Revista Verde

ISSN 1981-8203

Pombal, Paraíba, Brasil

v. 16, n.2, abr.-jun, p.137-144, 2021

doi: 10.18378/rvads.v16i2.8499

 

Crescimento e alteração metabólica do meloeiro adubado com biofertilizantes comerciais

 

Growth and metabolic change of the muskmelon fertilized with biofertilizer commercials

 

Crecimiento y alteración metabólica del melón fertilizado con biofertilizantes comerciales

 

Juliana Leite da SilvaÍcone

Descrição gerada automaticamente1, Kecio Emanuel dos Santos SilvaÍcone

Descrição gerada automaticamente2, Daniel Nunes Sodré RochaÍcone

Descrição gerada automaticamente3, Thais Cristina da Silva BarbosaÍcone

Descrição gerada automaticamente4, Zezia Verônica Silva Ramos OliveiraÍcone

Descrição gerada automaticamente5, Alessandro Carlos MesquitaÍcone

Descrição gerada automaticamente6

 

1Graduanda em Engenharia Agronômica, Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia, juliana1697@outlook.com. 2Graduando em Engenharia Agronômica, Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia, kecio_emanuel@hotmail.com. 3Graduando em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia, danielnunesif@gmail.com.4Graduanda em Engenharia Agronômica, Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia, thais24cris@gmail.com. 5Mestre em Agronomia/Horticultura Irrigada, Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia, zezia_oliveira@hotmail.com. 6Professor Doutor da Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia, alessandro.mesq@yahoo.com.br.

 

 

Recebido: 14/10/2020; Aprovado: 11/03/2021

 

Resumo: Na região do Submédio Vale do São Francisco, o manejo da adubação convencional no cultivo do melão tem destaque, contudo, o uso constante desses fertilizantes tem promovido uma busca por manejos alternativos que busquem reduzir os impactos ambientais e melhorando a produtividade. O uso de biofertilizantes tem sido uma alternativa para produção de muitas culturas, dentre elas o meloeiro, pois este produto tem a capacidade de fornecer nutrientes essenciais às plantas. Logo, este estudo tem com o objetivo avaliar a influencia de diferentes doses de dois biofertilizantes, no crescimento e metabolismo do meloeiro (cv. Gold Mine) ao longo do seu ciclo. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, no esquema fatorial 5x3, compreendendo dois tipos de biofertilizantes (Algamare® e Vorax®), combinados em cinco dosagens: (dosagens 1 – água (controle); 2 - 288/40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/320 µl) e três épocas de avaliação (30, 45 e 60 DAT), com três repetições. Como variáveis de crescimento avaliaram-se: altura da planta, diâmetro do colo, área foliar, número de folhas. As variáveis bioquímicas analisadas foram: teor de clorofila, atividade da enzima nitrato redutase (tecido foliar), açúcares redutores, açúcares solúveis totais, proteínas solúveis totais e prolina.  Concluiu-se que a utilização do biofertilizante na cultura do meloeiro promoveu incremento no crescimento e metabolismo da planta, contribuindo com o aumento do número de folhas, do teor de clorofila, área foliar da planta, atividade da enzima nitrato redutase e do aminoácido prolina. Recomenda-se a combinação dos biofertilizantes Algamare® e Vorax® na dosagem de 576/80 µl, respectivamente.

 

Palavras-chave: Adubação; Cucumis melo; Fertilizante orgânico.

 

Abstract: The region of the Submédio Vale do São Francisco he management of conventional fertilization in the cultivation of melon is highlighted, however, the constant use of these fertilizers has promoted a search for alternative managements that seek to reduce environmental impacts and improving productivity. The use of biofertilizers has been an alternative for the production of many crops, including melon, as this product has the ability to supply some essential nutrients to plants. This study aims to evaluate the influence of different doses of two biofertilizers (Algamare® and Vorax®), on the growth and metabolism of melon (cv. Gold Mine) throughout its cycle. The experimental design used was in randomized blocks, in a 5x3 factorial scheme, comprising two types of biofertilizers (Algamare® and Vorax®), combined into five dosages: (dosages 1 - water (control); 2 - 288/40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/320 µl) and three evaluation periods (30, 45 e 60 DAT), with three repetitions. The following growth variables were evaluated: plant height, stem diameter, leaf area, number of leaves. The biochemical variables analyzed were: chlorophyll content, activity of the enzyme nitrate reductase (leaf tissue), reducing sugars, total soluble sugars, total soluble proteins and proline. It was concluded that the use of the biofertilizer in the melon crop promoted an increase in the growth and metabolism of the plant, contributing to the increase in the number of leaves, the chlorophyll content, leaf area of  the plant, activity of the enzyme nitrate reductase and the amino acid proline. It is recommended to combine the biofertilizers Algamare® and Vorax® in the dosage of 576/80 µl, respectively.
 
