atuar na atração de inimigos naturais (DICKE; BALDWIN, 2010)
como também na sinalização entre plantas vizinhas e entre partes da mesma
planta (HIRAO et al., 2012). Em um outro
mecanismo de defesa, logo após um primeiro estímulo ou indicação de estresse
futuro, as plantas, devido ao armazenamento dessa informação de estresse, são
capazes de responder de forma mais aprimorada, rápida e eficiente a ataques
futuros. Esse sistema de defesa induzida é denominado como defesa de “memória”,
estado de alerta ou efeito priming (CONRATH et al., 2006; HILKER et al., 2016; NÁVAROVÁ
et al., 2013). Nesse estado pode ocorrer a transcrição de genes de
defesa (FROST et al., 2008; PENG et al., 2011)
e a produção de metabólitos secundários (HIRAO
et al., 2012). O efeito priming é um
processo que pode ser desencadeado por agentes patogênico ou benéficos, (CONRATH, 2009; NÁVAROVÁ et al., 2013), fito hormônios, compostos
orgânicos voláteis (HIRAO et al., 2012), oviposição de insetos (KIM et al.,
2011), podendo ser ainda desencadeado pelo tratamento de
sementes com elicitores de defesa de plantas (WESTMAN et al., 2019) se estendendo por intervalos
de tempo curtos ou longos (HILKER et al., 2016) e podendo ser transmitido ao longo das gerações (RASMANN et al., 2012).
O entendimento da dinâmica de respostas a diferentes
estímulos estressantes é importante para se entender como a planta é capaz de
se defender de ataques de insetos herbívoros. Uma vez entendido esses
mecanismos pode-se
usar os COVs como uma ferramentas, em programas de melhoramento
genético para aumentar a proteção de culturas contra ataques de insetos (TAMIRU et al., 2015) já que mesmo com uso de
agrotóxicos, o ataque de insetos ainda causa perdas econômicas significativas
na produção agrícola (OLIVEIRA et al., 2014).
Esse tipo de abordagem é vantajosa para o
desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável uma vez que pode fornecer
controle biológico de pragas e impedir consequentemente o ataques de insetos
herbívoros (PICKETT; KHAN, 2016)
Compreender o processo de resposta das plantas de
cana-de-açúcar submetidas a herbivoria simulada
utilizando os elicitores presentes no seu regurgito
da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) auxiliará a desenvoler
ferramentas que permitirão o estabelecimento de cultivares que possam ser
capazes de se defenderem de forma ágil e eficiente contra os estresses causados
pelo ataque de insetos. Nesta perspectiva o presente trabalho teve como intuito
identificar e verificar as variações nas emissões os COVs
emitidos por plantas de cana-de-açúcar submetidas a herbivoria
simuladas em diferentes tempos de indução.
MATERIAL E MÉTODOS
Obtenção das plantas e dos insetos
As
plantas de cana-de-açúcar utilizadas no estudo foram da cultivar comercial SP
79 1011, fornecidas
pela Usina Triunfo Agro-Industrial LTDA,
situada na cidade de Boca da Mata, Alagoas, a 132 m de altitude e coordenadas
geográficas de 09º 38` 27,6” de latitude sul e 36º 12` 12,6” de longitude
oeste. Todo o material vegetal foi
propagado vegetativamente (cortes no caule), plantando um pedaço de estaca em
vasos de 0,5 L de plástico, utilizando-se solo de envasamento comercial. As
plantas foram cultivadas em casa de vegetação a uma temperatura de 25 ± 2 ° C e
umidade relativa controlada de 70%. As plantas foram regadas manualmente por 40
dias. Os insetos utilizados no estudo foram lagartas de Diatraea saccharalis fornecidos pelo
setor de entomologia da Usina Triunfo Agro-Industrial
LTDA. Esses insetos foram mantidos em dieta artificial também fornecida pelo
mesmo setor da empresa. O experimento foi realizado no Laboratório de
Pesquisa em Recursos Naturais (LPqRN) situado no
Campus A. C. Simões na Universidade Federal de Alagoas.
Coleta e tratamento do regurgito
O
regurgito foi coletado das lagartas de D. saccharalis no terceiro instar (12 dias após a eclosão).
