Economia no cultivo protegido de alface orgânica com o uso de mudas desenvolvidas

 

Economy in greenhouse cultivation of organic lettuce with the use of developed seedlings

 

Ahorro en cultivo protegido de lechuga orgánica con el uso de plántulas desarrolladas

 

Denis Borges Tomio1; Sebastião Elviro de Araújo Neto2; Regina Lúcia Felix Ferreira2; Luís Gustavo de Souza e Souza3

 

1Doutor em Produção Vegetal, Professor, Instituto Federal do Acre, Campus Tarauacá, Tarauacá, Acre, denis.tomio@gmail.com. 2Doutor (a) em Fitotecnia, Professor (a), Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, selviro2000@yahoo.com.br; reginalff@yahoo.com.br. 3Doutorando em Produção Vegetal, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre. +5568999626019, gustavo_souza_fj@hotmail.com.

 

Recebido: 07/08/2020; Aprovado: 04/12/2020

 

Resumo: O objetivo deste trabalho foi realizar análise econômica do uso de ambientes protegidos e diferentes volumes de recipientes no cultivo de alface em sistema de produção orgânica. Os experimentos foram realizados em dois ambientes protegidos: estufa coberta com polietileno e aberta nas laterais e estufa coberta com polietileno fechada nas laterais com tela anti-inseto em ambos, o delineamento experimental foi em blocos casualizados com cinco tratamentos (volumes de recipientes): 70, 160, 250, 340 e 430 cm³. Para avaliar a análise econômica, utilizaram-se a produtividade e os custos para cada m² de cultivo e considerado o preço local para os respectivos produtos e insumos no último trimestre de 2017, considerando 3% de custo de administração, 6% de custo de oportunidade, depreciação da infraestrutura e custos da terra. Houve lucro acima da remuneração mínima (6% a.a.), em todos os tratamentos, exceto aquele com recipiente de 70 cm³ em estufa com tela anti-inseto, em estufa sem tela anti-inseto o recipiente de 250 cm³ foi responsável pelos melhores indicadores econômicos entre todos os tratamentos.

 

Palavras-chave: Lactuca sativa; Rentabilidade; Cultivo protegido.

 

Abstract: The objective of this work was to carry out an economic analysis of the use of protected environments and different volumes of containers in the cultivation of lettuce in an organic production system. The experiments were carried out in two protected environments: greenhouse covered with polyethylene and open on the sides and greenhouse covered with polyethylene closed anti-insect screen, in both, the experimental design was in randomized blocks with five treatments (container volumes): 70, 160, 250, 340 and 430 cm³. The protected environments were in an greenhouse covered with polyethylene open at the sides and a greenhouse covered with polyethylene closed at the sides with anti-insect screen. In order to evaluate the economic analysis, productivity and costs were used for each m2 of cultivation and the local price for the lettuce and inputs was considered in the last quarter of 2017, considering a 3% administration cost and a 6% opportunity cost, depreciation of infrastructure and land costs. There was profit above the minimum rate (6% p.a.) in all treatments, except the one with 70 cm³ recipient in an greenhouse with anti-insect screen, in an greenhouse without anti-insect screen, the 250 cm³ recipient produces the best economic indicators among all treatments.

 

Key words: Lactuca sativa; Profitability; Greenhouse.

 

Resumen: El objetivo de este trabajo fue realizar un análisis económico del uso de ambientes protegidos y diferentes volúmenes de contenedores en el cultivo de lechuga en un sistema de producción orgánico. Los experimentos se realizaron en dos ambientes protegidos: invernadero cubierto de polietileno y abierto por los lados e invernadero cubierto de polietileno cerrado por los lados con malla antiinsectos, en ambos, el diseño experimental fue en bloques al azar con cinco tratamientos (volúmenes de contenedores): 70, 160, 250, 340 y 430 cm³. Para evaluar el análisis económico se utilizó la productividad y los costos por cada m² de cultivo y se consideró el precio local de los respectivos productos e insumos en el último trimestre de 2017, considerando 3% del costo de administración, 6% del costo de oportunidad , depreciación de la infraestructura y costos de la tierra. Il y a eu un profit supérieur au taux minimum (6% p.a.) en todos los tratamientos, excepto en el de recipiente de 70 cm³ en horno con mosquitera, en horno sin mosquitera, el recipiente de 250 cm³ fue responsable de los mejores indicadores económicos entre todos los tratamientos.

