Análise biométrica em frutos e sensorial
do suco de Guabiju (Myrcianthes pungens)
Biometric analysis in fruit and and sensorial of Guabiju (Myrcianthes pungens)
Análisis
biométrico en frutos y análisis
sensorial del jugo de Guabiju
(Myrcianthes pungens)
Marlene Aparecida Rodrigues1, Divanilde Guerra2, Robson
Evaldo Gehlen Bohrer2, Danni Maisa Da Silva2,
Fernanda Hart Weber2, Marlon
de Castro Vasconcelos2
1Bacharel em Gestão Ambiental. Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Unidade em Três
Passos (RS), + 55 55 81109742, marlene.aparecida.rodrigues@gmail.com.
2Professores
Doutores da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Unidade em Três Passos
(RS), divanilde-guerra@uergs.edu.br;
robson-bohrer@uergs.edu.br; danni-silva@uergs.edu.br; fernanda-hart@uergs.edu.br; marlon-vasconcelos@uergs.edu.br.
Recebido:
09/10/2020; Aprovado: 26/12/2020
Resumo: O guabijuzeiro (Myrcianthes pungens) se
destaca pela abrangência em todo o território nacional, pela produção e sabor
adocicado dos frutos, mas poucos estudos foram conduzidos com esta espécie até
o momento. O objetivo do presente trabalho foi realizar a caracterização
biométrica dos frutos e análise sensorial do suco produzido de três acessos de guabiju. A metodologia utilizada consistiu na coleta dos
frutos para análises de massa de frutos, rendimento de polpa, sólidos solúveis
totais e análise sensorial do suco sendo realizado teste de aceitação com 35
avaliadores não treinados. Como resultados observou-se que a média da massa de
frutos foi de 3,57 g, a massa de polpa foi de 1,81 g, o rendimento de polpa foi
de 49,67% e os sólidos solúveis totais foi de 14,27%. Com relação a produção de
suco, o acesso 1 produziu 300 mL, o acesso 2 200 mL e o acesso 3 400 mL. Com
relação a análise sensorial, o acesso 1 obteve a melhor nota de aceitação por
11,42% dos avaliadores, o acesso 2 por 80% dos avaliadores e o acesso 3 por
8,57 % dos avaliadores, o que mostra o potencial de utilização destes frutos para
o desenvolvimento de sucos com frutos exóticos. Pode-se concluir que existe
variação entre os acessos na biometria de frutos, produção de suco e grau de
aceitação dos provadores do suco de guabiju.
Palavras-chave: Mirtáceas; Guabijuzeiro; Aceitação
do suco.
Abstract:
The
guabijuzeiro (Myrcianthes pungens) stands out for its coverage throughout the
national territory and for the production and sweet taste of the fruits, but
few studies have been conducted with this species so far. The objective of the present
work was to carry out the biometric characterization of the fruits and the
sensory analysis of the juice produced from three guabiju
accessions. The methodology used consisted of collecting the fruits for
analysis of fruit mass, pulp mass, pulp yield and Brix grade and for the production of guabiju
juice. An acceptance test was carried out with 35 untrained evaluators. As a
result, it was observed that the average fruit mass was 3.57 g, the pulp mass
was 1.81 g, the pulp yield was 49.67 % and the average Brix grade was 14.27 %.
Regarding juice production, access 1 produced 300 mL, access 2 200 mL and
access 3 400 mL. Regarding sensory analysis, access 1
obtained the best acceptance score by 11.42 % of the evaluators, access 2 by 80
% of the evaluators and access 3 by 8.57 % of the evaluators, which shows the
potential of use of these fruits for the development of juices with exotic
fruits. It can be concluded that there is variation between accessions in fruit
biometry, juice production and degree of acceptance by guabiju
juice tasters.
Key
words: Mirtacea; Guabijuzeiro;
Juice acceptance.