A coleta foi efetuada com o auxílio de pipetas micrométricas, pressionando-se
levemente o dorso das lagartas. Imediatamente após a coleta, o regurgito foi
armazenado em banho de gelo com o intuito de retardar à atividade enzimática,
esse procedimento foi descrito por Mori et al. (2001), para preservar os
compostos elicitores, da atividade enzimática
responsável pela degradação dos compostos de interesse. A cada 50µL coletados o
regurgito foi aquecido a 90°C por 10 min, para inativar as enzimas hidrolíticas
(ALBORN et al., 2003) seguido da adição de tampão fosfato de sódio pH 8,0 para
uma concentração final de 5 mM. Logo após, a amostra
foi centrifugada a 20000xg por 15 min e a fração solúvel armazenada em tubos eppendorf de 1,5 mL à -80°C.
Herbivoria simulada
As
plantas foram divididas em dois grupos de cinco indivíduos. Cada grupo foi
submetido a um tratamento distinto. Em um dos grupos foi efetuada a herbivoria simulada única, ou seja, as plantas foram
danificadas mecanicamente e submetidas a aplicação inicial de tampão fosfato e
72 horas após a aplicação do tampão aplicação de regurgito uma única vez,
formando o grupo (HSU). No outro grupo foi efetuada a herbivoria
simulada dupla, ou seja, as plantas foram danificadas mecanicamente e
submetidas a aplicação do regurgito duas vezes, uma vez imediatamente após o
dano mecânico e outra vez após um período de 72 horas formando o grupo (HSD).
Inicialmente
no grupo HSU três folhas cada planta foi danificada mecanicamente com o auxílio
de uma “roda de aço dentada” de diâmetro de 1,9 cm e submetida a aplicação de 2
μL de fosfato de sódio 5 Mm, pH 8,0 dando um total de
6 μL por planta. De modo semelhante no grupo HSD três
folhas de cada planta foram danificadas com o auxílio de uma “roda de aço
dentada” e submetidas a aplicação de 2 μL de
regurgito totalizando 6µL por planta.
Os
grupos foram então colocados em diferentes casas de vegetação pertencentes ao LPqRN para evitar comunicação entre as plantas. Para se
efetuar a segunda herbivoria simulada respeitou-se um
período de aclimatação das plantas de 72 horas. Depois desse período, mais uma
vez foram feitos danos nas folhas das plantas dos dois grupos e aplicou-se 2 μL de regurgito nas folhas de cada planta do grupo HSU e
nas folhas de cada planta do grupo HSD. Desse modo, no grupo HSU foi aplicado
regurgito uma única vez e no grupo HSD foi aplicado regurgito duas vezes.
Coleta dos compostos orgânicos voláteis
das plantas
As
plantas tiveram seus voláteis coletados por meio do sistema de aeração. Para
isso foram utilizadas sacolas Cooking Bags [poli(tereftalato de etileno – PET], volume aproximado de
A cromatografia a gás acoplada à espectrometria
de massas
Os
extratos obtidos na aeração foram analisados por cromatografia gasosa
acoplada a espectrometria de massa (GC/MS QP 2010 Plus) (SHIMADZU), usando uma
coluna Nist-05 (30 m × 0,25 mm d., Espessura de filme 0,25 μm)
e hélio como gás de arraste. A temperatura do forno foi ajustada para iniciar a
50 ºC e subir para 250 ºC a uma taxa de 5ºC / min, com as
temperaturas do injetor e do detector fixadas em 250 ºC. A fonte de
ionização utilizada foi o impacto de elétrons (IE) com 70 eV
(elétron-volts), com a temperatura do detector da fonte de íons a 200 ° C. A
temperatura da interface foi de 250 °C, os valores de fragmentação registrados
foram de varredura de 35 m / z a 500 m / z e o tempo total de execução foi de
46,5 minutos. Os compostos foram identificados por comparação de seus espectros
de massa com as bibliotecas comerciais NIST08, NIST08s e WILEY229.
Análise estatística
Os
dados quantitativos dos COVs emitidos pelas plantas
dos dois grupos foram submetidos a testes de normalidade Kolmogorov-Smirnov
e Shapiro-Wilk e, como não foram normais, foram submetidos ao teste de Wilcoxon-Mann-Whitney (p <0,05). As análises foram
realizadas utilizando o software GENES (CRUZ, 2013).