 

Palabras Clave: Lactuca sativa; Rentabilidad; Invernadero.

 

INTRODUÇÃO

 

A alface (Lactuca sativa) é a principal hortaliça folhosa produzida no Brasil, atrás apenas da melancia e do tomate, é a folhosa mais consumida, movimentando mais de R$ 8 bilhões de acordo com a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM) (CULTIVAR, 2017). Por apresentar vida pós-colheita curta, as zonas produtoras desta hortaliça, geralmente concentram-se perto das áreas metropolitanas das cidades, conhecidas como “cinturões-verdes” (HENZ; SUINAGA, 2009) como acontece na região de Rio Branco - AC (ARAÚJO NETO et al., 2009).

As condições meteorológicas, imprevisíveis e inconstantes, podem ser um problema na agricultura, ainda mais em culturas de ciclo curto, como a alface.  Especificamente o Acre, localizado em uma região de clima equatorial caracterizado como quente e úmido, não é considerado propício para cultivo de alface em ambiente aberto (FERREIRA et al., 2014; ARAÚJO NETO et al., 2012). Por essa razão muitos produtores recorrem aos ambientes protegidos como estufas, afim de obter maior estabilidade e qualidade de plantas e menor tempo de colheita (FERREIRA et al., 2010) contribuindo para aumento da produtividade em regiões tropicais e subtropicais através da redução da luminosidade, temperatura e exposição as fortes chuvas (QUEIROZ et al., 2014).

Porém, o cultivo a campo tem proporcionado ótimas produtividades (MUELLER et al., 2013; FERREIRA et al., 2010), Santi et al. (2013) destacam que esse sistema de cultivo proporciona maior lucro, com a maior qualidade dos produtos gerados e pela produção na entressafra diminuindo a sazonalidade dos preços. Devido ao maior custo de investimento de instalações do sistema em ambiente protegido, é necessário o manejo correto para maximizar a produtividade e qualidade do produto, buscando maior eficiência nos gastos (HACHMANN et al., 2014). Apesar desse tipo de sistema encarecer os custos de implantação, é uma prática amplamente adotada e que compensa o investimento em quantidade e qualidade das hortaliças (ALBUQUERQUE et al., 2011).

Os cultivos protegidos por estufas plásticas são mais produtivos, pois, além de proteger dos danos físicos causados por fortes precipitações pluviométricas, reduz danos por foto-inibição (SILVA et al., 2015). Nesses ambientes, os investimentos iniciais demandados por essas estruturas devem ser equacionados para identificar se poderão ser compensados pelo aumento de receitas e/ou pela redução dos demais custos, caso o cultivo seja em sistema orgânico (ARAÚJO NETO et al., 2012).

Além de controlar dos fatores meteorológicos, a qualidade da muda é fundamental para a cultura de alface, que possui ciclo curto, de 20 dias de muda e 45 dias de campo e pode ter produtividade de até 61% superior quando se utilizam mudas de alta qualidade (SIMÕES et al., 2015).

A escolha de recipiente adequado está ligada a manutenção da condição nutricional da planta, desenvolvimento radicular, aumento do número de plântulas por área e colabora para diminuição do tempo de produção (PINTO, 2015). Um dos aspectos a ser analisado no recipiente é o seu volume, pois dele resulta o bom crescimento radicular e consequente desenvolvimento da planta, além disso a quantidade de substrato, o espaço que ocupará no viveiro a mão-de-obra e o transporte devem ser considerados afim de evitar gastos desnecessários que podem onerar a sua utilização.

Diante do exposto o objetivo deste trabalho foi realizar análise econômica do uso de ambientes protegidos e diferentes volumes de recipientes no cultivo de alface em sistema de produção orgânica.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

Os experimentos foram conduzidos entre setembro e novembro de 2014, no município de Rio Branco - Acre, no Sítio Ecológico Seridó, Ramal José Ruy Lino, estrada para Porto Acre, Km 04 (9º 53’ 16’’ S e 67º 49’ 11’’ W), altitude 170 m.