Resumen: El guabijuzeiro (Myrcianthes pungens) destaca por su
cobertura en todo el territorio nacional y por la producción y sabor dulce de los frutos, pero hasta el momento
se han realizado pocos estudios con esta especie. El objetivo del presente
trabajo fue realizar la caracterización biométrica de los frutos y el análisis sensorial del jugo producido a partir de tres accesiones de guabiju. La metodología utilizada consistió en recolectar los
frutos para el análisis de masa de frutos, masa de pulpa, rendimiento de pulpa y grado Brix y para la producción de jugo de guabiju. Se
realizó una prueba de aceptación con 35 evaluadores no capacitados. Como resultado, se observó que la masa promedio de frutos fue de 3.57 g, la masa de pulpa fue
de 1.81 g, el rendimiento
de pulpa fue de 49.67 % y el grado Brix promedio fue de 14.27 %. En cuanto a la producción
de jugo, el acceso 1 produjo 300 mL, el acceso 2 200 mL y el acceso
3 400 mL. En cuanto al análisis sensorial, el acceso 1 obtuvo
el mejor puntaje de aceptación por el 11,42 % de los evaluadores, el acceso 2 por el 80 % de los evaluadores y el acceso 3 por el 8,57 % de los evaluadores, lo que muestra el potencial de Uso de
estas frutas para la elaboración
de jugos con frutas exóticas. Se puede
concluir que existe variación entre las accesiones en la biometría
de la fruta, la producción de jugo y el grado de aceptación por parte de los
catadores de jugo de guabiju.
Palabras Clave: Mirtaceae; Guabijuzeiro; Aceptación de jugo.
INTRODUÇÃO
No Brasil, a produção de frutas em larga escala é
essencialmente realizada com espécies exóticas, contudo o país apresenta grande
diversidade vegetal, possuindo espécies frutíferas nativas, que ainda são pouco
exploradas e até mesmo desconhecidas, mas que apresentam grande potencial e
valor econômico. Dentre elas, destacam-se principalmente as da família Myrtaceae, como a pitangueira (Eugenia
uniflora L.),
cerejeira-do-mato (Eugenia involucrata
DC.), uvalheira (Eugenia
pyriformis Cambess.), guabirobeira (Campomanesia
xantocarpa O. Berg), araçazeiro (Psidium
cattleyanum Sabine) e guabijuzeiro (Myrcianthes pungens Legrand) (SERAGLIO
et al., 2018). Os frutos podem ser explorados comercialmente, visando à
diversificação da produção e do consumo in
natura ou podem ser transformados em subprodutos pela agroindústria
alimentícia (DANNER et al., 2010). Ainda, apresentam propriedades farmacêuticas
e nutracêuticas, pela presença de compostos secundários
fitoterápicos, aromáticos e antioxidantes (CARVALHO et al., 2014).
O guabijuzeiro apresenta ocorrência natural na
Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil, onde pode ser encontrado desde
São Paulo até o Rio Grande do Sul, sendo eventual em todas as formações
florestais (LORENZI, LACERDA, 2006). Seus frutos são globosos, com polpa
suculenta e adocicada, podendo ser cultivado para a comercialização e
alimentação humana, tanto para consumo in
natura quanto para o processamento na forma de doces e geleias (SOBUCKI et
al., 2015; SOUZA et al., 2018). Não obstante, os frutos apresentam alto
conteúdo de polifenóis totais, flavonoides e antocianinas, além dos extratos
apresentarem alta capacidade antioxidante quando comparada com a de outros
micronutrientes, como a vitamina E (SOUZA et al., 2018).
Embora sejam de grande importância, muitas espécies
frutíferas da família Mirtácea como o guabiju, apresentam escassez ou mesmo
ausência de dados relativos à sua morfologia, produção, características
fisiológicas e fenologia, as quais são importantes para a descrição e
caracterização dos diversos genótipos existentes. Esses dados servem de base
para a incorporação de muitas espécies aos sistemas produtivos comerciais,
contribuindo também para a conservação dos recursos genéticos e difusão de seu
consumo (CARVALHO et al., 2003). Nesse sentido, a biometria constitui
importante instrumento para detectar a variabilidade genética dentro de
populações de uma mesma espécie, as relações entre esta variabilidade e os
fatores ambientais, bem como para a identificação de genótipos mais promissores
na produção de frutos com qualidade morfológica e nutricional (CARVALHO et al.,
2003).
Conforme Braga et al. (2020), o aumento do consumo de
frutas in natura e sucos naturais é
uma tendência mundial que pode ser aproveitada pelo Brasil como forma de
incentivar o aumento da produção e da qualidade das frutas, bem como, a geração
de emprego e renda. Segundo Silva et al. (2011), frutas nativas e exóticas e
seus derivados, estão com seu consumo em ascensão por serem consideradas um
alimento saudável, balanceado, funcional e diversificado, bem como, para
agregar atributos de qualidade diferencial ao produto (MOURA et al., 2016).