RESULTADOS
E DISCUSÃO
As
plantas de cana-de-açúcar submetidas aos tratamentos HSD e HSU emitiram um
total de 12 COVs (tabela 1). Esses COVs apresentaram variações nas suas quantidades relativas
em relação aos dois tratamentos nos três tempos estudados (figuras 1, 2 e 3).
Tabela 1.
Média percentual da área dos picos de compostos voláteis emitidos por plantas
de cana-de-açúcar submetidas aos tratamentos de herbivoria
simulada. |
|||||||
|
|
Média
Percentual da Área |
|||||
|
|
HSD |
HSU |
||||
Compostos |
TR |
24 h |
48 h |
72 h |
24 h |
48 h |
72 h |
Sulcatona |
15,353 |
23745,8 |
137641,6 |
52157,2 |
- |
89020,0 |
- |
Octanal, |
15,839 |
- |
32489,2 |
12018,6 |
- |
40938,2 |
49348 |
Limoneno |
16,978 |
- |
67197,2 |
26809,4 |
- |
56295,0 |
226141,4 |
Undecano |
18,752 |
232332,8 |
126232,2 |
159119,4 |
42617,3 |
264376,8 |
227860,7 |
Dodecano |
20,968 |
196443 |
225051 |
83721,8 |
196463 |
245319,6 |
- |
(Z)-Jasmona,
|
24,412 |
89278,2 |
79663,6 |
71843,6 |
25450,8 |
684058,4 |
- |
1,4-diacetilbezeno |
25,178 |
60208,2 |
26056,6 |
15341,4 |
42716,6 |
54735,8 |
78567,4 |
(E)-geranilacetona |
25,470 |
71961,8 |
181758,6 |
33551,6 |
203954,2 |
159852,2 |
64284,2 |
Norfitano |
29,581 |
126171,2 |
- |
6082 |
72386,7 |
36189,8 |
16101,8 |
Heneicosano |
31,243 |
23301,1 |
10779,1 |
19074,6 |
6030,6 |
3378,1 |
31365,2 |
Ácido
ftálico |
31,788 |
222163 |
260855,2 |
71853,6 |
244118,8 |
152893 |
191922,6 |
Esqualeno |
44,294 |
471457,8 |
542345 |
176612 |
773177,6 |
- |
1018454,4 |
TR = tempo de retenção; HSD = herbivoria simulada dupla; HSU = herbivoria
simulada única
Um
total de 6 compostos no total foram emitidos em maior concentração pelas
plantas do tratamento HSD 24 horas após a indução. Não foi possível observar diferença
significativa entre as quantidades de todos os compostos emitidos pelas plantas
dos dois tratamentos. Desse modo apenas para (E)-geranilacetona
p = 0,05 observou-se significância estatística para diferença na quantidade
emitida pelas plantas do tratamento HSU (figura 1). Trabalhos anteriores demonstraram que, em resposta a herbivoria, plantas tendem a emitir maiores quantidade de COVs do que em plantas sem infestação (MARTINS; ZARBIN, 2013).
Nossos resultados demonstraram que a exposição das plantas ao tratamento HSD
aumenta a quantidade de COVs logo após o ferimento da
planta (24 horas) e que essa quantidade vai diminuindo ao longo do tempo, como
pode ser observado nas plantas do trtamento HSD 48
horas (figura 2). Nossas constatações sugerem que as plantas podem responder a herbivoria simulada aumentando o número de compostos
emitidos nas primeiras horas após a indução.
Smith e Beck (2013) demonstraram que plantas não danificadas
e danificadas mecanicamente por diferentes métodos emitiram 28 COVs diferentes. Em plantas de Trifolium pratense (L.) a quantidade COVs emitidos
pelas plantas danificadas mecanicamente em condições de laboratório foi 21
compostos, já em condições de campo as plantas danificadas mecanicamente
emitiram um total de 15 compostos (KIGATHI et al., 2009). Em trabalho com plantas da
subtribo Centaureinae
(Asteraceae) um total de 49 COVs foram emitidos (SMITH; BECK, 2015).
Esses resultados indicam que a quantidade de COVs
emitidos por plantas submetidas ao dano mecânico é bastante variável e
dependente das condições experimentais e da espécie de planta estudada.