O clima da região é quente e úmido, do tipo Am, segundo a classificação de Köppen, com temperaturas médias anuais de 24,5 ºC, umidade relativa do ar de 84% e com precipitação anual entre 1.700 a 2.400 mm. O solo da região é classificado como Argissolo Amarelo Alítico Plíntico. Nos cinco anos anteriores ao experimento foram desenvolvidos apenas cultivos orgânicos no local, o solo apresentava a seguinte composição química na camada superficial (0-20 cm): pH = 6,4; M.O.= 30 g.dm-3; P = 15 mg.dm-3; K = 1,5 mmolc.dm-3; Ca = 62 mmolc.dm-3; Mg = 19 mmolc.dm-3; Al = 1,0 mmolc.dm-3; H + Al = 20 mmolc.dm-3; SB = 82,5 mmolc.dm-3; CTC = 102,5 mmolc.dm-3; V = 80,4%. As características físicas foram: densidade aparente (Da) = 983 kg m-3; densidade de partículas (Dp) = 2.476,7 kg.m-3; espaço poroso (EP) = 65,6%; partículas sólidas (PS) = 34,4%; capacidade de retenção de água (CRA) = 62,7%; CE = 0,546 mili.Scm-1; e MO = 9,86%.

Foram realizados dois experimentos concomitantes, alterando apenas o ambiente de cultivo, um em estufa do tipo capela, totalmente fechada nas laterais com tela antiafídica de 50 mesh (malha com abertura de 0,297 mm) e coberta por filme aditivado de 150 μm (CT) e o outro também em estufa do tipo capela apenas coberta com filme aditivado de 150 μm (ST).

Em cada ambiente, o delineamento utilizado foi em blocos casualizados com cinco volumes de recipientes para produção de mudas: 70 cm3, 160 cm3, 250 cm3, 340 cm3 e 430 cm3 e em quatro blocos, sendo utilizado 24 plantas por parcela e consideradas as dez plantas centrais como a unidade experimental, eliminando-se assim o efeito bordadura. 

As mudas foram preparadas em copos plásticos, preenchidos com substrato com 30% de composto orgânico; 30% de terra, 30% de casca de arroz carbonizada 10% de carvão vegetal triturado; 1,5 kg.m-3 de calcário, 1,5 kg.m-3 de termofosfato e 1 kg.m-3 de sulfato de potássio. Foram utilizadas três sementes de alface cultivar Vera, Grupo Crespa, por cada recipiente, 10 dias após a semeadura houve o desbaste das plântulas, mantendo apenas a mais vigorosa por recipiente. As mudas permaneceram no viveiro com polietileno transparente de 100 μm, protegidas nas laterais com tela antiafídica de 50 mesh, com 2,0 m de pé direito e 3,5 m de altura central e receberam irrigação manual duas vezes ao dia, mantendo o substrato na capacidade de campo, onde ficaram até apresentarem no mínimo quatro folhas definitivas (25 dias após a semeadura).

O preparo do solo ocorreu com aração com arado de aiveca, seguido por gradagem com grade cultivadora de cinco facas e seis discos, ambos à tração animal. Para adubação de plantio foi realizado aplicação de composto orgânico (15 t ha-1 base seca).

A formação dos canteiros para os dois ambientes de cultivo se deu de forma manual com o auxílio de enxada, eles tiveram altura de 0,2 m, 1,2 m de largura, por 30 m de comprimento. As plantas foram dispostas em filas no espaçamento de 0,30 m x 0,30 m. O sistema de irrigação por micro aspersão, mantendo lâmina média de água em 6 mm.dia-1.

O controle de insetos e doenças foi realizado conforme necessidade da cultura sempre respeitando a legislação da agricultura orgânica e o controle de plantas espontâneas foi realizado manualmente. Durante todo o período do experimento foram coletados dados meteorológicos aferidos através da estação meteorológica e termohigrômetro digital instalados na unidade experimental, onde verificou-se que a variação de temperaturas foram entre 21,0 °C a 44,0 ºC para a estufa totalmente fechada (CT) e 18,0 ° a 35,0 ºC para a estufa aberta (ST).

Aos 42 dias após a semeadura realizou-se a colheita, quando as plantas atingiram o máximo desenvolvimento vegetativo (antes do pendoamento floral), retirando-se as plantas do centro das parcelas para avaliação de massa fresca comercial e a partir dela estimar a produtividade comercial (kg.ha-1).