Muitas espécies frutíferas nativas, como o
guabijuzeiro, têm consumo restrito aos locais de produção e no pico da safra
devido à perecibilidade. Porém uma forma de disponibiliza-las
por mais tempo e a maiores distâncias é através do processamento, ou seja, a
transformação da matéria-prima perecível em armazenável e comercializável,
visto que muitas destas apresentam qualidade sensorial, o que é fundamental
para seu aproveitamento tecnológico (BOESSO et al., 2006).
O guabijuzeiro se destaca
pela sua abrangência em todo o território nacional, porém poucos estudos foram
conduzidos com esta espécie até o momento e inexistem trabalhos avaliando a
produção e aceitação do suco, sendo, portanto, este o primeiro a avalia-lo. Desta forma, objetivou-se caracterizar
biometricamente os frutos e realizar a análise sensorial do suco de guabiju oriundos
de três acessos diferentes.
MATERIAL E
MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no município de Três Passos
que se localiza a uma latitude 27º27’ sul e longitude 53º55’ Oeste na região
Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, inserido no bioma Mata Atlântica (IBGE,
2020).
Caracterização biométrica dos frutos
Acessos de guabijuzeiros foram monitorados no
município de Três Passos por apresentarem frutos grandes e de sabor adocicado.
Em fevereiro de 2018, quando estes apresentavam frutos em fase de maturação,
procedeu-se a colheita e avalição das características biométricas no
laboratório da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), unidade em Trêss Passos/RS.
Dos acessos monitorados
foram escolhidos três, acesso 1 (coordenadas S 27° 27' 31.2" e W 053° 56'
13.5"), acesso 2 (coordenadas S 27° 27' 43.6" e W 053° 55'
56.1") e acesso 3 (coordenadas S 27° 27' 28.6" e W 053° 56'
16.2"). Destes foram coletados 10 frutos de cada, os quais estavam
distribuídos em todos os quadrantes da planta. Estes foram avaliados quanto a
produção de massa com auxílio de uma balança de precisão (Adventurer
Analitica). Após ocorreu a separação de forma
individual da polpa para a determinação da massa de polpa (RODRIGUES et al.,
2020). A determinação do rendimento de polpa foi realizada pela divisão dos
valores de massa fresca de polpa pelo valor obtido de massa de fruto inteiro, e
o teor de sólidos solúveis totais - °Brix (%) em cada
acesso foi medido com a utilização de um refratômetro portátil (Hand Held Refractrometer 32/ATC)
utilizando metodologias já descritas por Sobucki et
al. (2015) em diversas Mirtáceas.
Análise sensorial do suco
Foram coletados 1000 g de frutos de cada um dos
acessos e estes foram submetidos ao processo de pré-seleção sendo retirados os
galhos, folhas, pedúnculos, frutos danificados e em fase de senescência
avançada, segundo metodologia de Boesso et al. (2015).
Os frutos classificados para a extração do suco foram lavados em água corrente e
sanitizados em solução de hipoclorito de sódio a 2 %.
A metodologia empregada para obtenção do suco foi a extração
por arraste de vapor utilizando extratora de suco artesanal (Suga Sucos), onde
a água em ebulição fica na parte inferior do equipamento e o vapor d’água sobe
extraindo o suco dos frutos, que ficam suspensos em uma peneira. Os mesmos permaneceram em contato com o vapor durante 60 minutos
a 80 °C, sendo o suco coletado nesta mesma temperatura e envasado em garrafas
de vidro âmbar de 600 mL, vedadas com tampa metálica em recravadora.
As amostras foram armazenadas em temperatura ambiente e ao abrigo da luz. O
processo de extração utilizado é uma derivação do método de Welch,
descrito por Guerra (2016).
Para a realização da análise sensorial procedeu-se a
diluição dos sucos integrais de Guabiju na proporção 1:2 (água: suco). Foram
oferecidos 25 mL de amostra de suco, por acesso de guabiju
para uma equipe avaliadora de 35 provadores adultos, funcionários, alunos e
professores da Universidade, todos voluntários e sem treinamento. Os
avaliadores foram esclarecidos com relação ao objetivo do trabalho e ao preenchimento
da ficha de avaliação. Foram disponibilizados copos com água e bolacha água e
sal entre as degustações de uma amostra e outra, para que ocorresse a limpeza
das papilas gustativas, não havendo interferência de gosto entre a avaliação
das amostras. Utilizou-se o Teste
Triangular (BARROSO, 2013), que foi conduzido de maneira que os provadores
pudessem escolher a amostra que mais gostaram, levando em consideração os
atributos de aparência, aroma, sabor e textura.