Key words: Fertilizing; Cucumis melo; Organic fertilizer.
 
Resumen: La región del Submédio Vale do São Francisco se destaca el manejo de la fertilización convencional en el cultivo del melón, sin embargo, el uso constante de estos fertilizantes ha promovido una búsqueda de manejos alternativos que busquen reducir los impactos ambientales y mejorar la productividad. El uso de biofertilizantes ha sido una alternativa para la producción de muchos cultivos, incluido el melón, ya que este producto tiene la capacidad de aportar algunos nutrientes esenciales a las plantas. Este estudio tiene como objetivo evaluar la influencia de diferentes dosis de dos biofertilizantes (Algamare® y Vorax®), sobre el crecimiento y metabolismo del melón (cv. Gold Mine) a lo largo de su ciclo. El diseño experimental utilizado fue en bloques al azar, en un esquema factorial 5x3, compuesto por dos tipos de biofertilizantes (Algamare® y Vorax®), conjunto en cinco dosis: (dosis - water (control); 2 - 288/40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/320 µl) y tres periodos de evaluación (30, 45 e 60 DAT), con tres repeticiones. Se evaluaron las siguientes variables de crecimiento: altura de la planta, diámetro del tallo, área foliar, número de hojas. Las variables bioquímicas analizadas fueron: contenido de clorofila, actividad de la enzima nitrato reductasa (tejido foliar), azúcares reductores, azúcares solubles totales, proteínas solubles totales y prolina. Se concluyó que el uso del biofertilizante en el cultivo del melón promovió un aumento en el crecimiento y metabolismo de la planta, contribuyendo al aumento del número de hojas, el contenido de clorofila, el área foliar de la planta, la actividad. de la enzima nitrato reductasa y el aminoácido prolina. Se recomienda combinar los biofertilizantes Algamare® y Vorax® en la dosis de 576/80 µl, respectivamente.
 
Palabras Clave: Fertilizante; Cucumis melo; Fertilizante orgánico.

 

INTRODUÇÃO

 

O melão (Cucumis melo L.) possui alto potencial produtivo e comercial, com ótima adaptação a regiões de clima quente e seco, contudo, o uso indiscriminado de pesticidas e fertilizantes químicos altamente solúveis nas culturas tem contribuído para o aumento nos níveis de degradação e empobrecimento dos solos, acarretando na redução da produção agrícola e da biodiversidade nos agroecossistemas, além de fazer mal a saúde humana (ALVES; CUNHA, 2012). A cultura tem aptidão para ser produzida praticamente em todo o território brasileiro, com maior expressão socioeconômica no Nordeste, onde ocupa lugar de destaque em volume produzido e quantidade exportada dentre as demais hortícolas (ANUÁRIO, 2020).

A cultura do melão transformou-se em um dos mais importantes produtos do agronegócio brasileiro, conquistando espaços nos mercados nacionais e internacionais. Em 2018 foram exportadas 251,641 mil toneladas da fruta, com valor da produção estimado em US$ 160,39 milhões (ANUÁRIO, 2020). Os principais centros produtores do Brasil são a região de Mossoró e Açu, no estado do Rio Grande do Norte e do Baixo Jaguaribe no Ceará, já a região do Vale do São Francisco se destaca nos estados de Pernambuco e Bahia, principalmente, pelas suas condições climáticas e o uso da irrigação (MESQUITA et al., 2014).