Para a análise econômica, utilizaram-se a produtividade e os custos de produção para cada m² de cultivo e considerado o preço local para os respectivos produtos e insumos no último trimestre de 2017.

Considerou-se como custo de produção, o custo variável que corresponde a soma de todos os gastos com insumos e operações (serviços) utilizados no processo produtivo, e o custo fixo que consistiu na depreciação das instalações, custo da terra,  3% de custo de administração e 6% de custo de oportunidade sobre o custo total, como recomendado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2010) e utilizando metodologia de análise de Reis (2007).

Para os cálculos de depreciação (D), que consiste no custo necessário para substituir os bens de capital quando tornados inúteis sejam pelo desgaste físico ou econômico, foi usada equação 1 adaptada de Araújo Neto et al. (2012).

 

                                                                 (Eq. 1)

Em que:  D – Depreciação (R$/ano); Va – valor atual do bem (R$); Vr – valor residual do bem (R$); Vu – vida útil, em anos.

 

Para determinação da vida útil dos materiais e equipamentos e respectivos valores residuais foi utilizada tabela de custos de produção agrícola da CONAB (2010), sendo 25 anos para estruturas em alvenaria e 20 anos para madeira.

O valor da mão-de-obra foi considerado o pagamento em diária, calculado considerando o pagamento assalariado de um trabalhador rural com salário mínimo (R$ 937,00 - 2017) incluindo 45,59% de adicionais trabalhistas (INSS, FGTS, 13º Salário, férias, seguro e salário educação) (CONAB, 2010) divididos por 23 dias de trabalho mensais, resultando no valor da diária de R$ 59,31 por Homem-dia (HD) e por horas qual o valor?.

Foram utilizados as recomendações e procedimentos adotados por Reis (2007), que recomenda os seguintes indicadores econômicos: custo total médio (CTm), custo operacional fixo médio (CopFm), custo operacional variável médio (CopVm), custo operacional total médio (CopTm), receita total (RT), receita líquida (RL), índice de rentabilidade (IR) e remuneração de mão-de-obra familiar (RMOF).

Custo operacional fixo médio (CopFm), custo operacional variável médio (CopVm), custo operacional total médio (CopTm), receita líquida (RL), receita média (preço) e remuneração de mão-de-obra familiar (RMOF).

A recomendação de Reis (2007) é calcular o custo total (CT) a partir dos custos fixos (CFT) e variáveis (CVT), que inclui os custos de oportunidade, adotado o valor de 6% a.a.. Sem o custo total, tem-se os custos operacional fixos (CopF), o custo operacional variável (CopV) e a soma de ambos, o custo operacional total (CopT). A razão dos custos pelo preço do produto ou receita média (quando foi o preço considerado), indica quanto custa o produto produzido relativo a cada custo, assim, em relação ao custo total, tem-se o custo total médio (CTme), valor que deve ser menor que o preço para permitir lucratividade da atividade.

A receita total (RT) constitui dos rendimentos do produto entre preço e produção de maços de alface. A receita líquida (RL) representa os rendimentos obtidos com a atividade subtraindo o custo total (CT) por meio da equação 2.

 

                                                                (Eq. 2)

O índice de rentabilidade (IR) permite quantificar a receita líquida (RL) relativo ao capital investido na forma de investimento fixo (I) e capital de giro (CG), expresso em porcentagem e obtido pela equação 3.

 

IR = [RL/(I+CG)] x 100.                                        (Eq. 3)

 

A remuneração da mão de obra familiar (RMOF) é a renda referente ao trabalho familiar na atividade. Indica quanto o sistema remunera o dia de trabalho da família, calculado pela equação 4.

 

                                                 (Eq. 4)

 

Para determinação dos coeficientes técnicos da produção as coletas foram feitas durante o experimento. O custo com certificação não foi considerado, pois os agricultores familiares da região adotam apenas o controle social para comercialização direta aos consumidores, produto considerado orgânico, porém, sem selo, de acordo com Lei nº 10.831 de 2003 (BRASIL, 2003) e instrução normativa nº 18 de 20 de junho de 2014 (BRASIL, 2014).