Os dados foram analisados por meio da ANOVA de um
fator seguida de teste de Tukey e quando não foi possível a homogeneidade de
variâncias e normalidade de resíduos, utilizou-se o teste de Kruskal-Wallis. Todas as análises foram realizadas no
ambiente estatístico R v 3.6 (R CORE TEAM, 2020).
RESULTADOS E
DISCUSSÃO
A análise biométrica dos frutos revelou a existência
de variabilidade entre os acessos avaliados. A média da massa dos frutos
inteiros foi de 3,57 g (Tabela 1). Estes valores são similares aos obtidos por
Reis et al. (2016) que identificaram
uma média de 3,41 g em acessos de guabiju, porém
diferem dos resultados obtidos por Dias et al. (2011), em pitangueiras, espécie também da família das mirtáceas,
que observaram a massa de frutos variando entre 1,28 a 6,52 g.
Tabela 1. Análise biométrica dos frutos de guabiju (Myrcianthes pungens), Três Passos - Rio Grande do Sul. |
||||
Acessos |
Massa Frutos (g) |
Massa Polpa (g) |
Rendimento
Polpa (%) |
Sólidos
Solúveis Totais (%) |
1 |
3,04 b |
1,48 b |
48,68 b |
13,50 b |
2 |
3,10 b |
1,32 b |
42,58 c |
13,50 b |
3 |
4,57 a |
2,64 a |
57,76 a |
15,80 a |
Média |
3,57 |
1,81 |
49,67 |
14,27 |
DP |
0,87 |
0,72 |
7,64 |
1,33 |
CV % |
24,27 |
39,72 |
15,37 |
9,30 |
Médias seguidas por uma mesma letra, em
cada coluna, não diferem estatisticamente (Tukey, p > 0,05). |
Diferenças significativas foram observadas entre os
acessos, com variação no tamanho dos frutos de 3,04 a 4,57 g. A superioridade de
massa de frutos do acesso 3 (4,57 g), pode estar associada às condições
ambientais, de manejo e constituição genética das plantas. Esta afirmação
estaria de acordo ao descrito por Carvalho et al. (2003), de que na maioria das
espécies, grandes variações são observadas no tamanho e massa dos frutos devido
à origem diferenciada das plantas-mãe, bem como, a
segregação causada pela alogamia, comum nas fruteiras nativas da família das
Mirtáceas. Neste sentido, a determinação do peso médio de frutos é uma
característica importante para o mercado de frutas frescas, uma vez que aqueles
mais pesados são também os de maior tamanho, tornando-se mais atrativos para os
consumidores. Ainda, o peso médio é uma característica importante, pois os
maiores frutos são os mais valorizados para a industrialização por apresentarem
mais polpa e por consequência mais suco (DIAS et al., 2011). Portanto, a
caracterização do tamanho dos frutos é muito importante, visto que este parâmetro
apresenta relação direta com a produção de polpa e suco.
As diferenças significativas entre os acessos podem
também estar associadas às condições climáticas, as
quais alteraram diversas características em guabijuzeiro, como as biométricas e
as reprodutivas, sendo estas, possíveis fatores para as diferenças neste estudo.
Esta hipótese estaria de acordo ao observado por Veit
et al. (2019) que avaliaram o ciclo reprodutivo do guabijuzeiro nas regiões noroeste,
nordeste e metropolitana do estado do Rio Grande do Sul e observaram variação
na fenologia do ciclo reprodutivo com duração de 95, 147 dias e 133 dias, respectivamente,
além de diferenças em características dos frutos e atribuíram estas diferenças
as condições ambientais diferenciadas entre os locais de coleta de frutos.
Na
avaliação da massa de polpa observou-se a média de 1,81 g, com variação de 1,32
a 2,64 g (Tabela 1), sendo possível identificar a superioridade
do acesso 3 na produção de polpa, com 2,64 g. Desta forma, é possível inferir a
existência de correlação positiva entre as características avaliadas, ou seja,
quanto maior o tamanho do fruto, maior a quantidade de polpa, visto que o
acesso 3 apresentou superioridade nestes dois parâmetros avaliados. Corroborando
com Dias et al. (2011) que descrevem a correlação positiva entre os parametros
tamanho de fruto e massa de polpa, bem como, estes autores destacam que quanto maior os
valores de polpa dos frutos, melhor, tanto para o consumo in natura quanto para a indústria. Diante disso, pode-se afirmar que
para fins de produção de alimentos processados (sucos, licores, sorvertes,
etc.) o acesso 3 resultaria em maior produção, permitindo, portanto, sua indicação
para fins industriais, bem como para consumo in natura.