No meloeiro, um dos pontos de maior importância e também limitante à produção é a adubação, principalmente quando direcionada ao cultivo de oleráceas (SOUZA et al., 2015). Sabe-se que os fertilizantes usualmente utilizados representam de 25 a 50% do custo final de produção, sendo esta uma das justificativas pelas quais o uso de produtos alternativos como biofertilizantes vem crescendo em todo o Brasil (SANTOS et al., 2014). O uso de produtos orgânicos tem se tornado uma alternativa viável para assegurar a aceitação do melão produzido no Brasil pelo mercado internacional, bem como aumentar seu valor de comercialização (MESQUITA et al., 2014). Além disso, os mesmos podem propiciar efeitos benéficos aos solos e ao ambiente, dentre eles, podemos citar: velocidade de infiltração e armazenagem da água; melhoria na aeração, aceleração da atividade microbiana e redução da erosão do solo; melhoria no impacto da poluição da água e a emissão de gases que provocam o efeito estufa.

Segundo Rodriguez et al. (2013), os biofertilizantes são uma gama de produtos que contém princípios ativos, os quais atuam sobre a fisiologia das plantas, aumentando o crescimento e desenvolvimento vegetal, assim como o rendimento e qualidade dos frutos. Entretanto, existem poucos estudos relacionados à fisiologia vegetal e principalmente, em relação ao metabolismo dos nutrientes, quando se utiliza o biofertilizante (SANTOS et al., 2019; BATISTA et al., 2019), sendo abordados aspectos enzimáticos do metabolismo do nitrogênio e dos constituintes bioquímicos (aminoácidos, proteínas, açúcares), além dos aspectos de pós-colheita dos frutos. Desta forma, se faz importante à realização de pesquisas sobre os efeitos dos biofertilizantes em função das doses, frequências e épocas de aplicação no crescimento e desenvolvimento da planta e que sejam mais eficientes na cultura do meloeiro.

O presente trabalho tem como objetivo, verificar as alterações no crescimento e metabolismo que ocorre com a cultura do meloeiro em função da aplicação de doses de dois biofertilizantes nas condições do Submédio Vale do São Francisco, Juazeiro/BA.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido no período de fevereiro a maio de 2018, no campo experimental da Universidade do Estado da Bahia-UNEB, localizado no município de Juazeiro-BA (9º 25’44”S, 40º 32’14”O, altitude 384 m). Segundo Köppen, o clima da região é quente, semiárido, com média de temperatura e umidade relativa de 26,3°C e 60%, respectivamente. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 5x3, compreendendo dois biofertilizantes (Algamare® e Vorax®), combinados entre si em cinco doses (dosagens 1 – água (controle); 2 - 288/40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/320 µl) e três épocas de avaliação (30, 45 e 60 DAT), com três repetições. Cada parcela experimental foi composta por oito plantas com as mesmas dimensões, utilizando-se de seis plantas uteis para as avaliações.

Os tratamentos descritos acima foram compostos pela combinação dos biofertilizantes, sendo que para o Algamare® foram utilizadas as dosagens: 1- água (controle); 2- 288 µl; 3- 576 µl; 4- 1.152 µl; e 5- 2.304 µl; e para o Vorax®: 1- água (controle); 2- 40 µl; 3- 80 µl; 4- 160 µl; e 5- 320 µl. respectivamente, conforme recomendação do especialista da empresa. Cada dosagem foi diluída em 300 mL de água e à aplicação foi feita via foliar, em três diferentes épocas (23, 38 e 45 DAT).

De acordo com as informações contidas na embalagem do produto Algamare®, sua composição garante 61,4 g L-1 de K2O e 81,2 g L-1 de carbono orgânico total, tendo como matéria-prima extrato de algas, sendo então classificado como fertilizante foliar organomineral. O Vorax® é um fertilizante foliar orgânico, com garantia de 50 g L-1 de nitrogênio, 225 g L-1 de carbono orgânico total, e matéria prima principal amônia anidra, água, melaço de cana-de-açúcar e ácido fosfórico.