Os dados foram submetidos a verificação de dados discrepantes (outliers) pelo teste de Grubbs, de normalidade dos erros pelo teste de Shapiro-Wilk e de homogeneidade das variâncias pelo teste de Cochran. Posteriormente efetuou-se análise de variância pelo teste F. Identificado variação mínima (<7) entre o quadrado médio do resíduo dos experimentos em ambiente com e sem tela, procedeu-se análise conjunta dos experimentos, o teste de comparação de médias utilizado foi Tukey a 5% de probabilidade.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Os custos fixos e variáveis para cultivo de alface nos dois ambientes, são apresentados na Tabela 1.

Os custos variáveis em função do volume do substrato são apresentados na Tabela 2. Os custos são crescentes quando aumenta o volume de substrato, tanto pelo aumento de insumos quanto pela maior mão de obra despendida na produção da muda e no plantio.

Considerando área útil em ambiente protegido de 54% e, desta forma, estipulando-se estande de 60.000 plantas.ha-1 o custo total de produção por hectare parte de R$ 28.028,80 para estufa ST e recipiente de 70 cm³ e atinge até R$ 47.470,00 quando utilizado recipiente de 430 cm³ em estufa CT (Tabela 3).

 

Tabela 1. Custos variáveis e fixos na cultura da Alface. Sítio Ecológico do Seridó, Rio Branco, Acre, 2017.

Itens

Unidade

Preço (R$)

Quantidade

(unidade.m-²)

Custo total (R$.m-²)

R$

1. CUSTOS VARIÁVEIS

3,39

1.1. INSUMOS

1,77

Sementes

unidade

0,001

24,44

0,03

Composto orgânico

kg

0,150

4,00

0,60

Energia elétrica + impostos

kW.h-1

0,500

0,06

0,03

Calda bordalesa

L

0,170

0,05

0,01

Calda sulfocálcica

L

3,500

0,05

0,16

Embalagens

unidade

0,090

11,11

0,94

1.2 OPERAÇÕES MANUAIS

1,62

Limpeza da área

min.m-²

0,14

1,16

0,16

Preparo dos canteiros

min.m-²

0,14

1,50

0,21

Distribuição do adubo na área

min.m-²

0,14

0,37

0,05

Mistura do adubo no canteiro

min.m-²

0,14

0,28

0,04

Incorporação do adubo

min.m-²

0,14

0,97

0,14

Colheita

min.m-²

0,14

3,50

0,49

Classificação e Empacotamento

min.m-²

0,14

3,21

0,45

Irrigação

min.m-²

0,14

0,04

0,01

Controle de plantas espontâneas

min.m-²

0,14

0,42

0,06

2. CUSTO FIXO (Estufa sem tela)

0,69

2. CUSTO FIXO (Estufa com tela)

0,86

Estufa (sem tela)

dias

42

0,01563

0,657

Estufa (com tela)

dias

42

0,01966

0,826

Conjunto moto bomba

dias

42

0,00003

0,001

Tubulação e conexões

dias

42

0,00030

0,013

Aspersores

dias

42

0,00011

0,005

 

Tabela 2. Custos variáveis para cultivo em recipientes na cultura da Alface, em função do volume de substrato. Sítio Ecológico do Seridó, Rio Branco, Acre, 2017.

Itens

70 cm³

160 cm³

250 cm³

340 cm³

430 cm³

 

--------------------- R$.m-2 ---------------------

1. CUSTOS VARIÁVEIS

0,70

1,27

1,82

2,68

3,83

1.1 INSUMOS

0,48

0,98

1,48

2,30

3,37

Substrato para muda

0,17

0,39

0,61

0,83

1,05

Recipiente

0,31

0,59

0,87

1,47

2,32

1.2 OPERAÇÕES MANUAIS

0,22

0,29

0,34

0,38

0,46

Enchimento de recipiente e semeadura

0,12

0,15

0,17

0,18

0,19

Plantio

0,10

0,14

0,17

0,20

0,27

 

Tabela 3. Custo operacional total (CopT), custo total (CT) e custo.ha-1 da produção de alface em estufa sem tela (ST) e estufa com tela antiafídica (CT) em recipientes. Sítio Ecológico Seridó Rio Branco, Acre, 2017.