Com relação ao rendimento
de polpa, observou-se a média de 49,67 % (Tabela 1), com
variação de 42,58 % (acesso 2) a 57,76 % (acesso 3). A percentagem de produção
de polpa, assim como a massa de polpa, são características muito importantes em
processos de industrialização dos frutos, bem como, quando o destino dos
frutos é para o consumo in natura, a
porcentagem de polpa é a característica mais importante, uma vez que a casca e
a(s) semente(s) são descartadas (ZERBIELLI et al., 2016).
Devido à importância da percentagem de
polpa em espécies frutíferas, fez-se o comparativo dos resultados deste estudo
a outros e observou-se a inferioridade da produção de polpa nos acessos de
guabijuzeiros avaliados, visto que Dias
et al. (2011) obtiveram o percentual de polpa com amplitude de 68,23 a 88,13 %
e média de 79,46 %; Bezerra et al. (2004), obtiveram 80 %; e Borges et al.
(2010) obtiveram média de 59,1 % em frutos de 20 matrizes na Reserva Ecológica
do Clube Caça e Pesca Itororó no município de Uberlândia. Porém, apesar da
menor produção de polpa observada neste estudo, a qual pode estar associada ao
número de sementes e ao tamanho destas, os frutos apresentam grande potencial
alimentar, pois são ricos em polifenóis, flavonoides, antocianinas e compostos
fenólicos (ANDRADE et al., 2011; SOUZA et al., 2018), o que pode valorizar a
exploração comercial destes. Ainda, conforme Borges et al. (2010), o baixo
rendimento percentual de polpa não se constitui em característica que
inviabilize a utilização de uma determinada espécie, seja como fruta fresca ou
para aproveitamento industrial, isso devido à grande aceitação que a mesma pode ter, contudo seu volume de suco é reduzido em
detrimento ao volume de sementes.
Para a percentagem de sólidos solúveis totais, a média
foi de 14,27 %, com variação de 13,5 a 15,8 % (Tabela 1), sendo que o acesso 3
apresentou o maior valor (15,80 %), diferindo estatisticamente dos demais acessos.
Ao compararmos os resultados obtidos no
presente trabalho (amplitude de 13,5 a 15,8 %) aos trabalhos de Dias et al. (2011) em pitangas que observou variação
de 9 a 15,30 % e ao de Alvarenga et al. (2014) em uvaia que obteve 8,58 % de
sólidos solúveis, pode-se inferir que os frutos avaliados neste estudo
apresentam teor de sólidos solúveis totais mais alto que as pitangas, os guabijus e as uvaias colhidas em outras regiões, sendo,
portanto, melhores para o consumo in
natura e mais atrativos para a indústria na forma de processados. Esta
afirmação corrobora ao proposto por Dias et al. (2011) de que os frutos com altos
teores de sólidos solúveis totais são preferidos, tanto para o consumo in natura quanto para a
industrialização, por propiciar maior rendimento no processamento, em razão da
maior quantidade de néctar produzido por quantidade de polpa. Bem como, elevados
teores destes constituintes na matéria prima implicam em menor adição de
açúcares, menor tempo de evaporação da água, menor gasto de energia e maior
rendimento do produto, resultando em maior economia no processamento de
alimentos (REIS et al., 2016)
Os teores de sólidos solúveis podem variar entre
espécies, cultivares, grau de maturação, clima e condições de cultivo, como
luminosidade e temperatura (ZERBIELLI et al., 2016). Portanto, os resultados
obtidos neste trabalho podem estar associados a fatores climáticos, o que estaria
em acordo ao observado por Reis et al. (2016) que avaliando acessos de guabiju
coletados em Caxias do Sul – Rio Grande do Sul, obtiveram média de 9,67 % de
sólidos solúveis totais, valores inferiores aos obtidos neste estudo, o que
pode reforçar a afirmação de que as condições ambientais exerçam influência
sobre esta característica. Afirmação esta que corrobora com Alvarenga et al.
(2014) de que o tipo de fruto, cultivar, condições edafoclimáticas e época de
colheita interferem nos teores de sólidos solúveis.
Na determinação da quantidade de suco, observou-se que
o acesso 1 produziu 300 mL de suco, o acesso 2, 200 mL e o acesso 3 400 mL.