As fontes utilizadas para a adubação de fundação e consequentemente fornecimento dos nutrientes N (10 kg/ha), P (10kg/ha), K (10kg/ha), Ca (2 kg/ha) e Mg (25 kg/ha) foram respectivamente: torta de mamona, fosfato de Yoorin Master®, Ekosil®, Commax Algas® e Sulfato de magnésio, de acordo com o recomendado para a cultura na região. A semeadura foi realizada em bandejas de isopor e após 15 dias foram transplantadas para o campo, a cultivar de melão utilizada foi o Gold Mine tipo amarelo. A irrigação foi realizada via gotejo e as demais práticas culturais e manejo obedeceram às necessidades da cultura no estado.

As análises foram realizadas aos 30, 45 e 60 dias após o transplantio (DAT) observando-se: altura da planta (régua milimétrica), diâmetro do colo (paquímetro digital), número de folhas (contagem), comprimento e largura da folha (régua milimétrica), índice de Falker (clorofilômetro), índice de área foliar (medidor de área foliar portátil marca CID Bio Science, modelo CI-203). As leituras do Índice de Falker foram feitas utilizando-se duas folhas/planta, com auxílio do clorofilômetro da marca comercial CLOROFILOG®, modelo CFL 1030 (FALKER, 2008), que estima de forma indireta os teores de Clorofila.

As análises bioquímicas foram realizadas aos 30, 45 e 60 DAT. Os extratos foram obtidos a partir do material vegetal (tecido foliar) macerados em tampão fosfato de potássio, pH 7,0 e centrifugados para obtenção do sobrenadante, onde foram quantificadas as seguintes variáveis: teor de proteína total (PST) (BRADFORD, 1976), o teor do aminoácido prolina (BATES et al. 1973), teores de açúcares solúveis totais (AST) (YEMM; WILLIS, 1954) e de açúcares redutores (AR) (MILLER, 1959).  

O material vegetal (tecido foliar) foi envolto em papel alumínio e acondicionado em recipiente refrigerado com gelo. Posteriormente, as amostras de folhas foram maceradas, embebidas em solução tampão fosfato de potássio (pH 7,0) e centrifugadas para obtenção do sobrenadante, utilizado para determinação dos açúcares solúveis totais - AST, segundo metodologia descrita por Yemm e Willis (1954), usando o reagente antrona. Os teores de açúcares redutores - AR, quantificados pelo método Dinitrossalicilato – DNS (MILLER, 1959) usando o ácido dinitrosalicilico como padrão. O teor de proteína total quantificado de acordo com a metodologia descrita por (BRADFORD, 1976), usando como padrão a proteína bovina (BSA).  

A atividade da enzima RN foi mensurada utilizando a metodologia “in vivo” descrita por Keppler et al. (1971) e expressa em NO2- g-1 h-1. As folhas foram coletadas a partir das 6 h da manhã, e logo após cada colheita individual, o material foi colocado em sacos previamente identificados e acondicionados em caixas térmicas contendo gelo, a fim de evitar perdas de propriedades pelos tecidos, posteriormente fragmentados tomando-se o cuidado de eliminar bordas e nervuras das folhas. Foi pesado 0,5 g do material, que foi transferido imediatamente após a pesagem para béqueres contendo 8 mL do meio de incubação, constituído de tampão fosfato de potássio 0,1 M (pH 7,5), nitrato de potássio 0,1 M e 1% de n-propanol (v/v). Os béqueres contendo as amostras foram levados para estufa com a temperatura de 37 °C em período de uma 1 h. O meio de reação foi constituído por 1 mL de sulfanilamida 1% em HCl 1,5 N, 1 mL de N-2-naftil etileno e a quantidade de nitrito formada neste ensaio determinou-se colorimetricamente através de leituras espectrofotométricas do meio de reação realizadas a 270 nm e comparadas a uma curva padrão de nitrito. A atividade da enzima será expressa em NO2 g MF-1 h-1.

Os dados de natureza qualitativa e quantitativa foram submetidos a análises de variância pelo teste F, Tukey e análise de regressão polinomial de acordo com o nível de significância de 1 e 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas com auxílio do software Sisvar 5.6 (FERREIRA, 2011).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Houve efeito significativo de forma isolada para as variáveis: comprimento e diâmetro do ramo; área foliar; clorofila, proteína total, açúcar solúvel total e prolina. Foi observado efeito significativo interativo para as variáveis: numero de folhas e a enzima redutase do nitrato.