Ambiente

Recipiente

CopT

CT

Custo total

(R$.ha-1)*

-------------- R$.m-2 --------------

 

Estufa sem tela

70 cm³

4,78

5,19

28.028,80

160 cm³

5,35

5,81

31.377,14

250 cm³

5,91

6,42

34.671,47

340 cm³

6,76

7,35

39.693,97

430 cm³

7,91

8,61

46.498,65

Estufa com tela

70 cm³

4,95

5,37

29.000,90

160 cm³

5,52

5,99

32.349,24

250 cm³

6,08

6,60

35.643,56

340 cm³

6,93

7,53

40.666,07

430 cm³

8,08

8,79

47.470,75

*Valores estimados.

 

No ambiente sob estufa ST a porcentagem dos custos variáveis dentro do custo total oscila de 85,56%, quando utilizados recipientes de 70 cm³, a 91,27%, quando utilizados recipientes de 430 cm³. Destes, apresentados na mesma ordem, os insumos respondem por 55,01% a 71,19% enquanto a mão-de-obra responde por 44,99% a 28,81%.

Em cultivo orgânico de alface, testando preparo do solo e ambientes de cultivo, os custos da mão-de-obra são percentualmente maiores atingindo até 79% do custo total (ARAÚJO NETO et al., 2009). Dependendo do sistema de cultivo, os insumos é que se tornam mais onerosos, como demonstra a pesquisa de Rezende et al. (2009). Embora, numa agricultura sustentável, deve-se reduzir o uso insumos, principalmente aqueles externos, pois assim, transfere-se mais valor do produto final aos agricultores.

Outrossim, na agricultura orgânica os custos variáveis são minimizados devido a não utilização de agrotóxicos e adubos químicos. Pereira (2017) comparando a produção de alface no sistema orgânico e convencional apresenta dados que apontam custos totais 47% maiores para o sistema convencional e CTm até 120% superior.

O custo variável total médio (CVTm), custo fixo total médio (CFTm), custo total médio (CTm), receita total (RT), receita líquida (RL), remuneração da mão-de-obra familiar (RMOF) e índice de rentabilidade (IR) foram afetados quando produziu-se mudas com diferentes volumes de substrato e com o ambiente de cultivo (Tabela 4). Esses indicadores não variaram pela interação dos fatores avaliados (volumes de substrato e ambiente de cultivo).

Em cultivo sem tela anti-inseto, o menor custo médio de um maço de alface ao utilizar 250 cm³ como volume de substrato, proporcionou maior receita total, receita líquida e índice de rentabilidade (Tabela 4), esses indicadores foram maiores quando se utilizou 340 cm³ de substrato para produzir mudas para o ambiente protegido com tela (Tabela 4).

Nos dois ambientes de cultivo, os dois extremos, pouco ou muito substrato na produção da muda elevam o custo médio do produto, seja pela baixa produtividade ao utilizar 70 cm³ de substrato como pelo aumento do custo ao utilizar 430 cm³ de substrato (Tabelas 4).

Essa análise é importante para identificar a fonte maior dos gastos com o cultivo. Em contraponto, os custos fixos não ultrapassam os 14,44%. Isso demonstra que pode haver grande equívoco quando se estuda a respeito do cultivo protegido de hortícolas baseado apenas análise estatística da produção e produtividade sem a devida análise econômica (RADIN et al., 2004).

Pode haver a interpretação, sem a devida análise econômica, de que os inevitáveis aumentos de custos ao realizar adoção de práticas como cultivo protegido, irrigação e outros métodos de manejo/cultivo causem impactos maiores do que os encontrados, taxando-os, prematuramente de inviáveis.

As variações do ambiente como luminosidade, temperatura e precipitação podem determinar o sucesso ou fracasso do empreendimento agrícola. Portanto, quanto menor for o custo total, menor a dependência por uma maior produtividade para cobrir os custos, diminuindo assim os riscos.

O capital inicial é pouco disponível aos agricultores agroecológicos, incluindo aqueles do chamado Cinturão Verde de Rio Branco (ARAÚJO NETO et al., 2009), corroborando para a necessidade do uso racional os recursos disponíveis com o menor risco possível.

Todos os tratamentos proporcionam remuneração da mão-de-obra familiar (RMOF) estatisticamente iguais quando há comparação dentro do mesmo ambiente de cultivo (Tabela 4). Exceto o tratamento com recipiente de 70 cm³ em estufa CT que foi estatisticamente menor.