Após
48 horas de indução as plantas do tratamento HSU emitiram 9 compostos voláteis
em maior quantidade contra apenas 3 compostos emitidos pelas plantas do
tratamento HSD (figura 2). Entre os 9 emitidos pelas plantas HSU apenas ácido ftálico
p = 0,04 e esqualeno p = 0,05 apresentaram diferença
significativa. Nas plantas HSD, dos 3 compostos emitidos em maior quantidade
apenas a (Z)-jasmona p = 0,02 apresentou diferença
significativa. A liberação de
(Z)-jasmona ocorre em plantas promovendo a atração de
polinizadores (MATTHES et al., 2010; RÖSE AND
TUMLINSON, 2005). Sendo também liberada após a herbivoria
por insetos em diversas plantas, (LOUGHRIN et
al., 1995; Paré and TUMLINSON, 1997; RÖSE AND TUMLINSON, 2004). Nas
plantas, a (Z)-jasmona é sintetizada a partir do
ácido α-linolênico (AL) através de duas vias biossintéticas
usando o ácido jasmônico (AJ) e o ácido iso-12-oxo-fitodienóico (iso-OPDA) como principais
intermediários (DĄBROWSKA;
BOLAND, 2007; MATSUI et al., 2017) sugerindo que ao menos a via
dependente de ácido jasmonico está sendo ativada. A
(Z)-jasmona demonstrou ser repelente a pulgões Sitobion avenae
(Fabricius) (Homoptera: Aphididae)
em plantas de trigo (BRUCE et al., 2003)
e ao pulgão Nasonovia ribis-nigri.
Esse composto teve efeito em dois agentes de controle natural dos pulgões Phorodon humuli, Metopolophium dirhodum e Nasonovia ribis, demonstrando
ser atrativo para o predador Coccinella septempunctata
(Coleoptera: Coccinellidae)
e quando aplicado em Vicia faba tornou essas plantas mais atrativa para o
parasitoide Aphidius ervi (Hymenoptera: Braconidae) (BIRKETT et al., 2000). Corroborando com nossos
resultados, que mostraram que (Z)-jasmona teve maior
emissão nas plantas do tratamento HSD 24 e 72 horas, esse composto foi liberado
quando secreções orais de larvas de Manduca
sexta, foram aplicadas a folhas de plantas do gênero Nicotina danificadas mecanicamente (LOU; BALDWIN, 2003), sugerindo que em nosso
estudo esse composto pode ser um importante mecanismo na defesa das plantas em
resposta ao tratamento HSD.
Após 72 horas de indução as plantas do tratamento
HSD emitiram 3 compostos voláteis em maior concentração em relação as plantas
do tratamento HSU que emitiram apenas 9. Os voláteis sulcatona,
dodecano e (Z)-jasmona foram
emitidos em maior quantidade pelas plantas do tratamento HSD (figura 3).
Estudos anteriores indicaram que a identidade de voláteis não se alterou com o
passar do tempo e que essa constância está relacionada com especificidade de
resposta da planta (PAUDEL TIMILSENA et al.,
2020). Em nosso estudo observamos variação no número e na identidade dos
COVs emitidos após herbivoria
simulada dupla, já que COVs inicialmente emitidos em
maior quantidade no tratamento HSD tiveram sua quantidade diminuída ou deixaram
de ser emitidos com o passar do tempo, sugerindo que a efetividade da resposta
varia ao longo dos dias.
Figura
1.
Áreas média dos picos de COVs de plantas
submetidas aos tratamentos HSU (Herbivoria simulada
única) e HSD (Herbivoria simulada dupla) após 24
horas de indução.
Figura
2.
Áreas média dos picos de COVs de plantas submetidas
aos tratamentos HSU (Herbivoria simulada única) e HSD
(Herbivoria simulada dupla) após 48 horas de indução.
O asterisco sobre o eixo do gráfico indica diferença significativa pelo teste
de wilcoxon (*p=0,02).
Figura
3.
Áreas média dos picos de COVs de plantas submetidas
aos tratamentos HSU (Herbivoria simulada única) e HSD
(Herbivoria simulada dupla) após 72 horas de indução.