Através dos resultados (Figura 1A) observa-se que para crescimento de ramo do meloeiro nos períodos avaliados, a coleta aos 30 DAT diferiu em maior comprimento que aos 15 e 45 dias. A diminuição do comprimento aos 45 dias pode estar relacionada com a diminuição do número de folhas próximo ao final do ciclo fenológico da cultura e a outros fatores, dentre os quais, a redução do fornecimento de água e ao ataque de doenças.

 

Figura 1. A: Comprimento de ramos do meloeiro em diferentes períodos de avaliação. B: Diâmetro de caule do meloeiro em função das doses de biofertilizantes. Sendo as dosagens 1 - água; 2 - 288/40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/320 µl, respectivamente para os produtos Algamare® e Vorax®.

 

Segundo Batista et al. (2019), alongamento do ramo principal associado ao maior número de folhas mostra que a diversidade de nutrientes essenciais presentes nos biofertilizantes quando usados na dose adequada contribuíram para o maior desenvolvimento vegetal, com valores similares aos observados neste trabalho. Resultado semelhante ao observado por Shams (2018), que obteve um maior comprimento das plantas em resposta à pulverização foliar com Lithovit® ou extrato de leveduras associado à aplicação de N mineral + N orgânico em meloeiro.

Cavalcante et al. (2010) e Benício et al. (2012), relatam que para a cultura da melancia, o uso de adubos orgânicos e biofertilizantes, respectivamente, proporcionou um aumento no comprimento do ramo.  Alguns autores (SANTOS et al., 2014; SILVA, 2016), relatam que o biofertilizante é um importante suporte nutricional de liberação rápida para as plantas.

Para o diâmetro de caule, obteve-se comportamento linear decrescente em função das doses dos biofertilizantes (Figura 1B). Observou-se que o maior diâmetro foi com a aplicação de água e com a dosagem 2 (288/40 µl respectivamente para os produtos Algamare® e Vorax®), enquanto que o menor foi observado com a aplicação da dose máxima, o que aparentemente demonstra que o aumento na concentração pode ter sido prejudicial para o desenvolvimento das plantas. Sousa et al. (2012), avaliando diferentes concentrações de biofertilizante bovino em milho (Zea mays), obtiveram resultados diferentes, onde o aumento da concentração do biofertilizante apresentou um aspecto nutricional positivo para a variável estudada.

Comportamento semelhante aos resultados obtidos neste trabalho foram descritos por Mesquita et al. (2012) e Medeiros et al. (2013), que submeteram mudas de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis) e tomate cereja (Solanum lycopersicum var. cerasiforme), respectivamente, à adubação dos substratos com e sem biofertilizante bovino, irrigado com água salobra. Esses autores constataram que a adubação com biofertilizante amenizou a diminuição no diâmetro do caule. Esse declínio em função da aplicação do biofertilizante bovino apresentou o mesmo comportamento observado na Figura 1B, quando da aplicação dos biofertilizantes neste trabalho.

Houve interação entre as épocas e doses aplicadas para número de folhas (Figura 2). Aos 30 e 45 DAT, essa variável apresentou comportamento quadrático, em que aos 30 dias, o maior valor foi observado com a aplicação da dose de 2,78 µl correspondente à dose aproximada de 576/80 µl dos biofertilizantes. E aos 45 dias, o maior número de folhas foi obtido na dose 2,72 µl correspondente à mesma dose.

 

Figura 2. Número de folhas de meloeiro em função de doses de biofertilizantes.  Sendo as dosagens 1 - água; 2 - 288/40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/320 µl, respectivamente para os produtos Algamare® e Vorax®.

 

No entanto, aos 60 DAT, o número de folhas ajustou-se ao modelo linear decrescente; à medida que aumenta as dosagens, ocorrendo à redução no número de folhas, que pode estar associado ao processo de senescência e abscisão de algumas folhas ao final do ciclo da cultura. Morais e Maia (2013), avaliando a aplicação de biofertilizante no crescimento do meloeiro verificaram que para o número de folhas (NF), não houve diferença em relação à aplicação do biofertilizante, diferindo dos resultados obtidos neste trabalho. 