A mão-de-obra da família, é um fator importante nestes sistemas, pois reduzem os custos de produção, por utilizar o trabalho familiar na preparação do adubo e no cultivo, com isso reduzindo também os custos com transporte. Na produção de alface com adubação orgânica, os custos com mão-de-obra variaram de 49,8% a 52,5% dos custos totais (SOUZA et al., 2019).

Colaborando com a fixação dos trabalhadores no campo, cumprindo papel fundamental na sustentabilidade do sistema agrícola familiar (ARAÚJO NETO et al., 2009).

Em cultivo ST de proteção os menores custos médios (R$/maço) - variável ou fixo, ocorreram quando utilizado 250 cm³ de substrato e, por consequência, o menor custo total médio de alface R$ 0,51/maço (Tabela 5).


 

Tabela 4. Custo variável total médio (CVTm), custo fixo total médio (CFTm), custo total médio (CTm), rentabilidade total (RT), rentabilidade líquida (RL), remuneração da mão-de-obra familiar (RMOF) e índice de rentabilidade (IR) do cultivo de alface em estufa com (CT) e sem tela anti-inseto (ST) em recipientes. Sítio Ecológico do Seridó, Rio Branco, Acre, 2017.

Volume de substrato

(cm³)

Estuda sem tela anti-inseto (ST)

Estuda com tela anti-inseto (CT)

RT

RL

RMOF

IR

RT

RL

RMOF

IR

-----(R$/m²)-----

(R$/dia)

(%)

-----(R$/m²)-----

(R$/dia)

(%)

70

18,46   b

13,26   b

427,57 a

2,77 ab

9,37     c

4,00   b

128,95   b

0,81 a

160

23,07 ab

17,27 ab

537,38 a

3,23 ab

13,37   bc

7,37 ab

229,40 ab

1,34 a

250

30,56 a

24,13 a

729,73 a

4,09 a

17,53 abc

10,94 ab

330,63 ab

1,78 a

340

25,52 ab

18,17 ab

539,79 a

2,69 ab

22,57 ab

15,04 a

446,79 a

2,17 a

430

25,78 ab

17,17 ab

490,89 a

2,17   b

23,00 a

14,21 a

406,36 ab

1,76 a

*Médias seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).

 

Tabela 5. Custo operacional variável médio (CopVm), custo operacional fixo médio (CopFm), custo operacional total médio (CopTm), custo variável total médio (CVTm), custo fixo total médio (CFTm) e custo total médio (CTm) da produção de alface em estufa sem tela (ST) e estufa com tela antiafídica (CT) em recipientes. Sítio Ecológico Seridó, Rio Branco, Acre, 2017.

Ambiente

Recipiente

CopVm

CopFm

CopTm

CVTm

CFTm

CTm

------------------------------- R$.m-2 -------------------------------

Estufa sem tela

70 cm³

0,64

0,11

0,75

0,64 ab*

0,11 a

0,74 ab

160 cm³

0,58

0,09

0,66

0,55 ab

0,08 ab

0,63 ab

250 cm³

0,41

0,05

0,47

0,47   b

0,06   b

0,53   b

340 cm³

0,62

0,07

0,69

0,67 ab

0,07 ab

0,74 ab

430 cm³

0,95

0,09

1,04

0,79 a

0,07 ab

0,86 a

Estufa com tela

70 cm³

1,96

0,41

2,38

1,48 a*

0,30 a

1,78 a

160 cm³

1,60

0,29

1,89

1,07 a

0,19 ab

1,26 a

250 cm³

0,85

0,14

0,99

0,82 a

0,13   b

0,95 a

340 cm³

0,91

0,13

1,04

0,76 a

0,11   b

0,87 a

430 cm³

0,98

0,12

1,10

0,91 a

0,11   b

1,01 a

 

 Em cultivo protegido CT, apesar da redução do custo fixo médio com o aumento do volume de substrato, resultado do aumento de produtividade, o tratamento que proporcionou menor custo variável médio e total médio foi o de 250 cm³ de substrato na produção das mudas (Tabela 6), bem abaixo do preço de comercialização no mercado de Rio Branco, que varia de R$2,00 a R$4,00/maço.

Estes resultados, independente do ambiente de cultivo, são decorrentes do equilíbrio entre custo e produtividade apresentando, à vista disso, índices de rentabilidade e remuneração da mão-de-obra sempre superiores aos demais tratamentos (Tabela 4).