Estes resultados devem estar associados às características biométricas dos
frutos, visto que diferenças significativas foram observadas entre os acessos
(Tabela 1). Na avaliação sensorial, a qual permitiu identificar que o suco do acesso
1 obteve a aceitação de 4 provadores (11,42 %), do acesso 2 de 28 provadores
(80 %) e do acesso 3 de 3 provadores (8,57 %). Desta forma, o suco do acesso 2
estaria apto a ser processado e em condições de ser comercializado devido a boa
aceitação. Pois no processo de desenvolvimento de novos produtos a determinação
da aceitação e/ou preferência do produto se torna indispensável (BRAGA et al.,
2020). Ainda, de acordo com Gularte (2009), para que
um produto seja considerado como aceito, em termos de suas características
sensoriais de qualidade em uma percepção global é necessário que obtenha um IA
(índice de aceitabilidade) de no mínimo 70 %, valores estes que foram superados
neste estudo com o suco do acesso 2.
A maior aceitação do suco do acesso 2 pode estar
relacionada às características biométricas, como a massa e percentagem de
polpa, visto que neste, observou-se os menores valores para estes parâmetros
com 1,32 g de massa de polpa e 42,58 % de rendimento de polpa (Tabela 1). Esta
informação permite inferir que os frutos com menos polpa apresentem maior
concentração de sólidos solúveis totais por grama de suco produzido, ou seja,
menos suco no processo de extração, porém com maior concentração de sólidos
solúveis totais e melhor aceitação dos provadores.
Os frutos dos três acessos avaliados apresentaram teor
de sólidos solúveis totais elevado (Tabela 1), quando comparado a pitangas (DIAS
et al., 2011) e uvaias (ALVARENGA et
al., 2014), com destaque para o acesso 3 que atingiu valores estatisticamente
superiores aos demais. Neste contexto, o fato dos sólidos solúveis totais do
acesso 2, o mais aceito pelos provadores, não ser o mais elevado, justifica-se
pela constituição do SST, o qual é composto por outros componentes, que não
apenas açúcares. De acordo com Braga et al. (2020), os sólidos solúveis são
constituídos por substâncias, como: açúcares, ácidos, vitamina C e algumas
pectinas, os quais são usados como índice dos açúcares totais em frutos. Além
de indicarem o grau de maturidade através do seu °Brix (VERGANA et al., 2020).
Frutas com altos teores de sólidos solúveis totais são
desejáveis para o consumo in natura,
e para a indústria, pois nas avaliações por provadores são as que, em geral,
aparecem com notas mais altas nos atributos avaliados. A maior concentração de
açúcares e outros componentes permite a redução deste no processamento, embora,
no Brasil, a indústria alimentícia, em geral, utilize um teor de 20 a 30 % de
açúcar mais alto em suas formulações, se comparada às indústrias europeias e
asiáticas (COHEN et al., 2010). Portanto, o uso excessivo de açúcar acaba por
influenciar o paladar dos provadores, afirmação esta que corrobora ao estudo de
Bach et al. (2019) onde foram avaliados sensorialmente sucos de laranja,
reconstituídos e adoçados com mel, açúcar mascavo e açúcar refinado. O suco de
laranja adoçado com açúcar refinado apresentou-se como a melhor opção para o
público de provadores, seguido do suco de laranja com mel e o suco de laranja
com açúcar mascavo.
A
procura por alimentos com qualidade, praticidade, propriedades funcionais,
segurança e preços acessíveis vem crescendo e, assim, as inovações na
elaboração dos produtos é objetivo constante na indústria de alimentos, que
visa agregar atributos de qualidade diferencial ao produto (MOURA et al.,
2016). Portanto, com base nos resultados obtidos neste estudo, o consumo in natura dos frutos de guabiju ou na
forma de suco podem resultar em inúmeros benefícios aos consumidores, visto que
estes apresentam alto conteúdo de polifenóis totais, flavonoides e
antocianinas, além de compostos fenólicos que apresentam alta capacidade
antioxidante (ANDRADE et al., 2011; SOUZA et al., 2018).
CONCLUSÕES
Os
frutos de Guabiju do acesso 3 apresentam diferenças biométricas para massa de
frutos, massa de polpa, rendimento de polpa e sólidos solúveis totais na
comparação com os demais acessos.
Os acessos apresentam diferenças no rendimento de suco, sendo que a maior aceitação
na análise sensorial dos provadores ocorreu com o suco do acesso 2.
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