Segundo Batista et al. (2019), na fase inicial de desenvolvimento da cultura, os fotoassimilados são direcionados principalmente para a formação do sistema radicular e a partir dos 21 dias, principalmente, passa a ter como dreno preferencial a parte aérea e o crescimento torna-se exponencial até atingir um valor máximo. Esse comportamento pode ser observado aos 30 DAT (Figura 2).

Chiconato et al. (2013), estudando o efeito de biofertilizantes em alface sob dois níveis de irrigação, observaram que os tratamentos com biofertilizantes apresentam melhores resultados que a adubação mineral, e que proporcionaram maior número de folhas com o aumento das doses de biofertilizantes.

A diminuição observada do NF no final do ciclo da cultura se deve a vários fatores descritos por Morais e Maia (2013), dentre os quais estão: a diminuição do fornecimento de água nesta época para aumentar o teor de sólidos totais (oBrix) e a senescência e abscisão foliar induzida pela distribuição preferencial de assimilados em direção aos frutos.

 Para a variável área foliar, (Figura 3), não ocorreu diferença nos valores obtidos aos 45 e 60 DAT, que foram superiores aos valores demonstrados aos 30 dias.

 

Figura 3. Área foliar do meloeiro aos 30, 45 e 60 dias após o transplantio (DAT).

Esse aumento na área foliar também foi descrito por Morais e Maia (2013), que descreveram para a cultura do meloeiro um aumento na produção de matéria seca de raiz (MSR), matéria seca da parte aérea (MSPA) e a área foliar (AF) com o uso do fertilizante orgânico.

Trabalhos que avaliam a área foliar e que foram conduzidos com o uso de biofertilizantes na cultura do meloeiro foram conduzidos por Batista et al. (2019), Dias et al. (2015) e Galbiatti et al. (2011). Eles relatam que a área foliar do meloeiro é uma importante medida para avaliar a eficiência fotossintética da planta. Valores observados neste trabalho foram semelhantes aos obtidos pelos referidos autores

Poderemos inferir uma discussão com os trabalhos citados por Mesquita et al. (2014) e Pereira et al. (2010). Dessa forma, o uso de biofertilizante estimulou um acréscimo no índice de área foliar das mudas de mamoeiro, segundo Mesquita et al. (2014), onde os autores relatam que percentualmente as mudas de mamão Havaí tratadas com biofertilizante enriquecido superaram em até 340% no índice de área foliar das plantas equiparada aos substratos sem o composto orgânico.

Na avaliação do crescimento de mudas de maracujazeiro amarelo tratado com esterco bovino líquido, Pereira et al. (2010), apresentaram resultados que evidenciam o aumento do percentual do insumo em relação ao crescimento das plantas em altura, diâmetro do caule, área foliar, comprimento da raiz principal, fitomassa aérea e radicular nas mudas de maracujazeiro amarelo.

Avaliando-se os teores relativos de clorofila a em função dos períodos de avaliação (Figura 4A), verifica-se que o maior teor foi observado aos 60 DAT. Porém, ao avaliar os teores relativos de clorofila b, em função dos períodos de avaliação (Figura 4B), verifica-se que não houve diferença significativa entre 45 e 60 DAT. Geralmente, as clorofilas a e b encontram-se na natureza numa proporção de 3:1 (Mesquita et al., 2015) e essa proporção indica que a planta não sofreu estresse foto-oxidativo.

 

Figura 4. A: Teor de clorofila a do meloeiro em função dos períodos de coleta. B: Teor de clorofila b do meloeiro em função dos períodos de coleta. C - Teor de clorofila A no meloeiro em função das doses de biofertilizantes. Sendo as dosagens 1 - água; 2 - 288 /40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/ 320 µl, respectivamente para os produtos Algamare® e Vorax®.

 

Para os teores de clorofila A em relação às doses dos biofertilizantes foi obtido comportamento quadrático (Figura 4C). O maior teor de clorofila (31,1) foi obtido na dose de 3,64 µl do biofertilizante É importante destacar que esse valor é representativo da dosagem 576/80µl, respectivamente para os produtos Algamare® e Vorax®.