Com o menor volume para o sistema radicular e com temperaturas ultrapassando os 44 °C é apontado como provável fator que determinou a menor produtividade e consequente menor rentabilidade por meio de mudas produzidas com menor volume de substrato. A maior temperatura é efeito direto do uso de tela antiafídica, que além de maiores picos provoca estabilidade das condições ambientais em maior temperatura (DUARTE et al., 2011).

Outro fator que é muito discutido e comentado na literatura é a falta de espaço para o crescimento radicular em recipientes pequenos causando atraso no crescimento radicular e consequentemente no desenvolvimento da planta e, por se tratar de cultura de ciclo rápido, esse atraso pode determinar o insucesso do cultivo utilizando mudas de recipientes pequenos, colaborando também para o déficit hídrico mesmo em condições ideais de umidade (OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2020).

A escolha da estufa sem tela nas laterais, visto que além do menor investimento ela também proporcionou maiores produtividades, independentemente do recipiente, alcançando assim os melhores índices econômicos totais e médios.

No melhor tratamento o recipiente de 250 cm³ em estufa sem tela, o índice de rentabilidade extrapolou os 426% (Tabela 3).

Neste trabalho todos os tratamentos, exceto aquele com recipiente de 70 cm³ em estufa com tela, ocorreu o que Reis (2007) define de lucro supernormal (Preço > CTM) sendo, portanto, os investimentos todos pagos e ainda ocorre um lucro maior do que quando comparado à média de outras alternativas de investimentos do mercado, fixado em 6% a.a. pela CONAB e bem acima da atual taxa SELIC de 2,25% a.a.

Isso torna o empreendimento rentável e tende a provocar a expansão na propriedade e também ao aumento de novos empreendimentos, aumentando a oferta de produtos, empregos e de competitividade favorecendo o livre comércio.

Recipientes com volume de 70 cm³ em estufa com tela ocorre a formação de resíduo positivo (CTM > Preço > CopTm), situação em que a atividade paga todos os investimentos da produção, mas apresenta retorno, em média, menor do que outras atividades comerciais.

Essa situação requer maior cautela e planejamento do produtor, uma vez que mudar de empreendimento ou até mesmo alugar e arrendar a terra para outras atividades pode aumentar o retorno financeiro. Mas, com pequena diferença, pode-se buscar também a diminuição e corte de custos da produção ou aumento da produtividade, tornando a atividade lucrativa.

Uma das alternativas é também o aumento do valor do produto com agregação de valores (ARAÚJO NETO et al., 2012), podendo contribuir para isso o modelo agroecológico de produção, sendo esse um nicho de mercado crescente e que possui valorização diferenciada.

No tratamento com recipiente de 600 cm³ em estufa com tela a situação se agrava ainda mais e o resíduo é nulo com cobertura apenas de parte do custo fixo (CopTm < Preço > CopVm). Dessa forma o produtor cobre apenas os custos variáveis da atividade e deixa de cobrir os custos fixos, a longo prazo ocorre a deterioração de estufas e sistema de irrigação e não haverá recursos para manutenção ou reposição levando a diminuição e consequente abandono da atividade.

Essa situação é comum em produtores que não inserem nos custos a depreciação da infraestrutura utilizada e, apesar de aparente lucratividade por estar cobrindo os custos variáveis e mais visíveis da produção, a condição sai do controle quando há necessidade de investimentos na infraestrutura de produção.

É o que ocorre nas condições locais do Estado do Acre, com a produção hortícola em sua maioria advinda da agricultura familiar em que Araújo Neto et al. (2012) afirmam que não há grande abandono da atividade por conta da não contabilização da mão-de-obra como custos de produção.

 

CONCLUSÕES

 

A cultura da alface proporciona lucro acima da remuneração de mercado em todos os tratamentos, exceto aquele com recipiente de 70 cm³ em estufa com tela anti-inseto.

O recipiente de 250 cm³ em estufa sem tela anti-inseto é o sistema de cultivo que proporciona os melhores indicadores econômicos entre todos os cultivos avaliados.

Apesar dos recipientes menores serem mais baratos e precisarem de menos substrato e consequentemente demandarem menos mão-de-obra os custos médios foram maiores, reflexo da menor produtividade alcançada.

 

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