Em alguns casos esses COVs
podem ser produzidos em maior quantidades pelas plantas do tratamento HSU em
todos os tempos de coleta, como no caso da (E)-geranilacetona,
indicando que a biossíntese também é ativa se as plantas são feridas apenas uma
vez. No entanto, houve claras diferenças na quantidade e proporção dos
voláteis, alterando o buquê de COVs de acordo com o
tratamento. Isso indica que, embora aparentemente as mesmas vias Biosintética
possam estar ativas na planta com ou sem lesão, deve haver uma mudança
significativa envolvendo as vias e/ou as enzimas terpeno-sintase ativadas
especificamente após a herbivoria. Em outros casos a
presença desses compostos não foi detectada no início da coleta, porém, à medida
que o tempo de coleta foi se prolongando, sua emissão foi aumentando apenas no
tratamento HSU, como no caso do esqualeno. Essas
constatações sinalizam que estes compostos podem ser importantes para a defesa
da planta logo após a ocorrência do dano.
Trabalhos anteriores identificaram diferentes
alcanos liberado por plantas (GRUBER et al.,
2009; JAKOBSEN et al., 1994), atuando ainda como pistas para o parasitóide Trybliographa.
rapae ao procurar Brassicaceae rapa sub sp.
expostas a herbivoria radicular e/ou foliar por Delia
radicum e Pieris
brassicae O fato de alcanos como heneicosano e dodecano serem
emitidos pelas plantas submetidas ao tratamento HSD, o heneicosano
após 24 e 48 horas de indução e dodecano após 72
horas de indução, nos indica que esses compostos possam ser
utilizados pelas plantas em suas estratégias de defesa.
O 1,4-diacetilbezeno foi
detectado no buque de volateis de frutos de tomate (RISTICEVIC et al., 2020). Em nosso trabalho esse composto estava presente em maior quantidade nos voláteis da plantas do tratamento
HSD após 24 horas de indução. Para Tikunov et al. 2005 a biossíntese dos derivados da acetofenona ainda não está clara,
porém o agrupamento com terpenóides e os voláteis carotenóides cíclicos, respectivamente, podem lançar uma
nova luz sobre sua origem bioquímica. Em nosso trabalho, no que diz respeito a ocorrencia de 1,4-diacetilbezeno
nos diferentes tempos de coleta, observa-se que esse composto segue o
mesmo comportamento que os terpenóides norfitano e limoneno que foram
emitidos em maior quantidade após 24 horas de indução com posterior diminuição ao
passar do tempo indicando que esses compostos possam ter funções semelhantes e
que as vias de biossíntese desses metabólitos estejam envolvidas na reposta de
defesa da planta em relação ao regurgito.
CONCLUSÕES
As plantas de cana-de-açúcar ao serem
submetidas ao tratamento HSD são capazes de exibir um perfil de voláteis
diferente quando submetidas ao tratamento HSU. A indução de terpenóides
e outras classes de COVs em maior quantidade após a herbivoria simulada dupla fornece uma
indicação de que as plantas submetidas ao tratamento HSD são capazes de
implementar defesas contra um possível ataque de herbívoros pela emissão de
compostos que repelem insetos e atraem os parasitóides e/ou predadores.
AGRADECIMENTO
Ao estimado pesquisador e amigo Dr.
Alessandro Riffel (in memoriam) que teve um
papel fundamental na minha formação acadêmica e pessoal e que contribuiu para
desenvolvimento deste trabalho e tantos outros.
REFERÊNCIAS
ALJBORY, Z.; CHEN, M.-S. Indirect plant defense against insect
herbivores: A review. Insect Science. 25(1), 2–23, 2018. 10.1111/1744-7917.12436
ATAIDE, L. M. S.; PAPPAS, M. L.; SCHIMMEL, B. C. J.; LOPEZ-ORENES, A.;
ALBA, J. M.; DUARTE, M. V. A.; PALLINI, A.; SCHUURINK, R. C.; KANT, M. R. Induced plant-defenses
suppress herbivore reproduction but also constrain predation of their
offspring. Plant Science. 252:300–310, 2016. 10.1016/j.plantsci.2016.08.004.
BIRKETT, M. A.; CAMPBELL, C. A. M.; CHAMBERLAIN, K.; GUERRIERI, E.; HICK,
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