Os maiores teores de clorofila relacionados ao uso do biofertilizante Vorax® podem ser justificados devido ao fornecimento de nitrogênio que o mesmo oferece, sabendo que este elemento é constituinte da molécula de clorofila, geralmente existe alta correlação entre o seu teor e a clorofila nas folhas dos vegetais.

Resultados semelhantes foram observados no trabalho conduzido por Batista et al. (2019), onde o manejo da adubação do meloeiro foi realizado com biofertilizantes. Esses autores relatam que a maior exigência nutricional ocorre na fase de crescimento da cultura, onde pode se associar com a maior demanda pelo processo fotossintético e consequentemente, maior teor de clorofila.

O biofertilizante incorporado ao solo pode melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas (SILVA et al., 2012; BHARDWAJ et al., 2014), aumentando a atividade microbiana, a mineralização da matéria orgânica e a capacidade de retenção de umidade (FREIRE et al., 2011; ALENCAR et al., 2015), tornando assim os nutrientes mais disponíveis na solução do solo e favorecendo o desenvolvimento das plantas.

Lima et al. (2018), obtiveram resultados significativos no incremento da biomassa da parte aérea e total da planta do morangueiro e concluíram haver uma melhor eficiência nutricional, proporcionando um maior número de frutos, diâmetro e produtividade. Esse comportamento pode estar diretamente relacionado com as respostas obtidas quanto ao comprimento do caule, número de folhas e área foliar, demonstrados nas Figuras 1, 2 e 3, respectivamente.

Biofertilizantes produzidos a base de aminoácidos se destacam, segundo estudos relacionados ao uso de aminoácidos, quando os mesmos são aplicados via foliar ou radicular, podem promovem o enraizamento, característica responsável pelo bom desenvolvimento de uma planta (FRASSETO et al., 2010). Esse aumento no sistema radicular irá proporcionar consequentemente, uma maior absorção de água e nutrientes do solo, sendo que vale ressaltar que o nitrogênio é um dos nutrientes exigidos em maior quantidade pela planta e que sua absorção está diretamente relacionada com a ação da enzima redutase do nitrato. Isso corrobora com os resultados demonstrados na Figura 5.

 

Figura 5. A: Atividade da enzima redutase do nitrato em tecido foliar do meloeiro em função das doses de biofertilizantes.. B: Interação tempo x doses na atividade redutase nitrato estimados no tecido foliar do meloeiro, sendo as dosagens 1 - água; 2 - 288 /40 µl; 3 - 576/80 µl; 4 - 1.152/160 µl; 5 - 2.304/ 320 µl, respectivamente para os produtos Algamare® e Vorax®.

 

A atuação da enzima nitrato redutase é de fundamental importância na incorporação de nitrogênio inorgânico em moléculas orgânicas complexas (SILVA et al., 2011). Pode-se verificar efeitos isolados para biofertilizantes e a interações dupla para doses x tempo para a atividade da enzima nitrato redutase (Figuras 4 A e B ).

Sabe-se que uma vez absorvido o N é rapidamente assimilado por um complexo de enzimas, sendo a redutase do nitrato, a primeira desse processo. Em seguida, é convertido em diversos constituintes celulares, destacando-se os teores de aminoácidos livres totais, proteínas, pigmentos fotossintetizantes (clorofila) segundo descrito por Hawkesford et al. (2012).

 Os resultados obtidos neste trabalho foram similares aos encontrados por Almeida et al. (2014), onde com a aplicação foliar de bioestimulante no feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris) proporcionou incrementos na atividade do nitrato redutase. Valores semelhantes para a atividade da enzima nitrato redutase foram demonstrados por Rodrigues e Mesquita (2021) para a cultura do meloeiro, quando da utilização da mesma metodologia aplicada em plantas com 20 dias após a semeadura.

Observou-se que na variável proteína total (Figura 6), os melhores resultados foram obtidos na medida em que as aplicações dos biofertilizantes foram sendo realizadas mais tardiamente, nas épocas de 30 e 45 DAT. Silva et al. (2011), relatam que os efeitos positivos do biofertilizante sobre a transpiração nas plantas emanam do estimulo á ação de proteínas e solutos orgânicos, proporcionando melhores condições nutricionais do solo e, em compensação, permite a absorção de constante e turgescência celular da planta, permitindo as trocas gasosas entre as plantas e o ambiente. Esse fator pode estar relacionado com o aumento no teor de proteínas totais na fase em que ocorre uma maior demanda por metabolitos oriundos da fotossíntese e uma maior demanda de nutrientes pela planta.

 

Figura 6. Teor de proteína total (PTN) no tecido foliar do meloeiro, aos 30, 45 e 60 dias após o transplantio (DAT).

 

Pode-se observar que o teor de prolina (Figura 7) foi acentuado aos 60 DAT em comparação as avaliações realizadas aos 30 e 45 DAT.

 

Figura 7. Teor de prolina no tecido foliar do meloeiro, aos 30, 45 e 60 dias após o transplantio (DAT).

O aumento da concentração de prolina é reflexo do nível de estresse que a planta está sendo submetida, pois esse aminoácido atua como osmorregulador, antioxidante, protetor de estruturas das proteínas e de diversas atividades enzimáticas, que contribuem para a manutenção do equilíbrio hídrico e a preservação da integridade de proteínas, enzimas e membranas celulares (MARIJUAN; BOSCH, 2013). Com o uso de insumos orgânicos, notadamente efluentes orgânicos líquidos como o biofertilizante bovino, pode estimular a liberação de substâncias húmicas e proporcionar incremento na produção de solutos orgânicos à base de açúcares, aminoácidos livres totais, prolina e glicina betaína (FREIRE et al., 2013).

Os teores de açúcares solúveis totais (AST) e açúcares redutores (AR) estão demonstrados na Figura 8. Podemos constatar que os valores de AST (Figura 8A) nas épocas de 30 e 45 DAT, são superiores que os de AR (Figura 8B). Já na última época (60 DAT) houve uma inversão nesses resultados, tornando AR superior a AST. Esse comportamento possivelmente indica que os AST foram translocados para o tecido foliar e reduzidos em glicose, por isso o aumento no teor de AR aos 60 DAT.

 

Figura 8. A: Teores de açúcares solúveis totais (AST) e B: Teores de açúcares redutores (AR), no tecido foliar do meloeiro aos 30, 45 e 60 dias após o transplantio (DAT).

 

Podemos observar na Figura 8 A, que ao longo do tempo ocorreu um decréscimo no teor de AST no tecido foliar, onde provavelmente, a sacarose estaria sendo hidrolisada para fornecer glicose e frutose, sendo assim, utilizada na rota do metabolismo primário da planta. Isso fica evidente quando da avaliação dos açúcares redutores (Figura 8 B), ocorre o aumento expressivo no teor aos 60 dias, que pode ser justificado pela hidrólise dos AST no mesmo tecido vegetal.

De acordo com Silva et al. (2011), os teores de açucares redutores e de proteína se comportaram de forma linear ao aumento das doses de biofertilizantes no tecido foliar de feijão de corda. Os açúcares fundamentais encontrados nas cucurbitáceas são a glicose, frutose e a sacarose, sendo os açúcares redutores compostos basicamente de glicose e os açúcares solúveis totais, compostos em sua maioria de frutose, sacarose e rafinose, sendo que destes, a sacarose pode chegar a quase 50% dos açucares totais.

Em função dos resultados descritos anteriormente, podemos relatar que em condições tropicais, conforme Pereira et al. (2010), o emprego de produtos alternativos como fonte de nutrientes suplementar para algumas espécies, em especial as olerícolas, certamente é um dos meios que poderá contribuir bastante para promover a sustentabilidade dos ambientes agrícolas, tanto em nível de pequeno e grande produtor.

 

CONCLUSÃO

 

A aplicação conjunta dos dois biofertilizantes na cultura do meloeiro promove incremento no crescimento da planta e alterações no seu metabolismo. Recomenda-se a combinação dos biofertilizantes Algamare® e Vorax® na dosagem de 576/80 µl.

 

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